Ainda a Montfort e o IBP

Padre Renato Leite, publicado no FRATRES IN UNUM:

A casa do IBP situada no bairro do Ipiranga da qual estive à frente por oito meses, foi instituída com uma finalidade específica: “Preparar os alunos do Professor Orlando para ingressarem no seminário do IBP em Courtalain, França”. E obviamente, essa preparação estaria prioritariamente a cargo do professor Orlando que com os amigos, “pagavam todas as contas da casa”, imaginando ter uma espécie de “direito adquirido” para assim proceder no que dizia respeito à formação dos rapazes.

A casa seria um instrumento para o professor Orlando atingir um dos seus mais ousados objetivos: O ter padres sob o seu comando direto. E, para atingí-lo, seria enviado para Courtalain um número cada vez maior de alunos do professor que, ordenados padres, garantiriam a influência e o controle do Instituto do Bom Pastor pelo professor e seus amigos, recordando que o IBP já nasceu Pontifício ou seja “grande” canonicamente falando, com aprovação direta do Papa e portanto “tentador”.

Gostaria de terminar esses esclarecimentos recordando a todos que toda essa confusão deve ser “creditada” nas contas das vaidades de duas pessoas:

Primeiramente na conta do professor Orlando que vive esquecido de que, não importa o que diga ou faça, continua sempre um leigo não tendo autoridade docente na Igreja para submeter sacerdotes e formar seminaristas como pretendia nessa malfadada empreitada junto ao IBP. Tal tarefa está reservada exclusivamente aos bispos membros da Hierarquia da qual ele não faz parte.

Em segundo lugar na conta do Padre Laguerie Superior Geral do IBP que tem autoridade direta sobre os padres e sobre a formação dos seminaristas e que discordando das idéias do professor “desde sempre”, tinha a obrigação moral de deixar isso claro sem “simular” uma autorização que depois se verificou inexistente e que gerou inúmeros transtornos permitindo que o “oportunismo” prevalecesse sobre a franqueza e a sinceridade.

Lamento tudo isso e rogo a Deus Sua Misericórdia de modo particular para aqueles que defendendo a “Bandeira da Fé Católica” acabam por ter na prática, as mesmas atitudes daqueles que dizem combater.

Tais denúncias deveriam provocar em nós profunda tristeza. Gostaria de pedir a todos quantos aqui passarem que rezassem pelo Santo Padre, rezassem pela Igreja, rezassem pelo IBP, pelo padre Renato e pelo professor Orlando Fedeli. E recordo as belas palavras de Dom Rafael Cifuentes:

Todos temos de enfrentar dificuldades e sofrer decepções, mas estas trazem consigo conseqüências bem diferentes segundo sejam encaradas com espírito negativo e encolhido, envelhecido, ou com esse espírito esportivo de que falamos. Não há dúvida de que, muitas vezes, as nossas atitudes perante os fatos são mais importantes que os mesmos fatos. É o que diz certa frase do escritor católico inglês William Ward: “O pessimista queixa-se do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas”.
[Rafael Llano Cifuentes, “Juventude para todas as idades”, Ed. Quadrante, São Paulo, 2008]

Ajustemos as nossas velas. Não desanimemos. Não nos prendamos ao passado. Duc in altum!

P.S.: o Padre Renato escreveu o mesmo testemunho no orkut. E com um acréscimo que vale a pena ser reproduzido:

Aqui não julguei intenções que só de Deus são conhecidas.
Me restringi aos fatos e só a eles porque lá estava quando se deram.

