A Causa das causas e o Bule Voador

Todo efeito tem uma causa; este é um princípio metafísico tão elementar que chega às raias da auto-evidência, sendo inclusive constatado pelas ciências experimentais. Lavoisier (assassinado pela Revolução Francesa, a propósito) já chegou a postular que, na natureza, nada se perde e nem nada se cria: tudo se transforma.

Qualquer análise rudimentar dos encadeamentos de causa-e-efeito levam a um corolário também bastante óbvio: suprimindo-se a causa, suprime-se o efeito. Ora, se é o fogão aceso a causa do aquecimento da água na chaleira, apagando-se o fogão chega-se inevitavelmente à conclusão de que a água não há de ferver sozinha. Qualquer camponês analfabeto da Idade Média entende perfeitamente este mecanismo óbvio da realidade ao seu redor, e qualquer dona-de-casa, por simplória que porventura seja, sabe muito bem que se o gás do fogão acabar-se ela não conseguirá ferver a água do café.

Se todo efeito tem uma causa (e não se encontra uma única exceção a este princípio metafísico na realidade empírica ao nosso redor), segue-se inevitalmente que é mister haver uma Causa das Causas, é preciso haver Algo que tenha causado o mundo em que vivemos e que nós percebemos pelos nossos sentidos. A esta conclusão já chegaram os filósofos da Antiguidade e, com o advento do Cristianismo, a sentença tomou a sua forma lapidar que é utilizada até os dias de hoje: a esta Causa das Causas, a este Primeiro Princípio, nós chamamos de Deus.

“Ah”, pode objetar algum ateu moderno, “mas se Deus criou todas as coisas, quem foi que criou Deus? Se tudo tem que ter um Criador, porque a mesma lógica não se aplica a Deus?”. A esta pergunta (profundamente pueril) pode-se responder da seguinte simples forma: se Deus foi criado por Algo, então Deus não é Deus e este Algo que criou Deus é que é Deus. E, se este Algo foi criado por algum “Outro Algo”, então o Algo primeiro não é Deus e Deus é, na verdade, o “Outro Algo”. E assim sucessivamente: o princípio permanece integralmente válido independente de quantos “Algos” sejam colocados no encadeamento das causas. No entanto, devido ao princípio conhecido por “navalha de Ockham”, não faz sentido multiplicar desnecessariamente o número de explicações para os fenômenos. Basta que haja uma Causa das Causas para explicar a existência do mundo ao nosso redor.

“E por que precisa existir esta Causa das Causas?”, pode insistir o nosso ateu. A resposta é óbvia: se não houvesse uma Causa Primeira, então não haveria efeitos (uma vez que, supressas as causas, suprimem-se os efeitos) e, portanto, não existiria nada. Ora, mas é evidente que as coisas existem: portanto, a única explicação para a existência das coisas é que elas tenham sido causadas por Algo que, por Sua vez, é Não-Causado. Há, portanto, necessariamente uma Causa Incausada. A Ela, nós chamamos de Deus.

“Beleza. Há um Primeiro Princípio. Mas dizer que este Primeiro Princípio é um Deus Pessoal já é extrapolar as conclusões da filosofia” – ainda assim pode insistir o nosso teimoso ateu. Também a isto é fácil responder: é evidente que os efeitos são “da mesma natureza” das suas causas. Assim, o fogo que aquece a panela tem que ser ele próprio quente, a tinta que tinge o portão de vermelho tem que ser ela própria vermelha, et cetera. Também isto é bastante óbvio. Em linguagem filosófica mais específica, nós diríamos que a passagem da potência para o ato dá-se necessariamente por meio de algo que já possui, em ato, a qualidade transmitida: o fogo que aquece precisa ser quente, o gelo que resfria precisa ser frio, a tinta que pinta de vermelho precisa ser vermelha, etc. E a Causa das Causas é também – exatamente por ser Causa das Causas – Ato Puro, i.e., um Ser que possui em ato todas as características.

