A Causa das causas e o Bule Voador

Todo efeito tem uma causa; este é um princípio metafísico tão elementar que chega às raias da auto-evidência, sendo inclusive constatado pelas ciências experimentais. Lavoisier (assassinado pela Revolução Francesa, a propósito) já chegou a postular que, na natureza, nada se perde e nem nada se cria: tudo se transforma.

Qualquer análise rudimentar dos encadeamentos de causa-e-efeito levam a um corolário também bastante óbvio: suprimindo-se a causa, suprime-se o efeito. Ora, se é o fogão aceso a causa do aquecimento da água na chaleira, apagando-se o fogão chega-se inevitavelmente à conclusão de que a água não há de ferver sozinha. Qualquer camponês analfabeto da Idade Média entende perfeitamente este mecanismo óbvio da realidade ao seu redor, e qualquer dona-de-casa, por simplória que porventura seja, sabe muito bem que se o gás do fogão acabar-se ela não conseguirá ferver a água do café.

Se todo efeito tem uma causa (e não se encontra uma única exceção a este princípio metafísico na realidade empírica ao nosso redor), segue-se inevitalmente que é mister haver uma Causa das Causas, é preciso haver Algo que tenha causado o mundo em que vivemos e que nós percebemos pelos nossos sentidos. A esta conclusão já chegaram os filósofos da Antiguidade e, com o advento do Cristianismo, a sentença tomou a sua forma lapidar que é utilizada até os dias de hoje: a esta Causa das Causas, a este Primeiro Princípio, nós chamamos de Deus.

“Ah”, pode objetar algum ateu moderno, “mas se Deus criou todas as coisas, quem foi que criou Deus? Se tudo tem que ter um Criador, porque a mesma lógica não se aplica a Deus?”. A esta pergunta (profundamente pueril) pode-se responder da seguinte simples forma: se Deus foi criado por Algo, então Deus não é Deus e este Algo que criou Deus é que é Deus. E, se este Algo foi criado por algum “Outro Algo”, então o Algo primeiro não é Deus e Deus é, na verdade, o “Outro Algo”. E assim sucessivamente: o princípio permanece integralmente válido independente de quantos “Algos” sejam colocados no encadeamento das causas. No entanto, devido ao princípio conhecido por “navalha de Ockham”, não faz sentido multiplicar desnecessariamente o número de explicações para os fenômenos. Basta que haja uma Causa das Causas para explicar a existência do mundo ao nosso redor.

“E por que precisa existir esta Causa das Causas?”, pode insistir o nosso ateu. A resposta é óbvia: se não houvesse uma Causa Primeira, então não haveria efeitos (uma vez que, supressas as causas, suprimem-se os efeitos) e, portanto, não existiria nada. Ora, mas é evidente que as coisas existem: portanto, a única explicação para a existência das coisas é que elas tenham sido causadas por Algo que, por Sua vez, é Não-Causado. Há, portanto, necessariamente uma Causa Incausada. A Ela, nós chamamos de Deus.

“Beleza. Há um Primeiro Princípio. Mas dizer que este Primeiro Princípio é um Deus Pessoal já é extrapolar as conclusões da filosofia” – ainda assim pode insistir o nosso teimoso ateu. Também a isto é fácil responder: é evidente que os efeitos são “da mesma natureza” das suas causas. Assim, o fogo que aquece a panela tem que ser ele próprio quente, a tinta que tinge o portão de vermelho tem que ser ela própria vermelha, et cetera. Também isto é bastante óbvio. Em linguagem filosófica mais específica, nós diríamos que a passagem da potência para o ato dá-se necessariamente por meio de algo que já possui, em ato, a qualidade transmitida: o fogo que aquece precisa ser quente, o gelo que resfria precisa ser frio, a tinta que pinta de vermelho precisa ser vermelha, etc. E a Causa das Causas é também – exatamente por ser Causa das Causas – Ato Puro, i.e., um Ser que possui em ato todas as características.

