Respeitar a Liturgia para participar da Santa Missa

O augusto sacrifício do altar não é, pois, uma pura e simples comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e próprio sacrifício, no qual, imolando-se incruentamente, o sumo Sacerdote faz aquilo que fez uma vez sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai, vítima agradabilíssima. “Uma… e idêntica é a vítima: aquele mesmo, que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes, se ofereceu então sobre a cruz; é diferente apenas, o modo de fazer a oferta”.
[Pio XII, Mediator Dei, 61]

O Sacrifício da nossa Redenção, o Sacrifício Propiciatório de um Deus feito homem por amor a nós e que Se entrega ao Pai Eterno em expiação dos nossos pecados: eis a Santa Missa. Não uma simples comemoração, não uma mera lembrança, mas o mesmo Sacrifício da Cruz do Calvário. A Santa Missa transcende infinitamente qualquer coisa que nós poderíamos fazer por nós próprios; n’Ela, é Cristo Sacerdote e Vítima quem é o verdadeiro protagonista.

A Igreja sempre insistiu, no decorrer dos séculos, na necessidade de se encarar a Liturgia como um patrimônio de toda a Igreja, de maneira alguma sujeita ao arbítrio de particulares. É importante encontrar a Liturgia – e a Santa Missa em particular – como uma coisa que se recebe da Igreja, e não como um produto de nossa criatividade ou de nossos anseios. A Liturgia é presente legado pela Igreja; de modo algum é obra dos fiéis, e nem mesmo dos sacerdotes celebrantes. Respeitar a Santa Missa é respeitar a Igreja, respeitar a Santíssima Eucaristia, o Santo Sacrifício do Altar.

Não é por acaso que existe uma correlação facilmente perceptível entre o zelo com o qual um sacerdote celebra o Santo Sacrifício da Missa e a sua ortodoxia, a solidez de sua moral, a fecundidade da sua vida de oração; pois desrespeitar as normas estabelecidas pela Igreja para a celebração do Santo Sacrifício da Missa é debochar da Igreja, menosprezar a Eucaristia e negar aos fiéis os tesouros que a Esposa de Cristo, por meio da Liturgia, deseja-lhes dispensar. Ora, quem assim age não é um servo fiel da Igreja e de Jesus Cristo e, por conseguinte, jamais pode ser um bom sacerdote. Quem quiser, portanto, encontrar um sacerdote santo nos dias de hoje, procure-o na devoção ao Santo Serviço do Altar, no respeito às rubricas prescritas pela autoridade competente, na fidelidade inegociável à Liturgia da Igreja.

Faz já quatro anos que a Santa Sé publicou um documento chamado Redemptionis Sacramentum, no qual são estabelecidas “algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia”. O documento é atualíssimo e, nele, podemos encontrar uma infinidade de coisas que – infelizmente – vemos acontecer com muita freqüência nas missas das quais participamos e que não poderiam acontecer. Só à guisa de exemplo, trago alguns trechos desta instrução tão importante quanto negligenciada, cuja leitura é absolutamente fundamental para todos os fiéis católicos dos nossos dias:

[É] um abuso fazer que algumas partes da Oração Eucarística sejam pronunciadas pelo diácono, por um ministro leigo, ou ainda por um só ou por todos os fiéis juntos. [RS 52]

Cesse a prática reprovável de que sacerdotes, ou diáconos, ou mesmo os fiéis leigos, modificam e variem, à seu próprio arbítrio, aqui ou ali, os textos da sagrada Liturgia que eles pronunciam. [RS 59]

Assim pois, não é lícito negar a sagrada Comunhão a um fiel, por exemplo, só pelo fato de querer receber a Eucaristia ajoelhado ou de pé. [RS 91]

Reprove-se o costume daqueles sacerdotes que, a pesar de estar presentes na celebração, abstém-se de distribuir a Comunhão, delegando esta tarefa a leigos. [RS 157]

