Muito já foi dito acerca das declarações do Papa Bento XVI sobre os preservativos. Em particular, recomendo a leitura
1. do trecho do livro causador da polêmica;
2. deste texto do Voto Católico que me parece dar uma boa visão panorâmica sobre o assunto; e
3. destes comentários (parte 1 e parte 2) do rev. Pe. Demétrio sobre o assunto.
Infelizmente, a repercussão desta matéria foi incomparavelmente pior do que tudo o que se podia esperar. Vejo-me obrigado a levantar armas contra duas frentes opostas: por um lado, contra os mundanos que celebram este “avanço” da Igreja e, por outra, contra os católicos dito tradicionalistas que foram céleres em acusar o Papa de ter errado na emissão de uma opinião particular não-infalível.
Começo com os primeiros: é absurda a quantidade de má fé empregada! Ora, qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento sobre a Igreja Católica sabe que as entrevistas papais publicadas por terceiros não fazem parte do corpo doutrinário católicos – ou seja, um livro de Peter Seewald não pode, sob nenhuma ótica, ser considerado um documento da Igreja. Portanto, ainda que o Papa estivesse apoiando campanhas de distribuição de preservativos (coisa que ele não está), seria descabido falar em “mudança de posição da Igreja”. A Igreja, como a história já deu incontáveis mostras e como os Seus inimigos não cansam de lamentar, simplesmente não muda. Esta é a segurança que nós, como católicos, possuímos.
Quanto ao que disse exatamente o Papa, ponho aqui uma tradução de um trecho bastante expressivo deste artigo do Catholic World Report:
Se alguém vai assaltar um banco e está decidido a usar uma pistola, melhor seria utilizar uma que não tivesse balas. Isto reduziria as chances de haver feridas mortais. Porém não é tarefa da Igreja ensinar aos potenciais ladrões de bancos como roubar bancos de maneira mais segura, e com certeza não é tarefa da Igreja apoiar programas que lhes proporcionem pistolas sem balas. Não obstante, a intenção de um ladrão de roubar um banco de maneira mais segura para os empregados e os clientes pode indicar um elemento de responsabilidade moral, que poderá ser um passo para uma eventual compreensão da imoralidade do ato de roubar um banco.
O mesmo se pode dizer da utilização do preservativo. O Papa não está falando sobre a sua mera utilização: está apenas enfatizando um aspecto subjetivo de quem o utiliza, que é em si positivo, e que pode servir para a sua eventual mudança de consciência e posterior conversão. Se um garoto de programa usa preservativos para proteger a si e ao seu parceiro de um eventual contágio com o vírus da AIDS, é esta preocupação com a integridade própria e a alheia que o Papa está chamando de positiva. Usar a camisinha é uma forma errada de salvaguardar a própria integridade; mas a intenção de se proteger, a consciência de que existem riscos associados ao uso desenfreado do sexo, é o que existe de positivo (embora, repita-se, os meios empregados estejam equivocados) no exemplo dado pelo Papa. Não significa “prostitutas, usem camisinha!”, mas simplesmente uma constatação: um garoto de programa que mantém a consciência dos limites do sexo, ainda que erre na maneira de “se proteger”, está melhor do que um entusiasta defensor do Barebacking.
A segunda parte deste texto – sobre os católicos dito tradicionalistas – vai ficar para depois.
Caro Jorge,
estava exatamente preparando um texto na mesma linha. Alguns cristãos estão esquecendo que o Papa não fala todo tempo Ex Cathedra e que nem precisa falar assim. Exigir que ele fale dogmaticamente é impingir necessidade a um cargo que não cabe aos fiéis cristãos.
Quanto à reflexão sobre a pistola, excelente!
Prezado Jorge, Laudetur Dominus!
Só peço que procure tratar as opiniões dos tradicionalistas com – o quanto for possível – benevolência.
A coisa já anda mal e é frustrante ver pessoas e grupos que sempre se preocuparam com a verdade, como o pessoal do Index Bonorvm jogando mais lenha na fogueira e partindo para ofensas gratuitas.
