Às vezes eu me surpreendo com o que encontro na Montfort. Numa curta resposta a uma carta de um leitor, datada do dia 24 de setembro, o sr. Orlando Fedeli publica duas inverdades.
A primeira inverdade – e a mais gritante – está no próprio título da carta: Card. Ratzinger: “A Missa nova foi uma ruptura com a liturgia da Igreja”. A frase, citada entre aspas, indica que ela consiste em palavras literais do então Cardeal Ratzinger, porque é exatamente para isso que servem as aspas nas citações. No entanto, a citação do cardeal dada pela própria Montfort no corpo da resposta à carta não tem nada a ver com o que está no título:
“Fiquei estarrecido pela proibição do Missal antigo, pelo fato de que uma coisa como essa jamais se verificara na história da Liturgia.(…) A promulgação da proibição do Missal que se tinha desenvolvido no curso dos séculos, desde o tempo dos sacramentais da Antiga Igreja, comportou uma ruptura na história da Liturgia” (Joseph Ratzinger, A Minha Vida, p. 115, apud Antonio Socci, Il Quarto Segretto di Fatima, Rizzoli, Milano, 2006, p. 212, nota 361)
Em primeiro lugar, a frase colocada entre aspas não existe. Isso já basta para caracterizar a inverdade. Em segundo lugar – e muito mais importante -, a frase do título não apenas não é literal, como também deforma as palavras do card. Ratzinger. De acordo com a citação (a correta, que está no corpo da carta, e não a que está no título), para quem tem uma mínima noção de interpretação de texto e não esqueceu as aulas de análise sintática do colegial, o sujeito de “comportou uma ruptura na história da Liturgia” é “[a] promulgação da proibição do Missal [antigo]”, e não “a Missa Nova”! Após a própria Montfort já ter publicado um artigo no qual expunha detalhadamente as regras de citações, é de causar espanto que ela incorra nos mesmos erros que repudiou com tanta veemência outrora!
A “proibição do Missal” não é a mesma coisa que “[a] Missa Nova”, isto é evidente. Caberia perguntar à qual “promulgação da proibição” do missal antigo o então Card. Ratzinger está se referindo (já que tal proibição não consta na Missale Romanum), mas, independente disso, permanece cristalino que coisas distintas são distintas e, portanto, não podem ser indistintamente intercambiadas – muito menos numa citação de outra pessoa.
A segunda inverdade, mais sutil, refere-se a outra citação também falseada. Segundo Orlando Fedeli, “o Papa Bento XVI (…) considerava a Nova Liturgia como, em grande parte, a causadora da crise da Igreja”. A “Nova Liturgia” é, evidentemente, a Reforma Litúrgica. Só que a citação do então Cardeal, também publicada na Montfort, é a seguinte:
“Estou convencido que a crise eclesial em que nos encontramos hoje depende em grande parte do desmoronamento da liturgia, que por vezes vem concebida diretamente como se Deus não existisse – “etsi Deus non daretur” – como se nela não mais importasse se Deus existe, se nos fala e se nos ouve (…)”.
E o professor Orlando se esquece de que o Papa não chama e nem nunca chamou a Reforma Litúrgica de “desmoronamento da liturgia”. Quem deve dizer isso é o próprio sr. Fedeli. É universalmente reconhecido que existem abusos litúrgicos os mais diversos; e a Santa Sé, embora os tenha repetidas vezes condenado vigorosamente, nunca os atribuiu à Reforma da Liturgia em si.
Se o professor, portanto, afirma que o Papa considerava a Reforma Litúrgica como sendo uma causa da crise da Igreja, que apresente textos nos quais o Papa afirme que a Reforma Litúrgica é uma causa da crise da Igreja. Nada indica, no texto que foi citado, que o “desmoronamento da Liturgia” seja a mesma coisa que “a Reforma Litúrgica”. Trocando (mais uma vez) expressões que não são equivalentes, a Montfort apresenta inverdades aos seus leitores.
