Jorge Ferraz (admin)
Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.
Ver todos os posts de Jorge Ferraz (admin)
Moderador, favor desconsiderar o post anterior, pois eu ainda não havia terminado de redigir quando apartei o enter.
Viotti, ok. Desconsiderado.
Abraços,
Jorge
Sobre a frase do vídeo que você achou estranha, leia minha resposta ao Gustavo. Vamos partir desse ponto.
Já sobre o Fedeli, vejo ser muito difícil a alguém por ele influenciado conseguir ler os textos de forma serena e objetiva.
Não vou responder ao primeiro post do anônimo, apenas com acusações gratuitas que refletem o mal-caráter do seu professor.
Vamos passar diretamente ao texto das acusações, onde procurarei demonstrar as conclusões falsas, textos retirados do contexto, alterações no sentido etc.
> Anônimo: “Para Dr. Plínio, imaginando,
> fantasiando, é que se alcançaria um
> mundo ideal, o mundo “sacral” por excelência.”
Falso. Para o Dr. Plinio, a contemplação é a maneira de se chegar ao conhecimento dos arquétipos. A contemplação não é uma imaginação ou fantasia. A expressão “mundo ideal” é uma maneira de alterar o sentido do que diz o Dr. Plinio sobre a arquetipia para adaptá-lo a uma acusação que o Fedeli fará ao longo do texto. O mundo sacral não é um mundo que existe nas idéias, mas é o chamado que a sociedade temporal tem para refletir a doutrina católica. Em outros termos, a sociedade “sacral” existe nessa terra. O termo “sacral”, em Dr. Plinio, dizia muito mais respeito à sociedade temporal, enquanto o termo “sagrado” era muito mais utilizado ao se referir à soceidade espiritual.
> Esse processo imaginativo e
> idealizador se iniciaria na
> infância, quando a inocência
> primeva reinaria na alma de
> todo homem. Portanto, na alma
> de todos os homens, mesmo sem o
> Batismo. Todos, através do “senso
> do ser”, poderiam atingir o
> “conhecimento” de um mundo ideal,
> que seria um conhecimento salvador.
Veja como é o Fedeli. Há alguns anos, em um debate que tive com ele em uma lista católica (em que ele usou um pseudônimo para debater) ele acusava que o termo “inocência primeva” se referia à “inocência original”. O mesmo fez o Gustavo nesse debate.
Quando foi respondido que ele estava errado na acusação, ao invés de se corrigir, ele silenciou e passou a outros temas. Agora, tenta novamente acusar, deste vez usando o termo no sentido correto, mas fazendo uma tremenda confusão nas derivações do tema.
Pelo texto, parece claro que o Fedeli negue que exista essa “inocência primeva” em uma criança. Diz ele: “que reinaria na alma de todo homem”. Ou seja, eu só entendo esse “reinaria” como uma maneira de dizer que ele não concorda com isso.
Estou certo nessa análise? Bom, então como fica tudo que a Igreja, desde Nosso Senhor, tanto falou sobre essa inocência infantil?
Ou, se preferir, como dizia Tertuliano: “a alma humana é naturalmente cristã”? Como dizia Nosso Senhor em tantas passagens contra aqueles que quebrassem a inocência de uma Criança? Ainda, como dizia Aristóteles e Santo Tomás sobre a Reta Razão?
Mas, para o Fedeli, a “inocência primeva” não “existiria”…
Mas os erros continuam. Acusa o Fedeli:
> Todos, através do “senso
> do ser”, poderiam atingir o
> “conhecimento” de um mundo ideal,
> que seria um conhecimento salvador.
Ele distorce o texto dando a entender que todos os homens atingiriam o conhecimento de um “mundo ideal” pelo senso do ser.
Ora, o próprio texto analisado fala da “inocência primeva” e de como os homens a perdem… Logo, para conhecer os arquétipos (e não exatamente o “mundo ideal”) é preciso manter, cultivar a inocência. Ou o Fedeli acha que todos os homens são inocentes ou a acusação dele está errada.
Esse conhecimento não é um “conhecimento salvador”. Talvez se pudesse dizer um conhecimento das grandezas de Deus através de suas criaturas, portanto, revelador dessas grandezas.
> Todos os homens então, pelo
> “senso do ser” procurariam
> alcançar uma “ordem ideal”
> que eles conheceriam por meio
> das matrizes universais inatas neles.
Existe uma natureza com a qual o homem foi criado e essa natureza é conforme ao criador. Novamente, Tertuliano.
Mas o Fedeli precisa tentar “provar” que o Dr. Plinio defenderia um estranho conceito de idéia “inata” como ele acusou em outros textos. Para tanto, ele agora fala em “matrizes inatas” que levariam a um mundo fantasioso ideal… Isso não está no texto. Está apenas na cabeça do acusador.