Muita calma nessa hora!
Pax et Salutis
A posição do papa foi a de que a camisinha seria um “mal menor”. Dentre todas as possíveis maneiras alternativas de o garoto de programa perceber que está no erro, o papa citou a camisinha. Isto é problemático! Um garoto de programa que usa camisinha pode usar camisinha pensando em SE proteger sim, mas este é também o pensamento de um adultero, por exemplo. O “mal menor” proposto pelo papa, por lógica deve servir para este caso por exemplo. Este foi apenas um caso que poderia elucidar a magnitude do que foi dito pelo santo padre. Muitos outros podem arrogar-se, por lógica, no direito de estar entre aqueles que estariam fazendo um “mal menor”. Claro que para o católico de verdade isto não faria a menor diferença, pois a doutrina continua a mesma.
Não estou aqui, como muitos outros, resumindo o pensamento de Ratzinger a este infeliz trecho vazado pelo L’osservatore Romano, mas neste contexto, por mais que eu leia explicações(American papist, Catholic World Report, etc) e por mais que eu ame o santo padre, acho difícil defender o indefensável. Há alguma coisa que não bate…Não tem aquela verdade que eu percebo claramente em todos os discursos do papa Bento. Anyway, sei que este foi um caso isolado.
Jorge, dá uma olhada nisso!
http://extraecclesiamsalusnulla.blogspot.com/2010/11/estranha-renuncia-do-bispo-de-cacador.html
Abraço!
Concordo com o post. Como disse o Reinaldo Azevedo (apesar de eu não comungar com suas opiniões no mais das vezes), a Igreja apenas esclareceu uma opinião que já era, há muito, coerente com seus ensinamentos. É a tal da coisa, não adianta simplesmente não usar camisinha e dizer que obedece a Igreja. Antes, é preciso que haja matromônio e fidelidade. Agora, se a pessoa decide fazer sexo sem compromisso e com promiscuidade que, pelo menos (e esse é o pedido da Igreja) que seja responsável e use camisinha. Para mim é muito simples e claro.
De toda sorte, achei válido ser divulgado e esclarecido isso, pois, ainda que para muitos seja mais do mesmo, não deixa de ser uma postura mais responsável o fato de se manifestar de modo expresso o que já era de seu entendimento. Por isso, não deixa de ser um “avanço” a MANIFESTAÇÃO do Papa.
Acontece só uma coisinha para a qual nem precisa citar o papa: a moral atual da Igreja pós-conciliar assusta diante da moral anterior ao concílio. Aí, dizem: “a moral evolue”. Evolui? O depósito a ser guardado para todas as gerações não é acerca da fé e da moral?
Fui estudar Teologia pela segunda vez, aí, no primeiro dia de aula sobre moral, o professor abriu a aula assim: “antigamente, antes do concílio, valia a lei, agora, depois do concílio, vale a pessoa”. Julguem vocês mesmos, porque já tem gente achando que eu estou inventando. A gente vive a coisa, toma cacetada e, depois, quando conta, ainda dizem que a gente está inventando. Inscrevam-se num curso de Teologia! Vejam que Jesus disse à prostituta: “vá e não peques mais”. Ele não disse, você fez o que fez, mas teve algumas justificativas ou dirimentes e, enquanto ainda fazia, mostrou-se arrependida ou constrangida, embora livremente tivesse continuado a fazer. A bondade ou a moral persistiu em você, embora continuasse a pecar. JESUS DISSE: “VÁ E NÃO PEQUES MAIS”! ELA PECOU E SE CONTINUAR, VAI MORRER DUAS VEZES E DEFINITIVAMENTE! ESTE É O PRINCÍPIO DA MORAL! LEIAM SANTO TOMÀS DE AQUINO!
Prezado Sr.
A opinião do papa parece-me indefensável.