Ora, há inteligência no mundo: a despeito de alguns questionamentos que nós infelizmente somos obrigados a ouvir, a existência da inteligência (que não pode ser confundida com “todas as pessoas são inteligentes”) é outro dado da realidade facilmente perceptível. E, se há inteligência, também esta precisa de uma Causa, de um Princípio. Na formulação feita por Gilson é possível dizer: como é possível explicar a existência da inteligência no mundo de outro maneira que não através de um Princípio que já inclua, n’Ele próprio, a Inteligência? Ora, não é possível pintar uma casa de vermelho sem tinta vermelha, e não é possível ferver a água do chá sem fogo ou alguma outra coisa que aqueça a água. Se a casa é vermelha, a conclusão de que existe tinta vermelha é imperativa e, se o chá é-nos servido às três da tarde, a conclusão de que existe fogo (ou microondas, ou seja lá o quê) para aquecer a água do chá é totalmente indiscutível. Ora, se existe inteligência no mundo, a conclusão de que o Primeiro Princípio é Inteligente, de que o Ato Puro é também Inteligência, são absolutamente incontestáveis [p.s.: na expressão bíblica, nós dizemos que in principio erat Verbum…]. A Causa das Causas, que nós chamamos de Deus, existe e é inteligente: e isto é a definição mesma de “Deus Pessoal”.

Ora, todo este edifício filosófico foi construído pela humanidade ao longo de séculos para responder a questionamentos que, sem ele, não têm absolutamente nenhuma resposta! Após tudo isso, chega a ser frustrante ver alguém comparar Deus com um bule de chá voador. Ora, pra quê serve o Bule Voador? Ele porventura responde às questões sobre o ser das coisas que encontramos ao nosso redor? Ele traz alguma contribuição para as cadeias de causa-efeito cuja existência (e necessidade) nós conhecemos pela razão? Ele responde a algumas das perguntas relevantes da filosofia como, p.ex., por que existe algo ao invés de nada? Ele tem alguma relevância filosófica, psicológica, sociológica ou antropológica? A resposta é não, não, não e não: o Bule Voador nem de longe tem a mais remota relação com a Causa das causas e, portanto, trata-se de um estratagema pueril para se furtar às perguntas que conduzem o homem a Deus. E ainda vêm os ateus a dizerem que a religião impede as perguntas! Como se pode facilmente constatar, é exatamente o contrário: é a ideologia atéia que, na tentativa de afastar os homens do Primeiro Princípio, busca impedi-los de pensarem sobre as questões que somente no Deus Altíssimo podem encontrar respostas.

[p.s.: na expressão bíblica, nós dizemos que in principio erat Verbum…]

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

124 comentários em “A Causa das causas e o Bule Voador”

  1. “(e não se encontra uma única exceção a este princípio metafísico na realidade empírica ao nosso redor)”

    Ops!!! Recomendo leituras mais atentas a respeito da criação espontânea e incausada de pares partícula-antipartícula em nosso universo, fato constatado empiricamente por mais de um método.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Radia%C3%A7%C3%A3o_Hawking
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172008000200007 (recomendo a leitura apenas da conclusão)
    http://www3.uma.pt/Investigacao/Astro/Grupo/Perguntas/pergunta2.htm

  2. Mallmal,

    Conheço bem pouco sobre radiação Hawking mas parece-me bastante evidente que, se ela é passível de experimentação científica, ela é por definição causável.

    Abraços,
    Jorge

  3. Não. Ela é exatamente a criação espontânea de pares partícula-antipartícula, sem causa, aleatoriamente.

    É ela a responsável pela emissão de radiação por buracos negros, algo que seria incogitável sem a sua existência.

    Estranha-me que você possa assumir tão categoricamente algo sobre a definição de algo que desconhece.

    Infelizmente para os seus silogismos, você terá que admitir que existem eventos incausados no universo e abandonar essas premissas antigas.

    Um abraço!

  4. E, Jorge, sinceramente, cá entre nós…

    Esse teu argumento tomista não é nenhum ícone inabalável do pensamento. Ele já foi igualmente aceito e rejeitado por diversos filósofos em diferentes épocas.

    O argumento da causa primeira é falho, mas não é tão ruim. Agora humanizar a causa primeira através de petições de princípio e declives escorregadios é inaceitável.

  5. Mallmal,

    Ué, eu não conheço a criação de pares partícula-antipartícula, mas conheço a definição de “constatado empiricamente por mais de um método” e sei que, para qualquer coisa ser passível de constatação empírica, ela precisa ser reprodutível i.e., causável.

