[Após o Papa Bento XVI ter dito, na sua última carta encíclica, que “urge a presença de uma verdadeira Autoridade política mundial”, muitas pessoas rasgaram as vestes e escandalizaram-se, achando que o Papa estaria cedendo ao globalismo moderno, capitulando diante da ONU, adotando posições modernistas, ou qualquer coisa do tipo. Na verdade, o número 67 da Caritas in Veritate não constitui novidade alguma (obviamente) na Doutrina Social da Igreja, como se pode ver pelos documentos abaixo apresentados. Agradeço ao Rodrigo R. Pedroso pela elaboração e envio da coletânea.]
I – Catecismo e Compêndio de DSI
1911. As dependências humanas intensificam-se. Estendem-se, pouco a pouco, a toda a terra. A unidade da família humana, reunindo seres de igual dignidade natural, implica um bem comum universal. E este requer uma organização da comunidade das nações, capaz de «prover às diversas necessidades dos homens, tanto no domínio da vida social (alimentação, saúde, educação…), como para fazer face a múltiplas circunstâncias particulares que podem surgir aqui e ali (por exemplo: […] acudir às misérias dos refugiados, dar assistência aos migrantes e suas famílias…)» (II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 84: AAS 58 (1966) 1107).
1927. Compete ao Estado defender e promover o bem comum da sociedade civil. O bem comum de toda a família humana exige uma organização da sociedade internacional.
(Catecismo da Igreja Católica)
442 Uma política internacional voltada para o objetivo da paz e do desenvolvimento mediante a adoção de medidas coordenadas mais do que nunca tornou-se é necessária em virtude da globalização dos problemas. O Magistério destaca que a interdependência entre os homens e as nações adquire uma dimensão moral e determina as relações no mundo atual sob o aspecto econômico, cultural, político e religioso. Nesse contexto, seria de desejar uma revisão, que «pressupõe a superação das rivalidades políticas e a renúncia a toda a pretensão de instrumentalizar as mesmas Organizações, que têm como única razão de ser o bem comum», com o objetivo de conseguir «grau superior de ordenação a nível internacional».
443 O Magistério avalia positivamente o papel dos agrupamentos que se formaram na sociedade civil para exercer uma importante função de sensibilização da opinião pública para com os diversos aspectos da vida internacional, com uma atenção especial para o respeito dos direitos do homem, como revela o «o número das associações privadas, recentemente instituídas, algumas de alcance mundial, e quase todas empenhadas em seguir, com grande cuidado e louvável objetividade, os acontecimentos internacionais num campo tão delicado».
(Compêndio de Doutrina Social da Igreja)
II – Magistério Pré-Conciliar
5. Em primeiro lugar, o ponto fundamental é que a força moral do direito anteceda a força material das armas. Portanto, um justo acordo de todos na diminuição simultanea e reciproca das armas, segundo normas e garantias a serem estabelecidas, na medida necessaria e suficiente à manutenção da ordem publica nos países individualmente; e, em substituição das armas, um instituto que possa arbitrar com alta função pacificadora, segundo normas a estabelecer e a sanção a ser combinada contra o país que recusasse submeter as questões internacionais à decisão desse arbitro.