> Esse universo ideal era
> imaginado como realizado,
> num mundo do além, por
> seres análogos aos do nosso
> mundo concreto, porém muito
> mais perfeitos, pois que não
> teriam matéria. O que de melhor
> haveria em nosso mundo, existiria
> perfeitíssimo, sem nenhuma limitação
> e defeito, e sem matéria, nesse
> mundo ideal. Seria um universo de
> puros seres ideais, muito
> semelhante ao mundo das idéias
> de Platão, mas ainda superior a ele.
Nem sei por onde começar. Qualquer um que ler um mínimo do que disse Plinio Corrêa de Oliveira ficaria assombrado com o devaneio desse acusador!
Apenas para começar, um fatinho: No debate que tive com o Fedeli, há alguns anos, ele veio tentando condenar os “seres ab-aeternos” (que são as tais “seres ideais” que ele acusa).
Ocorre que o Fedeli não leu Santo Tomás (na Summa Theologica, I, 46 a. 2; 61 a. 2).
Agora, vem novamente a acusação, mas já silenciando a condenação que fizera aos seres ab-aeternos. O Dr. Plinio nunca disse que “existiam” criaturas ab-aeternas. Ele levantou hipóteses de como seria *** se *** tivessem sido criadas por Deus (exatamente na ordem dos possíveis de que fala Santo Tomás).
A descrição que faz o Fedeli é, novamente, toda falseada. Ele está tratando dos arquétipos e faz uma tremenda confusão nesse tema. Sugiro que leia o livro que o Fedeli tenta refutar para entender um pouco do que são esses arquétipos e como seriam – se existissem – esses seres ab-aeternos.
> Entre o mundo real e imperfeito
> em que vivemos e o mundo ideal
> do Absoluto, haveria vários
> paraísos imaginários, uns análogos
> aos outros, até o mundo supremo
> do Absoluto Absolutíssimo. De grau
> em grau, cada um desses “paraísos”
> imaginários, numa sucessão indefinida
> de analogados, iria até um mundo
> totalmente ideal, que PCO chamava
> mundo da Trans-Esfera.
A transesfera nada tem de paraísos sucessivos. Era mais um termo que ajudava a explicitar um conceito. Qual conceito? O da admiração.
Peguemos um exemplo simples, o conceito de “pai”. Qual é a imagem que fazemos de um pai? Essa imagem é baseada, certamente, na idéia que temos de nosso pai, mas ela não se limita a essa idéia. Cada um de nós pode ter tido um pai com maior ou menor virtude. Todavia, a idéia de “pai” implica no conhecimento de como é o arquétipo de um pai, através do qual se entende a própria noção de autoridade de Deus.
O pai é aquele que protege, mesmo que um pai específico tenha matado seus filhos. O pai é aquele que nutre, mesmo que um pai específico, tenha deixado seus filhos com fome.
Por que nosso conceito de “pai” é superior à realidade concreta de cada pai em particular? Porque estamos vendo o conceito dos arquétipos, dos modelos.
Esse conceito de arquétipos (modelos) é o que o Dr. Plinio se referia ao falar de transesfera.
Mas o Fedeli cria um romance com isso e transforma em “paraísos sucessivos”, “absolutos absolutíssimos” rumo a um “mundo ideal”.
Ele, o Fedeli, apenas esqueceu que todos os homens fazem isso, do mais simples ao mais inteligente. Menos ele, certamente.
> Plínio chama de contemplação
> sacral do universo não a
> compreensão das qualidades
> invisíveis de Deus tornadas
> visíveis nas criaturas,
> como ensinou São Paulo
> (Rom. I, 20), mas, sim, a
> contemplação de um mundo
> imaginário. A ele se chegaria
> através de um jogo da imaginação,
> sonhando com criaturas que
> tivessem qualidades cada vez
> mais altas, até o nível
> do absoluto, que PCO coloca no
> mundo dos possíveis de Deus.
Pelo contrário. O Fedeli é quem está negando S. Paulo, que dizia, exatamente, como as criaturas (imperfeitas que são, nascidas no pecado original) nos levavam ao conhecimento do ser absoluto (perfeito) e que é, no fundo, o modelo último de todas as criaturas (que têm nEle, o Criador).
S. Paulo não fala em jogo de imaginação e nem o Dr. Plinio. Talvez o Fedeli tenha imaginado…
> Exemplos:
> (…)Limonada é isto!
> Ó limonada. Entretanto, por
> trás dessa reflexão estava a
> idéia da limonadíssima, que
> aquele limonada do navio não
> havia atingido… E, sem saber
> ainda dizer o que estou explicando
> agora, minha idéia era a seguinte:
> “Existe, na ordem do espírito, um
> deleite da limonada, e há, em
> outra esfera superior, uma limonadérrima
> que já não é mais limonada, nem tem limão.