Se o cardeal Ratzinger disse o que o prof. Fedeli afirma ter dito, não o fez nos textos citados pela Montfort. A despeito de ser tentador, não importa perguntar se erros tão grosseiros são frutos de descuido, de cegueira ou de má fé; independente disso, o fato objetivo é que “argumentos” deste nível são indignos de qualquer debate que se pretenda minimamente honesto. Infelizmente, o resultado desta campanha que tenciona – per fas et per nefas – jogar lama na Liturgia atual da Igreja e num Concílio Ecumênico Legítimo é a confusão dos fiéis, na qual muitas almas são perdidas, e a solução da crise pela qual atravessa a Igreja de Cristo é postergada. É de se lamentar profundamente!
Também reparei isso nesse texto da Montfort.
Não colocaria como má fé. Conheci o professor Orlando pessoalmente e uma coisa que não se pode dizer é que ele não é um apaixonado pela Igreja.
Mas, como alertei a ele mesmo, talvez a defesa de seus pontos de vista de uma maneira muito passional não o esteja permitindo ver com clareza.
Ele está passando de defender a Fé (da Igreja) para defender o que ele compreende por ser a Fé da Igreja.
E esquece que a interpretação, quer da Bíblia, quer do Magistério, pertence à Igreja e não à Montfort.
A Montfort pode vir a ser um bom “fermento”, mas enquanto posar de “massa”, estará com a vista turva pelo próprio orgulho.
Ainda assim o site, na parte de História e documentos, é muito bom. Suas interpretações pessoais é que partem de uma defesa apaixonada demais de seus pontos de vista, e não da Fé.
Abraços!
A Missa Nova não foi pensada para coexistir com a Missa Tradicional, e sim para substitui-la. E essa ligação, de fato e de intento, entre a instituição do Novus Ordo e a repressão do uso do Missal precedente é também evidente nas informações que o cardeal Ratzinger relembra nas duas páginas precendentes ao comentado excerto. Em meu entender, a infelicidade do texto da Montfort foi, portanto, colocar aspas (depois dos dois pontos) onde não deveriam estar. Mas a idéia sintetizada está em perfeita consonância com fatos mais completamente narrados ao longo da autobiografia de Ratzinger.
Diferentemente do que Concílio de Trento concedeu às práticas litúrgicas e lícitas de pelo menos dois séculos de existência, a Reforma de Bugnini, extrapolando a letra do Concílio — mas praticando perfeitamente o espírito que motivou cortes, modificações e inclusões nos esquemas pré-conciliares — implementou uma abolição de fato da prática milenar do antigo rito. Alguns dos discípulos vivos de Bugnini não resistiram em publicamente relembrar a verdadeira intenção de seu mestre, ao afirmarem que a reabilitação da Missa Gregoriana consistiria num inegável retrocesso aos intentos e conquistas do Novus Ordo.
Prezado Antonio,
Eu imagino que as citações devem ser feitas com o máximo de exatidão possível, e quaisquer extrapolações ou inferências feitas a partir dos discursos de terceiros devem estar claramente indicadas como tais, por uma questão de honestidade intelectual. A mim, não parece haver nenhuma “perfeita consonância” entre o texto citado do cardeal e as palavras que o sr. Fedeli atribui ao cardeal.
O senhor poderia reproduzir aqui as “duas páginas precendentes ao comentado excerto” às quais se refere?
Outrossim, é sempre necessário relembrar que o Novus Ordo não é exclusividade de Bugnini, pois recebeu a aprovação da autoridade suprema do Papa; portanto, a busca do “intento” e do “espírito” por trás da Reforma não pode prescindir da consideração sobre o “intento” e o “espírito” da Igreja de Cristo.