A vida física não é um bem absoluto a ser salvo a qualquer preço. Pelo contrário, é preferível que um sodomita pegue Aids e pare de pecar. Assim, terá a oportunidade de se arrepender.
A comparação com os funcionários de um banco assaltado é absurda. Os funcionários são inocentes. Os dois sodomitas são pecadores nefandos.
A verdadeira comparação é: dizer a um sodomita que use camisinha é a mesma coisa que dizer a um assaltante de banco que cometa seu crime com arte de forma que não sofra as consequencias do seu ato.
Pe. João Batista Costa
Revmo. Pe. João Batista, sua bênção.
Perdoe-me, padre, mas não me parece que o papa esteja dizendo para os sodomitas usarem camisinha. Trata-se, repito, muito mais de uma constatação que uma orientação.
É lógico que é preferível um aidético convertido a um saudável sodomita previdente. No entanto, o Papa não entra neste mérito. Ele apenas diz que há, no prostituto que usa camisinhas, um resquício de responsabilidade e de salvaguarda da própria vida (e da alheia) que não se encontra, p. ex., em quem pratica bareback. Acaso não há?
Note que um vício só exclui a virtude que lhe é oposta, e não toda e qualquer virtude. O luxurioso não pode naturalmente ser casto, mas pode possuir alguma outra virtude. E possuir alguma virtude é melhor, objetivamente falando, que não possuir nenhuma.
Note que não se está falando que isso seja louvável ou incentivável, nem que seja a saúde o bem mais importante, nem que se deva deixar tudo assim mesmo e não insistir na necessidade da conversão, nem nada do tipo.
Aliás, acho que foi exatamente por isso que o Papa falou em prostituto, no masculino, uma vez que, para esse, a camisinha não acrescenta gravidade ao ato que já é intrinsecamente anti-natural.
Abraços,
Jorge
Ih…
Para começar, o Papa não utilizou a palavra prostituto – masculino – trata-se de um erro de tradução do livro – no original é prostituta mesmo, conforme noticiou a sala de imprensa da Santa Sé, e já informando que será corrigido nas próximas edições.
Segundo, é que o problema na verdade é aqui:
“…Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização…”
Como a utilização de um preservativo numa relação sexual ilítica pode ser um primeiro passo para a moralização?
Alguém consegue me explicar isso?
O Papa se expressou mal, calma. também não nos expressamos mal às vezes? Claro que como Papa deve ter mais cuidado, mas é um ser humano não?
Primeiro Sodomita é habitante de Sodoma! E os habitantes de Sodoma pelo que consta na passagem da Escritura eram ativos pois queriam conhecer os anjos e também porque Lot ofereceu a eles as filhas virgens. Logo não eram gays no sentido psicológico. A questão do papa é simples de ser resolvida. Para não entornar mais a bagunça basta entender que o mesmo se referiu aos mundanos aos promíscuos. Sem Necessidade é claro já que o mundo e a mídia recomendam camisinha pra TODOS inclusive católicos há muito tempo. Agora rezemos e peçamos a Jesus que o papa e todos que vierem depois não dêem mais entrevistas. Já evitaria muito erro.
Seu Jorge, do jeito que o sr. explicou, podemos conceber o seguinte: o papa falou nada de nada ou nada que interessa ou importa. Não acredita que se vai ao inferno com “resquícios de virtudes”? Vai-se e é desse jeito que os demônios mais gostam, porque terão o que queimar de “bem” para que só fique o mal. Deus não é bobo, seu Jorge, “Ele não atira pérolas aos porcos”. Caricaturas não são, tanto quanto a ausência nada é. Por isso que “Deus vomita o meio-termo”. A nova moral não ajuda em nada, senão só atrapalha. Ela atrapalha a exigência da verdadeira moral. Afinal, “o Céu está reservado para os violentos”. E moral de moleirão, que não marca a gravidade devida como está impressa ao combate, acaba sendo tão imoral ou amoral como tudo que vigora contra a moral. “Vá e não peques mais”, não é mero conselho, é ordem, porque haverá juízo e haverá castigo. A culpa é necessária e a nova moral tentou retirar da culpa o seu caráter imprescindível e sua eficácia contra a incoerência suicida, como a de uma prostituta que somente atrasa a sua conversão e sossega de sua culpa, por usar preservativos. É a teoria do armário. Santo Expedito grita: “é hoje” e tem de ser com tudo, inteiro!