Ora, há inteligência no mundo: a despeito de alguns questionamentos que nós infelizmente somos obrigados a ouvir, a existência da inteligência (que não pode ser confundida com “todas as pessoas são inteligentes”) é outro dado da realidade facilmente perceptível. E, se há inteligência, também esta precisa de uma Causa, de um Princípio. Na formulação feita por Gilson é possível dizer: como é possível explicar a existência da inteligência no mundo de outro maneira que não através de um Princípio que já inclua, n’Ele próprio, a Inteligência? Ora, não é possível pintar uma casa de vermelho sem tinta vermelha, e não é possível ferver a água do chá sem fogo ou alguma outra coisa que aqueça a água. Se a casa é vermelha, a conclusão de que existe tinta vermelha é imperativa e, se o chá é-nos servido às três da tarde, a conclusão de que existe fogo (ou microondas, ou seja lá o quê) para aquecer a água do chá é totalmente indiscutível. Ora, se existe inteligência no mundo, a conclusão de que o Primeiro Princípio é Inteligente, de que o Ato Puro é também Inteligência, são absolutamente incontestáveis [p.s.: na expressão bíblica, nós dizemos que in principio erat Verbum…]. A Causa das Causas, que nós chamamos de Deus, existe e é inteligente: e isto é a definição mesma de “Deus Pessoal”.

Ora, todo este edifício filosófico foi construído pela humanidade ao longo de séculos para responder a questionamentos que, sem ele, não têm absolutamente nenhuma resposta! Após tudo isso, chega a ser frustrante ver alguém comparar Deus com um bule de chá voador. Ora, pra quê serve o Bule Voador? Ele porventura responde às questões sobre o ser das coisas que encontramos ao nosso redor? Ele traz alguma contribuição para as cadeias de causa-efeito cuja existência (e necessidade) nós conhecemos pela razão? Ele responde a algumas das perguntas relevantes da filosofia como, p.ex., por que existe algo ao invés de nada? Ele tem alguma relevância filosófica, psicológica, sociológica ou antropológica? A resposta é não, não, não e não: o Bule Voador nem de longe tem a mais remota relação com a Causa das causas e, portanto, trata-se de um estratagema pueril para se furtar às perguntas que conduzem o homem a Deus. E ainda vêm os ateus a dizerem que a religião impede as perguntas! Como se pode facilmente constatar, é exatamente o contrário: é a ideologia atéia que, na tentativa de afastar os homens do Primeiro Princípio, busca impedi-los de pensarem sobre as questões que somente no Deus Altíssimo podem encontrar respostas.

[p.s.: na expressão bíblica, nós dizemos que in principio erat Verbum…]

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

124 comentários em “A Causa das causas e o Bule Voador”

  1. Jorge:

    Se você quiser chamar Deus de “energia” (entendendo com este termo tudo o que estamos colocando aqui), pode. Mas esta “energia” tem que ser inteligente porque existe inteligência no mundo, a qual – como todas as outras coisas – exige uma causa.

    Jorge, isso não faz sentido. Se você utiliza esse argumento, eu posso dizer que Deus tem que ser mau, pois há maldade no mundo.

    Quanto às flutuações, Jorge, se elas tem uma causa, qual é? A energia que você citou não é a causa, mas o substrato do evento. E = Mc2, lembra?

    Valeu pela dica do blockquote! Os textos ficam mais inteligíveis assim.

    Abraço.

    Lampedusa:

    Qual é a causa pela qual a Terra continua a girar em torno do sol?

    A deformação do espaço tempo causada pela massa do sol, Lampedusa.

    Lucio:

    alguém mencionou sobre o Universo ser eterno… mas pensava que havia largas discussões sobre o fim que o Universo vai ter, fisicamente falando? Comofas?

    Falou bem: discussões. A proposta do Big Crunch é altamente especulativa, já que ninguém conhece a densidade do Universo.

    Agora eu tenho uma dúvida sobre a filosofia aristotélica que inspirou o S.T. Aquino, então agradeceria se o Lampedusa, o Jorge ou algum outro respondesse.
    Se deve existir um motor imóvel, ato puro, como esse motor imóvel pode criar? Se ele cria, está se movendo, pois está transformando potência em ato. Se ele sempre existiu em ato puro, nunca pôde ter potência e nunca pôde ter criado.

  2. A criação é uma relação e não um evento. Compete-lhe melhor o nome de conservação. Deus conhece tudo no ato simples em que conhecesse a Si mesmo, e a ciência de Deus é causa de que todas as coisas existam.

    Chegamos a Deus não porque conhecemos a Sua essência, mas porque conhecemos a criatura e sabemos que a existência dela não é uma existência autossuficiente. Se sua razão de ser recuasse ao infinito, ela não existiria, e sempre tem que existir algo para que surja alguma coisa. Nada é mais irracional do que supor que o ser pode surgir do nada.

    Pois então, a criação não implica em mudança nenhuma para Deus. O mundo é que o sujeito real dessa relação, que em Deus é só de razão, na medida em que Ele é o fundamento de existir o mundo. Chamar-se-ia melhor a criação de “dependência ontológica” ao invés de criação, pois ela não se restringe a um tempo dentro da criação, mas a todo tempo da criação.

