CNBB vive racha político. Sim, o título da reportagem é esse mesmo. Foi publicada n’O Globo de hoje (12 de maio de 2010) e reproduzida, além de pelo IHU, aqui no Clipping do TSE.
“Racha político”! É possível ver os dois lados da moeda. Por um lado, é terrivelmente doloroso que os nossos bispos não estejam unidos, para mais eficazmente proteger o povo católico nestes tempos difíceis nos quais vivemos. Por outro lado, para quem conhece o histórico da CNBB… graças a Deus que há discordância! E discordância pública. Estávamos acostumados a ver, na CNBB, a perfeita concordância dos sucessores de Iscariotes. Hoje – dizem-nos as notícias que nos chegam – há discordância. Nem todos querem ser pusilânimes. Nem todos querem ser vendidos. Nem todos querem trair Nosso Senhor. Louvado seja Deus!
Lendo a reportagem, nós podemos perceber que o racha não tem nada de político. É teológico, é doutrinário; é o racha entre os bispos que querem servir a Deus e os que querem servir ao mundo, entre as sentinelas fiéis e as relapsas. Repito: graças a Deus que a discordância é pública! Que a Virgem Santíssima fortaleça os prelados fiéis. Eles vão precisar de nossas orações.
O racha não é político. Veja-se a reportagem: “Bispos influentes decidiram agir para evitar a politização da entidade e esvaziar o ressurgimento de grupos com atuação de esquerda”. Ora, tais grupos são os adeptos da Teologia da Libertação de cunho marxista, já repetidas vezes condenada por Roma. Tais grupos são socialistas, e o socialismo já foi incontáveis vezes condenado pela Igreja. Portanto, não estamos diante de uma sadia e lícita divergência política. Estamos falando de uma profunda e irreconciliável cisão doutrinária: há os que querem ser fiéis à Cidade Eterna, e há os que querem trair a Igreja.
E as palavras de Dom Demétrio Valentini ecoam-me nos ouvidos de uma maneira particular, com um misto de dor e deleite. Dor, porque ele atribui um “certo fundamentalismo incompatível com os tempos atuais” aos bispos bons e fiéis que – nas palavras de Dom Demétrio – “querem mandar o plano [Nacional de Direitos Humanos] e o Lula para o inferno”. Mas deleite, porque eu já ouvi esta expressão antes. Há cinco anos. Na missa Pro Eligendo Pontifice. Pronunciadas pelo então cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI gloriosamente reinante. Eis o que disse o então cardeal:
Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar “aqui e além por qualquer vento de doutrina”, aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos.
E encaixa-se como uma luva, porque rejeitar o PNDH-3 é precisamente ter uma Fé clara – que não aceita conluios promíscuos e exige a linguagem do “sim, sim, não, não”. Não estamos falando de picuinhas políticas, e sim de fidelidade a Cristo, pois é quase como se não existisse ponto da Doutrina Social da Igreja – e também da Moral – que não seja espezinhado pelo Plano de Direitos Humanos do governo: defesa do aborto, legalização da prostituição, repúdio a símbolos religiosos públicos, louvores ao gayzismo, ofensas à família, atentados à propriedade privada, ultraje à memória nacional, ataque ao ensino religioso, viés totalitário, ideologia comunista… O que Dom Demétrio quer “salvar” no meio deste compêndio de anti-catolicismo? Será preciso ser um “fundamentalista” retrógrado para perceber que as coisas boas do PNDH-3 estão irrecuperavelmente viciadas e contaminadas pelo veneno do qual ele está embebido de uma ponta a outra?
Para Dom Demétrio, então, a Fé da Igreja é “incompatível com os tempos atuais”. Logo, é o discurso de Dom Demétrio que é incompatível com a Igreja Católica. O paralelo – às avessas – com a homilia daquele que viria logo depois a sentar-se no Trono de Pedro é notável, e é triste. Mas ao menos revela que há, entre os bispos, hoje, no Brasil, aqueles que se alinham com o sucessor de Pedro. Rezemos por estes. Que a Virgem Santíssima possa ser em seu favor.
Sobre o mesmo assunto: De O Globo, com comentários – 48ª Assembléia Geral da CNBB e o PNDH-3
Muito interessante. Os tempos mudaram e as más interpretações do Concílio parecem ter chegado a um limite. Os bispos da CNBB começaram a perceber que o que lhes ensinaram no seminário pode não ser o caminho certo. Isto vale para os que desejam a vida eterna. Tem uns que só querem o poder e a glória. A estes resta somente definharem, pois sua doutrina “estranha” certamente não irá prosperar na Igreja do Senhor.