> Mas se eu for afirmar isso para
> as pessoas adultas que me cercam,
> vão dizer que sou louco. Percebo
> que não sei exprimir bem o que
> estou pensando, mas quando ficar mais
> velho saberei fazê-lo”(Plínio Corrêa
> de Oliveira, Notas Autobiográficas,
> ed. cit, p. 96).
E, quando ficou mais velho, explicitou muito mais. Qual é a explicitação que o Fedeli fica tão assustado? De que a limonada, por mais perfeita que fosse, não é um fim em si mesma, mas um caminho para conhecer as perfeições daquele Ser absoluto.
Mas, como as pessoas adultas (que vão perdendo a “inocência primeva”), o Fedeli não entendeu…
> B -Um segundo exemplo de
>“contemplação sacral” pliniana
>é sobre um copo de chopp:
>“Não terei entendido um chopp
> se não conseguir imaginar o
> chopp perfeito. Depois de o
> ter imaginado, esse chopp
> imperfeito me faz compreender
> um ser possível que é a alegria
> de minha vida.
Exatamente. Através das criaturas, chega-se ao Criador (Santo Tomás trata desse tema várias vezes. Se desejar, veja na Summa, I, q. 45 a.7. c)
Aqui também há algo muito bonito, que é a explicitação de que apenas entenderá o chopp por inteiro que entender seu arquétipo, assim como ocorre no exemplo que eu dei sobre o conceito de “pai”.
Os arquétipos estão na origem (arché-tipo), apesar de serem conhecidos pelos “tipos”. Eu posso ver vários carros, mas só entenderei bem o que é um carro quando formar, em minha mente, a noção do que é um carro (e não apenas daqueles carros que conheço).
> Para Plínio, o passo inicial
> da contemplação como ele a
> concebe está no sentimento:
Falso. Aqui, inclusive, nota-se mais uma adulteração de sentido, como veremos:
> “Não se trata apenas,
> ou sempre, de fazer a
> explicitação das coisas
> percebidas pelos sentidos.
> O passo inicial indispensável
> é uma espécie de sentir do
> qual nascerá mais tarde a
> explicitação. Esta seria o
> segundo estágio, menos
> imprescindível, enquanto
> o primeiro é o mais precioso,
> porque dele depende o resto
> do processo”
Veja o que disse o Dr. Plinio: “é uma espécie de sentir”. O que diz o Fedeli: “o passo inicial está no sentimento”…
O que é o senso do ser? É uma idéia para o Fedeli? O que significa o termo “noção”? Será um conceito para o Fedeli?
O que significa “consentir”, por exemplo? Será um sentimento ou uma espécie de sentir em conjunto?
O Dr. Plinio usava a conversa para explicitar esses temas e ia fazendo aproximações, como está fazendo no texto acima. Para explicar que não se trata de uma idéia (se ele dissesse isso, o Fedeli o acusaria de estar defendendo a existência de “idéias inatas” no homem), mas de algo como se **fosse** um sentimento.
Em outros textos, o Dr. Plinio já usou termos como co-naturalidade, por exemplo.
Quando se olha para uma catedral, o primeiro movimento da alma é exclamativo, admirativo, contemplativo.
Nesse texto, que o Fedeli deturpa culposa e conscientemente – o Dr. Plinio está começando a falar sobre o processo de contemplação.
Segundo o “Compêndio de Teologia Ascética e Mística”, citando o famoso teóogo Tanquerey, “contemplarç em geral, é olhar um objeto com admiração”. (Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 6o ed. p. 145).
Essa admiração envolve uma etapa anterior e mais importante do que a explicitação doutrinária.
Estou ficando cansado, pois não há um parágrafo onde não se deva fazer reparos. Vamos às conclusões do Fedeli:
> Portanto, o universo que
> Plínio imagina é:
> 1) Puramente imaginário;
Falso.
> 2) Mas, “imaginando-o
> realizado”, num universo
> fantasioso que ele chama de ideal;
Nem mesmo foi tratado anteriormente nas acusações. A não ser que o Fedeli esteja dizendo que a imaginação é criadora, o universo da “transesfera” não é criado por quem o imagina.
> 3) Universo que ele
> qualificará com o termo “sacral”;
Olha mais essa!
O Fedeli pula magicamente de uma falsa afirmação sobre o universo (referindo-se a ele como se fosse um “mundo ideal”) para confundir com o termo sacral que, em todo o texto que ele critica, está se referindo à sociedade temporal (e não à transesfera) enquanto cumpridora da virtude católica.
Além de errar no conceito, ainda procura levar o leitor, através de uma artimanha, a uma falsa conclusão por embaralhar os termos.