    E nem “aleatoriamente” e nem “espontaneamente” são sinônimos de “sem causa”, Mallmal. Roletas geram números aleatoriamente, mas tais números não são “sem causa” (são causados pelo movimento da bolinha e da roleta). As coisas caem espontaneamente, mas não caem “sem causa” (a causa é a gravidade).

    Dizer que os pares matéria-antimatéria são criados “sem causa” chega a ser uma ofensa à física que estuda estes fenômenos.

    Abraços,
    Jorge

  6. Ah! E, a propósito, não tem ninguém “humanizando” a Causa Primeira. Está-se “inteligentizando” Ela, exatamente porque a existência da inteligência do mundo exige um Princípio Inteligente e não tem como fugir disso.

    Abraços,
    Jorge

  7. Caro blog mauu-mau.
    usando a mesma fonte wiki…

    Nenhuma pessoa séria usaria algo tão dúbio como se fosse verdade, a não ser que estivesse carregada de má fé.

    Entretanto, a existência da radiação Hawking continua controversa.

    A única coisa que Hawking fez foi malabarismo hipotéticos.

    A linha de raciocínio original foi traçada por um cientista israelense chamado Jacob Bekenstein

    É Possível que a prova da existência de papai noel, anteceda esta “prova” científica.

    Cabe mencionar que a diminuição de massa do buraco negro por radiação de Hawking seria unicamente perceptível em escalas de tempo compatíveis com a idade do Universo, e somente para os buracos negros de tamanho microscópico remanescentes, talvez, da época imediatamente posterior ao Big Bang.

  8. Todo ateu reclama do argumento da causa primeira e diz que é algo ultrapassado mas não vi nenhum até hoje apresentar uma refutação.

    Contribuindo pra conversa: não se pode confundir “não conhecemos os motivos do surgimento de partícula-antipartícula” com “não existem motivos para o surgimento de partícula-antipartícula”.
    No século XV não se sabia que determinadas doenças eram causadas por esse ou aquele micro-organismo, aparentemente não tinham motivo(além de punição divina), nem por isso eram realmente punição divina.
    Seria o Atheism of the Gaps?

  9. “sei que, para qualquer coisa ser passível de constatação empírica, ela precisa ser reprodutível i.e., causável.”

    Jorge, aqui você comete um erro.
    A rotação da Terra em torno do Sol pode ser verificada por vários métodos empíricos diferentes, sem ser “causável”.

    “exatamente porque a existência da inteligência do mundo exige um Princípio Inteligente e não tem como fugir disso.”

    Não vejo motivo para essa afirmação, deixando de lado a sua fé em um Deus pessoal. Perceba que ao considerar o Universo como criado por um Deus pessoal não-criado e ao considerar que o Universo é não-criado, podemos utilizar a mesma Navalha de Ockam que você citou e ficar com a segunda hipótese. A única coisa que o faz escolher a primeira é a sua crença. A possibilidade de um universo não-criado e eterno é tão válida quanto a de um Deus não-criado e eterno.

    Abraço!

    (tava com saudade de discutir com você, mas ando muito sem tempo para entrar manualmente nos blogs para acompanhar as discussões…)

  10. Wilson, você sequer chegou a abrir o outros links e lê-los? Eu estava em horário de trabalho e peguei os três melhores das primeiras páginas do Google. A formação de pares partícula-antipartícula é fato aceito pela comunidade científica. A “evaporação” de buracos negros baseada nela é especulativa, pelo exato motivo que você citou. Não temos como ter medidas precisas por enquanto (e por muitos milhões de anos). O fato de não poder provar a segunda, não invalida a primeira. Não seja um desonesto intelectual. E procure não tomar como sua principal fonte de informação a Wikipedia, ela é interessante, mas não é soberana. É escrita por usuários de internet, geralmente aficcionados, não por especialistas. Passar bem.

  11. Caro mau-mau

    Perdão aos outros leitores.

    Mesmo nas experiências, o que se percebe são bizarrices, aos valores esperados e conjectura-se, que seja causado pela formação de partículas/anti partículas. OBSERVE que quando se diz que houve produção espontânea de pares partícula-antipartícula, havia fator externo sendo empregado para que a energia necessária fosse controlada.

