Introibo ad altare Dei

missa-pos-guerra
Clique para ampliar

Não sei exatamente onde e quando foi tirada esta foto; talvez seja até muito famosa e eu não a conheça. O amigo que me enviou, disse-me que foi uma missa celebrada em uma igreja destruída na Segunda Guerra Mundial, logo após o fim da guerra. Gosto sobremaneira dela: dá pra ver os escombros e, mesmo assim, quase dá para sentir o quanto as pessoas estão compenetradas no serviço litúrgico. O templo está em ruínas; mas a Santa Missa é celebrada com toda a dignidade, como se estivesse sendo celebrada na mais imponente igreja da Europa. O templo está destruído, mas a Fé está viva: a Fé sobreviveu à Guerra, sobreviveu aos bombardeios, sobreviveu à destruição. Após o fim da Guerra, volta-se a celebrar a Santa Missa; o sacerdote mais uma vez se paramenta, os assistentes mais uma vez se preparam, os degraus do altar são mais uma vez subidos, o Sacrifício de Cristo mais uma vez se faz presente.

E gosto de olhar para esta foto e pensar que… Deus não nos abandona jamais. O templo físico pode estar destruído, mas basta um sacerdote para que, lá, aconteça o maior milagre da Graça, para que Deus Se faça real e substancialmente presente. Mesmo em meio aos escombros. Mesmo quando tudo está destruído, é possível subir ao altar de Deus, que é a nossa alegria – introibo ad altare Dei / ad Deum qui laetificat iuventutem meam. Mesmo em meio ao pó e às ruínas, é possível cantar os louvores do Altíssimo – confitebor tibi in cithara, Deus, Deus meus. Mesmo quando não temos mais nada, é-nos possível esperar em Deus – spera in Deo, quoniam adhuc confitebor illi.

E, ao mesmo tempo, é triste olhar para esta foto e imaginar que, se fosse nos dias de hoje… quem iria oferecer a Santa Missa nestas condições? Em uma igreja em ruínas, após a guerra, sem luz elétrica, [aparentemente] sem povo… em quantas almas católicas encontraríamos hoje o zelo pelas coisas de Deus demonstrado por estes cinco homens numa fotografia em branco e preto? E, no entanto, isto é tão importante, pois é para isso que os sacerdotes são ordenados…!

Nos escombros de uma igreja, sozinho, o sacerdote se mantém firme porque sabe que está diante de Deus. Sabe que é à Trindade Santa que ele está ofertando o Sacrifício do Corpo e Sangue do Senhor. Sabe que o ritual por ele desempenhado tem valor infinito, e Deus é digno de ser infinitamente adorado. Sabe que toda a Igreja está com ele; que a Santa Missa transcende o tempo e o espaço e o coloca diante do Trono Eterno do Altíssimo. Sabe tudo isso e, por isso, porta-se como convém. Mesmo numa igreja em ruínas.

Será pedir muito encontrar este zelo nos sacerdotes dos nossos dias? Será sonhar muito alto querer que os ministros do Deus Altíssimo sejam ciosos das coisas sagradas, inflamados de um santo desejo da glória de Deus e da salvação das almas? Rezemos ao Senhor da Messe, para que nos mande bons trabalhadores. E elevemos os olhos para os Céus, de onde nos virá o nosso socorro. Esperemos em Deus. Nunca nos esqueçamos dessa verdade tantas vezes repetidas na Liturgia da Santa Igreja: adjutorium nostrum in nomine Domini / qui fecit coelum et terram.

27 comentários em “Introibo ad altare Dei”

  1. Et introibo ad altare Dei: ad Deum qui laetificat juventutem meam.

    Sonho com a liberdade de um dia poder assistir a Santa Missa celebrada dignamente.

  2. Caro Jorge,

    Percebeu que, apesar das paredes destruídas, o ALTAR está INTACTO? Assim é o coração humano na adversidade, com a presença de Deus. Tudo pode ruir à sua volta, mas ele permanece firme.

    Linda foto.

    Paz de Cristo,

    Sue

  3. Caríssimo Jorge,

    Apreciei bastante esse seu texto, que fez uma descrição muito fiel da fotografia. E que foto estupenda! Também não conhecia.
    Mesmo numa Igreja em ruínas a dignidade da Missa Tradicional não fica diminuída em nada! É incrível!
    E como é doloroso o confronto com as nossas igrejas modernas. Mesmo as que estão novinhas em folha não transmitem a sacralidade desta da foto.
    E as Missas, então? O contraste é tão humilhante para as atuais que é melhor nem comentar…
    Uma imagem vale mais que mil palavras…
    Carlos.