(Bento XV – Carta Dès le début, aos chefes dos povos beligerantes, 01.08.1917)
11. O que aqui recordamos aos individuos a respeito dos deveres que têm de praticar a caridade, entendemos que isso deva também ser estendido aos povos que combateram a Grande Guerra, para que removida, por quanto possivel, toda causa de dissidio — e salvas as razões da justiça –, reatem entre eles relações amigaveis. Não é outra a Lei do Evangelho da caridade entre os individuos da que deve existir entre os estados e nações, não sendo esses senão a conjugação dos individuos singularmente. A partir do momento em que a Guerra cessou, não apenas por motivos de caridade, mas também por certa necessidade de coisas, vai-se delineando uma coligação universal de povos, motivados a se unirem entre si para o atendimento de mutuas necessidades, além de benevolencias reciprocas, especialmente agora com a crescente humanização e com as vias de comunicação admiravelmente multiplicadas. (…)
13. Restabelecidas assim as coisas, segundo a ordem evocada pela justiça e pela caridade, e reconciliados entre si os povos, seria muito desejavel, veneraveis irmãos, que todos os estados, removidas as suspeitas reciprocas, se reunissem numa unica sociedade, ou melhor, familia de povos, seja para garantir a propria independencia, e seja para tutelar a ordem da sociedade civil. Para formar essa sociedade entre povos é de estimulo, entre outras considerações, a necessidade geralmente reconhecida de reduzir, senão abolir, as enormes despesas militares que não podem continuar a ser sustentadas pelos estados, para que assim se impeçam futuras guerras mortiferas, e se assegure aos povos nos seus justos limites a independencia da integridade do proprio territorio.
14. E uma vez que essa federação entre nações seja fundada sobre as leis cristãs, por tudo o que se refere à justiça e à caridade, certamente não será a Igreja que recusará o seu contributo válido, uma vez que, sendo ela o tipo mais perfeito de sociedade universal, por sua mesma essencia e finalidade é de eficacia maravilhosa para irmanar os homens, não somente em ordem à eterna salvação, mas também no seu bem-estar material e os conduz através dos bens temporais, de modo a não perder os eternos
(Bento XV – Carta enciclica Pacem Dei Munus sobre a reconciliação cristã de paz, 23.05.1920)
En toda reordenación de la convivencia internacional, sería conforme a las máximas de la humana sabiduría que todas las partes interesadas dedujeran las consecuencias de las lagunas o de las deficiencias del pasado; y al crear o reconstruir las instituciones internacionales, que tienen una misión tan alta, pero al mismo tiempo tan difícil y llena de gravísima responsabilidad, se deberían tener presentes las experiencias que resultaron de la ineficacia o del defectuoso funcionamiento de anteriores iniciativas semejantes. Y, como a la debilidad humana es tan dificultoso, casi podríamos decir tan imposible, preverlo todo y asegurarlo todo en el momento de los tratados de paz. cuando es tan difícil verse libre de las pasiones y de la amargura, la constitución de instituciones jurídicas que sirvan para garantizar el leal y fiel cumplimiento de tales tratados, y, en caso de reconocida necesidad, para revisarlas y corregirlas, es de importancia decisiva para una honrosa aceptación de un tratado de paz y para evitar arbitrarias y unilaterales lesiones e interpretaciones de las condiciones de los referidos tratados.
(Pio XII – Alocução natalina In questo giorno aos membros da Cúria, 24.12.1939)
44. Ya en nuestro discurso navideño de 1939 Nos presagiábamos la creación de organizaciones internacionales que, evitando las lagunas y las deficiencias del pasado, fuesen realmente aptas para preservar la paz, según los principios de la justicia y de la equidad contra toda posible amenaza en el futuro. Puesto que hoy, a la luz de tan terribles experiencias, la aspiración hacia una semejante institución universal de paz reclama cada vez más la atención y los cuidados de los hombres de Estado y de los pueblos, Nos espontáneamente expresamos nuestra complacencia y deseamos que su realización concreta responda verdaderamente, en la más amplia medida, a la altura del fin, que es el mantenimiento, en beneficio de todos, de la tranquilidad y de la seguridad en el mundo.
(Pio XII – Radiomensagem Oggi al compiersi, no 5° aniversario do inicio da guerra, 01.09.1944)
III – Sacro Império Medieval
Que o orgulho da França não venha protestar dizendo que ele não reconhece superior, pois é uma mentira. De direito os franceses estão e devem estar submetidos ao rei dos romanos, que também é imperador. Não sabemos de onde eles tiraram e onde eles puderam encontrar a ideia de sua independência, pois está estabelecido que os cristãos sempre estiveram submetidos ao monarca de Roma e que eles assim devem permanecer.