    Esta idéia é reforçada pela observação que, no caso de V0 > V2 e gt > 1/2, as antipartículas estão sujeitas a um poço de potencial efetivo com energia que excede o mínimo do potencial (fundo do poço) e é menor que o potencial máximo (boca do poço). Mais ainda, para V0 1/2, a energia da antipartícula é menor que o valor mínimo do potencial efetivo, uma circunstância bem conhecida em que a autofunção não satisfaz as condições de contorno apropriadas, ora pois tal solução não é aceitável.

    Para que pares formem-se aleatoriamente suficientemente próximos a buracos negros de forma que possa haver a tal radiação, é necessário mais que falta de fé.

  12. Wilson, se você puder citar a sua fonte, para que eu possa análisá-la, talvez eu possa responder. Fragmentos não servem para interpretação, a não ser que você queira que eu advogue que sua Bíblia permite o incesto. Acho que você sabe do que estou falando! ;)

  13. Guilherme, você está comparando maçãs com laranjas. Não sabíamos que existiam micro-organismos patogênicos pois o microscópio não havia sido inventado. Por outro lado, sabemos que pares de partícula-antipartícula se formam o tempo todo pelos seus efeitos teóricos e experimentais, que batem precisamente (por mais que o Wilson queira espernear).
    Adorei a sua retórica erística ao falar “atheism of the gaps”!!! Se é pra entrar nesse tipo de discussão, explique-me por que motivo sua inerrável Bíblia classifica morcegos como aves? (Lev. 11:13, 19) Só pra começar… :D

  14. Uma frase ateia que pretende afirmar que o homem criou Deus e não Deus criou o homem.

    “Se um dia os triângulos tiverem um deus, este terá três lados”

    Gosto da frase, a acho simpática. Mas o que estas pessoas não compreendem é que, é de Deus que vem o desejo de conhecê-lo, a necessidade que o homem tem de Deus. é uma necessidade plantada por Deus, ele não fez isto com nenhum outro animal, nem os macacos nem os golfinhos carregam insatisfação por ignorar Deus, é preciso um certo grau mínimo para perceber a falta do absoluto.

    Se um dia “o deus dos triângulos” plantasse nos triângulos o desejo de conhecê-lo, eles o buscariam e então descobririam que foram criados com três lados, porque seu deus os amava e os queria como imagem sua.

  15. “é uma necessidade plantada por Deus, ele não fez isto com nenhum outro animal, nem os macacos nem os golfinhos carregam insatisfação por ignorar Deus, é preciso um certo grau mínimo para perceber a falta do absoluto.”

    Tá. Me explique a existência dos ateus e agnósticos. Eles só fazem crescer atualmente e – até onde eu posso afirmar – são animais, Homo Sapiens, pra ser mais exato…

  16. Valeu, Jorge.
    Mais uma vez, excelente texto e excelentes respostas ao AniMalmall.

    A propósito, veja essa argumentação dele:

    “Infelizmente para os seus silogismos, você terá que admitir que existem eventos incausados no universo e abandonar essas premissas antigas.”

    Digamos que existem eventos incausados no universo. É um absurdo, mas digamos… E o próprio Universo, seria também incausado? Impossível!

    E o tal do Cysne sumiu dessa, hein? Que bom! Ele era chato (e burro) pra caramba!

    Carlos.

  17. Mallmal,

    Jorge, aqui você comete um erro.
    A rotação da Terra em torno do Sol pode ser verificada por vários métodos empíricos diferentes, sem ser “causável”.

    Verdade, obrigado; eu confundi comprovação com reprodução. My mistake, desculpe. Mas, em todo caso, tanto o movimento de translação da Terra quanto o surgimento de pares de partícula e anti-partícula são causados por leis da física.

    A propósito, do próprio link da Wikipedia que tu citaste (grifo eu): “[n]uma visão mais precisa, mas ainda muito simplificada do processo, flutuações quânticas de vácuo causam um par de partícula-antipartícula”.

    Perceba que ao considerar o Universo como criado por um Deus pessoal não-criado e ao considerar que o Universo é não-criado, podemos utilizar a mesma Navalha de Ockam que você citou e ficar com a segunda hipótese

    Não, não podemos, porque o Universo é contingente. O encadeamento de causa-e-efeito precisa parar no Ser Necessário. O Universo não pode ser o Primeiro Motor Imóvel porque… bom, porque ele não é imóvel!

