Hoje, a Missale Romanum completa exatos quarenta anos. Eu nem sabia, quando publiquei ontem à noite um texto sobre a Santa Missa… Foram quarenta anos difíceis. É impossível negar…
Quarenta é um bom número. Lembra-me os quarenta anos do deserto ao fim dos quais os judeus entraram na Terra Prometida, os quarenta dias no deserto ao fim dos quais Nosso Senhor começou a Sua vida pública, os quarenta anos da Quaresma ao fim dos quais, todos anos, nós celebramos a Santa Páscoa. E dá-me esperanças…
Quem me conhece, sabe da minha predileção pelas coisas antigas. Já falei por diversas vezes. E, quem me conhece, sabe também que eu não me alinho com as posições dos que negam a autoridade do Papa – e da Igreja – de legislar; quem me conhece, sabe que eu não julgo aceitável pôr em questão a Suprema Autoridade de Governo da Igreja Católica. O que está promulgado, promulgado está. “Non fit disputatio”, como quer que se escreva isso.
O que não me impede de ter as minhas predileções, e minhas esperanças. Não me impede de me alegrar ao ver-me, no final da Quaresma, aos quarenta anos da Missale Romanum. Quarenta anos…! Oremus pro Ecclesia Sancta Dei.
Caríssimo Jorge,
Bem lembrado. Rezemos para que após esses quarenta anos de caminhada errante pelos desertos das profanações litúrgicas, cheguemos finalmente à terra prometida. Ad altare Dei. Do Deus que alegra a minha juventude.
Carlos.
Eu também sou fascinado pela riqueza litúrgica da Santa Igreja. Lamentavelmente vivemos a época do triunfo da mediocridade! Áqui em Curitiba sempre que posso assisto à Missa de São Pio V nas igrejas (duas até onde sei!) que a celebram. A Missa de Paulo VI também é muito bela quando bem celebrada ! ( E este é o problema. Está difícil encontrá-la sendo celebrada com a dignidade que Deus merece!). Enfim…meu coração católico está triste por ver tudo isto! Que o triunfo do Coração Imaculado de Maria venha logo!!!!!
Caríssimos!!?
Desse jeito, não tenho mais o que ‘dizer’, ao não ser que: ‘concordo com vocês’.
Já há muito tempo, venho percebendo, não só em mim, mas em muitas pessoas a quem me deparo este anseio, este desejo, este amor ‘pelas coisas antigas’. E isso não é nem de longe um saudosismo barato e vazio. Como poderia ser, se muitas destas mesmas pessoas, assim como eu, nunca ‘viveram’ em tais épocas, onde a Sagrada Liturgia se resplandecia com mais vivacidade e riqueza de detalhes e simbolismos. Preparando assim, o ‘terreno’ para que o Sagrado tivesse ‘espaço’ e ‘lugar’ de destaque. Assim Deus era louvado, adorado e cultuado de forma (e também matéria) tão sublima. Ah que belíssimo é poder perceber pelos ‘poros’ o Sagrado na Santa Missa.
Pois, bem! Como dizia, já há muito venho percebendo esta sede em muitas pessoas. Vejo aí alto muito peculiar a Espírito Sento de Deus.
Rezemos, caríssimos. Rezemos sempre mais pelo Santo Padre, o Papa. Que sempre nos mostra, por atos e palavras, sua também predileção pelas ‘coisas antigas’.
Que a Sagrada Tradição, não se torne em nossos dias, apenas uma simples referência FACULTATIVA para as coisas santas. Que nunca deixemos que a Sagrada Tradição seja ‘apenas’ mais um dos elementos da Sã Doutrina da Santa Igreja de Cristo, mas que ela tenha, assim como a Sagrada Escritura, seu lugar de honra. Ela é, em nossos dias, ESSENCIAL e FUNDAMENTAL para o restabelecimento da Santa Liturgia, da reverencia, da piedade e do temor a Deus.
Que Nossa Senhora de Fátima, por sua poderosa intercessão junto a seu Filho-Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, possa nos obter as graças necessárias, para sempre nos manter motivados a lutar pelas ‘coisas antigas’, vulgo SANTAS E SAGRADAS.
Abraços e até mais ‘ver’.