> 4) Que formaria o que ele
> vai denominar de Trans-esfera;
Oh! Agora ele volta à transesfera… Ou seja, a transesfera, para o Fedeli, seria
a) uma imaginação
b) do “mundo ideal”,
c) que é o mundo sacral,
d) denominado de transesfera…
Creio que o Fedeli esteja tendo muita imaginação ao conceituar tudo como sinônimo…
> 5) Universo absolutamente
> contraditório, pois que não
> existe, mas teria que existir,
> pelo menos de algum modo.
Contraditório na mesma medida em que a metafísica é contraditória, já que ela não existe fisicamente, mas existe… metafisicamente.
> 6) Que, segundo ele diz em
> textos que citamos em nosso
> livro, os contos de fadas contam
> coisas irreais aqui, mas que são
> “verdades no reino do além”.
Nossa, estamos chegando em assombrações… Será que algum discípulo do Fedeli leu o texto do qual ele retirou esse trecho?
> 7) Contos da fadas contariam
> verdades ocultas.
Logo, esotéricas… Insinuação feita para uma platéa de discípulos incapazes de pensar por si mesmos.
> 8) Finalmente, as coisas
> existentes no mundo atual
> seriam análogas a esse mundo
> da Transesfera, e não a Deus.
> O que faz substituir Deus
> pela Transesfera.
Claro, então Nosso Senhor, quando falou de como desejou salvar Jerusalém e se comparou com uma galinha, estava substituindo a galinha por Deus e não realçando uma qualidade metafísica que se extrai da relação entre a galinha e seus pintainhos…
Chega! Não posso crer que alguém, em boa-fé e usando da razão objetiva, possa acreditar no que diz o Fedeli.
Apenas uma outra frase do Fedeli:
> “[Para Plinio:]Tudo o que existe é uma
> participação nisso que não existe”
> (PCO, A Inocência Primeva e a
> Contemplação Sacral do Universo,
> Instituto Plínio Corrêa de Oliveira,
> ed. Artpress, São Paulo, 2008, p. 230.
> E desse modo, PCO contraia
> diametralmente o que São Paulo
> afirma na Epístola aos Romanos (I, 20).
Infelizmente, é o Fedeli quem está contrariando S. Paulo, que mostra como, através das criaturas imperfeitas, pode-se conhecer ao Deus perfeito.
Aliás, também é o que ensina Santo Tomás na Summa: I, q 45, a. 7.c
Não sei de que vale responder ao Fedeli, pois apenas com má-fé alguém pode se deixar cegar a esse ponto.
In Jesu et Maria
Frederico
PS: postado sem revisão, por falta de tempo e paciência.
Sr. Cantagalo,
Se a substância primeira é o indivíduo, como o senhor confirmou e como eu estou dizendo desde o começo, não consigo vislumbrar outra razão para esta querela que não um preciosismo terminológico por parte do senhor. Afinal, se o termo pode significar tanto a existência concreta de um indivíduo (sentido no qual estou empregando) quanto a essência universal (sentido no qual o senhor está empregando), as discordâncias do senhor carecem totalmente de cabimento – mas ainda quando o senhor sabe que há os dois usos do termo. Ademais, isto por si só deixa também evidente que não é “na filosofia pessoal do sr. Jorge Ferraz” que as mudanças operadas no ser são ontológicas e substanciais, uma vez que os termos têm clássica e precisamente (embora não exclusivamente) os sentidos nos quais eu os estou empregando.
O mesmo preciosismo desnecessário se encontra também na sua definição de natureza. O senhor cita Santo Tomás e diz que “a rigor não se pode falar em ‘natureza racional'”. Mas “natureza racional” é uma expressão que Santo Tomás usa o tempo inteiro – está inclusive na definição de “pessoa” de Boécio – substância individual de natureza racional – que Santo Tomás assume (p.ex. Ia, q.30, a.1). E, como é óbvio, nem eu e nem o Aquinate dizemos que Deus seja “conatural” aos homens. Ou então vai ver que, “a rigor”, Boécio estava errado…
Uma outra confusão totalmente sem sentido e desnecessária o senhor faz na digressão sobre essência e acidentes. Afinal de contas, nós só nos referimos às coisas através dos conceitos, e não de outra maneira. Ou, por acaso, quando o senhor quer determinar o que é acidental e essencial num cão, o senhor precisa de um cachorro concreto diante de si?
Ainda: considerando o cachorro individual realmente existente, a substância primeira “Rin-tin-tin”, ser um Pastor Alemão é essencial e não acidental. O que, naturalmente, não significa nem que Rin-tin-tin tenha uma natureza distinta dos demais cachorros, nem muito menos que ele deixe de ser um cachorro. Ou seja: as qualidades essenciais das substâncias primeiras são diferentes daquelas das substâncias segundas.