(Bonifacio VIII, bula Ausculta Fili, 05.12.1301)
IV – Referências Conexas
– Plínio Corrêa de Oliveira, sobre Bento XV, a Liga das Nações e o Sacro Império.
– Dante Alighieri, De Monarchia (original latim, ou nesta tradução para o inglês).
Jorge…. hahahahahahahaha!!!! e a sarna cruz?? perdeu de novo!!!! Sergipe!!! Hahahahaha!!! Tenho dó dakela carniça!
Alguém entendeu alguma coisa do comentário acima? rsrsrsrs. Alguém pode traduzir? rsrsrs
Abraço, Jorge.
Sabe que a mim já me disseram que capitulei…. Pq? Porque amo o Papa!!! Enfim… compra-se gato por lebre, tem que dar nisto.
O primeiro comentário deve tratar de alguma disputa entre times da terceira ou quarta divisão. Esses cearenses acreditam piamente que disputam campeonatos de futebol…
NOME:
Por que voce não vai para o inferno com seus comentários preconceituosos? Campeonato só o europeu, não é?
Viu? É assim que eles devem pensar com relação aos campeonatos dos países subdesenvolvidos…!
Deixe de ser reacionário e lembre-se de que, se não fossem os pernambucanos, os holandeses teriam derrotado os espanhóis/portugueses e o Brasil não seria do tamanho que é.
Ah, e mais importante ainda para voces, católicos: os nordestinos seriam quase todos protestantes, Nova Iorque seria em Recife – foi daqui que saíram os judeus que fundaram aquela cidade com o nome original de Nova Armsterdam.
Nossa, quanta baboseira misturada com ódio desconexo.
Caro Jorge:
Você continua se superando. A melhor de todas foi a do Papa Bonifácio:
“está estabelecido que os cristãos sempre estiveram submetidos ao monarca de Roma e que eles assim devem permanecer”.
Uau!
A Caritas in Veritate resgata as idéias de Bonifácio VIII e Bento XVI não só é mais conservador que a FSSPX, como também é monarquista!
Caro Jorge:
Mas, diga-me: como essa Autoridade Política Mundial (APM) vai relacionar-se com as instituições nternacionais existentes?
A APM vai substituir a ONU?
A APM vai colaborar com a ONU?
A APM vai combater a ONU?
O Papa vai convocar uma nova cruzada?
Ou não será nada disso?
É como aquela velha música do Alain Delon: “Ainda palavras, sempre palavras, as mesmas palavras”
Vale a pena escutar a música. Também não significa nada, mas é bonita.
http://www.youtube.com/watch?v=UavoNNZtvzw
“O Papa vai convocar uma nova cruzada?”
Será que estou vendo alguém babando? Depois, voce diz que os ateus é que são belicosos… Ah, nessa nova cruzada não haverá derramamento de sangue, não é?
JB,
Menos. :)
Eu não sei se Bento XVI é monarquista e não disse isso. A única coisa que esta coletânea se propõe a mostrar é que a defesa de uma Autoridade Política Mundial esteve presente na história da Igreja ao menos desde Bento XV (e, historicamente, antes disso, tal idéia se concretizou durante a Idade Média). Portanto, não há novidade no número 67 da Caritas in Veritate.
Quanto à APMC [Autoridade Política Mundial Católica], não faço idéia de como ela vai se relacionar com a ONU. Acho pouquíssimo provável que o Papa convoque uma nova cruzada. Acho, aliás, como já disse, que a APMC não é factível em curto prazo (mas isso não a faz menos necessária, nem impede o Papa de repetir o que a Igreja julga ser necessário…).
Abraços,
Jorge
Caro Jorge:
Também gostei muito da sua citação de Plínio Corrêa de Oliveira. No entanto, palpita-me que, se estivesse vivo, ele provavelmente não concordaria com você.
Aliás, o artigo dele mostra exatamente isso: a Liga das Nações (uma espécie de Autoridade Política Mundial dos anos 20 e 30) foi um primor de laicismo e totalmente oposto ao ideal da Cristandade.