    Outrossim, ainda que se queira defender (contra todas as evidencias) um Universo “eterno”, ele mesmo assim precisaria de um Criador pelo motivo acima citado.

    Se é pra entrar nesse tipo de discussão, explique-me por que motivo sua inerrável Bíblia classifica morcegos como aves?

    Ué, simplesmente porque a taxonomia de Lineu não havia ainda sido inventada e os judeus utilizavam uma diferente, de acordo com a qual “ave” (aliás, seja lá qual for o termo hebraico usado no original) englobava tanto andorinhas quanto morcegos.

    Abraços,
    Jorge

  18. Mallmal,

    Pelo que pude entender você está defendendo que fenômenos físicos que têm caráter aleatório não tem causa, é isto?

    Primeiro preciso dizer que você está confundindo dois conceitos físicos distintos: indeterminação e aleatoriedade.

    Quando você fala que a rotação da Terra não tem causa porque foi causada aleatoriamente, está se referindo ao fato físico de que vários processos físicos concorreram para que a Terra tivesse a taxa de rotação atual. Está certo em dizer que este processo foi aleatório. Aleatório, neste caso, quer dizer que não podemos calcular esta taxa porque não podemos prever a ação de todos os fenômenos físicos que entraram na jogada. É a mesma coisa do sorteio de bolinhas numeradas num bingo.

    Quando você cita a criação de pares de partículas-antipartículas, está trabalhando com outro fenômeno físico, o princípio da indeterminação de Heisenberg. Aliás, nem é preciso falar de radiação Hawking neste caso. Basta se ater à criação destes pares no vácuo mesmo, bem longe de buracos negros. Os buracos negros só complicam o raciocínio neste caso. A indeterminação de Heisenberg não quer dizer que não há uma causa, muito pelo contrário. No caso dos pares de partícula-antipartícula, a causa do surgimento delas é uma flutuação de energia no vácuo. O que é indeterminado é o exato instante em que isto acontece e qual a energia envolvida, o que não nos permite prever caso a caso, mas nos dá uma previsão estatística corretíssima se analisarmos muitos casos. O mesmo que acontece no caso das bolinhas do jogo de bingo.

    Esclarecidas estas diferenças, entra a filosofia.
    Eu discordo que o fato de não podermos prever acontecimentos pontuais implique que estes acontecimentos não tem causa! Tem sim, as leis físicas, que são bem conhecidas.
    Não podemos prever cada acontecimento, mas temos previsões maravilhosas para a distribuição estatística destes acontecimentos.

  19. Caro mau-mau

    1- Não ia mandar para você TUAS referências, ou você não as leu?. Teria reconhecido.

    2- Bom mudar o foco do assunto. Creio que o Alexandre Zabot foi bem claro.

    Tá. Me explique a existência dos ateus e agnósticos. Eles só fazem crescer atualmente e – até onde eu posso afirmar – são animais, Homo Sapiens, pra ser mais exato…

    É bom em primeiro lugar não confundir ateus com agnósticos, estes acreditam que não é possível conhecer Deus usando a razão, se um agnóstico não acredita na existência de Deus, então ele é apenas mais um ateu.

    Só duas pequenas histórias:

    — Quando criança tive um amigo que morava próximo da minha casa, era um menino negro, adotado. O “””pai””” adotivo mandava ele se abaixar para poder lhe bater com sua muleta, lhe negava comida e frequentemente era obrigado a dormir debaixo do assoalho da casa quando não o deixavam entrar em casa por ter se atrasado em alguma brincadeira de rua. Sempre que podia minha família o recolhia e eu perguntei a ele porque ainda respeitava o tal “””pai”””, ele me disse que aquele era o único pai que tinha e foi o que o tirou do lixo onde sua mãe o havia jogado.

    obs este meu amigo e sua mulher e seus filhos, convertidos católicos vão muito bem hoje em dia.

    — Outro amigo meu, coincidentemente também negro, criado em um orfanato católico, extremamente bem educado, formado sacerdote católico, pessoa muito bem querida de minha familia. Mas jamais teve a alguém para chamar de pai, alguém a quem pegar na mão, alguém a quem pedir ajuda. Este meu amigo localizou, sei lá como, alguns primos distantes. Fizemos um almoço num restaurante e numa das meses ficou o padre e sua familia, dificil descrever a alegria do meu amigo negro naquela mesa completada apenas com polacos.

