[Fonte: Gazeta do Povo]
Estupro, Aborto e Valores Distorcidos
Têm sido espantosas as reações à declaração de dom Cardoso, arcebispo de Olinda e Recife, acerca das excomunhões dos responsáveis pelo aborto das duas crianças geradas no estupro de uma menina de nove anos de idade. O que ele fez foi apenas o seu dever: comunicar ter ocorrido a excomunhão automática dos responsáveis pela morte de duas crianças inocentes. Quem lesse as reações à comunicação, contudo, teria a impressão de que havia uma vida apenas em risco, e esta seria a vida da mãe das crianças. Não é o caso. A vida dela estava, sim, em um certo grau de risco, não maior nem menor que o de muitas mulheres grávidas com alguma complicação. Casos muito piores já chegaram a um final feliz.
Neste caso, contudo, aproveitando-se de uma falsa brecha legal – o fato de o Direito brasileiro não prever punição para o aborto de crianças geradas por estupro ou em caso de risco de vida para a mãe, exatamente como não prevê punição para o furto cometido por um filho contra o pai – grupos de pressão interessados na legalização do aborto apressaram-se, contra a vontade da mãe e de seus responsáveis legais, a matar o quanto antes as crianças que cometeram o crime de terem sido concebidas no transcurso de um repulsivo estupro. Os filhos são punidos com pena de morte pelo crime do pai.
A violência das reações à declaração de dom Cardoso, contudo, mostra claramente o alcance – em alguns setores bastante vocais da classe média urbana – de uma pseudoética apavorante. As crianças mortas simplesmente não entram na equação, não são consideradas. O próprio estupro só é mencionado de passagem. O risco de vida para a mãe é transformado em uma certeza de sua morte. São saudados como heróis salvadores os carniceiros que arrancaram do ventre da mãe duas crianças perfeitamente saudáveis e atiraram os cadáveres em uma cesta de lixo, onde provavelmente estava uma cópia mofada do juramento de Hipócrates que fizeram quando se formaram médicos.
Isto ocorre por ter sido perdida a noção do valor da vida. A vida, em si, para os defensores do aborto, não vale nada. Ao invés dela, o que teria valor seria o resultado final de uma equação que tem como componentes o bem-estar da pessoa e sua utilidade para a sociedade. As crianças abortadas não têm valor para a sociedade, logo podem ser mortas. Mais ainda, não merecem menção. A única criança digna de menção é a mãe, e olhe lá.
Ela mesma, a mãe das crianças abortadas, tem seu sofrimento deixado de lado. Uma menina de nove anos de idade que sofreu a violência de um estupro, provavelmente reiteradas vezes; uma criança ela mesma, vivendo mais que provavelmente em condições miseráveis (sabe-se que sua mãe não sabe ler e escrever, o que serviu bem aos que simplesmente mandaram que apusesse a impressão do polegar aos papéis que, como depois ela veio a saber, eram a sentença de morte de seus netos), foi levada de um lugar para o outro, teve os filhos que ela desejava manter arrancados de seu ventre e mortos, sendo tratada apenas como excelente exemplo de portadora biológica de material a abortar.
É de crer que provavelmente os defensores do aborto teriam de bom grado preferido que ela também tivesse sido abortada: o resultado da equação de utilidade social e bem-estar que usam para valorizar uma vida dificilmente seria alto o suficiente no caso dela para garantir-lhe a sobrevivência.
O estupro, mais ainda, o estupro reiterado e contumaz de uma criança indefesa é um crime asqueroso, que poderia em justiça merecer a pena de morte (não percebi, aliás, em nenhuma das numerosas e estridentes reações pró-aborto à declaração de dom Cardoso, alguém pedindo que fosse estendida ao estuprador a pena de morte que sofreram seus filhos). Quem o comete vê em sua vítima apenas um orifício cercado por forma humana, um receptáculo fraco e indefeso, logo acessível a suas taras. É já uma negação da humanidade da vítima: ela não merece, crê o estuprador, ter direito de opinião sobre o que é feito com seu corpo.