E olhe que a Liga das Nações ainda teve coragem para expulsar a Rússia em 1939. Hoje em dia, admite-se Cuba à OEA e quem corre o risco de ser expulso da ONU é a Honduras…
Caro Jorge:
Você citou Bonifácio VIII em apoio a Bento XVI. Perto de Bonifácio VIII, São Pio X parece modernista.
Mas você é realmente ímpar! Não contente com uma Autoridade Política Mundial genericamente cristã você ainda lhe acrescentou um “católica”!
Quem sabe o Papa também não convocou os “zuavos pontifícios” nas entrelinhas da Encíclica?
Essa está sendo uma manhã nostálgica. Lembrei-me agora mesmo de “dream a little dream”.
http://www.youtube.com/watch?v=r035et3sz5o&feature=PlayList&p=CC76F7647D4E2465&index=2
É de Rita Hayworth no tempo em que ainda podia se falar em “Civilização Ocidental Cristã” sem provocar rizadas.
Caro João de Barros,
Você é da turma que defende o fim dos 10 Mandamentos pelo simples fatos de que a humanidade sempre os transgride?
Aquilo é uma utopia? Afinal, se o justo peca setes vezes ao dia, não é mesmo?, por que raios então ficar com os Mandamentos?
Afinal, o ser humano sempre matou, fornicou, foi idólatra… etc…, já passou o tempo de verificar a ineficácia daquilo, né?
Achar que o Papa é, hum, ingênuo (?) não é um pouco demais da conta, não?
Caro Canônico:
Não entendi sua mensagem. O que é que os 10 Mandamentos têm a ver com a tal Autoridade Política Mundial?
Não sei se é isso que você quis dizer, mas é uma grande utopia – na verdade é uma heresia – achar que vai haver um tempo em que os 10 Mandamentos sejam completamente obedecidos neste Vale de Lágrimas.
A tal Autoridade Política Mundial Católica certamente não é herética, mas é utópica. Basta ler os noticiários correntes.
Na Idade Média, havia um *ideal* de Cristandade mas que, infelizmente, nunca chegou a concretizar-se. Nem no tempo de Constantino, nem no tempo de Carlos Magno e muito menos depois.
Caro Canônico:
Se o Papa falou numa Autoridade Política Mundial Católica *em tese*, sem se preocupar com suas aplicações imediatas, falou muito bem, mas o fez de uma maneira muito confusa, misturando problemas de hoje (crise econômica atual, p.e.) com problemas de sempre (união dos povos da Terra, p.e.).
Se o Papa falou numa Autoridade Política Mundial Católica *em concreto*, visando sua implementação num futuro relativamente próximo, falou muito bem, mas o fez ingenuamente, pois não há qualquer hipótese que tal a venha a surgir.
Caro Canônico:
Vários papas foram manifestamente ingênuos, particularmente João XXIII e Paulo VI. Os trágicos resultados dessa santa ingenuidade são bem conhecidos.
Se você acha que a idéia de uma Autoridade Política Mundial Católica não é nem utópica nem ingênua, por favor, ajude-me a ver como tal seria construído porque eu honestamente não consigo ver e o Jorge Ferraz aparentemente também não.
Por falar nisso, em Pindorama, o maior país católico do mundo, a Concordata com a Santa Sé patina no congresso em meio a diversas críticas. Não obstante, o candomblé e a umbanda acabam de ser decretados patrimônios culturais da nação tupiniquim.
Se isso não é a oficialização do satanismo, o que será então? Ingenuidade? É. Talvez seja. Mas desta vez certamente não será santa.
Jorge, acho que entendi seu intuito de mostrar outras referências a uma “autoridade mundial” pela Igreja e concluir (o que para mim é bem claro) que essa expressão de Bento XVI não é absurda. Mas — e aqui também me dirijo ao João de Barros — colocar OEA, ONU e idéia de autoridade mundial do século XIV é um anacronismo grande.