97 comentários em “Ainda a Montfort e o IBP”

  1. A sua postura em relação ao senhor Orlando Fedeli foi muito cristã e correta. Não podemos condenar todo o seu trabalho, pois, apesar de sua “ranhetice”, muito se pode aprender quando em contato com os textos de seu site. É um irmão nosso. Apesar de seu aparente mau humor.
    Se Orlando Fedeli errou em relação ao IBP, cabe a Deus o julgamento, pois só Ele conhece as intenções do coração dos homens.
    E que o sr. Fedeli reflita sobre tudo o que aconteceu, para não perder a sua própria salvação…

  2. Pe. Renato: “Aqui inicia-se o “êxodo” de padres e seminaristas que lá moravam, entre eles eu, que enfim nos demos conta da encrenca na qual havíamos nos metido”

    (Fratres in Unum)

    O pe. Renato “esquece-se” de revelar que seu “êxodo” do IBP foi para o Colégio São Mauro, sob os cuidados da Montfort.

    Mais de pe. Renato:

    “Não muito tempo depois o professor viaja para a Europa e encontra-se com o Padre Laguerie que não querendo perder o “dividendo político eclesiástico” de ter uma casa do Instituto em São Paulo , ‘autoriza’ o professor a dar aulas… ”

    Eis a justificativa da saída do pe. Renato do IBP: a “ingerência do professor, o homem das idéias estranhas que queria controlar o IBP “.

    Portanto, o pe. Renato rompe com o IBP devido à ingerência do professor nos assuntos do Instituto para ser … capelão do Colégio São Mauro, administrada pela … Montfort.

    _____________________________________

    Este discurso do pe. Renato não faz nenhum sentido. Aliás, parece haver uma nova doença entre os padres egressos do IBP:

    “Justificativas que não fazem sentido”.

  3. Jorge,

    Não quero pôr lenha na fogueira, mas há uma coisa que me inquieta nessa história toda. Padre Renato afirma:

    “A casa do IBP situada no bairro do Ipiranga da qual estive à frente por oito meses, foi instituída com uma finalidade específica: ‘Preparar os alunos do Professor Orlando para ingressarem no seminário do IBP em Courtalain, França’.”

    Pergunto: QUEM instituiu a casa do IBP, no Ipiranga, com essa finalidade? Por que uma finalidade ‘específica’, se as linhas gerais que orientam a atuação do Instituto já são bastante claras? A meu ver, só uma coisa justificaria isso: o caso de haver uma grande proximidade (ainda que velada) entre Fedeli e o Pe. Laguerie, ou algum de seus colaboradores diretos. É preciso ter muito prestígio para ser objeto de uma finalidade específica, não acha?

  4. Ricardo e genteestranha,

    Ricardo, por que entao o Pe Renato foi para o tal Colegio Sao Mauro…talvez fosse melhor perguntar para ele. Isso que voce diz nao prova nada ja que todos sabem que o Pe Gino, dos Oratorianos, de Sao Caetano do Sul, mesmo ja tendo rompido com a Montfort, era um dos unicos padres que fielmente estava sempre a ministrar os sacramentos para as almas da Montfort. E outra coisa, ha uma enorme diferença entre uma Casa Religiosa, e um COLEGIO RELIGIOSO como o Sao Mauro…ou seja, as almas das crianças em especial, nao tem nada a ver com os problemas do IBP, e ainda, o Pe foi muito coerente ao continuar do lado das crianças que precisavam e precisam de padres. Caberia perguntar se o Pe Renato foi as reunioes da Montfort apos tal problema inicial com o IBP (e tenho certeza que nao)…quanto ao colégio, nao fosse pelo Rito, até o Pe Jonas Abib poderia e deveria ir ao colegio quando fosse preciso.

    genteestranha,

    Ja foi explicado pelo proprio padre que o prof Orlando tinha uma grande amizade (dizem mais de 30 anos) com o Pe Navas…fora que o tradicionalismo do Pe Laguerie PODERIA ser bem parecido com o da Montfort, visto que sao bem “franceses” (as aspas para o caso da Montfort)…..

  5. Carlos Santos: ” E outra coisa, ha uma enorme diferença entre uma Casa Religiosa, e um COLEGIO RELIGIOSO como o Sao Mauro…ou seja, as almas das crianças em especial, nao tem nada a ver com os problemas do IBP, e ainda, o Pe foi muito coerente ao continuar do lado das crianças que precisavam e precisam de padres.”