    Voce pode até acreditar que Deus não exista, você pode acreditar que esta existência(vida) seja o máximo que terá, mas negar que ter um pai que te ame, facilita a travessia de nossa vida material, é doentio.

    O esforço necessário para crer é o mesmo necessário para não crer, a dúvida é o preço do existir, eu escolho cada dia, crer. A fé é alargar nossa existência, é aceitar que o invisivel seja possível, é não se restringir, é receber como pai que me ama o Deus infinito.

  20. Alexandre,

    “Pelo que pude entender você está defendendo que fenômenos físicos que têm caráter aleatório não tem causa, é isto?”

    Não. Explicarei porque mais abaixo.

    “Primeiro preciso dizer que você está confundindo dois conceitos físicos distintos: indeterminação e aleatoriedade.”

    Não, não estou. Pra começo de conversa, não são “conceitos físicos”, são conceitos matemáticos. O primeiro se refere à falta de definição ontológica, o segundo de determinação temporal.

    “Quando você fala que a rotação da Terra não tem causa porque foi causada aleatoriamente, está se referindo ao fato físico de que vários processos físicos concorreram para que a Terra tivesse a taxa de rotação atual.”

    Eu não disse que a rotação da Terra não tem causa. Disse que não era “causável”, apenas para apontar um erro conceitual do Jorge, erro esse que ele cavalheiristicamente já reconheceu. Não descontextualize retoricamente minhas frases.

    “Quando você cita a criação de pares de partículas-antipartículas, está trabalhando com outro fenômeno físico, o princípio da indeterminação de Heisenberg.”

    Não. Sugiro a leitura do príncipio de Heisenberg, que diz que ao se aumentar a acurácia na determinação da posição ou do momento de uma partícula perde-se acurácia proporcionalmente da outra medida. Nenhuma relação com pares p-antip.

    “Aliás, nem é preciso falar de radiação Hawking neste caso. Basta se ater à criação destes pares no vácuo mesmo, bem longe de buracos negros.”

    Concordo. Citei a radiação de Hawking apenas para ilustrar.

    “A indeterminação de Heisenberg não quer dizer que não há uma causa, muito pelo contrário.”

    Como já expliquei, não tem nada a ver uma coisa com a outra.

    “No caso dos pares de partícula-antipartícula, a causa do surgimento delas é uma flutuação de energia no vácuo.”

    Na verdade, a causa é não-determinada. Mas, aceitando a sua afirmação, o que causa a flutuação aleatória e imprevisível de energia no vácuo? Nada.

    “Eu discordo que o fato de não podermos prever acontecimentos pontuais implique que estes acontecimentos não tem causa! Tem sim, as leis físicas, que são bem conhecidas.”

    As leis físicas não são CAUSA de nada. Isso é retórica vazia. As leis físicas são interpretações nossas das relações de causa e efeito do Universo. Um evento incausado, como a formação de pares partícula-antipartícula, não possui nenhuma lei física que o descreva.

    Acho que os mal-entendidos foram devidos ao meu emprego de linguagem extremamente informal e não-técnica a fim de não atrapalhar a discussão. Peço desculpas.

    Um abraço.

  21. Jorge,

    ““[n]uma visão mais precisa, mas ainda muito simplificada do processo, flutuações quânticas de vácuo causam um par de partícula-antipartícula”.”

    Ok, então admita que as flutuações quânticas aleatórias não tem causa.

    “O Universo não pode ser o Primeiro Motor Imóvel porque… bom, porque ele não é imóvel!”

    Você está confundindo mal-intencionadamente o conceito de Imóvel (que é por nada movido) com imóvel (que não se move). Reformule sua explicação da impossibilidade do universo ser incausado, por favor.

    “Ué, simplesmente porque a taxonomia de Lineu não havia ainda sido inventada e os judeus utilizavam uma diferente, de acordo com a qual “ave” (aliás, seja lá qual for o termo hebraico usado no original) englobava tanto andorinhas quanto morcegos.”

    Eu sei, Jorge. Era uma piada! :D

    Abraço!

