Lætáre, Jerúsalem: et convéntum fácite, omnes qui dilígitis eam: gaudéte cum lætítia, qui in tristítia fuístis: ut exsultétis, et satiémini ab ubéribus consolatiónis vestræ. Ps. 121, 1. Lætátus sum in his, quæ dicta sunt mihi: in domum Dómini íbimus. V/. Glória Patri. Lætáre.
[Introito da missa de hoje]
Assim começa a Santa Missa de hoje, quarto domingo da Quaresma, no qual o Roxo penitencial que permeia todo este tempo litúrgico é substituído pelo Rosa; é um grito de júbilo, antecipando a Páscoa que está às portas. Laetare, quer dizer, alegra-te. Alegra-te, Jerusalém – alegra-te, ó Igreja, porque o Senhor é Deus. Uma alegria contida, é verdade: usamos rosa, e não o branco dos dias de festa. Penso num misto de alegria com penitência, como se o rosa fosse resultado da mistura do branco festivo ao roxo quaresmal: ainda é Quaresma, mas a Igreja nos chama à alegria.
Qual o motivo da alegria? Podemos meditar em pelo menos três motivos pelos quais a Igreja nos convida ao júbilo no meio da Quaresma: pelo que somos, pelo que está por vir e – last, but not least – pela própria penitência. Devemos nos alegrar pelo que somos, como a própria Liturgia nos mostra na primeira leitura, da Epístola de São Paulo aos Gálatas, capítulo 4, versículos do 22 ao 31: nós somos filhos da promessa, e não filhos da escrava! Somos amados por Deus. “Abraão teve dois filhos”; e o filho de Sara, da esposa legítima, é figura dos filhos de Deus, dos filhos da Igreja, de nós. Alegremo-nos, diz a Igreja, “porque o filho da escrava não será herdeiro com o filho da livre” (v. 30).
Alegremo-nos também pelo que está por vir: em sentido imediato pela Páscoa, que celebraremos em breve, mas também pela Páscoa definitiva, que celebraremos na Glória dos Céus e que podemos esperar exatamente porque somos filhos da mulher livre, somos filhos da promessa, somos filhos da Igreja! A Páscoa que celebramos ao fim da Quaresma é também figura da Páscoa que – esperamos! – iremos celebrar ao fim da quaresma da nossa vida, ao fim da nossa peregrinação neste Vale de Lágrimas. Alegremo-nos, porque o Sábado Santo sucede à Quaresma; alegremo-nos, porque a Vida Eterna sucede à vida passageira, e a Glória dos Céus sucede aos sofrimentos terrenos. Esta é a nossa esperança, expressa de maneira magnífica no Rito do Batismo quando, indagados sobre o que nos concede a Fé, respondemos prontamente: a Vida Eterna. “[Q]uem não conhece Deus – diz o Papa Bento XVI -, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida” (Spe Salvi, 27). Nós conhecemos a Deus, e nós portanto podemos ter esperança verdadeira. Por isso, devemos nos alegrar.
E, por fim, devemos nos alegrar pela própria penitência, a quaresmal em primeiro lugar e a nossa penitência quotidiana – não é, afinal, a Quaresma figura da nossa vida? – que fazemos durante todos os nossos dias. O sofrimento não é vazio de significado; nós não fazemos penitência pelo simples fato de gostarmos de sofrer, mas sim porque sabemos que somos pecadores e sabemos que necessitamos da Misericórdia de Deus. O “alegrai-vos” em meio à penitência tem também o sentido de ecoar aquela máxima evangélica: Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós (Mt 5, 11-12). À luz da Fé Cristã, os nossos sofrimentos não são vazios, nem são frutos de um masoquismo humano ou sadismo divino – não! Os sofrimentos oferecidos a Deus em união aos de Nosso Senhor na Cruz do Calvário serão recompensados. Alegrai-vos, diz-nos a Igreja em meio à penitência quaresmal – aos sofrimentos quotidianos -, porque grande será a vossa recompensa nos Céus.
Em particular nestes dias em que a Igreja sofre tão violenta investida de Seus inimigos e nós, católicos, sofremos tanto ataques por causa de nossa Fé, são consoladoras as palavras de São Paulo na leitura de hoje: “Como naquele tempo o filho da natureza perseguia o filho da promessa, o mesmo se dá hoje” (v. 29). E, por isso, o Laetare deste quarto domingo vem para nos dar forças e consolação. Apesar de tudo, devemos nos alegrar. Apesar dos sofrimentos, e até por causa desses mesmos sofrimentos, pois eles são o fogo no qual o ouro é provado. Não nos esqueçamos de que somos amados por Deus; recordemos a nossa Esperança de celebrarmos um dia a Páscoa Definitiva; e lembremo-nos sempre de que são bem-aventurados aqueles que padecem sofrimentos por causa de Nosso Senhor. Ouçamos o Laetare, Jerusalem que a Igreja nos dirige hoje e, à luz da Fé, respondamos com confiança: Laetatus sum, sim, nós nos alegramos verdadeiramente! Que a Virgem Santíssima nos conceda a todos uma Santa Quaresma.
Eu fico imaginando, que mãe zelosa é a Igreja para nos proporcionar tantos benefícios na caminhada. Como as pessoas podem não amá-la? como podem não conhecê-a? A quaresma é um itinerário único. A cada ano vivemos um novo motivo de conversão e esperança. Tudo faz sentido, tudo tem um motivo de ser na liturgia. Perde quem faz pouco caso. Perde quem não vive os momentos de glória que já gozamos de antemão. Peço que possamos levar este conhecimento a outros. Tudo o que sentimos e que o Jorge bem explicou deve ser transmitido. É isso que desejo a todos que contemplaram a beleza deste texto.
Prezado Jorge,
vc já alguma vez assistiu à missa Tridentina?
Se sim, conte-nos um pouco dessa experiência. Se não, não gostaria ainda de assistir?
Da minha parte digo-lhe que foi a coisa que mais me marcou em toda a vida.
Um abraço
Belo comentário.
(Claro que uma das citações me faz engasgar, embora não pelo que diz aí.)
A alegria é também, mais prosaicamente, por termos chegado à metade da Quaresma, então a Santa Madre nos dá uma oportunidade para como que dizer “ufa!” e respirar um pouco, antes de nos dirigirmos para a metade final, rumo ao tempo da Paixão.
Um abraço,
Em JMJ,
Felipe Coelho
Amém!
Enquanto a sociedade atual propõe como meta de vida para a humanidade o conforto e o prazer o homem moderno quase nunca desfruta da alegria ; entretanto a Igreja afirma que mesmo no tempo da quaresma o cristão deve permanecer na alegria.
A penitência não se opõe a Alegria !
A tecnologia e o dinheiro podem dar ou comprar o prazer mas só a vida espiritual bem vivida é fonte de alegria verdadeira .
C.Márcio
Ah Jorge, você me emocionou… estou como num exílio, sofrendo sem minha Mãe, a Santa Igreja.
Os abusos litúrgicos, a maçonaria, a heresia… é a profanação do Templo ao vivo e a cores.
Reze por nós.
Julie Maria
Caríssimos,
Obrigado.
Magdalia, foi exatamente a missa tridentina de ontem que ensejou este texto; aqui em Recife nós a temos, dominical, desde antes do Summorum Pontificum, graças a um indulto do senhor Arcebispo. Assisto-a sempre que posso.
Abraços,
Jorge