  3. A proposta ateia é que quando nada existia, existiam duas partículas, estas duas quando somadas davam nada e quando separadas eram tudo. Simples!

    No capítulo III de Milagres, (C.S.Lewis) original, ele afirmava que partindo de uma causa irracional não poderíamos chegar a um pensamento racional,e portanto o materialismo seria por si só refutado.

    Como curiosidade

    O manual de caça às bruxas, “Malleus Maleficarum” livro escrito por jesuítas e PROIBIDO pela Igreja, por não ser compatível com a doutrina católica, foi muito difundido no século XV.

  4. Se ele sempre existiu em ato puro, nunca pôde ter potência e nunca pôde ter criado.

    Podem existir no ser em ato a potência ativa e a potência passiva. A potência ativa é a capacidade de transformar outro ser, enquanto a potência passiva é a capacidade de sofrer a ação de outro ser. Um ser em ato pode ter potência ativa, que deriva do simples fato de que é ser, e potência passiva, que leva a possibilidade de não ser. Ora, todas as coisas têm a possibilidade de não serem, logo, passaram a existir em algum momento, e por um ser, já que não poderiam surgir do nada.

    Lembro que o universo não é um ser, e sim um conjunto de seres que aparecem e desaparec. É a mutabilidade de cada um desses seres que torna verdadeira a sua contingência.

  5. Caro Mallmal

    Você se surpreenderia, com a quantidade de heresias encontramos em escritos de freis e mesmo padres.

    Os dois autores chegaram a falsificar uma aprovação de uma universidade católica para dar maior credibilidade ao “Martelo das Bruxas”

    O livro mesmo tendo como autores dois jesuítas Não obteve aprovação eclesial, mas os espertos conseguiram que se torna-se o segundo livro mais impresso de sua época, perdendo apenas para a Bíblia.

  6. Onde está jesuítas, leia-se dominicanos. Não havia jesuítas no século XV.

  7. Mallmal,

    Jorge, isso não faz sentido. Se você utiliza esse argumento, eu posso dizer que Deus tem que ser mau, pois há maldade no mundo.

    Maldade não é potência: é fraqueza, deficiência, é o contrário mesmo de potência. A maldade é um “vazio” que só existe em comparação com a bondade (esta, sim, que existe perfeitissimamente em Deus), como a escuridão não existe (o que existe é a ausência de luz), o frio não existe (o que existe é a ausência de movimentos nas partículas de um corpo), etc.

    Quanto às flutuações, Jorge, se elas tem uma causa, qual é? A energia que você citou não é a causa, mas o substrato do evento. E = Mc2, lembra?

    Sim, e eu não disse que as flutuações eram causadas “pela energia”, e sim por propriedades quântico-relativísticas da matéria/energia [como, analogamente, há uma propriedade segundo a qual os corpos com massa deformam o espaço-tempo e em razão da qual um corpo específico colocado no espaço o deforma].

    Abraços,
    Jorge

  8. Jorge,

    “A maldade é um “vazio” que só existe em comparação com a bondade.”

    Essa definição é extremamente discutível, concorda? Além disso, nessa sua definição não-dualista, como justificar a punição divina?
    Não é correto comparar a bondade com a luz. A luz é algo pertencente ao mundo material. Em meu ver, existem luz e não-luz (que chamamos de sombra ou escuridão). A maldade e a bondade são pertencentes ao mundo das idéias. Não existe bondade real, apenas ações que assim caracterizamos. Bem como caracterizamos ações como más, num degradê infinito. No meio dessa escala de cinzas, podemos até mesmo encontrar ações que não são boas nem más. Como você as caracterizaria? Se Deus possui bondade infinita, não pode haver um “ponto médio” na escala. O que seria uma ação nem boa, nem má? Meio infinito de bondade?

    eu não disse que as flutuações eram causadas “pela energia”, e sim por propriedades quântico-relativísticas da matéria/energia

    Propriedades não causam nada, Jorge. Não são eventos. Não é a gravidade que causa as coisas, mas sim a deformação do espaço tempo causada pela massa dos objetos. A deformação do espaço é um evento mensurável. A forma de atuação geral desses eventos é o que chamamos de propriedade.

    É como você me dizer que a causa de um carro andar é o fato de ser um veículo.

    Abraços!