Abraços, em Cristo,
Jorge Ferraz
Eu não discordei de você quando diz que as citações devam ser feitas com o máximo de exatidão possível. Minha intenção foi apontar que, a despeito desse erro, há, no contexto em que a primeira citação se encontra na obra original, um sujeito implícito — promulgação Missa Nova — na oração citada. Aponta-se o erro como se fosse mais importante do que a afirmação implícita, ou até como se esta fosse falsa. Nem uma nem outra coisa.
Não há uma desvinculação prática nem muito menos histórica entre a promulgação da Missa Nova e a proibição do Missal anterior. Ratzinger também reconhece isso no excerto maior que transcrevo abaixo. O hiato de apenas seis meses é também evidência disso. Como neófito que sou, e também pela intenção de não fazer desse comentário mais longo do que acabará já ficando, não tenho ainda a segurança para citar publicamente tantos outros fatos que também me parecem fortes indícios dessa tese. E os discípulos diretos de Bugnini, 40 anos depois, não nos deixam concluir diferente. Tanto que, ante a reabilitação da Missa Tradicional, mesmo sem nenhuma perda de espaço, ordinariedade e disponibilidade da Missa Nova, alguns foram publicamente afirmar que se teria dado um passo forte em direção ao cancelamento do intento da Reforma Litúrgica. Isso só faz sentido se se considerar que o intento da Missa Nova não era somente um segundo Missal (como até fora proposto inicialmente no Concílio, para solucionar as alegadas dificuldades pastorais da língua latina em países orientais), mas um novo que substituiria o anterior.
“…
O segundo grande acontecimento no início dos meus anos em Ratisbona foi a publicação do missal de Paulo VI, com a proibição quase total do missal anterior, depois de uma fase de transição de apenas meio ano. Era auspicioso o fato de que, depois de um tempo de experimentos, muitas vezes deformando profundamente a liturgia, houvesse agora um texto litúrgico obrigatório. Mas fiquei consternado pela proibição do missal antigo, pois algo semelhante nunca tinha acontecido em toda a história da liturgia. Tinha-se a impressão de que isso era uma coisa perfeitamente normal. O missal anterior tinha sido criado por Pio V, por ocasião do Concílio Tridentino; assim era normal, dizia-se, que após 400 anos e depois de um novo Concílio um novo papa oferecesse um novo missal. Mas a verdade histórica é outra. Pio V havia mandado fazer apenas uma revisão do Missale Romanum existente, como é normal no crescimento vivo da história através dos séculos. Assim também muitos de seus sucessores tinham novamente trabalhado esse missal, sem jamais opor um missal novo a um anterior. Foi um processo contínuo de crescimento e purificação, no qual, porém, nunca se destruiu a continuidade. Não existe um missal de Pio V que tivesse sido criado por ele. O que existe é a revisão feita por Pio V, como fase de uma longa história de crescimento. O “novo” depois do Concílio de Trento foi de outra natureza: o rompimento causado pela Reforma tinha-se realizado, sobretudo, como “reformas” litúrgicas. Não havia simplesmente uma Igreja Católica e outra protestante, uma ao lado da outra; a divisão da Igreja realizou-se quase imperceptivelmente, e era mais visível e historicamente mais eficaz na mudança da liturgia, que ainda aconteceu com muita diferença entre um lugar e outro, de sorte que também aí, entre o ainda católico e o já não católico muitas vezes era impossível de discernir.