Por fim, quanto à expressão “ontologicamente”, não fui eu quem a inventei. A Santa Sé já a usa há muito tempo, para se referir [p.ex.] à distinção entre o sacerdote ordenado e o cristão batizado (p.ex., ao falar em carácter que constitua alguém ontologicamente na condição de ministro – Sacerdotium Ministeriale).
Abraços,
Jorge
Eu DUVIDO que Vossa Senhoria soubesse o que fosse “substância primeira” antes que começasse esta discussão e, pelo que andou escrevendo nesta resposta, desconfio que ainda não saiba…
Eu sei que há os dois usos do termo. E sei que Vossa Senhoria não o empregou em nenhum dos dois usos.
Aqui Vossa Senhoria está se fazendo de desentendido. Para Vossa Senhoria, toda mudança ontológica é substancial, o que é uma grosseira bobagem. O que eu fiz foi simplesmente dizer que “ontológico” é um termo genérico, que pode referir-se tão-só à substância, como também aos acidentes, e que Vossa Senhoria carecia de precisar em que sentido o estava tomando. Vou repetir novamente (infelizmente, não tenho como desenhar):
«“Diferença ontológica” — como eu disse logo no início, depende do que você quer significar pela expressão. O termo é estranho à terminologia original da filosofia de Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, uma vez que apareceu apenas no século XVII:
http://en.wikipedia.org/wiki/Ontology#Etymology
O que não significa que não seja útil ou não possa ser usado. Mas você precisa antes dizer se pretende empregá-lo em sentido estrito (como significando apenas a distinção essencial) ou em sentido mais amplo, abarcando os acidentes.»
A rigor, Boécio não estava errado. É você que não sabe ler, isto é, interpretar um texto. O que ambos (Boécio e Tomás de Aquino) referem-se aí não é a natureza tomada no sentido que você quer, mas a natureza desses seres enquanto participa da racionalidade. Por isso que Deus, o anjo e o homem possuem naturezas diversas, mas participam, em graus também diversos, da racionalidade. Ou seja, mais uma vez você confunde algo que inere à substância com a substância mesma.
Como diabos podemos pensar sobre o que seja um cão, se nunca tivermos um cão concreto diante de nós? Nihil in intellectu quod non prius fuerit in sensu — é um adágio escolástico.
Dá vontade de fingir que você não escreveu essa bobagem só para não sentir vergonha alheia… Já ouviu falar do nominalismo? Pois é, você está sendo nominalista sem o saber. A substância primeira é a substância segunda realizada em concreto, o que não significa que todos os predicados que a ela inerem tornem-se “essenciais” por isso. Isto é, a distinção entre substância e acidentes não deixa de existir por a substância existir de modo individual e concreto. Assim, ser um pastor alemão não tem nada de essencial, mas é um acidente que inere à substância primeira Rin-Tin-Tin, assim como ser do sexo masculino e pernambucano são acidentes que inerem à substãncia primeira Jorge Ferraz.
E quem disse que foi você que inventou? Você não leu no que escrevi antes que ela foi inventada no século XVII? O que eu achei é que você deveria precisar melhor em que sentido a estava usando.
Aliás, dificilmente a citação do documento da Santa Sé vai te valer alguma coisa, por que nunca li em nenhum pronunciamento magisterial que os sacerdotes possuam uma natureza diversa da nossa comum natureza humana.
Simples assim, seu Jorge: você não consegue entender a diferença entre substância e acidentes. E ainda fica bravinho quando alguém lhe tenta fazer a bondade de ensinar.
Mas o preciosismo terminológico não é meu. Vocês é que estavam tentando usar até o Concílio de Trento para massacrar a coitado do Gustavo como um protestante que ele não é, com base em jogos de palavras. Eu só fiz questão de mostrar que você estava errado em repreendê-lo e que o Gustavo estava sendo apenas mais claro e preciso que vocês, ao apontar que a justificação não envolve mudança substancial. Só que é mais fácil ser estilingue que vidraça, né seu Jorge?
Difícil de se conter com as adulterações do Fedeli. Lendo um pouco mais o que ele disse, encontrei uma tão escandalosa que não me permito ficar em silêncio:
Diz o texto postado pelo anônimo:
> PCO então faz um paralelo entre
> o mundo dos possíveis e o brasão
> imaginário de um Rei inexistente
> numa República aristocrática,
> brasão ao qual se refeririam
> heraldicamente os brasões dos
> aristocratas dessa República.
> E diz que, assim como os brasões
> desses nobres participavam de
> um brasão monárquico de um Rei
> inexistente, assim também,
> tudo o que existe de bom em nosso
> mundo participaria analogamente
> do mundo ideal perfeitíssimo
> – mas inexistente—dos possíves em Deus.
> E disso ele tira um princípio:
> “Tudo o que existe é uma participação
> nisso que não existe” (PCO, A
> Inocência Primeva e a Contemplação
> Sacral do Universo, Instituto Plínio
> Corrêa de Oliveira, ed. Artpress,
> São Paulo, 2008, p. 230.)