    Mas o Fratres in Unum noticia que: “este bom e corajoso sacerdote celebrará, neste domingo, sua última missa antes de retornar a seu lar”.

    Portanto, o pe. Renato abandona “as almas das crianças em especial, nao tem nada a ver com os problemas do IBP”.

    Por que o pe. Renato em seu “êxodo” foi para o Colégio São Mauro, quando até mesmo o Mosteiro de São Bento rezava a Missa desde 16 de Setembro de 2007?

    Por que o pe. Renato abandona as almas das crianças em especial, nao tem nada a ver com os problemas do IBP”, quando o Fratres in Unum noticia “o risco de ficar sem missa em São Paulo”?

    http://fratresinunum.wordpress.com/2008/08/09/ego-sum-bonus-pastor-ii-o-risco-de-ficar-sem-missa-em-sao-paulo/

  6. Ricardo,

    Me dê uma resposta simples: o padre Renato está mentindo no que diz, ou está dizendo a verdade?

    – Jorge

  7. Somente pode-se afirmar que o pe. Renato sofre de uma doença que atinge alguns padres:

    “Justificativas que não fazem sentido”.

  8. O pe. Renato em seu “êxodo” foi para o Colégio São Mauro, quando até mesmo o Mosteiro de São Bento rezava a Missa desde 16 de Setembro de 2007.

    Naquela época havia cerca de 5 Missas em São Paulo.

    Mas o pe. Renato, pensando nas crianças desamparadas da Montfort torna-se capelão do IBP apesar das suas críticas à Montfort, mostrando grandeza de alma.
    Isto é inegável.

    O que não faz sentido é desamparar as crianças da Montfort quando o Fratres in Unum noticia “o risco de ficar sem missa em São Paulo”.

    Por que não continuar a agir do modo anterior?

  9. Ricardo,

    Sugiro que tu leves as tuas interrogações diretamente ao padre Renato. Não sou procurador nem porta voz dele, nem ninguém aqui o é.

    Além do quê, isso não é o que está em discussão, e sim as denúncias que ele faz.

    – Jorge

  10. O Padre Renato se enfastiou das crianças do tal colégio e decidiu voltar pra paróquia dele.
    Ele que se dizia tão aplicado na salvação das almas….
    Já está abandonado as almas….

  11. Porque que o Pe Renato quando descobriu a maracutáia no IBP não voltou pra paróquia dele? Por que ele foi para o Colégio São Mauro, também no Ipiranga?

  12. Rafael,

    Peço que se atenha ao que disse o pe. Renato.

    Para responder às perguntas que você faz, sugiro que entre em contato direto com ele.

    – Jorge

  13. “Um fato importante a ser recordado é que a casa do IBP aqui estabelecida não foi uma iniciativa do Instituto mas uma “oferta” do professor Orlando conforme um acordo prévio com o Padre Navas do Chile, então superior do Instituto na América Latina e antigo amigo do professor para que a mesma funcionasse como o descrito acima.”

    Se a abertura da casa foi uma acordo do Sr Orlando com o Pe Navas, por que o IBP consentiu? e por que Pe Navas brigou com o professor?

  14. Rafael:

    Se a abertura da casa foi uma acordo do Sr Orlando com o Pe Navas, por que o IBP consentiu?

    Pergunte ao pe. Laguerie.

    e por que Pe Navas brigou com o professor?

    Pergunte ao pe. Navas ou ao Orlando Fedeli.

  15. Sabe, quando perguntei há dois meses por onde andava o padre Navas, que nunca mais ouvi falar, me disseram que rezasse por ele, que estava com problemas de saúde muito sérios.
    Semana passada, depois que vi o próprio padre se manifestar ao lado do padre Roch, então essa história (assim como outras) voltaram à minha mente.
    Porque não me esclareceram o rompimento do padre com o professor?
    Agora, com o depoimento do padre Renato, vi que o que eu suspeitava era verdade: do rompimento do padre Navas com a Montfort.
    ***
    E o rompimento do padre Renato me fez pensar em outras histórias mal-contadas…
    Sabe, não é a primeira vez que membros da Montfort me dizem que alguém ficou doente, ou com problemas mentais… E depois descubro ser mentira.
    Estou inclinado a crer no que diz o padre Renato. Apesar de eu ainda não ter ligado certos pontos… Mas que espero ser esclarecido em breve.