…”
[O restante do texto até a citação original encontra-se num comentário de outro tópico]
Cabe ainda um comentário paralelo a respeito do que essa larga transcrição também informa. Enquanto S. Pio V tornou o Missal Romano universal e o dotou de balizas inconfundíveis com as “reformas” litúrgicas protestantes, sem nem mesmo com esse nobre intento revogar outros ritos católicos bem estabelecidos por 200 ou mais anos, o Missal de Bugnini, além de intentar (e conseguir na prática) substituir um rito milenar, fez muito ao contrário disso. A título de uma simplificação (que poderia muito bem ter-se dado sobre o Missal de 1962) e de fins ecumênico-irenistas, entre outras alegações duvidosas, a comissão para a liturgia promoveu uma aproximação geral da Missa e do uso do seu espaço com cultos que um dia a Igreja buscou deixar infalivelmente clara sua distância doutrinal e litúrgica. Alguém poderia perguntar-me se a Missa Nova promove alguma heresia explícita? Não estou certo disso. Mas sem nem mesmo precisar responder essa pergunta, só com o fato de omitir da Missa Nova várias das evidências/redundâncias ritualísticas e litúrgicas de outrora, a Comissão de Bugnini já teria sido pastoralmente imprudente ao tempo que foi promulgada, pois já naquele tempo havia indícios do enfraquecimento de alguns artigos de fé e de costumes reforçadores da doutrina católica. A gravidade da situação, ao invés de ser reduzida, foi acelerada, não coincidentemente com os experimentalismos dos anos pós-conciliares e, finalmente, depois da promulgação da Missa Nova. A teimosia de muitos bispos em não cessar hoje essas experimentações diante de seus fracassos pastorais por elas ocasionados/acelerados (mesmo que não se precise alterar em nada a legislação atual) nos dá uma evidência de que no passado não foram apenas objeto de mera imprudência ou mesmo ingênua esperança no novo, mas também de ímpeto revolucionário de mudança, inovação e indisposição com o tradicional.
Prezado Antonio,
Eu não discordo das considerações sobre a forma como se implementou a Reforma Litúrgica após o Concílio Vaticano II, como eu falei no outro post. No entanto, a forma como foi conduzida é diferente da reforma em si, e isso me parece bastante claro, tanto na minha própria compreensão dos fatos, quanto nas palavras de pessoas muito mais cultas e doutas do que eu (como, p.ex., os membros da cúria romana que o Fedeli cita e distorce).
Eu poderia até concordar com o “sujeito implícito” ou com a “afirmação implícita” que o senhor cita, se tal sujeito fosse (como o senhor pôs) “a promulgação da Missa Nova”, pois aqui estaria contida a diferença entre a forma da coisa e a coisa em si no sentido em que eu falei acima. Acontece que a afirmação do professor Fedeli – colocada indevidamente na pena do então cardeal Ratzinger – é “a Missa Nova foi uma ruptura”, e isto, absolutamente, não está de maneira alguma nem no texto e nem no contexto. O problema é esta deformação do pensamento do cardeal, e não uma mera questão de falta de aspas.
Por fim, sobre as considerações sobre o intuito da Reforma Litúrgica, reitero que, no meu entender, elas não podem prescindir de considerar o intuito da Igreja porque, afinal, Bugnini não fez a Reforma sozinho.
Abraços, em Cristo,
Jorge Ferraz
Prezado Jorge,
Penso que você trata a forma demasiadamente desvinculada da matéria que carrega. Quando a primeira é consagrada e virtuosa, sua escolha geralmente se dá porque se deseja a melhor eficácia à aplicação da matéria. Mas, no caso em tela, o que dizer a respeito de uma forma inusitada, inédita e perigosa de promulgar um novo missal, às custas do desmerecimento e da quase proibição de outro bem católico e milenar? O cardeal Medina, numa carta sobre a terceira edição do Missal de Paulo VI, dá a dica:
“Reafirmo a minha pessoal opinião de que a ab-rogação do Missal de S. Pio V não é provada e posso acrescentar que o decreto que assinei para promulgar a terceira editio typica do Missal Romano não contém alguma cláusula que ab-rogue a forma antiga do Rito Romano (…). E posso acrescentar ainda que a ausência de qualquer cláusula de ab-rogação não é devida ao acaso nem causada por inadvertência, mas foi intencional.”