É de fundamental importância que todas as prescrições relacionadas à celebração da Santa Missa sejam diligentemente observadas, a fim de que os fiéis possam ter uma correta compreensão do Sacrifício Eucarístico e possam participar de maneira frutuosa da Santa Missa. Já Pio XII dizia ser “necessário (…) que todos os fiéis tenham por seu principal dever e suma dignidade participar do santo sacrifício eucarístico, não com assistência passiva, negligente e distraída, mas com tal empenho e fervor que os ponha em contato íntimo com o sumo sacerdote” (MD 73). Ao contrário do que estamos acostumados a ver nos nossos dias, contudo, “participar” do Santo Sacrifício Eucarístico não tem nada a ver com cantar, bater palmas, fazer leituras, responder ao sacerdote, etc. Participar do Santo Sacrifício da Missa é unir-se ao Sacrifício de Cristo, é oferecer a Vítima Divina presente no altar a Deus Pai “por meio do sacerdote” e “juntamente com o sacerdote” (cf. MD 83), e ainda oferecer-se a si mesmo, unido ao Sacrifício da Cruz do Calvário: para os fiéis, “é necessário que eles se imolem a si mesmos como vítimas” (MD 88).

Sem o conhecimento do que seja o Santo Sacrifício Eucarísitico e sem uma correta e diligente catequese litúrgica, é completamente impossível aos fiéis participarem da Santa Missa, ainda que façam leituras ou sejam coroinhas, cantem no Ministério de Música e batam palmas, chorem e se emocionem com as palavras do padre. Nada disso é participar da Missa. A verdadeira e frutuosa participação é predominantemente interior, que se exprime, sim, por meio de gestos exteriores, mas nem estes gestos constituem a participação em si, nem são quaisquer gestos que são adequados à Santa Missa. E, aqui, voltamos à questão da obediência às rubricas e às determinações que a Santa Igreja dá sobre a Liturgia; fora de um profundo respeito à Santa Missa, à autoridade da Igreja, à Santíssima Eucaristia, é impossível falar em verdadeira participação da Missa.

Esforcemo-nos, portanto, para conhecermos os tesouros da Liturgia da Igreja, para promovermos o respeito exigido às normas litúrgicas promulgadas pelas autoridades eclesiásticas competentes, a fim de que consigamos participar de maneira frutuosa do Santo Sacrifício da Missa. Ofereçamos as nossas vidas a Deus Pai Onipotente, unidas ao Sacrifício de Cristo tornado presente nos nossos altares sempre que um sacerdote celebra a Santa Missa. Conheçamos a nossa Fé, conheçamos o que a Igreja nos oferece, e não aceitemos passivamente que os Sagrados Mistérios dos quais precisamos sejam-nos entregues diminuídos, por ignorância ou negligência de quem quer que seja. Afinal, “o povo católico tem direito a que se celebre por ele, de forma íntegra, o santo Sacrifício da Missa, conforme toda a essência do Magistério da Igreja” (RS 12).

13 comentários em “Respeitar a Liturgia para participar da Santa Missa”

  1. Caro Jorge,

    A respeito de bater palmas todos nós sabemos que estão ocorrendo muitos abusos nas Missas, mas há realmente é proibido bater palmas na missa ?

    Se existe essa proibição ela não deveria se aplicar tão somente do início da oração Eucarística até a oração após a comunhão ?

    Qual o problema de se bater palmas por exemplo no canto de entrada ou no Glória, onde manifestamos nossa alegria pela ressurreição de Cristo e por sua presença entre nós ?

    Paz e Bem !

  2. Luciano,

    Não me consta que haja proibição expressa às palmas na Missa. Na Redemptionis Sacramentum, elas não são mencionadas.

    Na minha opinião, as palmas devem ser evitadas, porque (a) salvo algum tremendo engano, são completamente estranhas à tradição litúrgica da Igreja, quer oriental, quer ocidental; e (b) não ajudam a “descortinar” a verdade do Sacrifício do Calvário que, escondido, ocorre realmente por detrás da Liturgia – portanto impedem a correta compreensão da missa e, por conseguinte, a justa e frutuosa participação.

    É como eu falei acima: claro que há alegria, e a alegria pode ser manifestada exteriormente, mas não é “qualquer coisa” que pode ser usada como manifestação exterior na Missa. Uma virtude que a liturgia romana sempre prezou foi a sobriedade.