André Víctor
Caro Jorge,
A respeito do fato que vc noticia acima, impossível não fazer referência aquele mesmo assunto tratado no tópico anterior “Introibo ad altare Dei”. Essa foi uma das grandes mutilações que Bugnini foi audaz em fazer e Paulo VI (imprudentemente?) aprovou. Explicável segundo a Nova Teologia, pois tornou-se um estorvo intolerável aquele conjunto de orações privadas que prepara o sacerdote e seus ministros para a celebração do Santo Sacrifício da Missa, doutrina católica bem contrastante com aquela outra protestantizante (já antecipada na constituição litúrgica do Vaticano II) da assembléia presidida pelo sacerdote que, em conjunto com este, celebra a Eucaristia.
Por falar em 40 anos e em 40 dias, é na quaresma e no tríduo pascal que Bugnini, antes e depois do concílio, concentrou toda sua “aversão desmedida” pela doutrina e liturgia católicas, em favor das idéias suas e de seus colegas teólogos de modernismo. Tal como no Advento, retirou-se da liturgia da Missa (na Coleta, Secreta e na Póscomunhão) as orações à Nossa Senhora, pelo papa e contra os inimigos da Igreja — orações de mesma espécie e finalidade daquela que vc, ao final do tópico, exorta-nos rezar! Especificamente para o domingo de ramos, dá pena penas as alterações e mutilações que sofreu essa liturgia no Missal de Bugnini/Paulo VI. Para começar, não há Intróito! Um Intróito de mais de mil anos (e de canto com beleza ímpar ao longo do ano litúrgico) jogado fora, sem nada colocado no lugar, num duplo atentado à Tradição, como se a Igreja tivesse errado por tanto tempo! Como se não bastasse, um terceiro atentado: o Trato antes do Gradual. Quanta aversão, para lá de desmedida, às coisas que a Igreja nos entregou e organizou!
Pelo menos, escancarando seu modernismo, Bugnini tornou suas fabricações mais fáceis de serem identificadas e combatidas do que os atos e ensinamentos de aversão “comedida” e disfarçada que muitos neo-conservadores liberais praticam nos dias de hoje.
A título de curiosidade, na figura 12 do link abaixo, observe uma das primeiras impressões (de 1457) do salmo “Deus, Deus meus, réspice in me”, que faz par com a antífona “Dómine ne longe fácias” do Intróito da Missa de Ramos no Missal Tradicional, deixado agora somente no dispensável (e quase nunca rezado/cantado!) Trato no Missal da Missa Nova:
http://www.ippar.pt/sites_externos/bajuda/htm/opusc/fclcal.htm
Voltando ao assunto, é, portanto, por essas e por outras centenas de acréscimos, modificações e mutilações gratuitas que, muito diferentemente de vc, entristeço-me muito com esses 40 anos de Missa Nova — mesmo não tendo sofrido diretamente as malezas disso, por ser recém-batizado e entrado à Igreja de Nosso Senhor pelas portas de seus sacramentos, ritos e doutrinas seguros e tradicionais. Mas, agora semelhantemente a vc, esses mesmos e poucos 40 anos trazem-me esperança! Se S. Pio V foi capaz, catolicamente, de abolir ritos de até 200 anos de existência, há de acontecer que ao longo de, no máximo, os próximos 160 anos um papa, ou uma sucessão deles, irá extinguir a Missa Nova ou modificá-la tanto que, ao torná-la nos acidentes tão parecida com a Gregoriana, a maioria dos católicos preferirá esta à bugniniana.
Enquanto isso, quem tiver a graça de poder escolher entre a Gregoriana e Missa Nova, que o faça em favor da primeira — menos imperfeita, mais agradável a Deus, e bem menos suscetível às invencionices de segunda e terceira gerações praticadas sobre o [por si] permissivo e detonante Novus Ordo Missae.
Portanto, não só por mero gosto mas também por fundamentadora compreensão (que verdadeiramente ilumina nossa sensibilidade) da bem superior catolicidade do rito tradicional é que incito vc a preferir, e assim justificar publicamente sua preferência, a Missa Gregoriana.
Abraços,
Antonio
Caríssimo Antônio!!