Pelo que posso ver das citações, “autoridade mundial” está mais ligada, desde Bento XV, à necessidade de cooperação internacional e a defesa da paz na sociedade das nações. O contexto desde a Primeira Guerra Mundial assim o favoreceu. Nesse sentido, os objetivos da Sociedade das Nações (1919-1939) e a ONU (1945-hoje) se convergem, concorde-se ou não com suas regras, meios, balanço de poder e objetivos acessórios. Não vejo por que entender a expressão como a criação de uma autoridade de fato, uma instituição concreta, quiçá com leis católicas.
Bonifácio VIII, por sua vez, estava falando de outra coisa, ao menos do ponto de vista político. Naquela época não existia direito internacional. Fazia sentido que as relações internacionais (ao menos na Europa) fossem articuladas pela Igreja romana, particularmente quando o poder secular era monárquico não havia mecanismos de legitimação constitucional/popular de poder. Também fazia sentido porque o mundo ocidental se reconhecia como sociedade cristã, como hoje se reconhece por princípios de direito internacional, como igualdade de soberanias. Acredito que, nessa perspectiva, mais esclarecedor é o Dictatus Papae de Gregório VII (séc. XI).
Agora, se olharmos pela perspectiva do católico e sua obediência à Igreja romana, o Dictatus Papae (e também o Ausculta Filii) faz sentido até hoje. Todo católico está submetido ao Romano Pontífice em matéria de fé, moral, doutrina e Magistério.
Portanto, acho fora da realidade invocar uma Autoridade Política Mundial Católica, no sentido de fato. Não acredito de forma alguma que tenha sido esta a intenção de Bento XVI. O que fazia sentido politicamente no tempo de Bonifácio VIII, não faz hoje.
É, acabou que a gente fala mais ou menos das mesmas coisas. Preciso ler a Caritas in Veritate com mais calma…
Caro Argo:
Alguns querem por força ver no parágrafo 67 da última encíclica de Bento XVI um chamado à união política dos povos da Terra sob a égide da Igreja Católica, o que chega a ser cômico nas circustâncias atuais.
Evidentemente, não foi isso que o Papa quis dizer.
Na verdade, provavelmente, o Papa não quis dizer nada nesse parágrafo.
Ele simplesmente queria, com toda a razão, aliás, questionar os atuais organismos internacionais, o que fez muito bem em outros parágrafos.
Para não pegar muito mal na mídia, algum cardeal politicamente correto o convenceu a incluir também esse parágrafo confuso em que uma Autoridade Política Mundial clama sua urgência.
João,
Olha, acho que até concordamos no fundo hehehe. Realmente, o Papa não fala nada de um novo Sacro-Império, e aqui concordo com o Pedro, isso seria um anacronismo bizarro. Não há mais Cristandade, e o Papa fala para o mundo atual, e não para o século XIII. Do ponto de vista humano, confio demais no Papa pelo fato de ser um intelectual extremamente lúcido, e do ponto de vista da fé por saber da assistência prudencial do Espírito Santo mesmo em questões que não explicitamente de fé – parece ser o caso.
Agora, o que entendi, e acho que é isso mesmo, é que a globalização é tida como fato consumado, e o Papa não faz juízo de valor sobre a mesma. Partindo desta realidade, o Pontífice julga oportuno lembrar a idéia de fraternidade entre os povos, para evitarmos conflitos. E a própria globalização suscita questões que os Estados Nacionais não têm competência para responder por si só – por exemplo, a questão da imigração. Nesse sentido uma autoridade mundial poderia atuar para resolver essas questões ‘internacionais’, por assim dizer, respeitando a autonomia dos Estados – princípio da subsidiariedade. Contudo, e aqui talvez seja a pedra de tropeço de muitos, essa autoridade deve até ter um certo ‘poder coercitivo’, afinal, se um Estado age CONTRA um bem comum, convenhamos, não há o menor sentido em se manter essa situação injusta. E no contexto de um mundo globalizado já não faz mais sentido a idéia de “o povo daquele país que se vire”, pois as relações internacionais são cada vez mais interdependentes de modo que tal postura seria absurdo. Neste contexto, reforço, foi proposta essa tal autoridade.