Não é isso que diz o texto. O Fedeli adultera o sentido do texto, apesar de manter a última frase corretamente, mas fora do sentido.
Aliás, o texto trata dos “possíveis” de Deus apenas de forma paralela. Ele é muito mais próximo do conceito de transesfera.
O que diz o texto:
“Imaginemos que numa república aristocrática se peça a um artista que desenhe um brasão para vários nobres dessa república.
“Ele faz o seguinte raciocínio: vou imaginar como seria o brasão dessa república se ela tivesse rei vou desenha-lo, e em função dele, vou fazer os brasões da nobreza. Terminada a execução, o único brasão que não corresponde a nenhuma realidade é o do rei.
“Na república não há rei, e aquele brasão não existe na heráldica do país, mas existiu na concepção do artista e existe ordenando os brasões elaborados. Quem queira conhecer bem todos aqueles brasões deve conhecer aquele brasão ideal, não executado, que existe apenas no desenho.
“E um bom livro de heráldica deveria trazer esse brasão, dizendo: tudo o que existe é uma participação deste, que não existe.
Apenas para deixar mais claro o que já deveria estar claro para um discípulo do Fedeli.
1) O Dr. Plinio não disse que tudo que existe é uma participação do que não existe. Pelo contrário, essa frase está dentro de um texto que diz, claramente, que o artista concebeu esse brasão. Ele não existe ** materialmente ** por não ter sido executado, mas ele existe enquanto conceito ordenativo dos demais brasõe (criado pelo artista, portanto, existente).
2) Esse brasão, ainda que não fosse concebido explicitamente pelo artista (que, no exemplo, o concebeu explicitamente) ainda assim existiria, mas existiria metafisicamente na ordem dos possíveis (aqui, portanto, pode-se falar em possíveis).
3) O Dr. Plinio falava de um livro de heráldica que tratasse desses brasões. Vamos dizer que isso seja um princípio geral. Enquanto princípio, o que o Dr. Plinio disse é oposto do que acusou o Fedeli (o Dr. Plinio falou de um brasão não existente por não ter sido realizado, embora existente enquanto concebido pelo autor). Em termos de princípio geral, Deus, enquanto princípio ordenativo, ainda que não seja materialmente tocado (como no exemplo, o brasão idealizado) é a causa dos demais seres, que só se explicam inteiramente em função desse princípio, que é Deus.
O Fedeli, ao resumir o texto, adulterou seu sentido, exatamente como fizeram as falsas testemunhas de que nos falam os Evangelhos no processo contra Nosso Senhor. Essas falsas testemunhas disseram as mesmas palavras de Nosso Senhor (em três dias reconstruirei o templo), mas as disseram em sentido falseado. Por isso, mentiram.
Mais um texto adulterado pelo Fedeli.
Sr. Cantagalo, Salve Maria!
O Gustavo estava defendendo uma tese protestante não porque entrou na discussão entre acidente e substância, mas porque negou que o batismo opere uma justificação ontológica na criatura.
Ele negou isso, assim como negam os protestantes.
Essa tese que ele defendeu é a mesma que permitiu o acordo sobre justificação celebrado recentemente no Vaticano, onde se fez silêncio sobre esse ponto.
Foi por isso que transcrevi um texto enviado por teólogos tradicionais sobre o efeito do batismo.
Por favor, pare de fugir do tema e entrar em questões secundárias.
Afinal, você concorda com o Gustavo sobre o conceito de Justificação que ele exprimiu?
A «quarta via» num exemplo do próprio Santo Tomás
In Symbolum Apostolorum Expositio, c. I:
Para evitar sutis demonstrações, exporei com um exemplo vulgar nosso propósito, a saber, que todas as coisas foram criadas e feitas por Deus.
É patente que se alguém entra numa casa, e logo na entrada nota calor, penetrando mais para dentro sentirá mais calor, e continuando, crerá que há fogo dentro,* mesmo que não o veja, por causa dos calores assinalados.
* É escusado dizer que o aquecimento de uma casa naquele tempo, no inverno europeu, se fazia pelo fogo.
Assim acontece também com quem considera as coisas deste mundo, pois pode notar que todas estão dispostas segundo diversos graus de beleza e nobreza, e são tanto mais belas e nobres, quanto mais se aproximam de Deus. […]
Portanto, é preciso acreditar que todas estas coisas procedem do único Deus, que dá a cada uma das coisas criadas seu ser e sua nobreza.