Não tenho palavras tão apropriadas quanto as tuas, mas não posso – mesmo correndo o risco de o ‘tietar’ – deixar de apoiá-lo. Faço de suas, minhas próprias palavras. Não tenho mais o que dizer.
Que Nossa Senhora de Fátima, por sua poderosa intercessão, possa cumular o Santo Padre, de todas as Graças necessárias, para nele mesmo, comece a purificação de toda a Santa Liturgia – e o já começou -, restabelecendo assim, a Santa Liturgia Tradicional.
Em um mundo em que a irreverência, a impiedade, nos causa a apostasia em demasia, uma consciência adormecida e anestesiada, por tantos e tantos descasos com o Sagrado, possamos nós, sempre mais e mais lutarmos por poder louvar, adorar e cultuar ao nosso Deus Uno e Trino, com mais dignidade e respeito.
“Para Deus no mínimo o máximo!”
Abraços e até mais ‘ver’.
André Víctor
Caríssimo Antonio,
O problema é, digamos, de princípio. Parto do princípio absoluto e inegociável de que a Igreja governada pelo Espírito de Deus simplesmente não pode constituir uma disciplina que seja inútil, mais onerosa do que o suporta a liberdade cristã, perigosa, nociva ou que induza à superstição e ao materialismo
(cf. Pio VI apud Dom Rifan). Parto do princípio de que, uma vez promulgado o Novus Ordo Missae – dada a “disciplina constituída e aprovada” – é perda de tempo e ofensa à Igreja ficar nas discussões para “provar” que o rito é modernista, é protestante, heretizante, “detonante”, é maçônico, é herético, etc, etc, etc. Não há nada de “protestantizante” nem no Novus Ordo e nem muito menos na Sacrossantum Concilium, e este tipo de puerilidades só piora a situação. Acredito firmemente que a Missa Tridentina – cuja defesa eu nunca deixei de fazer – será, um dia, reestabelecida para toda a Igreja (esta é a esperança à qual aludi no post), e acredito que as maiores dificuldades que isto é encontra é porque alguns que se dizem “tradicionalistas” usurparam o Vetus Ordo e o estigmatizaram, associando-o (indevidamente) à posição – pelo menos errônea – de que a Igreja indefectível possa promulgar um culto que induza os fiéis ao erro. Tal posição não é aceitável, e a Igreja nunca vai referendá-la. Por conseguinte, qualquer defesa do Vetus Ordo precisa ser feita com a absoluta clareza de não se tratar de uma condenação ao Novus Ordo, tarefa que é intrinsecamente complicada – dado, repito, o escarcéu que alguns fizeram em torno do missal anterior – e, por isso, avança a passos lentos. Mas será realizada.
O Rito Tradicional é, sim, superior ao promulgado por Paulo VI, sob diversos aspectos. Mas não existe o “rito definitivo” porque, por definição, a capacidade de expressão humana é limitada. A Santa Missa é a Santa Missa, digna e santificante em si, qualquer que seja o rito [óbvio, aprovado pela autoridade competente] no qual ela seja celebrada. E quaisquer posições que obscureçam esta verdade não poderão jamais ser aceitas por Roma, e a insistência nelas só faz prolongar a agonia da Igreja que, sem elas, poderia libertar-se bem mais facilmente da terrível crise que a assola.
Abraços, em Cristo,
Jorge Ferraz
Jorge,
“(…) não existe o “rito definitivo” porque, por definição, a capacidade de expressão humana é limitada.
Clareza de definição magistral, caríssimo…
Touché!
Deus te conceda um “couro grosso” para suportar as chibatadas que virão por ousar ser sóbrio e coerente…
Ainda que bem tardiamente, ao lembrar desse artigo durante a redação de um comentário a outro artigo postado ontem pelo Jorge, gostaria de compartilhar com todos um link para o facsimile de duas notações gregorianas do referido Intróito “Domine ne longe facias”:
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Domine_ne_longe.png
A da esquerda, do séc. XI, como indicado pelo autor; a da direita, provavelmente não mais recente que o séc. VIII.
Realmente, o intróito deveria ser impróprio para a liturgia de Domingo de Ramos. Tão impróprio e inconveniente que Bugnini o tirou e não pôs nada no lugar! Até então, o catolicismo teria ficado nessa situação lastimável por quase 13 séculos!