  9. Na citação de Lavosier, diz que na natureza nada se cria nada se perde, mas sim, há uma uma série de transformações. Na parte do “nada se cria” é que está o “pulo do gato”. O que a citação diz, é que nenhum ser físico pode criar ou destruir outro ser físico (por ex.:um átomo não pode criar ou destruir outro átomo, assim como, um tipo de energia não pode criar ou destruir outra modalidade ou a mesma de energia – Princípio de Helmholtz). Ora, as coisas existem, e partindo da interpretação anteriormente citada, pode se concluir que O Criador, não pode ser um ser físico, mas sim, METAFÍSICO, ou seja, não físico. Só daí, as teses cientificistas atéias, por mais eruditas que sejam, não valem absolutamente nada e são todas falaciosas.

  10. Jordan,

    Só daí, as teses cientificistas atéias, por mais eruditas que sejam, não valem absolutamente nada e são todas falaciosas.

    Só se você assumir a necessidade de um criador a priori. ;)

    Além disso, átomos são criados e destruídos o tempo todo. A usina de Fukushima que o diga! Bem como energia pode virar massa e massa, energia!

    O conceito de Lavoisier é simplesmente de que a quantidade total (geralmente expressa em unidades de energia) de férmions, bósons e energia no universo é constaste. O que é um tanto quanto óbvio, considerando-se que o universo é um sistema fechado.

  11. Mallmal

    “Além disso, átomos são criados e destruídos o tempo todo. A usina de Fukushima que o diga! Bem como energia pode virar massa e massa, energia!”

    Que bom que vc me lembrou de uma coisa, eu tiha assistido numa aula de energia nuclear, que a massa é um tipo de energia, só que, potencial, e me lembrei também que a energia é algo que, não sabemos exatamente o que é, mas sabemos transformá-la de uma modalidade em outra.
    Pelo princípio de Helmholtz, a energia não pode ser criada e nem destruída (pelas outras formas de energia), mas sim, transformada de uma modalidade em outra.
    Ora, a energia existe e do nada, não vem nada. Logo, quem criou a energia, foi um ser metafísico onipotente, onipresente e onisciente (DEUS).
    E também não há a necessidade de assumir a existência de um criador a PRIORI, mas sim se CONCLUI, que há a necessidade de um criador.
    Só daí, todas as teses cientificistas atéias, por mais eruditas que sejam, não valem absolutamente nada e são todas falaciosas.

  12. É comum os ateus esgrimirem fenômenos “quânticos” contra o princípio da causalidade. Isto porquê, sendo Deus transcedente ao mundo, só poderíamos conhecê-lo – por meios naturais – valendo-se de nexos causais. No entanto, esta estratégia é temerária. Em primeiro lugar porque a não-causalidade destes fenômenos não é um “fato-fenômeno”, mas uma interpretação teórica dos mesmos. Em segundo lugar, e pelo exposto acima, o indeterminismo ontológico (não-causalidade)dos fenõmenos quânticos – ao contrário de certo “indeterminismo” gnoseológico – é (a despeito da opinião algo dogmática de alguns) questão controvertida, mesmo dentro da próprioa física quântica. Vide as propostas de Louis de Broglie e David Bohm. Em terceiro, levando a questão para o campo propriamente filosófico, tendo a crer que a “ontologia indeterminista” que não poucos pretendem deduzir dos fenômenos quânticos está fortemente baseada numa visão de “Humeana” de causalidade, isto é, da causalidade como um conhecimento indutivo não “logicamente necessário” acerca da realidade. Como uma crítica mais completa à concepção de Hume não caberia aqui, digo apenas que Hume não deu atenção ao caráter intencional de nossos conceitos – o que nos impede de atribuir ao “nada” qualquer manifestação de “ser” e, por sua vez, implica na necessidade lógica de “condições” para a existência de qualquer ser contingente(causas, ontologicamente, são “condições de existência” de entes contingentes). Por fim, embora as causas próximas dos fenômenos quânticos possam restar desconhecidas, é inegável que possuem causas remotas indiscutíveis o que, por si só, já demonstraria seu inescapável caráter de “dependência” em relação a outros seres. Em outras palavras: Embora não possamos prever com segurança quando um átomo irá liberar dada partícula radioativa,ou quando ocorrerá uma flutuação quântica no vácuo, sabemos que tais fenômenos só acontecerão, em regra, se existirem, respectivamente, uma interação inter-atômica (e, portanto, um átomo) ou estados de energia muito baixa.

  13. puft… texto circular e contraditório. O autor afirma que “todo efeito tem uma causa”. Depois afirma que existe uma causa, “nao causada”, uma causa primeira, que criou todas as outras. Ora, se ele mesmo afirmou que toca causa tem efeito, entao caimos na circularidade do argumento, como é que pode existir uma causa, nao causada?