Santo Tomás de Aquino
Os intelectos criados podem conhecer os possíveis pela participação no ato do intelecto divino
Do Cursus Philosophiae ad Usum Seminariorum de Carolo Boyer S. I., professor da Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma (Desclée de Brouwer, 1939, pp. 388-390 — grifos nossos):
Um ser possível não é o mesmo que nada. Os nominalistas consideravam os seres possíveis como nada, mas tolamente. As coisas que nada são, não se distinguem entre si nem possuem definição; entretanto, os possíveis se distinguem entre si; um homem possível não é um lobo possível. Eles possuem definição: um homem possível é um animal racional possível. Possível significa alguma essência determinada que na verdade não existe, mas que pode existir […].
De fato, os possíveis dependem fundamentalmente da essência divina, mas constituem formalmente um ato do intelecto divino. Pois a considerar-se a pura essência divina, na verdade encontrar-se-á em sua simplicidade aquilo que pode ser objeto de imitação e participação, embora não imitando nem participando absolutamente dessa essência. […] Os possíveis são as idéias dos seres em Deus (cfr. Suma Teológica I, q. 15). […]
Nem se pode, de nenhum modo, imaginar a possibilidade de que tais coisas tenham outra realidade ou uma existência distinta da realidade e da existência do próprio Deus. Pois fora de Deus não existem, e em Deus nada existe a não ser apenas Deus. Portanto, os possíveis em Deus não se distinguem do ato divino pelo qual primeiramente se constituem e distinguem, e esse ato é ato puro, ou seja, Deus. Os intelectos criados podem, a seu modo, conhecer os possíveis pela participação naquele ato.
Pe. Charles Boyer S. I.
Sr. Frederico
(A propósito, minha avó, que morava na roça, tinha um lagarto de estimação por nome de “Frederico”).
Isto é o que se chama preconceito. Você já está pré-julgando os antigos discípulos do prof. Fedeli de uma forma negativa.
“Mau caráter” em português se escreve com U e sem hífen.
Concordo com você que “a contemplação não é uma imaginação ou fantasia”. No entanto, nem isto, nem nada do que você falou, infirma o que o Fedeli disse sobre o Plinio pretender atingir a contemplação mediante a imaginação ou fantasia. E é notório que os discursos de Plinio frequentemente apelam para o imaginoso ou o fantástico – como o próprio discurso da catedral, que poderia ser intitulado, “fantasias a partir de uma visita à catedral de Notre-Dame em Paris”.
Depende do que se entenda por inocência primeva. Que eu sei, a Igreja manda batizar as crianças e mesmo após o batismo elas conservam a concupiscência, que é a inclinação ao pecado. Por outro lado, Nosso Senhor também nos ordenou severissímamente respeitar a inocência atual das crianças. Mas não sei se uma coisa ou outra podem justificar ou fundamentar o que Plinio pensava a respeito dessa tal “inocência primeva” ou de sua importância.
O senhor falou, falou, mas não explicou o que vem a ser a tal “Trans-Esfera”, que eu não sei se é heresia ou não, mas que não deixa de ser uma expressão muito estranha e inencontrável em outros escritores católicos (pressupondo que o Plinio seja um escritor católico).
Não vi onde o Fedeli estivesse negando São Paulo. pelo contrário, o que está no texto é o Fedeli afirmando a doutrina de São Paulo para dizer que Plinio a negava:
O que vemos aqui é que Fedeli concorda com São Paulo. O que ele nega é que Plinio concordasse. Simplesmente devolver a mesma acusação ao acusador não prova que ela seja falsa.
Tudo bem, até concordo que uma limonada possa ser uma via para se conhecer as perfeições do Ser Absoluto. Porém, não é isso o que está escrito no texto do Plinio, nem o senhor provou que o texto foi distorcido ou mutilado. O texto não fala numa limonada como via para conhecer o Ser Absoluto (o que seria, apesar de um tanto vulgar e prosaico, perfeitamente legítimo no âmbito da filosofia aristotélico-tomista. O texto fala em “limonadérrima”… A menos que o Sr. Frederico considere que a “Limonadérrima” seja um Ser Absoluto, ou que o Ser Absoluto seja uma “Limonadérrima”. Os nativos do Peru adoravam o Sol, mas imagino que as pessoas só usem o verbo “adorar” em relação a uma limonada em sentido figurado…
Já saquei a tua (ou a de quem você copiou e colou o texto): quando o Plinio fala algo muito estranho do ponto de vista da filosofia ou da fé católica, ou mesmo uma bobagem fenomenal, você dá uma explicação razoável mas que, infelizmente, não tem nada a ver com o que o Plinio estava falando no texto.
Tudo bem, mas o arquétipo do chopp não é o Criador, é algo de distinto dele.
Tudo bem, mas você poderia deixar mais claro qual seja a diferença entre dizer que o passo inicial da contemplação “é uma espécie de sentir” ou que “está no sentimento”?
Sim, mas o pe. Tanquerey fala isso justamente para distinguir a contemplação sobrenatural da natural e, na contemplação natural, distinguir a contemplação intelectual da contemplação imaginativa ou sensível (parágrafos 1297 e 1298 da 5ª edição da obra).