Agora, a ONU realmente é um fracasso. Por que? Porque ela nasceu de uma Ordem Mundial que não existe mais, e que era injusta: dos vencedores da II Guerra. Ora, é só ver o Conselho de Segurança, que tinha a URSS e hoje ainda tem a China, com poder de veto. Quem se sente ‘seguro’ – perdoe-me o trocadilho infame – com comunistas ali? Dureza, né? Por isso o Papa fala em reforma estrutural na ONU, e eu digo mais: tal reforma só faz sentido se for ESSENCIAL, para mudar a essência mesmo da ONU. Em suma, ser uma ‘outra’ ONU. Loucura, utopia? Nem tanto.
Aliás, refletindo umpouco fico pensando em outra forma de resolver os problemas que a globalização traz consigo, e não penso em nada razoável. Por isso mesmo não considero utopia nenhuma o que o Papa diz, mas sim uma necessidade.
Se isso vai demorar ou não, eu não sei. Certamente enquanto os católicos comportarem-se, de modo geral, como uns pamonhas na vida pública, não tenha dúvida de que tal ideal ficaria cada vez mais e mais absurdo e longínquo.
Caro Canônico:
É ingênuo e utópico pensar numa “Autoridade Política Mundial” que não leve em conta Rússia, China, Índia e demais nações pagãs, como a Europa.
Conte nos dedos os países decentes que ainda há no mundo e verá que sobram dedos. Mesmo que fosse dado a um país católico um papel de relevo nessa ONU reformada, o resultado seria nulo, pois a classe política prima pelo anti-catolicismo. Basta ver a política externa do Brasil. Uma maravilha.
Assim sendo, qualquer proposta de “Autoridade Política Mundial” não passa de palavras bonitas e vazias. E perigosas.
Caro Canônico:
Você está quase vendo a luz.
São precisamente as autoridades políticas mundiais que reduziram os católicos ao estado de pamonha.
O parágrafo 67 foi uma azeitona na empada deles (Mas concedo que talvez essa fosse a única maneira de evitar mais um apedrejamento público do Papa).
Desculpe, João de Barros, mas a pamonhice é fruto evidente da carência de virtudes humanas. Para entender como isso acontece convém mais estudar história da Igreja, mas deixa pra lá… acho que você e eu sabemos bem o que se passou.
Eu não estou falando em excluir a China. Isso seria loucura. Mas é tão ou mais loucura deixar aquele regime maluco, que não deixa as pessoas teerem filhos, sem nenhuma reserva e com a importância que tem.
Mas enfim, parece que realmente você não está lá muito disposto a ir além disso então ficamos por isso mesmo.
“que não deixa as pessoas teerem filhos”
Pera, pera, voce quer ainda mais chineses no mundo??? Sério, às vezes acho que voces ou são idiotas ao extremo ou moram em Marte…
Sou particularmente interessado nas causas e efeitos da “pamonhice” dos católicos… =) Acho que, se for o caso (tendo a ver com o tema), queria que o Canônico falasse mais sobre isso.
Em qualquer ordem internacional, é loucura deixar qualquer hegemon sem reservas (China é um, com certeza). Se ele desrespeita os direitos humanos, é pior ainda.
Concordo com o Canônico: a “pamonhice” dos católicos não é exclusividade de nossos tempos e, por isso, não me parece correto imaginar que são as “ONUs da vida” que causam essa situação. E mesmo que fosse exclusivo de nossa época, parecer-me-ia mais razoável imaginar que essas “ONUs” fazem o que fazem pela “pamonhice” dos católicos atuais.
E, Argo, os jornais desse final de semana relatam que a China está revendo sua política de filho único por causa dos problemas econômicos que está gerando.