    Pra sair dessa sinuca o autor apela para um dogma: “existe uma causa primeira por que existe efeitos, esta causa é ‘nao-causada'” E pq ela é não causada? “Pq precisa existir uma causa primeira que cause todas as outras” Sacaram a circularidade do argumento?

    Em tempo… é verdade que no mundo existe inteligência, tb é fato que no mundo tb há maldades e miséria, então essa “causa primeira de tds as coisas” tb seria má e miserável?

    em suma: o autor faz uma confusão com argumentos tautológicos e dogmáticos, que dá um nó na cabeça do leitor. Os dogmas sempre existiriam para suprir as perguntas humanas ainda não respondidas pela Ciência.

  14. Caro Rafael;

    O argumento não é de que “toda causa precisa ser causada”, ou de que “tudo precisa de uma causa” mas de que “todo efeito precisa de uma causa”. “Efeito”, por definição, é a decorrência de algo (a que se chama “causa”). Ora, o universo; dado seu caráter temporal/mutável ; claramente é um efeito (se atualmente considerado) ou sucessão de efeitos (se considerado “historicamente”), uma vez que os estados atuais do universo são efeito/decorrência de um estado anterior, sucessivamente. Ora, ainda que supuséssemos uma cadeia infinita de efeitos/causas do efeito subseqüente, tal cadeia seria – tomada como todo – ainda assim um efeito. Um grande “efeito infinito se desenrolando no tempo”,é verdade (e temos bons motivos, aliás, para entender que esta cadeia não pode ser “infinita” em ato no tempo, mas isso é um outro ponto) mas ainda assim um efeito. Ora, admitindo-se que todo “efeito”, por definição, precisa de uma causa, é necessário admitir uma causa necessária (uma causa que não seja efeito, incausada), uma causa primeira para quaisquer cadeias de eventos contingentes (já que uma cadeia de eventos contingentes é necessariamente contingente ela mesma).
    Entendeu?
    Não há dogmas ou circularidades, apenas decorrências necessárias da intencionalidade dos conceitos envolvidos e do princípio ontológico de identidade.
    Quanto a seu segundo ponto:
    “Inteligência” é uma realidade ontológica, “maldade” e “miséria” não. O conceito de “inteligência” – como todos os conceitos positivos “axio/ontologicamente”- surgem em nosso intelecto como representação formal da presença de um ser ou de um valor. Já os conceitos (negativos) de maldade e miséria surgem a partir da representação mental de uma ausência.
    Ora, sendo Deus causa absoluta da realidade contingente, Ele é necessariamente superior ao seu efeito no que ele possui de positivo/ontológico. Tomando uma analogia: Algo que aquece deve possuir mais calor (e não mais frio) que aquilo que é aquecido. Uma fonte de calor deve ser tão ou mais quente que o calor que dela emana. Da mesma forma, algo que transmite a existência de forma absoluta deve possuir uma riqueza ontológica superior àquela presente em seu efeito. Deus portanto só pode estar além – e jamais aquém – da realidade inteligente verificada em Sua Criação.
    A existência, em Deus, de Inteligência e Vontade é uma decorrência de seu papel enquanto fundamento último de toda realidade e também pode ser demonstrada (como sua existência, aliás), por outras vias lógico/analíticas (admitindo, obviamente, que os argumentos que apresentei aqui não são demonstrações exaustivas). A título de aprofundamento – a quem interessar possa –sugeriria a leitura de “O Homem perante o Infinito” de Mário Ferreira dos Santos, disponível para download, inclusive, no 4-shared.

  15. Rafael de Brito!!!
    .
    Procure ler um pouco mais antes de criticar. Seu texto está péssimo.
    .
    Em primeiro lugar, é evidente que, quando o Jorge diz “tudo tem uma causa”, isto refere-se a TUDO O QUE FOI CRIADO. Deus não foi criado, existiu desde sempre, ele é ato puro, não há nada “antes” dele.
    .
    Quanto a miséria, ao mal, o Jorge também já respondeu. O mal é a ausência, a falta, do bem. Assim como a escuridão é a ausência de luz e a BURRICE é a ausência de inteligência.

  16. Não, meu caro, não é evidente! O autor é taxativo logo na primeira linha do texto “todo efeito tem uma causa”! Para responder a evidente contradição sobre quem criou o efeito primeiro, ele apela para um dogma, exatamente como vc fez agora! A causa primeira existe, por que precisa existir uma causa primeira! Deus existe porque sempre existiu! Isso não é lógica, isso é um pressuposto dogmático! Aceita-se uma idéia sem questionamentos, para daí fazer elucidações com base nela. =)

    em tempo… prepotência é falta de humildade!