Enquanto o cardeal Medina afirma, portanto, que a ausência objetiva de qualquer artigo ab-rogatório do Missal de 1962 retrata sua fiel intenção para a terceira edição da Missa Nova, o mesmo não pode ser dito sobre o Missal de 1969. Objetivamente, lá não se encontra nenhuma revogação jurídica do Missal então precedente. No entanto, a intenção de Bugnini era precisamente essa. Uma de suas tentativas de obter um golpe derradeiro ao Missal de 1962 é clara na resposta que obteve em 1974 da Pontifícia Comissão para Interpretação dos Documentos Conciliares, na qual foi negado um pedido seu por uma norma que explícita e juridicamente ab-rogasse a Missa antiga. A negação foi fundamentada numa “aversão injustificada à tradição litúrgica”.
Diferentemente de Medina, talvez Bugnini tenha omitido, durante os trabalhos para a Missa Nova, a proposta da ab-rogação jurídica do rito anterior para guardá-la para uma circunstância mais favorável e controlada (com a celebração e a assistência à Missa Gregoriana já minguadas), ou para pelo menos não prejudicar a aprovação do novo Missal. Não tenho uma evidência cabal disso, mas o emprego dessa tática, de omissões e ambigüidades, se aconteceu no caso conjecturado, não teria sido inédita, tendo sido reconhecida (tal tática), pelo papa Paulo VI, pelo menos uma vez ainda durante o Concílio, nas discussões sobre o esquema da colegialidade.
Pode-se, então, dizer que o intento de Bugnini fulcrava-se precisamente numa interpretação modernista de um dos textos do concílio, justamente o que Bento XVI vem tanto desautorizar em seu papado. Sim, mas, entre as objeções à constituição litúrgica conciliar, a mais pacífica é a de que as lacunas e novas permissões, sem serem melhor explicitadas, logo deram margem a tais interpretações que encontraram espaço não somente e constatadamente na intenção confessa de “eruditos” da Missa Nova e na criatividade de muitos padres, mas também, o que é bem pior, na própria letra-matéria da Reforma Litúrgica (parte da qual há muito cunhada nos próprios estudos litúrgicos do padre Bugnini), na forma de supressões (litúrgicas, ritualísticas e de costumes) e inovações (também de naturezas as mais variadas), resgates de práticas pouco prudentes para situações de decrescente conhecimento catequético já naqueles tempos, fruto (as inovações e supressões) geralmente de arqueologia remota, descontínua, incompleta e, às vezes, até errada. Os escritos litúrgicos de Klaus Gamber, Michael Davies e até Joseph Ratzinger, entre outros, dão-nos fortes evidências disso. Um dos erros mais graves apontados pelo cardeal Ottaviani foi até, de última hora, corrigido a mando de Paulo VI. Mas muitos dos demais vícios, imprecisões e perigos, a despeito da resposta dada pelo mesmo Ottaviani (sabe-se lá precisamente sob que circunstâncias) restaram os mesmos na letra final do Missal promulgado em 1969. Isso veio gerar toda sorte de usos, abusos e criatividades de segunda ordem. Esses distanciamentos, lacunas, imprecisões e inovações vêm muito vagarosa e discretamente sendo corrigidos na letra (mas muito continuados na praxe), seja por meio de reforma desse Missal e de sua Instrução Geral, seja através de interpretações das lacunas e ambigüidades do texto conciliar que lhes deram margem, seja ainda pela reafirmação do magistério pré-conciliar sobre a liturgia. Muito recentemente, fala-se na “reforma da reforma”, que supostamente trará de volta ao texto desse Missal alguns dos elementos litúrgicos e ritualísticos do Missal anterior que jamais deveriam ter sido suprimidos. Se isso acontecer, tornará a Missa de Bugnini e Paulo VI mais católica e, sobretudo, mais pastoralmente prudente para os tempos de hoje. Mas mesmo assim, temo, ainda restará por muito tempo resíduos de inovações que a tendência e ímpeto modernistas conseguiram incutir no texto e praxe desse Missal. Até que, finalmente, um papa ou revogue esse Missal, ou o torne tão próximo do Missal tradicional que sejam ambos, na prática, referidos categoricamente como uma mesma substância, aparência e forma do Rito Romano.