    Abraços, em Cristo,
    Jorge Ferraz

  3. A meu ver as palmas não se encaixam no contexto do calvário e não são da tradição liturgica, mas talvez encontrem espaço em algum acontecimento extraordinário: uma Verdade bem colocada na homilia, para agradecer uma visita pastoral, ou algo do gênero, que embora esteja “inserido” na liturgia (porque feito durante a missa) não faça parte dela; nunca ordinariamente, como ao levantar a Bíblia ou no canto do Glória, p.ex.

    Mas essa é a minha opinião, não encontrei nada a respeito.

    []’s

  4. Nossa…..Amei essa matéria.Sou batizada ha 46 anos e me deparei com a minha ignorancia diante de algo que faço até com uma certa frequencia….A SANTA MISSA… E olha que sou catequista ha 12 anos… e por acaso encontrei essa matéria no google,pois estava procurando algo sobre liturgia na catequese;que é a segunda etapa sobre o tema Liturgia do curso para coordenadores de Catequese;não com a intenção de desmerecer a catequista que nos deu o curso,mas bem sem conteúdo,pode-se dizer,pobre,muito superficial e sem contar que pouca formação temos em nossa paróquia;com a graça de Deus montamos um bazar e desde o ano passado estamos fazendo esse curso em Passos MG.por nossa conta e graça de Deus,desculpe.Vou deixar meu endereço na esperança de que se for possível me enviassem material,DE GRAÇA pois gostaria de adquirir mais conhecimento sobre Litugia;estou fascinada por conhecer mais sobre minha Igreja e Deus seja louvado pelo trabalho de voces.Um beijo bem carinhoso…………..AMEI…………..

  5. Ótimo texto.

    Se tem algo(e como tem) que deveriamos haver maior

    zelo na Igreja é a Santa Missa.

    Infelizmente, tem havido um relaxamento cada vez maior

    em algumas celebrações.

    De fato, foram introduzidas práticas estranhas à tradição
    católica.

    Muito barulho e pouco silêncio. Muita alegria e pouca
    piedade.

    Falta ao povo uma melhor catequese em relação à Santa
    Missa.

    Creio que a imensa maioria tem uma visão superficial
    do seu significado.

    E, principalmente, o nosso clero deveria libertar-se das

    influências negativas surgidas nos ultimos 40 anos.

    O que , obviamente, vai demorar um pouco.

    Apesar de tudo, alguns já estão recuperando e restaurando parte (boa) do que foi deixado para trás.

  6. Caríssima Angela,

    Agradeço profundamente a tua visita e as tuas palavras amáveis; fico feliz que tenha sido útil, um pouco que seja, para aumentar o teu amor à Santa Missa.

    Infelizmente, este blog é uma iniciativa relativamente recente, de modo que eu não possuo material para ser enviado. Tu podes encontrar alguns sites recomendados na barra lateral direita; e estou à disposição para, na medida das minhas limitações, responder-te (ou indicar-te quem te responda) os questionamentos.

    Fique com Deus e a Virgem Santíssima.

    Abraços,
    Jorge

  7. Caríssima Angela Maria!

    Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo que, mesmo em meio a tanta confusão doutrinária e profanação litúrgica dos tempos de hoje ainda dá graças a nós, podres pecadores, afim de ensinarmos e descobrirmos mais um pouco do verdadeiro e infinito valor da renovação do Santo Sacrifício do Calvário!!

    Compartilho com todos um link para um catecismo da Santa Missa, de um autor anônimo do século XIX, que bem varre suas linhas gerais e os pormenores ritualísticos e litúrgicos:

    http://www.ssvpcmbh.org.br/pub/Catecismo%20da%20Santa%20Missa.pdf

    Há outro opúsculo bem seguro a respeito da Santa Missa, de autoria do frade franciscano Leornado de Porto-Maurício, que pode ser adquirido no seguinte link:

    http://www.immaculata.com.br/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_produto=33

    Em Jesus e Maria,

    Antonio

  8. Francisco, não sei se entendi muito bem o que tu quiseste insinuar, mas estas “aclamações” são as respostas da assembléia: Deo Gratias e Laus tibi Christi. Nada a ver com palmas.

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