O ensino tradicional:
http://contraimpugnantes.blogspot.com/2010/11/camisinha-do-prostituto-e-o-papa.html
Sem mais.
Ficar justificando o erro, ainda que do Papa, é bem típico dos novos católicos.
“Basta saber que nunca, jamais, em hipótese alguma, pode o uso do preservativo por um prostituto (ou por quem quer que seja!) ser o primeiro passo para a moralização, pois, como se disse acima, ninguém dá o primeiro passo para moralizar-se pecando, mas sim arrependendo-se do pecado. Portanto, esta declaração do Papa Bento XVI não pode de forma alguma ser considerada um ato magisterial, mas apenas uma opinião que em si não tem valor algum, ou melhor: tem um imensíssimo “desvalor”, pois será aproveitada (e aplaudida) pelos homens de espírito mundano em toda a face da Terra.”
Do citado artigo
Retornando um dos pontos da argumentação do Jorge:
Em algum momento se disse, aqui ou no livro, que o ensinamento era “ato magisterial”? Ou pior: do magistério ordinário?
Em algum momento se disse, aqui ou no livro, que o ensinamento era “ato magisterial”? Ou pior: do magistério ordinário?
Não. É claro que não é nada disso.
Por este mesmo motivo, pode estar e está errado
Se não é magistério, se destoa de aspectos fundamentais da moral, se provocou um escândalo mundial imenso, para que ficar dando voltas e voltas tentanto justificar isso?
A nova moral (ainda que distante de Roma) busca evitar a culpa. Busca desculpar, dirimir. Há tanta loucura em moral quanto em teologia na literatura católica moderna. Assim como evita o sofrimento. A eficácia da Cruz. Passa longe de São Pedro que indagava: “o quê sabe quem nunca sofreu?” Sei que a maior parte não encontra guarida em Roma, mas há influência e há seguidores na hierarquia. Como ensinou São Paulo, a moral católica tem como horizonte a Cruz. Ele mesmo disse que abandonou todos os outros discursos para anunciar a Cruz e nela lutar o bom combate de pé até o fim. Sem tal horizonte, não se chega de pé até o fim. Mas, então, veio Freud que condenou a culpa. Vieram as feministas, lideradas por Beauvoir, que disseram que o catolicismo satanizou ou demonizou (como dito naquela nefanda questão do ENEM deste ano) o corpo e o orgasmo. Deus colocado à parte, “morto” pelo nihilismo evolucionista e, pronto: o “do-in”, coincidente no ocidente à visão maquiavélica do homem, no qual mal e bem podem conviver com positivo equilíbrio, tornando-o aceito e divinizado sem exigência de nenhuma renúncia (muito mais do que sem nenhuma mortificação), parece virar unanimidade para reforçar o antropocentrismo que, não apenas justifica o homem ainda decaído, mas o diviniza sem depender de Deus e, muito menos, de Sua Cruz. Infelizmente, sinto dizer-lhe: esta é a “moral” ensinada nos seminários. Estive em três deles, aprendendo tal “moral”. Nem na faculdade de Direito, a que concluí, aprendi uma “moral” tão imoral. E, como punir ou evitar os produtos, se não se pune ou não se evita os produtores? Não será porque alguma coisa tem de ser revista lá em cima ou de cima para baixo? Veja, capte documentos sobre moral que concede ao confessor o direito de aplicar dirimentes na penitência. Depois lembre-se de Jesus exortanto: “concorde logo com o seu acusador, antes que ele o leve ao juiz e o juiz o leve ao cárcere”. Sabedoria divina: se há culpa, não me interessa dosar tal culpa, mas que o juiz me absolva logo de tudo, pois, “para Ele, mais virá a ama-lO aquele a quem Ele mais perdoou”. Ou seja, sempre será insuficiente minha consciência acerca de minha dívida para com Deus. Por isso, o salmista dizia (Sl 50): “minha culpa, eu sempre a tenho diante de meus olhos”. E a Sagrada Doutrina manda absolver só quem se reconhece culpado (de máxima culpa contra Aquele que é o Único Inocente), arrependido e compromissado a se emendar. Entretanto, aí, inventou-se essa história de dirimir e até de se evitar a penitência. A receita restou assim: nada de sofrimento ou de cruz (renúncia e mortificação), nada de satanizar o prazer corporal, o homem já é bom como é desde nascido, evoluímos para construir o paraíso na terra onde ninguém mais sofrerá e unidos seremos divinos. Como se pode querer depender de Deus e para quê temer a Deus? Deus existiria apenas para deixar fluir ou ajudar na nossa síntese hegeliana. Mas, o produto da receita acima não passa e não passará do que São Judas Tadeu profetizou na sua carta. E que Deus socorra a Igreja.