Na cidade em que moro, das paróquias que já percorri no passado, não dá para assistir uma Missa Nova sequer sem ferir-me em algum grau a consciência ou sair dela lamentoso. Numa típica paróquia local, tem-se quantos “estilos” (como muitos de seus participantes assim se referem às suas celebrações) de Missas quanto forem a quantidade delas celebradas. E não é somente por culpa ou alegada impossibilidade de ação dos padres, mas também de muitos leigos que, tendo assumido vários papéis litúrgicos, o fazem cada qual a sua bastante pessoal maneira. Algumas paróquias tornam-se reféns desses leigos, que, em troca de seus serviços catequéticos e litúrgicos, animações não remuneradas, e, sobretudo, para não afastarem ainda mais os infiéis (por ignorância ou má convicção) da Missa, toleram a situação ou lhe fazem vista grossa. Tolerância que, por si somente, alimenta quotidianamente esse ciclo vicioso. O caminho da restauração será longo. Talvez para os nossos bisnetos ou trinetos. Mas é preciso hoje dar o passo inicial em reconhecer esses erros e suas as causas mais primitivas, estejam elas numa combinação complexa de intenção, matéria e forma da Missa Nova, da promulgação dela e da (quase) proibição da Missa Tradicional, estejam elas na extrapolação de segundas e terceiras gerações desses mesmos erros, estejam ainda na catequese ruim e/ou contaminada de modernismo, que faz demanda crescente por tais usos e abusos e neles imprime uma aparência de normalidade.
Com a redação acima, que já muito foge do escopo original de sua mensagem, não tenho a pretensão de que você nem leitor algum abrace automática ou rapidamente as informações e argumentos elencados, senão ao tempo de cada um e por seus próprios caminhos. Faço-o também, e talvez principalmente, em tom de desabafo. As constatações acima me são um tanto dolorosas, mas Deus dá-me hoje a graça de não me escandalizar com elas e de confiar em sua promessa.
Abraços,
Antonio
Caros amigos
A Problemática do Sr Orlando Fedeli, sempre foi utilizar de palavras alheias, entre “aspas” ou (entre parenteses), para dizer o que ele bem entende desprezando aquilo que ele não tem interesse algum.
Escolhe cartas e escolhe textos para dizer o que quer, qual a novidade disto ?
O problema que estas “Aspas” se tornam verdades absolutas para ele e seus discipulos difundem até mesmo fofocas como se fossem verdades.
Por exemplo.
Fedeli citou uma certa voz murmurante e vascilante vinda do Vaticano:
Sem nome, sem profisão e sem mérito algum.
No entanto ouvi um de seus leitores pregango em publico e citando um daqueles textos como se fosse uma verdade comprovada, e não simplesmente uma suposição baseada em uma fofoca de corredor.
Mas o que mais acontece hoje, não só na Montfor, como também em outros Blog’s, estão usando Palavras do antigo Cardeal Joseph Ratzinger como se fossem palavras do atual Papa Bento XVI.
São a mesma pessoa ? sim são, mas estas palavras não foram dirigidas ao rebanho como palavras do Papa e sim como um livro de um Ótimo Cardeal do Papa João Paulo II.
O que mudaria no sentido destas palavras:
O Papa Bento XVI não decidiu nada a respeito de um certo assunto e nossos amigos já estão divulgando decisões futuras baseando-se naquilo que um Cardeal escreveu em um Livro como um conselheiro, sendo que hoje, como um Papa, ele houve diversos conselheiros com diversas opiniões e tendências antes de tomar qualquer decisão que afetará o destido e o futuro de toda a Igreja.
Portanto as palavras de um livro do Cardeal jamais terão o mesmo valor de uma Encíclica, Moto Próprio ou Concílio…
Sendo assim, fico a pensar, porque o Cardeal sendo eleito Papa, Muda de Nome ? E nunca um nome já existente anteriormente.
