A mídia é capaz de fazer coisas fantásticas e inacreditáveis. Hoje, por exemplo, encontrei uma mesma notícia, contada de formas tão escandalosamente diferentes que parecem até duas: Menina de 11 anos dá à luz no RS (Gazeta do Povo) e Burocracia pode ter condenado menina de 11 anos estuprada em Iraí, no RS, a levar gravidez adiante (O Globo).
[Quanto a este último, aliás, comentei en passant aqui há uns dias uma outra matéria do mesmo jornal que, de tão igual à de hoje, pareceu-me até a mesma… fui olhar. A que comentei então é do dia 06 de março, assinada por Cleide Carvalho e Fabiana Parajara; a que comento hoje é do dia 05 de março, assinada pela Cleide Carvalho sozinha, e claramente serviu de base para a redação do texto do dia seguinte.]
Diz a matéria da Gazeta que “[a] menina parece feliz com a maternidade, já pegou o bebê no colo”; perfeito. Existe correspondência entre o corpo da matéria e o seu título. Na matéria d’O Globo, contudo, nada que esteja no corpo da matéria justifica o título, pois naquele é dito claramente que “não houve sequer discussão sobre a possibilidade de a criança ser submetida a um aborto porque não houve pedido por parte dos responsáveis legais”.
Oras, se a menina não queria abortar, se a família da menina não queria abortar, se ninguém em momento algum falou sobre aborto, então onde raios entra a “burocracia” do título da reportagem?! Por que motivo a menina foi “condenada”?! Um semelhante título – que dá a entender ter havido uma batalha judicial (burocraticamente estendida até além do período de gestação da menor) entre os que queriam o aborto da menina e os que não o queriam – para um semelhante caso é totalmente incompreensível.
Ou, se pensarmos com mais cuidado, é bastante compreensível: os abortistas queriam que a menina abortasse. Os que fazem lobby em defesa do assassinato de crianças querem impôr o aborto a todo custo, não importa o que a menor ou os responsáveis por ela desejem. Eles, que defendem o aborto por qualquer motivo ou até mesmo sem motivo algum, simplesmente não conseguem suportar a idéia de que existam pessoas que, tendo “motivos” para abortar, optem por não o fazer. Uma belíssima contradição dos defensores do “direito” de escolha! Na verdade, para esta gente, a única escolha que se tem direito de fazer é aquela que esteja de acordo com a agenda abortista. O resto, é “negligência” dos pais, é “burocracia”, é “desinformação” e tantas coisas mais… Que coisa bonita, não?
OFF: Eu não conhecia Umbert, the Unborn. Excelente!
Não podemos nos deixar enganar pelos abortistas: eles não defendem liberdade de escolha nenhuma. Para eles, o aborto é uma obrigação.
Um exemplo é a ONG Cfemea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria). Ela colocou em seu site um release (que foi distribuído também à imprensa e que guardo comigo, caso o texto desapareça do site) anunciando um debate com a participação de um dos médicos que fez o aborto na menina que ficou grávida de gêmeos após um estupro. A parte mais interessante do release é a seguinte:
“Na semana do 8 de março, a CSSF do Congresso Nacional AMEAÇARÁ VOTAR [grifo meu] propostas contrárias aos DSDR. O bolsa-estupro (PL 1.763/2007), se entrar em vigor, destinará um salário mínimo, até que o/a filho/a complete 18 anos, para a mulher que decida não interromper a gravidez resultante de um estupro, crime considerado hediondo pela legislação brasileira. Os outros dois projetos seguem a mesma linha. O projeto de lei 831/2007 do deputado Odair Cunha (PT-MG) pretende criar o programa de “orientação” nos hospitais para dissuadir as mulheres de exercerem o direito ao aborto legal. O PL 2.504/2007, do ex-deputado Walter Brito Neto (PRB/PB) obriga o cadastro das gravidezes em todas as unidades de saúde.”
Breves observações: CSSF é a Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, não do Congresso. Já a sigla DSDR, usada pelas ONGs feministas, refere-se a “direitos sexuais e direitos reprodutivos”.
Observem que a ONG considera o projeto 1.763/2007 uma ameaça ao abortismo.
A proposta diz que a investigação e a punição do estupro são prioritárias e determina que nos casos em que o estupro for comprovado e definitivamente julgado, o Estado deve colocar à disposição da mulher (vejam bem: colocar à disposição, ou seja, caberá à mulher aceitar ou não) “toda assistência social, psicológica, pré-natal e por ocasião do parto e puerpério”, orientá-la a respeito dos procedimentos para entregar a criança para adoção, se esse for o seu desejo, e conceder à mãe um benefício mensal de um salário mínimo, a ser pago até que ao filho gerado por estupro complete 18 anos de idade.
Está muito claro, pelo projeto, que o Estado auxiliaria as mães que decidissem não abortar – sempre lembrando que o aborto em caso de estupro, embora também seja crime, não é punido pela lei.
Acho uma boa proposta: a mulher que quiser poderá contar com um amparo para criar seu filho, ou mesmo para colocá-lo em adoção. E essas são duas alternativas, entre três, que poderia escolher a mulher que ficou grávida após um estupro. A outra alternativa, você sabe, é o aborto.
Pois bem, a ONG se opõe veementemente à proposta, considerando-a uma tortura. Fica claro que para eles a mulher não pode ter a oção de dar o filho à adoção ou de contar com um auxílio financeiro para criá-lo. Ela tem é que abortá-lo a todo custo.
Falo desse caso com mais detalhes no Miles Ecclesiae (www.milesecclesiae.blogspot.com). Para ler a nota da Cfemea, clique http://www.cfemea.org.br/noticias/detalhes.asp?IDNoticia=868
“Eles, que defendem o aborto por qualquer motivo ou até mesmo sem motivo algum, simplesmente não conseguem suportar a idéia de que existam pessoas que, tendo “motivos” para abortar, optem por não o fazer. Uma belíssima contradição dos defensores do “direito” de escolha! Na verdade, para esta gente, a única escolha que se tem direito de fazer é aquela que esteja de acordo com a agenda abortista. O resto, é “negligência” dos pais, é “burocracia”, é “desinformação” e tantas coisas mais…”
Jorge,
Parabéns por esse texto!!! Esses abortistas no poder definiriam quais gravidezes seriam ou não levadas a cabo, isto é, definiriam quais seres humanos têm o direito de nascer (poderia até virar novela…).
Mais um comentário sobre isso: o que estarão pensando ou se sentindo as pessoas hoje vivas que nasceram de gestações semelhantes (não devem ser tão raras assim)? Saber que se fosse hoje não teriam nascido e que a sociedade atual rejeita as pessoas assim concebidas? Essa é a nossa sociedade tolerante?
É onde acabam as sociedades sem Deus!
Os militantres dos movimentos pró-aborto, salvo quando estão sendo dissimulados por seus líderes, não são pessoas sinceras em busca da verdade. São pessoas que não medem esforços e palavras para chegar onde querem.
Isso deve explicar porque há tanta contradição e hipocrisia em certos abortistas.