  4. O mais interessante é que a Santa Missa que esta sendo celebrada… é a sempre belíssima Missa Tridentina!

  5. Ia dizer exactamente o mesmo que o Renato.

    Quando você, Jorge, fala que actualmente talvez não houvesse um sacerdote para celebrar a missa e mesmo fiéis para assisti-la em tais condições, será que o rito da missa não terá alguma coisa, ainda que mínima, a ver com essa triste realidade?

    Na minha opinião, tem sim.

    Quem tem uma missa Tridentina, tem tudo na vida.

  6. [Será pedir muito encontrar este zelo nos sacerdotes dos nossos dias?
    Será sonhar muito alto querer que os ministros do Deus Altíssimo sejam ciosos das coisas sagradas, inflamados de um santo desejo da glória de Deus e da salvação das almas?

    Rezemos ao Senhor da Messe, para que nos mande bons trabalhadores. E elevemos os olhos para os Céus, de onde nos virá o nosso socorro.

    Esperemos em Deus. Nunca nos esqueçamos dessa verdade tantas vezes repetidas na Liturgia da Santa Igreja: adjutorium nostrum in nomine Domini / qui fecit coelum et terram.]

    Amém!!! Caríssimo Jorge!!! Não tenho mais palavras,… só AMÉM!!!

    Abraços e até mais ‘ver’.

    André Víctor

  7. Maravilhoso texto e foto! Deus não abandona seus filhos, mesmo quando tudo é escombros e trevas, Sua Luz resplandece! Enquanto tivermos na terra o Santo Sacrifício da Missa, teremos tudo!!!

  8. Prezados amigos, salve Maria.
    Coloco abaixo palavras ditas pelo senhor Ratzinger sobre a missa nova e a tridentina. Nelas, ele faz uma importante confissão: houve proibição de se celebrar a missa de sempre por parte da igreja conciliar. Portanto, houve abrogação, ainda que “prática” (pois talvez não tenha sido formalizada pelos anti papas que ocuparam Roma nas últimas décadas).
    E como não poderia deixar de ser, ele defende o Vaticano II com unhas e dentes….
    Um abraço a todos,
    Sandro
    “(…) O segundo grande acontecimento no início dos meus anos em Ratisbona foi a publicação do missal de Paulo VI com a proibição quase total do missal anterior, depois de uma fase de transição de apenas meio ano. Era auspicioso o fato de que, depois de um tempo de experimentos, muitas vezes deformando profundamente a liturgia, houvesse agora um texto litúrgico obrigatório. Mas fiquei consternado pela proibição do Missal antigo, pois algo semelhante nunca tinha acontecido em toda a história da liturgia. Tinha-se a impressão de que isso era uma coisa perfeitamente normal. O missal anterior tinha sido criado por Pio V, por ocasião de Concílio Tridentino; assim era normal, dizia-se, que após 400 anos e depois de um novo Concílio um novo Papa oferece-se um novo missal. Mas a verdade histórica é outra. Pio V havia mandado fazer apenas uma revisão do Missale Romanum existente, como é normal no crescimento vivo da história através dos séculos. Assim também muitos de seus sucessores tinham novamente trabalhado esse missal, sem jamais opor um missal novo ao missal anterior. Foi um processo contínuo de crescimento e purificação, no qual, porém, nunca se destruiu a continuidade. Não existe um missa de Pio V que tivesse sido criada por ele. O que existe é a revisão feita por Pio V, como fase de uma longa história de crescimento. O “novo” depois do Concílio de Trento foi de outra natureza: o rompimento causado pela Reforma tinha-se realizado, sobretudo, como “reformas” litúrgicas. Não havia simplesmente uma Igreja Católica e outra protestante, uma ao lado da outra; a divisão da Igreja realizou-se quase imperceptivelmente, e era mais visível e historicamente mais eficaz na mudança da liturgia, que ainda aconteceu com muita diferença entre um lugar e outro, de sorte que também aí, entre o ainda católico e o já não católico muitas vezes era impossível de discernir. Naquela situação confusa, que se tornara possível pela falta de uma legislação litúrgica única e pela existência de um pluralismo litúrgico na Idade Média, o papa decidiu que o Missale Romanum, o livro das missas na cidade de Roma, tinha de ser introduzido em toda parte onde não se pudessem alegar liturgias que tivessem pelo menos 200 anos de idade. Onde isso fosse o caso, podia-se ficar com a liturgia existente, porque então o seu caráter católico podia ser considerado seguro. Não se tratava, pois, de uma proibição de um missal existente e até então considerado válido. Porém, a proibição agora decretada, do missal que se tinha desenvolvido continuamente através de todos os séculos, desde os manuais para os sacramentos na Igreja antiga, causou na história da liturgia uma ruptura cujas conseqüências só podiam ser trágicas. Uma revisão do missal, como já houvera muitas vezes, e que desta vez podia ser mais radical do que até então, sobretudo pela introdução da língua materna, tinha sentido e tinha sido determinada com razão pelo Concílio. Mas agora aconteceu mais: o edifico antigo foi derrubado e construiu-se um outro. É verdade que, em grande parte, foi feito com o material do anterior e usando-se, também, os projetos antigos. E não há dúvida: este novo missal trouxe, sob muitos aspectos, um verdadeiro melhoramento e enriquecimento. Mas o fato de ter sido apresentado como construção nova, em oposição ao crescimento histórico, e de o missal antigo ter sido proibido, de sorte que a liturgia não apareceu mais como resultado de um crescimento vivo, e sim como produto de um trabalho erudito e de competência juridical, isso nos prejudicou sobremaneira. Pois agora se devia ter a impressão de que liturgia é algo que “se faz”; não algo preexistente, mas algo que depende de nossas decisões. E aí seria lógico, também, que não somente os eruditos nem somente uma autoridade central fossem reconhecidas como portadores da decisão, mas que, afinal, toda a “comunidade” quisesse adotar sua própria liturgia. Mas quando a liturgia é algo feito por nós mesmos, então ela deixa de nos oferecer o que deveria ser sua verdadeira dádiva: o encontro com o mistério, que não é produto nosso, mas nossa origem e fonte de nossa vida. Uma renovação da consciência litúrgica, uma reconciliação litúrgica que reconheça novamente a unidade da história da liturgia e que entenda o Vaticano II não como ruptura, mas como degrau na evolução, é urgentemente necessária para a vida da Igreja. Estou convencido de que a crise na Igreja, pela qual passamos hoje, é causada em grande parte pela decadência da liturgia, que às vezes é concebida de uma maneira etsi Deus non daretur [Como se Deus não existisse], isto é, que nela não importa mais se Deus existe e se Ele nos fala e nos escuta. Quando, porém, na liturgia não aparece mais a comunhão da fé, a unidade mundial da Igreja, o mistério de Cristo vivo, onde, então, ainda aparece Igreja, em sua essência espiritual? Aí a comunidade ainda celebra somente a si mesma, mas isso não vale a pena. E já que a comunidade por si só nem existe, e é sempre formada somente pela fé, sendo criada como unidade pelo Senhor, é inevitável, naquela suposição, que a Igreja se divida em partidos de todo tipo, e os grupos se oponham uns aos outros dentro de uma Igreja que se dilacera a si mesma. Por isso precisamos de um novo movimento litúrgico, que dê vida à verdadeira herança do Concílio Vaticano II” (Cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, Lembranças da Minha Vida, versão em português, Ed Paulinas, São Paulo, 2006, pp.128-131. Do original alemãoAus meinem Leben).
    Fonte: http://fratresinunum.com/2009/04/01/novo-bispo-auxiliar-da-aracaju-conego-henrique-soares-da-costa/#comments

