Não tenho muito tempo agora, mas é só para comentar en passant um assunto ao qual eu provavelmente terei que voltar depois: Vida sintética criada pela 1a vez. Pelo que entendi, um cientista projetou um genoma em computador, sintetizou, colocou em uma “carcaça” de bactéria (i.e., retirou o DNA “original” dela) e o bicho “funcionou” – a bactéria começou a se comportar de acordo com o DNA novo.
Bom, antes de mais nada, remeto ao lúcido texto da Lenise Garcia sobre o assunto, publicado na Gazeta do Povo. “Venter está ‘brincando de Deus’? Nem tanto. Afinal, o homem gera novas espécies de plantas e vegetais há muito tempo, fazendo cruzamentos”. As exaltações são até justificáveis, uma vez que o avanço científico é sem dúvidas notável; mas não há motivos para se colocar os carros na frente dos bois, ou – pior ainda – enxergar nos experimentos de Venter coisas que não estão lá.
Quais as grandes novidades do resultado? Ao que me conste, já se sabia o que era um genoma. Já se tinha noção de como ele funcionava. Já se sabia que o DNA, grosso modo, é um polímero bem grande, e já se sabia que polímeros podem ser sintetizados. A novidade, portanto, ao que parece, é que isso pela primeira vez foi feito.
Não acompanhei a pesquisa e não sei exatamente quais eram as dúvidas que os cientistas tinham, nem quais as linhas de pesquisa que se abrem agora, as próximas barreiras a serem ultrapassadas, os objetivos visados, ou nada disso. Quais as implicações teológicas desta descoberta, é o assunto que nos toca mais proximamente. Sobre estas, volto a escrever em breve.
Caro Jorge:
Alguns reparos.
Isso está longe de ser criação de vida sintética.
O que houve de sintético aí foi o DNA da bactéria, que era uma cópia do DNA verdadeiro da mesma bactéria. O que você chamou de “carcaça” era na verdade o corpo de uma bactéria viva que teve seu DNA verdadeiro subtituído por um DNA igual, mas sintético.
A Dra. Lenise Garcia erra ao afirmar que os seres humanos criaram várias espécies de plantas e animais ao longo dos séculos.
Por enquanto, não existe uma única espécie de planta ou animal criada pelo homem. O que nós temos são raças melhoradas de espécies que já existiam antes. Algumas dessas espécies, como o milho, tornaram-se extintas na natureza e somente ainda existem graças ao homem. Mas, evidentemente, não foi o homem quem criou o milho.
Quando se faz um cruzamento de duas espécies, não se gera uma nova espécie.
Mulas, por exemplo, não são uma nova espécie de animal. São animais híbridos (jumento x égua) incapazes de se reproduzir naturalmente por serem estéreis.
A maioria dos animais e plantad domesticados nem sequer são híbridos. Cães e porcos, por exemplo, são apenas raças domesticadas de lobos e javalis, com os quais podem cruzar-se e gerar descendentes férteis.
Caro João de Barros,
Obrigado pelos reparos. Quer dizer, então, que um híbrido não é de uma espécie distinta dos seus genitores? E qual é a espécie, p.ex., da mula então?
No mais, estás correto com relação à ênfase dada aos limites do experimento. Vi depois de ter escrito que a Aceprensa já havia publicado algo:
http://www.aceprensa.com/articulos/2010/may/21/craig-venter-casi-fabrica-un-ser-vivo/
Abraços,
Jorge
Comentário do Vaticano sobre o assunto:
http://www.acidigital.com/noticia.php?id=19029
É a velha piada dos calouros de veterinária:
“Qual o nome científico da mula?”
A mula não tem nome científico pois não pertence a espécie nenhuma. É exatamente essa a definição de um híbrido. Como sói acontecer aos híbridos, mulas, embora sejam animais utilíssimos, são incapazes de reproduzirem-se. Logo, jamais gerarão uma espécie própria distinta de cavalos e jumentos.
É como a Teologia da Libertação: Um híbrido artificial de marxismo com catolicismo felizmente incapaz de reproduzir-se naturalmente. Os machos são burros e as fêmeas são mulas.