Caro Jorge,
Concordo que a mídia anti-católica exagera e distorce grandemente tudo o que o Santo Padre falou, mas porque também não admitir que na qualidade de Papa tudo o que ele fala terá uma repercussão incrivelmente maior do que as palavras de um simples padre ou até mesmo bispo? O Santo padre é a autoridade máxima da Igreja e um simples deslize ou omissão vira munição para os inimigos da Igreja.
Você falou de apenas 2 vertentes opostas, mas esqueceu-se de mencionar uma terceira muito visível nesse episódio, qual seja, a dos padres e leigos neoconservadores que imediatamente passaram a negar o óbvio uluante no afã de defender o papa. Se essa mesma argumentação fosse usada (como de fato já foi) por bispos liberais da CNBB, esses neoconservadores caíriam em cima, abanariam a cabeça e revirariam os olhos. Agora quando chegou a vez do papa, esses mesmos trataram de achar argumentações para justificar um comportamento que criticariam ou já criticaram e outros religiosos. E mais, esses mesmos padres e leigos que criticam os tradicionalistas ficam impassíveis com a confirmação e radicalizaçao dada pela própria assessoria de imprensa do Vaticano (padre Federico Lombardi). Falam da mídia liberal e calam quando chega a vez do “jornal do Vaticano” ou da “sala de imprensa do vaticano”, que não fez outra coisa do que confirmar o que muitos meios liberais disseram. Leia por exemplo o relato da Zenit, dirigida por gente ligada aos Legionários de Cristo.
Claro que se um camarada não liga a mínima para o pecado da fornicação ou prostituiçao, o mais lógico é não vá fazer abstençao da camisinha. Contudo, o que faltou no discurso foi justamente falar do pecado da fornicaçao e da prostituição em si. É como o ladão que ao roubar um banco usa luvas para que suas impressões digitais não fiquem gravadas. Humanamente falando é a coisa lógica a ser feita. Contudo, porque dizer que o uso das luvas é justificado em tais situações, enquanto não se fala do pecado do roubo em si? Esse foi o ponto que faltou e que creio eu deu origem a toda a confusão.
Amamos o nosso papa. Creio que temos um verdadeiro presente de Deus na figura de Bento XVI, mas também não podemos ficar tão bitolados a ponto de não termos uma posição clara quanto a um pronciamento que cause confusão. O que é claro não precisa ser esclarecido oficialmente.
De resto, também não podemos reduzir todo o livro a apenas esse aspecto. Certamente o restante deve ser lido e apreciado. Uma entrevista dada a um escritor não representa o Magistério vinculante da Igreja.
Vale lembrar que o padre Federico Lombardi diz ter confirmado com o papa que o mesmo argumento se aplica a prostitutas.