Pedro,
Eu poderia citar vários argumentos e tal, mas todo o problema se resume no pecado. As crises mundiais são crises de (falta de) santos, já dizia S. Josemaria.
E no clássico “A Alma de Todo Apostolado”, D. Chautaurd diz que se o sacerdote é santo, o povo é fervoroso; se o sacerdote é fervoroso, o povo é piedoso; se o sacerdote é piedoso, o povo é bom; se o sacerdote é bom, o povo é… e se o sacerdote for ruim, então melhor deixar pra lá…
Enfim, de todo modo, no Brasil, os católicos perderam a voz na opinião pública há décadas. Deixou-se de fazer apostolado, e hoje vemos áreas capitais dominadas por imbecis ou pessoas de má fé. Falo do pessoal do STF – que tomaram a imoral decisão das CTE´s, o Ministério da Educação, que é uma lástima, e nem preciso falar do Ministério da Sáude…
Nós já estamos lutando para limpar o leite derramado em todas essas questões do aborto e tudo o mais. Porque os que etsão no poder estão ‘em outra’.
Enfim, é uma situação triste e complexa. Mas é aquela história: se há uma crise na Igreja – e quem duvida que há? – há necessariamente uma crise moral grave na sociedade.
Quanto ao argo, só digo uma coisa: eu vou ter quantos filhos eu quiser e não vai ser imbecil de nenhuma estirpe que vai me impedir. Se vc acha bonito que um panaca socialista, um anacrônico fã de um canalha da estirpe de Mao Tsé Tung possa decidir sobre o mais íntimo de sua vida é problema seu, meu caro. Se vc acha bom que cretinos desse portem mandem na vida ínitma das pessoas, bem, o problema é seu. Eu acho péssimo e sou absolutamente contra isso. E fim de papo.
Se vc não é a favor da liberdade, eu sou.
Caros Canônico e Lampedusa:
Pecado sempre houve e sempre haverá enquanto vivermos neste desterro. Reduzir a “pamonhice” à ausência de virtudes é uma simplificação. Evidentemente, todos os problemas humanos têm suas raízes no momento em que Eva deu ouvidos à serpente.
Mas não é disso que estamos falando.
Estamos falando de um movimento que desde o fim da Idade Média trabalha para destruir a única Igreja de Cristo. Pelo menos desde o século XIX que os promotores desse movimento tornaram-se os donos do mundo.
São eles as verdadeiras autoridades políticas mundiais.
São eles que, particularmente após o Vaticano II, conseguiram transformar uma religião de bravos cruzados e santos mártires numa religião de pamonhas ansiosos para viver a paz que o mundo dá.
É nesse contexto que devemos ler a Caritas in Veritate.
Caro Canônico:
Justamente por ser impossível ter um organismo internacional que exclua países anti-católicos como a China, torna-se utópico, ingênuo e desnecessário clamar pela urgência de tal entidade.
A Caritas in Veritate poderia muito ter ficado sem esse malfadado parágrafo, entre outros.
“Mas enfim, parece que realmente você não está lá muito disposto a ir além disso então ficamos por isso mesmo.”
Essa eu não entendi.
A Caritas in Veritate expõe também um outro paradoxo deveras interessante.
Antes do Vaticano II, tinhamos uma liturgia complexa e sofisticada mas os documentos da Igreja eram escritos em linguagem relativamente simples e clara.
Depois do Vaticano II, a liturgia tornou-se minimalista mas os documentos pontifícios ficaram progressivamente mais densos e complexos.
Já até foi dito que para entender a Caritas in Veritate é preciso ler antes todos os outros livros do Papa! Não duvido. Acho mesmo que, para realmente entender a Caritas in Veritate, é necessário ter doutorado em vaticanês.
“A Caritas in Veritate poderia muito ter ficado sem esse malfadado parágrafo, entre outros.”
Que tal voce escrever ao seu Sumo Pontífice reclamando disso?