  17. Em primeiro lugar, é evidente que, quando o Jorge diz “tudo tem uma causa”, isto refere-se a TUDO O QUE FOI CRIADO. Deus não foi criado, existiu desde sempre, ele é ato puro, não há nada “antes” dele.
    .
    Quanto a miséria, ao mal, o Jorge também já respondeu. O mal é a ausência, a falta, do bem. Assim como a escuridão é a ausência de luz e a BURRICE é a ausência de inteligência.

    não é muito mais bonito simplesmente anunciar um conjunto de “dogmas” do que ficar torcendo as palavras pra tentar parecer que há uma lógica por traz?

  18. “não é muito mais bonito simplesmente anunciar um conjunto de “dogmas” do que ficar torcendo as palavras pra tentar parecer que há uma lógica por traz?”

    Isso, Marcos! Mas então comece dando o exemplo.

  19. Rafael de Brito

    “Os dogmas sempre existiriam para suprir as perguntas humanas ainda não respondidas pela Ciência.”

    Respondidas por QUAL modalidade de Ciência? Naturais? Formais? Sociais? Exatas? Humanas? Qual?
    Ou seria melhor respondida pela Teologia ou pela Filosofia?

    “Pra sair dessa sinuca o autor apela para um dogma: “existe uma causa primeira por que existe efeitos, esta causa é ‘nao-causada’” E pq ela é não causada? “Pq precisa existir uma causa primeira que cause todas as outras” Sacaram a circularidade do argumento?”

    Se a série de causas e efeitos fosse infinita (se não ho vesse começo e nem fim), nada existiria porque não haveria uma primeira causa. Ora, as coisas existem, logo conclui-se que a série de causas e efeitos é finita e que há um Causador de tudo o que existe, e que este não foi causado por nenhum ser anterior (DEUS). Circularidade do argumento não houve, mas uma má interpretação sua, ou talvez uma interpretação desonesta, sim.

  20. Isso, Marcos! Mas então comece dando o exemplo.

    não entendi. vc quer que eu enuncie meus dogmas?
    eu posso enunciar os do jorge se quiser, não tenho nenhum problema em acreditar neles. mas não vou duvidar da inteligência de quem não acreditar. é só isso meu ponto aqui.

    Respondidas por QUAL modalidade de Ciência? Naturais? Formais? Sociais? Exatas? Humanas? Qual?
    Ou seria melhor respondida pela Teologia ou pela Filosofia?

    qual dessas ciências não possui dogmas? (ou conceitos funcionalmente equivalentes).

    Se a série de causas e efeitos fosse infinita (se não ho vesse começo e nem fim), nada existiria porque não haveria uma primeira causa

    isso é um dogma. onde está a sequencia de passos lógicos que leva a conclusão que nada existiria se a série de causas e efeitos fosse infinita? não há.

    Circularidade do argumento não houve, mas uma má interpretação sua, ou talvez uma interpretação desonesta, sim.

    quer ver a circularidade do argumento? substitua “existe uma causa primeira” por “é mais gostoso” e “esta causa é não causada” por “vende mais”. O perfeito argumento tostines:

    é mais gostoso por que vende mais, e por que vende mais? por que é mais gostoso ;).

  21. “não entendi. vc quer que eu enuncie meus dogmas?
    eu posso enunciar os do jorge se quiser, não tenho nenhum problema em acreditar neles. mas não vou duvidar da inteligência de quem não acreditar. é só isso meu ponto aqui.”

    Agora quem não entendeu nada fui eu. Traduza isso para uma linguagem humana, por favor.

  22. Agora quem não entendeu nada fui eu. Traduza isso para uma linguagem humana, por favor.

    note que quem não entendeu nada primeiro fui eu ;)
    explique sua resposta numa linguagem humana primeiro
    depois eu reformulo minha resposta ;)

  23. Marcos

    “qual dessas ciências não possui dogmas? (ou conceitos funcionalmente equivalentes).”

    Dogmas??? Hahahaha, daonde você tirou essa sandice de que as ciências possuem dogmas?? Daonde você tirou que as ciências se fundamentam em dogmas?? Qual a definição de dogma que você tem na cabeça? Vá estudar filosofia da ciência pô!

    “isso é um dogma. onde está a sequencia de passos lógicos que leva a conclusão que nada existiria se a série de causas e efeitos fosse infinita? não há.”

    Pelo Amor de Deus!!! Pense: Todo causa tem um agente causador. Pense nos vários agentes nessa série de causas e efeitos. E outra, AONDE ISSO É UM DOGMA?!?! Vá ler um São Tomás de Aquino!