  9. Uau.

    Que foto. O que uma imagem é capaz de fazer conosco?

    No meu caso… a primeira coisa que me vem é uma nostalgia do Catolicismo.

    E logo uma esperança!

    Sim, haveria padres (não sei quantos… só Deus saberia…) que celebrariam. Eu sei de 10, com nome e sobrenome. Que Deus suscite santos sacerdotes, santos religosos e santos leigos!

    A Igreja está VIVIA dizia o Papa Bento XVI na sua primeira Santa Missa.

    JM

  10. Julie Maria,
    Concordo com você.
    também conheço pelo menos uns cinco padres aqui da região de Brasília que querem rezar a Missa Tradicional, mas que são impedidos pela implacável perseguição do Senhor Arcebispo de Brasília e dos Bispos da região próxima. Há um sacerdote, amigo meu, que após o Motu Proprio ousou rezar uma Missa Tridentina num domingo e foi mandado imediatamente para uma paróquia distante, não como pároco, mas como auxiliar do pároco. Ficou sem altar e abandonado, numa situação que dá pena de ver.
    É assim que os bispos (salvo pouquíssimas exceções) obedecem ao Papa. E depois exigem absoluta obediência dos fiéis.
    Rezemos pelo Papa e pelo retorno completo da Santa Missa de sempre.
    Carlos.

  11. Carlos, fui na Missa Tridentina em Brasilia no Lago Sul, todo DOmingo as 17hs. Pelo menos estava tendo regurlamente.

    Mas em me refereia a “celebrar Missa dignamente”, já seja a Missa tridentina ou a pós CVII. O modelo a seguir? O Santo Padre!