  22. Wilson, não estou fazendo brincadeirinhas de primário com seu apelido ou nome, bem como os outros debatedores não o estão fazendo com o meu. Isso é questão de respeito e educação. Gostaria que você passasse a seguir o exemplo de todos aqui, que não estão apelando para a idiotia.

    “Não ia mandar para você TUAS referências, ou você não as leu?. Teria reconhecido.”

    Li, mas felizmente possuo um cérebro e não um computador dentro do meu crânio. Ele tem várias utilidades, mas nenhuma delas inclui localizar a origem de um fragmento de texto descontextualizado entre centenas de linhas de várias fontes.

    “É bom em primeiro lugar não confundir ateus com agnósticos”

    Não confundi. Releia minha frase. Seu espantalho erístico, contudo, não respondeu minha pergunta. Tente novamente. Apenas para refrescar sua memória, a pergunta foi: “Tá. Me explique a existência dos ateus e agnósticos. Eles só fazem crescer atualmente e – até onde eu posso afirmar – são animais, Homo Sapiens, pra ser mais exato…”

    Quanto às suas historinhas, são muito edificantes e comoventes. E totalmente não-relacionadas com qualquer assunto discutido. Se você quer brincar de Forrest Gump, fique à vontade. Só não espere que eu responda.

    “mas negar que ter um pai que te ame, facilita a travessia de nossa vida material, é doentio.”

    Desculpa de aleijado é muleta, mesmo. Usar drogas produz boas sensações. Isso é justificativa para usá-las? Religião pode ser bem empregada ou mal empregada e isso não depende de Deus, mas simplesmente dos líderes religiosos.

    “O esforço necessário para crer é o mesmo necessário para não crer, a dúvida é o preço do existir, eu escolho cada dia, crer.”

    Não, não é. A não-crença é o estado natural do ser humano. Toda criança nasce atéia.

    Quanto às suas escolhas de crer, são puro anedotismo pessoal seu e não concernentes à discussão.

    Passar bem.

  23. Mallmal,

    Ok, então admita que as flutuações quânticas aleatórias não tem causa.

    ??? Como é, rapaz?

    Por esta tua lógica, então a gravidade também não tem causa? E as coisas caem “sem causa”?

    “O Universo não pode ser o Primeiro Motor Imóvel porque… bom, porque ele não é imóvel!”

    Você está confundindo mal-intencionadamente o conceito de Imóvel (que é por nada movido) com imóvel (que não se move). Reformule sua explicação da impossibilidade do universo ser incausado, por favor.

    Não, os conceitos são rigorosamente os mesmos. “Movimento”, para Aristóteles (de quem é o conceito de Primeiro Motor Imóvel), é a passagem da potência para o ato. O Primeiro Motor Imóvel é Ato Puro e o Universo não é Ato Puro, pois tem (e muita!) potência, como mostra a realidade; logo, o Universo não pode ser o Primeiro Motor Imóvel. Exatamente por isso, não é sem razão que Aristóteles coloca o Primeiro Motor Imóvel como distinto do Universo.

    Abraços,
    Jorge

  24. Jorge,

    Por esta tua lógica, então a gravidade também não tem causa? E as coisas caem “sem causa”?

    Não entendi a relação. As flutuações quânticas são eventos. A gravidade é uma força. As flutuações quânticas são incausadas, acontecem no vácuo, na ausência de qualquer força. A gravidade é uma força causada pela deformação do espaço-tempo, que é causada pela presença de um objeto com massa.

    Quanto à sua explicação, por que motivo não pode haver uma “energia” inerente ao universo, representando esse “ato puro”? Qual a necessidade de um Deus pessoal?

    Abraço!

  25. Ótimo texto, Jorge. Embora eu tenha outro pensamento do porque a Prima Causa seria inteligente…

    Partindo-se da idéia que antes não existia nada, e o nada nada cria (nihil nihilo est), é impossível haver uma criação espontânea, automática e apessoal de, bem, tudo e/ou qualquer coisa.

    Para se criar alguma coisa do nada, é necessário uma intervenção exterior à este mesmo. Como nada nada cria, este fator externo interventor não poderia também ser nada, pois do contrário também estaria permanentemente inócuo.