Portanto não vejo razão para discutir sobre o “sujeito” ou sobre o que esteja “Implícito” ou “Explícito” no texto de um livro quando foi sugerido como uma palavra do Papa atual sobre prováveis decisões futuras, quando na verdade é de um Cardeal do Papa anterior como conselhos a situações do passado.
Deus vos abençõe.
Estimado “presenteparavoce” obrigada pela simplicidade e clareza de ideias. Como a verdade, do qual a Igreja é servidora, é bela. Se a Igreja é servidora, porque nós queremos ser seus “donos”?
Obrigada Jorge pelo post. Excelente!
“Presentepravoce”,
Em princípio, os livros do cardeal Ratzinger não tem o mesmo valor magisterial que seus escritos enquanto papa, mas ninguém pode duvidar, a priori, da sinceridade, da pouca ou nenhuma interferência externa, nem da precisão das informações que neles se pode constatar. Muito menos de um livro auto-biográfico que, diferentemente do que vc quis dizer, não é fruto de um homem a quem lhe foi pedido um conselho. O papa teve nessa obra livre e total iniciativa para escrevê-la, narrando, meditando e corrigindo o que lhe achasse conveniente até a definitiva impressão.
Por outro lado, é precisamente os tempos hodiernos de colegialidade modernista (o relativismo do consenso, desejado fundir-se às coisas da Igreja), forçada por muitos bispos e cardeais de diversas matizes modernistas, que, por vezes, influenciam o discurso do papa Bento XVI a dizer uma coisa e depois ponderar coisa distinta a outra audiência. Vc bem o reconheceu, conscientemente ou não, quando disse “… sendo que hoje, como um Papa, ele houve diversos conselheiros com diversas opiniões e tendências antes de tomar qualquer decisão que afetará o destido e o futuro de toda a Igreja…”. Esse é o problema da colegialidade do Vaticano II. É a Igreja que teria de se moldar à vontade social (representada democraticamente por leigos, padres e bispos), e não ser o sal da Terra, que ensina e santifica, a despeito de todas as tendências atuais do mundo, da carne e do demônio.
O tripé no qual um papa deve sempre buscar-se basear é o da Escritura, Magistério e Tradição. A autoridade bem usada sempre vem da Verdade, não necessariamente espelhada em opiniões ou conselhos majoritários advindos do democratismo episcopal pós-conciliar.
Finalmente, o que me surpreendeu também foi vc tachar a análise bem sincera e insuspeita de Ratzinger de 30 anos atrás como meros “conselhos” inaplicáveis ao presente. Por acaso ou não, este é semelhante a um dos muitos argumentos bem batidos contra o magistério anti-modernismo de S. Pio X, quando se insinua que aquele magistério não se aplica aos tempos de hoje, já que a problemática modernista já teria sido superada ou ficado para trás na história da Igreja.
Se a distância temporal, e não a (re)condenação material e formal, fosse um instrumento de sepultamento de erros, o Vaticano II já também estaria tão ou mais superado, ou melhor, sequer teria dado vazão a erros, omissões e imprecisões com sabor de heresia.
Cordialmente,
Antonio
Então eu entendi bem? O “Deus lo vult” e o “Monfort” são, de certa forma, antagônicos? Pois eu lhes julgava idênticos até a (superficial e apressada) leitura deste post.
Devo ser como o brasileiro que acha os orientais todos iguais, mesmo sabendo que entre eles há inúmeras diferenças de feições que escapam a um olhar menos treinado mas que são claramente perceptíveis a quem está treinado a elas (a saber os próprios orientais).
Para vocês deve fazer enorme diferença se a missa tem 20 ou 30 repetições chatas de uma mesma reza ou se ela vem em latin ou em um português pedante. Devo lhes informar que daquí de fora não faz a menor diferença.
Procure saber bem sobre a formulação e manipulação dentro do Concílio..talvez mude de opinião…liturgia sempre foi perfeita…o que é perfeito não necessita de reforma…não concorda?