A mesma negação feita pelo estuprador contra sua vítima foi reiterada sobre seus filhos: ela foi estuprada; eles foram mortos. Desumanizada pela primeira vez pelo estuprador, ela o foi novamente, juntamente com seus próprios filhos – a flor de esperança e de vida que poderia ter saído do lodo da violência – pelos que não consideram que a vida tenha, por ser vida humana, algum valor. Agora, esperam eles, esgotado seu valor de propaganda, ela pode rastejar de volta à miséria de seu barraco e deixá-los tocar em paz a campanha pró-aborto.
Carlos Ramalhete é professor e filósofo. carlosgazeta@hsjonline.com
Abaixo transcrevo e-mail que enviei ao prof. Carlos Ramalhete
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Caríssimo Prof. Carlos Ramalhete
Li sua coluna através do site do Jorge Ferraz, apenas quero fazer um comentário, que na verdade coincide com a ultima linha do texto.
O caso de Alagoinha aconteceu na mesma época do proclamado Dia Internacional da Mulher, e como sabemos, as marchas e manifestações deste dia há tempos foram empossadas por feminazistas, ou seja,estas se acham as donas do Dia Internacional da Mulher.
Como não poderia deixar de ser, o caso da menina estuprada e (ex)grávida virou bandeira vermelha e anti-clerical violenta. A menina e sua mãe estão sendo usadas de forma vergonhosa.
Depois que a caldeira esfriar, como o senhor mesmo escreveu, as duas rastejarão de volta para sua miséria. E quem vai lembrar delas e dar assistência pós-trauma? Aposto que apenas os “monstros medievais”.
Um grande abraço
Roberto R. Bettoni (34)
Caxias do Sul – RS
Gente, não se esqueçam de mandar e-mails à Gazeta do Povo elogiando o artigo. Em casos como esse, o “clamor popular” conta muito, ainda mais para o único jornal da grande imprensa que se dispõe a dar voz para os que defendem o bispo. O e-mail é leitor@gazetadopovo.com.br
Caro Jorge
Este texto de Carlos Ramalhete vem ao encontro de uma verdade muito clara, gostaria de destacar a ultima frase deste texto, porque esta sim é que ficará para sempre, já que o barulho da tragédia já passou e até os ataques diminuiram, mas o futuro, este ainda deverá ser alcançado.
Relembremos aqui que muitos vieram em defesa de uma vida, esperemos que esta vida não seja esquecida por aqueles que decidiram seu futuro em detrimento não de sua vontade e direito, mas até mesmo de seu proprio conhecimento da verdade.
[…] Agora, esperam eles, esgotado seu valor de propaganda, ela pode rastejar de volta à miséria de seu barraco e deixá-los tocar em paz a campanha pró-aborto.[…]
Gostaria apenas de relembrar aqui, que com o barulho provocado no Recife todos os casos semelhantes foram para a TV, em andamento hoje existem tres casos de crianças grávidas de homens que violentaram, entre eles uma criança de 11 anos que não abortou seu filho.
No entando o estuprador nem preso estava, estava andando por aí, culpado ? Talvez não? Quem ligava para ele ? A policia tinha que provcar o crime e nem se sabia quem era o culpado.
Mas, com as pressões acabou confesando e está preso.
Mas continua alegando que pode não ser o Pai !
O crime ele cometeu e daí se não for o Pai ?
Outro estuprador, só porque a menina não ficou grávida estava apenas prestando depoimento na delegacia da mulher.
Vejam só, em tres casos, nenhum dos estupradores estavam na cadeia, se a justiça os deixa soltos porque a Igreja deveria excomungá-los ?
Mas as CDD ou Ong’s pró aborto não querem nem sabem destes casos, se serão condenados ou se amanhã estarão nas ruas novamente estuprando outras criancinhas.
Precisamos é curar a sociedade pôdre, se não existissem estupradores o aborto “legal” seria totalmente inútil. mas preferem tapar o sol com a peneira eliminando o resultado do crime do que acabando com o crime.
Paz