Sejamos mais abertos à ação do Espírito Santo. Se por acaso, um homem ou mulher sofresse um acidente e precisasse transfusão de sangue e inadvertidamente recebesse sangue contaminado. Sendo ela ou ele casado não seria plenamente aceitável que o contaminado com HIV fizesse de tudo para preservar a saúde do outro cônjuge? Ou será que até neste caso os senhores defendem a abstinência?
O bom senso deve sempre prevalecer e no meu entendimento está aí um dos muitos casos em que a Igreja deve aceitar o uso do preservativo. Admitir o uso de preservativo nestas circunstância não quer dizer que a Igreja aceite a sexualidade desregrada.
Se o Senhor tiver bom senso claramente perceberá que há casos em que o uso do preservativo não apenas é aceitável como até se torna imperativo para se evitar um pecado contra o quinto mandamento.
Resultados diretos da entrevista podem ser vistos aqui:
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2010/11/dentro-das-igrejas-fala-do-papa-sobre-preservativo-divide-jovens.html
Por favor, comparem as duas notícias. Pode ajudar na compreensão do caso.
Vaticano amplia autorização a camisinha para combater Aids
http://br.noticias.yahoo.com/s/reuters/101123/mundo/mundo_vaticano_camisinha_papa
“Senhores Jornalistas: O Papa não aprovou o uso de preservativos.”
http://saudedalma.blogspot.com/2010/11/senhores-jornalistas-o-papa-nao-aprovou.html
Evaldo, você disse tudo!
Caro Jorge,
Encasquetei-me com a seguinte afirmação: “A Igreja, como a história já deu incontáveis mostras e como os Seus inimigos não cansam de lamentar, simplesmente não muda.”
Ora, o Concílio Vaticano II não foi uma mmudança?
Mr Evaldo and Mis Lia
“Sendo ela ou ele casado não seria plenamente aceitável que o contaminado com HIV fizesse de tudo para preservar a saúde do outro cônjuge?”
Toda Lei é deferida pela regra de via.
Nunca pelas exceções.
Para estas, outras normas são avaliadas.
Thanks
olegario
Nossa, eu estou chocada em ver como as pessoas distorcem tudo… Li a reportagem dos jovens de grupos de oração e a maioria disse que se liberou para os homossexuais, deveria liberar para todo mundo! Que absurdo!
Eu li o que o Papa falou na entrevista e não achei nada demais. Sempre achei que a Igreja pensava dessa forma. Olhe que não houve liberação de absolutamente nada. O fato de o Papa ter citado um prostituto ou prostituta, que seja, já está implícito que ele está falando de alguém que não segue as orientações da Igreja. Se seguisse, não seria prostituto, não faria sexo fora do casamento e não usaria preservativo.
Ou seja, o Papa falou de uma situação que só deveria ocorrer fora da Igreja. Quando que isso pode servir como orientação para a Igreja?
A mídia está utilizando a declaração para desmoralizar a Igreja. Acredito que o Papa deve estar muito triste com essa repercussão negativa. Realmente, vendo a repercussão, não foi uma declaração muito feliz…
“Sendo ela ou ele casado não seria plenamente aceitável que o contaminado com HIV fizesse de tudo para preservar a saúde do outro cônjuge?”
Se essa argumentação for mesmo levada a sério o cônjuge contaminado terá que simplesmente deixar de ter relações sexuais com o cônjuge são, visto que já está comprovado que os preservativos proporcionam proteção parcial (por causa dos microporos e o tamanho ínfimo do vírus HIV).
O seja a segurança do preservativo existe, mas é relativa, não é 100% garantido. Então, o ‘fazer de tudo’ é não fazer uso dos direitos conjugais.
Contudo, essa é mesmo uma situação dificílima. Só mesmo com a Graça de Deus se poderia agir assim e não por forças humanas.
Sinceramente não me importo se houve ou não mudança no posicionamento da Igreja. O importante é que foi uma declaração espetacular e responsavel.