  16. Enquanto isso aguardamos o sr. Fedeli falar algo….coitado,não deve ter explicação…

  17. Senhores,

    Não conheço o Sr. Fedeli (ao contrário de alguns aqui).

    Não conheço o Pe. Navas; nem o Pe. Renato.

    Muitos levantam julgamentos muito graves, alguns diretamente a respeito do caráter de pessoas. Isso é perigoso para a alma. Moro a 980km de SP. Como posso saber exatamente que se passou lá? Estou longe de qualquer dom, quanto mais o da bilocação. Fico impressionado como pessoas que moram mais longe ainda conseguem ter um panorama tão claro da situação.

    E em nada muda a crise atual. Crise que, aliás, só existe em certos meios. Sem colocar em debate a licitude, 99% dos católicos que conheço vai a missa como se fosse ao clube e não faz a menor idéia do que venha a ser esta tal crise.

    In Iesu et Mariae

    Gustavo

  18. Prezados, salve Maria.

    Enquanto vocês discutem, Bento XVI continua ensinando suas heresias, continua defendendo a liberdade religiosa e o ecumenismo, continua dando cabo ao plano de fazer uma síntese entre a missa tridentina e a missa de Paulo VI, e todos continuam achando que ele é o “Papa de Fátima”. Acordem e se voltem para o que realmente interessa: a crise na Igreja Católica!

    Abraços sinceros,

    Sandro Pelegrineti de Pontes – sandroppontes@yahoo.com.br

  19. Putz! Será possível que os sede-vacantistas chegaram até mesmo ao “Deus lo Vult!”? Pelo menos, sede-vacantista é o que parece ser o Sandro!

    Sandro, dizer que Bento XVI ensina heresias é dizer que ele estaria fora da Igreja e que não seria papa! Isto é sede-vacantismo prático! Estude só um pouquinho e verá que não há nenhuma heresia nestes assuntos tão comentados por Bento XVI…

    Tenha coragem. Vale a pena ter um pouquinho de trabalho com isso…

  20. Prezado Maurício, salve Maria.

    Diga-me você se existe algum erro neste meu artigo mostrando a correção feita por Bento XVI ESPECIFICAMENTE neste trecho onde é dito que a Igreja é santa e “sempre necessitada de purificação”, e que foi alterado por Bento XVI no compêndio do novo catecismo. Houve ou não correção neste trecho?
    Prezado, a verdade sobre os pastores da Igreja deve ser dita: se tal pastor acerta em um ponto, deve-se elogiá-lo neste ponto. Mas se tal pastor erra em outros pontos importantes, deve ser criticado nestes pontos em que erra. E mais. De acordo com a gravidade de seus erros, tal pastor deve ser desmascarado, independente de seus acertos. Isso no planeta de onde veio se chama justiça.
    A única coisa que lamento neste artigo que escrevi e que você cita é que na época eu não sabia que a definição que Bento XVI tem de Igreja não é a definição que eu, você e a Igreja Católica temos. Ele realmente não crê que a Igreja seja santa e “pecadora”, mas não crê também na definição dogmática do concílio de Trento sobre o que é, de fato, a Igreja. Para ele, Igreja é outra coisa, diferente daquilo que foi ensinado em Trento. Infelizmente. Estude as obras dele e verá.
    E se você me acha um tolo, saiba que o provérbio já diz que é preciso ser um para reconhecer outro.
    E já que é tão esperto, você e o tal “captare” (que deve ser arauto da nova TFP, salve melhor juízo) peço-lhes humildemente que emitam um breve parecer teológico
    sobre a “idéia” apresentada por Bento XVI, então padre Ratzinger, quando no livro “Introdução ao Cristianismo” (publicado em 1967), defendeu explicitamente que a doutrina sobre o sacrifício da missa ensinada pelo Concílio de Trento está ultrapassada, é falsa e que por isso não pode ser aceita. Leia:

    “(…) Concluímos que a essência do culto cristão NÃO SE ENCONTRA NO SACRIFÍCIO DAS COISAS, nem em alguma substituição qualquer, como se lê repetidamente nas TEORIAS SOBRE A MISSA, a partir do século XVI – segundo as quais, deste modo, seria reconhecido o supremo domínio de Deus sobre tudo. Todas estas considerações são ULTRAPASSADAS pelo acontecimento de Cristo e por sua interpretação bíblica”.

    Isso está na página 136. Quem quiser obter esta obra em português pela internet poderá acessar o link http://katalivros.com/downlods.asp?detalhe1=560 e clicar sobre a palavra “katar” que está um pouco a frente da capa do livro.
    Com a palavra, Maurício, o “identificador de tolos”, e “captare”, o sedeplenista que não tolera aqueles que defendem os dogmas da Igreja, mas que é totalmente tolerante com aqueles que ensinam heresias contra a mesma Igreja que ele diz defender.

    Estejam seguros de minhas orações por vocês, as quais inicio agora, após postar esta mensagem.

    In corde Iesu et Mariae. Semper!

    Sandro Pelegrineti de Pontes – sandroppontes@yahoo.com.br

  21. Aqui falo como testemunha: a única intenção do prof. Orlando e de outros membros da Montfort era, é e será preparar os jovens para o Bom Combate contra o Modernismo e contra as idéias liberais modernizantes, isto incluí qualquer postulante ao seminário, com ou sem IBP.

    O professor Orlando nunca pretendeu ter controle sobre ninguém, muito menos sobre membros do clero, a quem ele se submete, ou sobre um instituto pontifício.

    A vida toda do professor, de incansável instruir na religião é prova cabal e suficiente do que digo.

    Décadas e décadas de lutas, traições, incompreenções e coerência absoluta na doutrina católica, não podem se contrapor a piripaque subito do Padre Renato Leite, que embora sacerdote e, por isto digno de todo nosso respeito, ainda não tem um testemunho de vida desta magnitude.

    Peço, como outros neste blog, orações por todos os envolvidos, principalmente as crianças do São Mauro, que ficaram sem padre e pelos seminaristas que foram “eliminados” um-a-um e que foram “peça de desgaste” nesta história toda.

  22. Prezado Sandro,

    Permita-me uma ligeira intromissão no assunto.

    Diga-me você se existe algum erro neste meu artigo mostrando a correção feita por Bento XVI ESPECIFICAMENTE neste trecho onde é dito que a Igreja é santa e “sempre necessitada de purificação”, e que foi alterado por Bento XVI no compêndio do novo catecismo. Houve ou não correção neste trecho?

    Não, não houve. A mesma coisa é dita em ambos os textos, mudando apenas a forma (talvez – concedo – por causa das más interpretações surgidas). Já escrevi sobre o assunto – das diversas formas de se dizer algo – em outro post: A verdadeira intransigência.

    [P]eço-lhes humildemente que emitam um breve parecer teológico sobre a “idéia” apresentada por Bento XVI …

    Em resumo bem resumido: Ratzinger discute a noção de “Sacrifício” sob o aspecto exclusivo de “reparação” tal e qual se encontra no universo religioso extra-cristão:

    Ora, todo o culto pré-cristão baseia-se na idéia da substituição, da representação, tentando substituir o insubstituível; portanto, este culto forçosamente tinha de permanecer inútil.
    [id. ibid., p. 135]

    Nesse sentido, entende-se a passagem citada:

    Concluímos que a essência do culto cristão não se encontra no sacrifício das coisas, nem em alguma substituição qualquer […] Todas estas considerações são ultrapassadas pelo acontecimento de Cristo e por sua interpretação bíblica. O culto cristão consiste no absoluto do amor, tal como podia oferecê-lo somente alguém no qual o amor divino se tornou amor humano; consiste na forma nova da representação incluída neste amor, a saber, que ele ocupou o nosso lugar e nós nos deixamos tomar por ele. Portanto, significa que nos cumpre deixar de lado nossas tentativas de justificação que, no fundo, não passam de desculpas, colocando-nos uns contra os outros – como a tentativa de Adão em desculpar-se foi uma escusa e um jogar a culpa sobre o outro, finalmente uma tentativa de acusar o próprio Deus: “A mulher que pusestes [241] ao meu lado, ela foi quem me deu daquela árvore, e eu comi” (Gen 3,12). Este culto exige que, ao invés de opor afirmação destrutiva, da autojustificação, aceitemos a dádiva do amor de Jesus Cristo por nós, que nos deixemos unir nele, tornando-nos adoradores com ele e nele. [id. ibid., p. 136]

    Ver o Sacrifício somente sob o aspecto da Reparação é reducionista, e é isto que critica o então pe. Ratzinger.

    E, por fim:

    Não seria um conceito indigno de Deus representá-lo como um Deus a exigir a morte do Filho para aplacar a sua própria ira? A isto apenas se pode responder: De fato, assim não se pode pensar de Deus. Mas, uma tal idéia de Deus nada tem de comum com o conceito de Deus no Novo Testamento. Porquanto este trata exatamente de modo inverso, do Deus que, por si mesmo, queria ser, em Cristo, o ômega a última letra – do alfabeto da criação. […] Trata do Deus que se identifica com a sua criatura, pondo no contineri a minimo, no ser apanhado e subjugado e envolvido pelo mínimo, aquela “superabundância” que lhe confere credenciais de Deus.
    [id. ibid., p. 138]

    Em resumo:

    1- O homem não pode oferecer reparação, e esta é a idéia inerente aos sacrifícios extracristãos e que foi superada pelo Cristianismo [a reparação da Cruz é justamente a afirmação de que o homem é incapaz de reparar].

    2- A ênfase na reparação precisa ser contraposta com a ênfase na doação. Pois se homem é incapaz de reparar, é o próprio Deus quem repara a Si mesmo. Ora, se é o próprio Deus quem (Se) repara, então pode-se e deve-se falar em doação.

    Abraços, em Cristo,
    Jorge Ferraz

  23. Sandro,

    O que o padre Ratzinger condena naquele parágrafo são as interpretações bocós da missa que fazem paralelos com os sacrfícios pagãos.

    Veja como São Justino Mártir explica estes sacrifícios como enganações do demônio.

    Jorge,

    reparação…? doação…? Deus repara a Si mesmo…!!!?

    Deus é simples e perfeito!

    Isto é que dá ler livros da Quadrante…

    A essência do culto cristão encontra-se SIM no SACRIFíCIO DE JESUS CRISTO NO CALVÁRIO e na justificação do homem pelo livre derramamento de sangue dO Inocente, que não tendo pecado NENHUM, tem mérito infinito.

  24. Diego,

    Sim, o então pe. Ratzinger critica os paralelos entre a Missa e os sacrifícios pagãos. Obrigado por expressar a idéia de uma maneira mais concisa e clara do que eu consegui fazer.

    Sobre o Sacrifício da Cruz, é sim um Sacrifício de Reparação [= a Majestade Divina ofendida recebe uma Satisfação digna de Si], é infinito [por ser esta uma qualidade da Divindade – Jesus é Deus] e é doação [por ser GRAÇA, por ser Deus a vir ao encontro do homem em uma situação na qual havia uma impossibilidade ontológica do homem ir até Deus (já que o ser finito não poderia oferecer uma reparação infinita)].

    Abraços,
    Jorge

Os comentários estão fechados.