Leio no Diário de Pernambuco que uma em cada sete brasileiras já fez aborto. Não sei se a pesquisa merece crédito, uma vez que a “principal autora do estudo” é ninguém menos que a senhora Débora Diniz. Para quem não conhece, é a mulher que processou (e, pasmem, ganhou na Justiça) o pe. Lodi por este a ter chamado de abortista. Mesmo ela defendendo publicamente o aborto…
Concedamos, para argumentar, que os dados da pesquisa sejam verdadeiros, e 15% das mulheres brasileiras entre 18 e 39 anos já tenham praticado um aborto. O que isto mostra? Simplesmente que a impunidade para este crime está em níveis alarmantes e, portanto, é urgente que se faça alguma coisa. Mas a quantas anda a CPI do aborto? Não sei, e ninguém parece interessado em saber, porque não é exatamente este tipo de coisa que os autores da pesquisa proponham que seja feita.
Alguém argumentar que o aborto deva ser legalizado porque uma em cada sete mulheres já o praticou é um sofisma grosseiro. Há alguns anos, a Quatro Rodas publicou uma reportagem segundo a qual 36% dos universitários sempre voltavam para casa dirigindo após terem consumido bebidas alcóolicas. O que foi feito? “Legalizou-se” porventura a direção embriagada? Ao contrário. Promulgou-se uma lei arbitrária e desproporcional para punir todo mundo que tivesse comido um bombom de licor de sobremesa. À parte a arbitrariedade da lei (todo mundo que me lê sabe que eu não concordo nada com a Lei Seca), ela tem um fundo de sentido: se há pessoas abusando do álcool e colocando em risco a vida de outros, tais pessoas devem ser punidas. Isto está certíssimo. O problema é que a lei confunde abuso com uso e, aí, proíbe tudo.
E no caso do aborto? Não seria o caso de se redobrar a fiscalização e recrudescer as penas? Há milhares e milhares de mulheres assassinando os seus filhos, há uma gigantesca impunidade associada a este crime, mas no entanto ninguém parece se importar com isso – ou, pior ainda, há pessoas defendendo o “direito” dessas mulheres de abortarem. Há inocentes morrendo, diretamente assassinados (não é como nos acidentes de trânsito provocados por influência de bebidas alcóolicas – o aborto é assassinato consciente e deliberado, não é acidente), e as pessoas vêm a público precisamente defender este comportamento. Tristes tempos nos quais vivemos!
Há quem defenda que macacos sejam sujeitos de direito. Este nonsense não provoca a fúria de ninguém. Quem ousar defender, no entanto, que o nascituro é sujeito de direitos, poderá contar com a perseguição da modernidade “bem-pensante”. São as contradições morais de um mundo sem Deus. Que a Virgem Santíssima tenha misericórdia de nós todos.
Ótimo post, Jorge!
Hoje tive a infelicidade de encontrar uma propaganda feminista que segue por essa linha de raciocínio: se aborto é crime que deve ser punido, então alguma mulher que você conhece (provavelmente uma amiga ou parente) vai para a cadeia. É um apelo à piedade para que a audiência diga que não gostaria de ver alguém próximo parar na cadeia.
Além de sentimentalóide, a alegação exige a conclusão de que é legítimo você pleitear que um criminoso não vá para a cadeia, se esse criminoso for uma pessoa próxima a você. Ora, então também é legítimo uma desembargadora dar carteirada para livrar o filho da polícia, ou um político intervir para que o irmão não seja preso por dirigir bêbado. Duvido que esses defensores do aborto também defendam que um político não vá preso só porque alguém “próximo” lhe livrou a cara.
Ou seja: para essas pessoas, a lei só serve aos seus interesses sem moral, já que a moral é relativa. Então, de que serve a lei? Mais ainda: de que adianta o estado de Direito, se os “próximos” são menos iguais perante a lei dos que os “distantes”?
Se a lei deveria ser mudada para atender interesses amorais, descriminalizando o aborto, então qualquer lei poderia ser alterada sob qualquer argumento amoral. Se o argumento é que o aborto já é praticado aos montes, então que se legalize também o crack, dirigir bêbado ou o peculato. Se as únicas pessoas que podem opinar e julgar (portanto legislar) sobre aborto são as mulheres, pois os homens “não sabem” o que é uma gravidez, então que os acusados de assassinato sejam “justiçados” apenas pelos parentes da vítima, sem juiz, pois só elas sabem a dor de perder alguém. Ou só os credores teriam direito de definir arresto e pagamento de dívida dos seus devedores, quem sofreu dano moral ou material é quem definiria o montante e o responsável pela reparação, tudo sem juiz (já que lei não serviria de nada). Aí vira olho por olho, dente por dente.
Depois nós é que somos os conservadores retrógrados. Essa lógica relativista das abortistas faz a humanidade regredir 5 mil anos de volta à Lei de Talião.
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A propósito, Jorge: finalmente abri um blog católico, substituindo o que desativei há tempo. É o Contos do Átrio (http://contosdoatrio.wordpress.com). Depois faz uma visita lá!
Abraços, paz e bem =)