Segundo Lucrecia Rego de Planas, do Catholic.net, em espanhol (http://es.catholic.net/escritoresactuales/825/2862/articulo.php?id=48608) no texto original em alemão, o papa fala de “Prostituierte männlic”, que significa literalmente “prostituto” e não prostituta. Ela lembra que o Papa está falando do preservativo como uma ferramenta contra a AIDS e não como uma ferramenta para a contracepção. Lendo os comentários deste e de outros blogues, além do que foi e está sendo discutido na mídia, percebi que, diferente do que se imagina graças a Deus as opiniões do Papa ainda são importantes, não só para os católicos – tanto os de fato quanto os autodeclarados – o que, diga-se de passagem, é muito bom. Mesmo suas declarações pessoais provocam debates morais que, apesar de tudo, são produtivos. Sei que muitas das opiniões contrárias à entrevista do Santo Padre estão, em sua maioria, repletas de boas intenções e que todos querem defender a Santa Doutrina da Igreja. Entretanto, existem considerações que precisam ser evitadas, a fim de não prejudicar a imagem da Igreja. Não concordo, por exemplo, com a declaração vaga de que seja “preferível que um ‘sodomita’ pegue AIDS e pare de pecar” para que assim, tenha a oportunidade de se arrepender. Afinal se arrepender de quê? Do ato pecaminoso em si ou da falta de proteção? Entre essa afirmação e a do Papa, quem garante qual das possibilidades é realmente eficaz como “o primeiro passo para uma moralização”: um pecador que apresenta algum tipo de responsabilidade e que pode perceber nisso o princípio inalienável de valorização da vida e, consequentemente, uma possível conversão, ou o pecador que a partir de uma doença (um castigo divino?) arrepende-se e percebe que precisa de mudança de atitude? Evidentemente, para qualquer pessoa que tenha um mínimo de bom senso, a declaração do Papa não foi a de que a camisinha seria um “mal menor”, haja vista o “mal maior” da AIDS. Não foi essa a declaração dada ao entrevistador Peter Seewald. Aparentemente houve, com base no trecho que foi publicado, um mal entendido ou, na pior das hipóteses, uma consciente e maliciosa deturpação das palavras de Hatzingger. Uma boa explicação disso encontra-se em:
http://diasimdiatambem.wordpress.com/2010/11/20/o-papa-e-a-camisinha/.
Em tempo, não podemos nos esquecer que somente as palavras que são proclamadas Ex Cathedra pelo do Bispo de Roma, representam a posição doutrinária da Igreja Católica Apostólica Romana. Definitivamente a entrevista dada a Seewald não tem esse objetivo e, portanto, não pode ser considerada uma “mudança” na mentalidade da Igreja. Lembremo-nos também que, se fosse este o caso, as palavras de Sua Santidade são dirigidas, não de forma exclusiva, mas principalmente, aos católicos de rito ocidental. Obviamente não se pode querer, ou exigir, que certas comunidades que seguem outras crenças, assumam os direcionamentos morais dados pela Igreja Católica a seus fieis. Da mesma forma que não se pode obrigar que essas mesmas instruções sejam aceitas por pessoas que, mesmo se dizendo católicas, assumem práticas que não condizem com a fé que declaram. Sendo assim, é de se esperar que alguém que obedeça a Igreja quando essa lhe pede para não usar camisinha, antes a obedeça quando ela lhe pede para ser casto antes do casamento. Uma constatação naturalmente coerente. Portanto esperar que um dia a Igreja autorize o uso da camisinha pelos solteiros só seria possível se antes alguém provasse que o mandamento bíblico de não pecar contra a castidade não é valido. O que, aparentemente não vai acontecer. O mesmo vale para os que esperam que um dia a Igreja tenha um “Papa Mente Aberta”, “moderno”, que autorize casamentos homossexuais, a prática do aborto como uma alternativa aceitável, eutanásia…