    “quer ver a circularidade do argumento? substitua “existe uma causa primeira” por “é mais gostoso” e “esta causa é não causada” por “vende mais”. O perfeito argumento tostines:

    é mais gostoso por que vende mais, e por que vende mais? por que é mais gostoso ;).”

    P*%@ M&$#@AAAAA!!!!! O que que tem a ver uma coisa com a outra???? Vá ser sofismático assim lá no inferno! Me mostra com mais clareza a relação entre o “argumento tostines” e a causa primeira.

  24. [Voltando a isto aqui agora que tive tempo…]

    Mallmal,

    Essa definição é extremamente discutível, concorda? Além disso, nessa sua definição não-dualista, como justificar a punição divina?

    “Extremamente” não, mas é sim discutível, e a alternativa é propôr “dois princípios”, um dos quais cria o bem e, outro, do qual emana o mal. Chama-se gnosticismo e foi uma heresia comum nos primeiros séculos do Cristianismo. Fique à vontade para abraçá-la.

    Não é correto comparar a bondade com a luz. A luz é algo pertencente ao mundo material.

    De fato, e é por isso que o que foi feito foi uma analogia.

    Deus possui bondade infinita, não pode haver um “ponto médio” na escala. O que seria uma ação nem boa, nem má? Meio infinito de bondade?

    Não entendi isso. Não existem ações “nem boas nem más”. Existem ações para as quais não cabe falar em valoração moral (sei lá, coçar a barba), mas é simplesmente uma “non-issue”, onde não se aplica falar nem em bondade nem em maldade.

    Uma ação que tenha elementos bons e elementos maus (sei lá, roubar para dar de comer aos filhos) deve ser analisada pontualmente (e, neste caso, provavelmente o estado de necessidade justifica a supressão do direito de propriedade em atenção ao dever de sobrevivência), mas o que isto tem a ver com a classificação dos atos humanos por participação maior ou menor no Bem?

    Propriedades não causam nada, Jorge. Não são eventos. Não é a gravidade que causa as coisas, mas sim a deformação do espaço tempo causada pela massa dos objetos. A deformação do espaço é um evento mensurável. A forma de atuação geral desses eventos é o que chamamos de propriedade.

    É como você me dizer que a causa de um carro andar é o fato de ser um veículo.

    Também não entendi nada. É claro que propriedades causam coisas. Por exemplo, os corpos com massa possuem uma propriedade em razão da qual eles deformam o espaço-tempo. O que é que causa esta propriedade? Por quê os corpos com massa deformam o espaço-tempo?

    E só o que eu fiz foi notar que a explicação desta deformação não havia na época de Newton – e, portanto, só havia a gravidade “causando” a queda dos corpos. E isto não está errado, só tem um passo a menos na cadeia de causalidade.

    Rafael,

    A causa primeira existe, por que precisa existir uma causa primeira! Deus existe porque sempre existiu! Isso não é lógica, isso é um pressuposto dogmático! Aceita-se uma idéia sem questionamentos, para daí fazer elucidações com base nela. =)

    A Causa Primeira existe porque todo efeito tem uma causa (você concorda com isso, ou não?) e, no encadeamento dos eventos existentes, percorrendo-se-lhe até o fim, chega-se necessariamente a uma Causa Primeira. Caso contrário, chegar-se-á onde?

    marcos,

    isso é um dogma. onde está a sequencia de passos lógicos que leva a conclusão que nada existiria se a série de causas e efeitos fosse infinita? não há.

    É lógico que há. Se a série fosse infinita não haveria uma Causa Primeira e, não havendo uma Causa Primeira, não haveria causas segundas e não haveria nada.

    Postular uma “série infinita” é, além de um absurdo metafísico (porque viola exatamente o princípio de que todo efeito tem uma causa, bem como outro princípio que diz que, do nada, nada vem), uma coisa totalmente anti-empírica e irracional (sendo necessário um tremendo ato de fé para acreditar nisto), uma multiplicação desnecessária dos entes (passível de simplicação pelo princípio da parcimônia) e uma discordância até mesmo das ciências experimentais (que apontam para um início das coisas).

    Abraços,
    Jorge

  25. É lógico que há. Se a série fosse infinita não haveria uma Causa Primeira e, não havendo uma Causa Primeira, não haveria causas segundas e não haveria nada.”

    a parte em negrito é lógica, a segunda não é. esse é o seu “dogma”.