    Se esse algo, então, não fosse consciente, ele tenderia a se manter em sua própria esfera de atuação, e não a intervir em outra esfera (ainda mais quando estamos falando de esferas de existência). Como ocorreu, no entanto, uma interferência exterior à existência, onde antes não existiria nada, isso me leva a pensar que foi, afinal, um ato deliberado. Sendo deliberado, possuidor de consciência. Sendo consciente, pessoal.

    Ao menos é o que penso.

    P.S.: alguém mencionou sobre o Universo ser eterno… mas pensava que havia largas discussões sobre o fim que o Universo vai ter, fisicamente falando? Comofas?

  26. Mallmal,

    “Você está confundindo mal-intencionadamente o conceito de Imóvel (que é por nada movido) com imóvel (que não se move).”

    Eu ia responder, mas o Jorge se adiantou. Você conhece muito pouco de filosofia clássica e, além disso, usa de arrogância e julga as pessoas por sua própria métrica. Não é nada inteligente usar dessas “ferramentas” quando se é ignorante ou pouco ilustrado em um tema. Cai no ridículo frequentemente.

    Outra coisa: Qual é a causa pela qual a Terra continua a girar em torno do sol?

  27. “Quanto à sua explicação, por que motivo não pode haver uma “energia” inerente ao universo, representando esse “ato puro”? Qual a necessidade de um Deus pessoal?”

    Essa energia existe, e se chama Deus… :)

  28. Mallmal,

    Não entendi a relação. As flutuações quânticas são eventos. A gravidade é uma força. As flutuações quânticas são incausadas, acontecem no vácuo, na ausência de qualquer força. A gravidade é uma força causada pela deformação do espaço-tempo, que é causada pela presença de um objeto com massa.

    As flutuações quânticas só são “incausadas” se a deformação do espaço-tempo por uma massa for “incausada”. Aquelas, aliás, acontecem no vácuo devido a propriedades quânticas e relativísticas da matéria/energia (no vácuo não tem matéria, mas tem energia, e à matéria gerada corresponde uma diminuição desta energia), pari passu à propriedade dos corpos de deformarem o espaço onde se encontram.

    Postular simplesmente que as propriedades dos entes são “incausadas” é, além de uma petição de princípio (uma vez que é interromper arbitrariamente a cadeia de causalidade, quando o argumento contrário diz justamente que tais cadeias devem ser percorridas até a Causa Primeira), um apelo ao atheism of the gaps. À época de Newton só se sabia que a gravidade era uma força, inexplicavelmente transmitida através do espaço (e, portanto, segundo a tua lógica, poder-se-ia dizer “incausada”). Depois se soube que esta força é causada pela deformação do espaço-tempo, etc. Não existe nenhuma razão para se “parar” aí, a não ser a própria limitação científica do “estado da arte” atual.

    Quanto à sua explicação, por que motivo não pode haver uma “energia” inerente ao universo, representando esse “ato puro”? Qual a necessidade de um Deus pessoal?

    Se você quiser chamar Deus de “energia” (entendendo com este termo tudo o que estamos colocando aqui), pode. Mas esta “energia” tem que ser inteligente porque existe inteligência no mundo, a qual – como todas as outras coisas – exige uma causa. O argumento que exige um “ser-em-ato” para dar existência ao “ser-das-coisas” exige igualmente uma “inteligência-em-ato” para explicar a inteligência no mundo.

    Do contrário, precisaríamos dizer que há “mais ato” no mundo contingente derivado do que no Ato Puro original, o que é absurdo. Ou, ainda, que há móveis que se movem de outra maneira que não pelo Primeiro Motor Imóvel, o que contraria os princípios inicialmente estabelecidos.

    Abraços,
    Jorge

  29. P.S.: sobre as citações, use o <blockquote> seguido do texto que quer citar, e feche com </blockquote>.

    Abraços,
    Jorge

  30. Pera lá…

    Mas se um par é composto de dois, aqui no caso, uma partícula e uma não-partícula, fico aqui matutando quem criou ou “causou” os dois. Não precisa responder. Não vim aqui debater.

    Somente acho propício recomendar, aos que ainda não conhecem, Fr. Spitzer e seu site Magis Center of Reason and Faith http://www.magisreasonfaith.org/

    P.S.: Vale a pena assistir os videos.

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