Foi dito que as declarações do Papa foram infelizes, porém, é de conhecimento geral, ou pelo menos deveria ser que só pode surtir efeito algo que é livremente aceito. Um exemplo disso foi dado com o irresponsável processo de proselitização feito no Brasil e que, entre outras coisas, favoreceu o sincretismo da Igreja Católica com outras crenças. Chega a ser redundante querer apontar os males que tal prática faz aos católicos, geralmente, mal instruídos acerca desses males. Seja pela péssima catequese ou pelo gravíssimo, mau direcionamento espiritual que recebem de sacerdotes incompetentes. Ao declarar que entende que uma pessoa assuma uma atitude responsável que não coloque em risco a vida, sua e a dos outros, Bento XVI atenta para algo que é muito mais importante que o pecado cometido; o pecador. O pecado deve ser repudiado, é claro, mas o que peca deve ser “amado”, respeitado e orientado sobre o pecado que comete. É este o exemplo do Evangelho. Dizer a alguém que usar camisinha é errado e por isso ele deixar de usá-la, não implica necessariamente que ele se santificará. O importante não é que ele deixe de usar a camisinha e sim que ele passe a assumir um comportamento que o leve a evitar o pecado. A abstenção do sexo não legítimo em si, que é onde o pecado se encontra, é um exemplo. Outro exemplo é quando alguém resolve assumir um relacionamento homossexual (ou mesmo um relacionamento heterossexual realizado fora do sacramento), o pecado não se encerra no fato dessa pessoa usar ou não um preservativo. Como disse o Jorge, “a camisinha não acrescenta gravidade ao ato que já é intrinsecamente anti-natural.” Por outro lado, amar o pecador, implica em rezar para que ele abandone o pecado, não para que seja punido por isso. Orientar com zelo um irmão que peca a se cuidar, não significa necessariamente apoio ao pecado cometido e muito menos, que o pecador passará a ver nessa atitude uma espécie de autorização especial para que continue pecando.
Para os que acham que a declaração do Papa foi infeliz e despropositada basta ver a repercussão do assunto mundialmente. Basta observar a comoção que a declaração provocou para perceber o quanto ela está contribuindo para um debate verdadeiramente eficaz e do qual, podem surgir reflexões que só acrescentem à missão pastoral da Igreja no mundo. Se analisado isoladamente, realmente não vejo como o trecho da declaração de Sua Santidade, possa contribuir como um “primeiro passo para uma moralização”. Mas acredito que o debate que está sendo travado agora possa sim, de alguma maneira, representar esse passo. Seja pela mudança nos paradigmas do que é “ser moderno”, seja pela própria reflexão que tal debate pode produzir nos interessados. Aparentemente, essa comoção em torno de uma declaração não oficial e, reitero, que não representa nem de longe o Magistério vinculante da Igreja, só mostra o quanto a humanidade necessita de um direcionamento moral. Acredito também que a Igreja, salvo algumas exceções, já oriente suficientemente bem as pessoas a respeito desses assuntos. Porém se mesmo de posse dessas orientações dadas pela Igreja, alguém decida assumir o risco e se colocar numa situação que por si só já caracteriza um pecado, que pelo menos seja de forma responsável. Achar que só pelo fato de ter assumido conscientemente o pecado alguém precise pagar por ele com uma doença, não me parece uma atitude verdadeiramente cristã, afinal, além do direito à vida, todos merecem misericórdia.
Não nos esqueçamos, porém, que o livro não se resume apenas a essa opinião pessoal do Papa. Alguns pontos importantes dele podem ser conferidos (em espanhol) no endereço:
http://es.catholic.net/laiglesiahoy/mundoarticulo.phtml?consecutivo=37387.
Não é muito lembrar, também que o livro não representa nenhuma “nova posição” ou “avanço” da Igreja como muitos declararam. Até por que não é uma opinião da Igreja e sim uma entrevista informal do nosso Papa. Já a missão da Igreja em si, essa sim, graças a Deus, permanece a mesma: sempre proteger a dignidade da vida e instruir seus filhos para uma eficaz vivência dos valores evangélicos. A forma como ela faz isso não é importante. Nesse caso sim, os fins justificam os meios.
Abraços a todos.