    “Postular uma ‘série infinita’ é, além de um absurdo metafísico (porque viola exatamente o princípio de que todo efeito tem uma causa

    opa, primeiro que o mundo real não tem que obedecer nenhuma ‘lógica metafísica’, se é um absurdo, troque-se a metafísica!
    segundo, ele viola esse princípio exatamente como? ele diz exatamente que TODO efeito tem uma causa.

    bem como outro princípio que diz que, do nada, nada vem)

    e esse é violado exatamente como? pq a série infinita diz exatamente que “tudo” tem uma causa.

    uma coisa totalmente anti-empírica e irracional

    bom, toda nova descoberta é anti empírica, qual o problema disso?
    a ida do homem a lua era totalmente anti empírica e irracional até que alguém fez
    (embora haja controvérsias :D)

    sendo necessário um tremendo ato de fé para acreditar nisto

    hehhe,esse é um bom argumento, mas acho que funciona melhor com os ateus que comigo ;)

    uma multiplicação desnecessária dos entes (passível de simplicação pelo princípio da parcimônia)

    qual o ente que é “multiplicado desnecessariamlente”?
    vc sabe tao bem quanto eu que um universo infinito no tempo numa direção (com causa, mas sem fim) não tem necessariamente menos “tempos” que um universo infinito nas duas (sem causa e sem fim)

    e uma discordância até mesmo das ciências experimentais (que apontam para um início das coisas).

    mesma resposta que para o “anti-empírico”.

  26. Marcos,

    É lógico que há. Se a série fosse infinita não haveria uma Causa Primeira e, não havendo uma Causa Primeira, não haveria causas segundas e não haveria nada.”

    a parte em negrito é lógica, a segunda não é. esse é o seu “dogma”.

    Não é dogma, é uma lógica tão férrea quanto a primeira. Suprimindo-se a causa, suprimem-se os efeitos. Não havendo causa, não há efeitos.

    opa, primeiro que o mundo real não tem que obedecer nenhuma ‘lógica metafísica’, se é um absurdo, troque-se a metafísica!

    =P

    Beleza. Proponha outra metafísica.

    ele diz exatamente que TODO efeito tem uma causa.

    Não, não diz. Ele argumenta com a ignorância, “jogando” para trás a explicação e “escondendo” propositalmente a causa no meio da impossível série infinita, fazendo com que não exista causa, não exista nada e pretendendo que, mesmo assim, as coisas tenham vindo “do nada”.

    Isto não é uma explicação, é a ausência de uma explicação.

    bom, toda nova descoberta é anti empírica, qual o problema disso?

    E por acaso a série infinita é uma “descoberta”? Beleza. Reproduza-a em laboratório.

    qual o ente que é “multiplicado desnecessariamlente”?

    As causas.

    vc sabe tao bem quanto eu que um universo infinito no tempo numa direção (com causa, mas sem fim) não tem necessariamente menos “tempos” que um universo infinito nas duas (sem causa e sem fim)

    E o que isso tem a ver com a história? O encadeamento causa-efeito não tem nada a ver com o tempo. Aliás, o próprio tempo é criatura (e, portanto, é causado).

    Abraços,
    Jorge

  27. Jorge,

    Não é dogma, é uma lógica tão férrea quanto a primeira.
    Suprimindo-se a causa, suprimem-se os efeitos.
    Não havendo causa, não há efeitos.

    mas vc não ta falando de causa, esta falando de “causa primeira”.
    se toda causa é causada então não suprime-se a causa, e seu argumento não vale.
    não ter causa primeira não é o mesmo que não ter causa.

    Não, não diz. Ele argumenta com a ignorância, “jogando” para trás a explicação e “escondendo” propositalmente a causa no meio da impossível série infinita, fazendo com que não exista causa, não exista nada e pretendendo que, mesmo assim, as coisas tenham vindo “do nada”.

    calma, quem é o “ele” na sua frase?
    quem ta dizendo q nao “existia nada”?
    e que as coisas vieram “do nada”?

    meu argumento é simples: dizer q ha uma causa primeira é tao (i)lógico quanto dizer que não tem. são só dois dogmas/axiomas diferentes.

    E por acaso a série infinita é uma “descoberta”? Beleza. Reproduza-a em laboratório.

    seu argumento é:

    A: tudo que é anti empírico é falso.
    B: essa teoria é anti empírica,

    logo, a teoria é falsa.
    ou não é?

    eu só estou dizendo: existem coisas que são anti empíricas e são verdadeiras, logo A é falso, e a conclusão não se sustenta.

    B é irrelevante.

    As causas.

    então reformulando: existem tantas causas num conjunto infinito com uma “causa primeira” e sem “efeito último” quanto com um conjunto infinito sem “causa primeira” e sem “efeito último”.

    logo seu argummento de que um tem mais “causas” que o outro não se sustenta.

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