    PAX

    JM

  12. Julie Marie, como vai?
    Entendi e peço desculpa pela má interpretaçaõ de suas palavras. É que a foto que encabeça o post mostra uma Missa Tridentina (claro, naquela época) e por isso me enganei.
    Sim, continua a haver Missa Tridentina na paróquia do lago sul, todo domingo às 17 horas.
    A propósito, visitei seu blog e gostei muito.
    Um abraço.
    Carlos.

  13. De facto, como é bela a foto que encima esta página.
    Não vejo a necessidade na realidade de opormos continuamente as Missas (Tridentina e Concílio Vaticano II), mas procurarmos o equilíbrio que ambas possuem em si mesmas, mas que infelizmente não são vividas como elas são.
    Ou seja, digo que uma fractura eclesial nos dias de hoje passa por esta contínua divisão entre os “ritos”. Claro está que também nutro uma especial atenção ao Rito Tridentino, mas reconheço a beleza de uma Missa Paulo VI bem celebrada. Agora, é claro, como nestes comentários já foi dito, que é necessário o zelo dos Sacerdotes. Se os sacerdotes celebrassem a fé em Cristo ressuscitado a sério, então aí teríamos em cada Missa a afirmação daquele contacto entre a Igreja terrena e a Igreja celeste de que fala a Santa Igreja.
    Caminhemos à luz do Senhor, com as lâmpadas acesas então, e esperemos que em breve voltemos a sentir o ardor do encontro com o Senhor em cada Santa Missa.

  14. Não compreendo como ainda não acordaram! Um só rito romano e duas formas celebrativas. Que lindo, conviv~encia pacífica entre o correto e o duvidoso. dá nojo perceber que ainda existam pessoas que crêem que isto seja bom & digno de louvor. Maldito seja Paulo VI. A ele seja anátema.

  15. Não compreendo como ainda não acordaram! Um só rito Romano e duas formas celebrativas. Que lindo, convivência pacífica
    entre o correto e o duvidoso. Dá nojo perceber que ainda existam pessoas que crêem que isto seja bom e digno de louvor. Maldito, mil vezes seja maldito Paulo VI. A ele, seja anátema.

  16. Já que reabriram este post, comunico a quem interessar possa que NÃO EXISTE MAIS MISSA TRIDENTINA TODO DOMINGO ÀS 17 HORAS NA PARÓQUIA SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA. Agora é só no 4º domingo de cada mês. Mas missa show, missa festiva, missa de cura e libertação, enfim, qualquer outro tipo de missa tem todo dia e pra todo lado. Infelizmente…
    Um abraço.

    Carlos.

  17. Missa crioula, missa afro, missa com cavalos entrando na igreja, missas onde o padre asperge os fiéis com alcool em gel em vez de água,etc e muitos ets.
    Que tristeza não?

    Sinal dos tempos.

  18. Só para esclarecer melhor a mensagem anterior, refiro-me à Paróquia São Pedro de Alcântara, EM BRASÍLIA/DF.
    Um abraço.
    Carlos.

  19. Só para esclarecer melhor a mensagem acima, refiro-me à Paróquia São Pedro de Alcântara, EM BRASÍLIA/DF.
    Um abraço.
    Carlos.

  20. Morgado,

    Não há como encntrar equilibrio!
    Acaso há equilíbrio entre a verdade e a mentira?
    Há igualdade entre Deus e o demônio?
    Pode compactuar os filhos de Deus com os filhos do diabo?

    Da mesma forma não podemos nós católicos, compactuar com a Missa Nova, protestante, herética e dúbia.
    “Maldito o homem de palavra dúbia”.
    Não sejais morno!

  21. Não é a mesma cousa, não possui o mesmo sentido, ouvir o padre proferir “Introibo ad altare Dei” considerando a forma dita extraordinária do Rito Romano. Entendi a boa vontade e a benevolência do Sumo Pontífice Santíssimo Bento XVI Mas, é inexequível assistir esta Missa, e ouvir um sermão no contexto da atual conjectura da Igreja que coloca em grau de igualdade estas duas formas do Rito Romano, e um cuidado exagerado nisto. O sede vacantismo seria nefasto, o cisma loucura, onde não há indício claro de heresia, contudo ambiguidade. A ambiguidade fere, mas não destrói a Esposa. É complicado ser Católico assim, vejo o bom exemplo de um Vigário da Roça que obstante pretende ser sede “vacantista”, que aceita a autoridade do Bispo local, porém continua ensinando em seu sermão tudo que aprendeu no passado. Mas, este dom é para poucos. Nova et vetera, semper, mas não no que toca aquilo que fere, e pior o que pode fazer cair em heresia ou na “menos pior” das hipóteses ambíguo. Isto é para poucos sacerdotes que mantém o rito de trento e segue o Catecismo Romano de Trento e as diretrizes e doutrina do imortal São Pio X. vERDADE DITA, NÃO MERECE CASTIGO.

Os comentários estão fechados.