Mas você também não ajuda muito, porque não ousa explicitar o que seja essa tal “Trans-Esfera” — expressão estranha que eu nunca vi usada por nenhum outro autor católico (concedendo ao Plinio o benefício de ser considerado um autor católico).
A metafísica é contraditória, como assim? A metafísica é a ciência do ser enquanto ser e o ser exclui a contradição (este é um dos primeiros princípios lógico-ontológicos, fundamento de toda metafísica). Contraditória é a suposta metafísica dos gnósticos, como a do idealismo hegeliano, assim como o materialismo marxista, que afirmam a possibilidade e a realidade da contradição, mormente como princípio universal.
Ademais, como a metafísica não existe fisicamente? É certo que a metafísica abrange também seres que não existem fisicamente, pois é a ciência do ser enquanto ser. Mas, por ser a ciência do ser enquanto ser, abrange também os seres físicos, pois estes também são seres.
Você está negando que o texto exista, ou supondo que ele não foi lido por tratar-se de um texto secreto?
E oculto não é sinônimo de esotérico?
E mais: reparo que nem os discípulos de Plinio Corrêa de Oliveira, nem os de Orlando Fedeli, depois da morte de seus gurus, são capazes de pensar por si mesmos…
Uma coisa não tem a ver nada com a outra e você continua sem explicitar o que seria essa tal Trans-Esfera que todo o mundo já está cheio de curiosidade de saber…
Fedeli não está contrariando São Paulo. Ele está criticando a frase atribuída a Plínio (o que você não negou) que diz “tudo o que existe é uma participação no que não existe” — frase que você parece defender. Depois, você fala em Deus perfeito. Você quer dizer que Deus perfeito não existe?
O que me deixa na mesma, visto que você ainda não teve coragem de explicitar o que seja esse troço.
Agora, nessa segunda postagem, você entra em contradição com a primeira. Naquela, você diz que negar que “tudo o que existe é uma participação no que não existe” era negar São Paulo… (o que considero uma bobagem fenomenal). Agora, você diz que a frase estava no contexto da fábula dos tais brasões da república aristocrática sem rei. Então você nega a defesa anterior da frase?
Acontece que Deus existe. E a frase é “tudo o que existe é uma participação no que não existe”, não no que “não seja materialmente tocado” (até porque existem seres que não são materialmente tangíveis).
O Gustavo não estava defendendo tese protestante nenhuma. Pelo que entendi, ele estava simplesmente negando que a justificação importava em mudança substancial, o que é correto, porquanto a graça santificante é uma qualidade sobrenatural que inere à natureza humana, sem substituí-la ou destruí-la. Vocês é que, para usar a expressão do Jorge Ferraz, estavam usando de “preciosismo terminológico” para difamá-lo como herege para desviar a discussão que o rapaz estava pretendendo fazer sobre o discurso do Plinio. Engraçado que vocês querem defender o Plinio das acusações de heresia que lhe foram feitas pelo Fedeli, mas não demonstram a mesma caridade para com um colega de discussão…
E mais, o Concílio Tridentino não fala em justificação ontológica, até porque essa palavra nem existia naquela época. O dogma da Fé, proclamado pelo Concílio, afirma que “a justificação propriamente dita não é somente remissão dos pecados, mas também santificação e renovação do homem interior, mediante a voluntária recepção da graça e dos dons” (Denzinger 1528) e anatemiza a tese contrária. Ora, quando foi que o Gustavo negou que a justificação importa a santificação e renovação do homem interior, assim como a recepção da graça e dos dons?
Pelo contrário, o que ele disse é absolutamente coerente com o definido pelo Tridentino:
Ele diz claramente que a justificação vai além da remissão dos pecados, mas faz possuir a vida de Deus na alma. Cadê a heresia?
Olha o ladrão gritando “pega-ladrão!” Não foram vocês mesmos que, para fugir do tema, passaram a acusar erroneamente de heresia o Gustavo só porque ele não usou o neologismo filosófico “ontológica” (neologismo do sec. XVII, o tempo da filosofia é mais lento que o nosso). Puro “preciosismo terminológico”, diria o Jorge Ferraz!
Eu concordo com o dogma da justificação tal como definido pelo Concílio de Trento e entendo que o Gustavo não divergiu do mesmo dogma.
Curioso que eu não me atrevo nem mesmo a chamar de herege o Senhor Doutor Plinio Corrêa de Oliveira, falecido profeta imortal de Higienópolis e filho da Santíssima (e horrorosa) Dona Lucília. A subscrever sem maiores considerações as acusações do Fedeli, prefiro dizer que muita coisa que o tal Plínio falou e escreveu é estranha do ponto de vista da filosofia e da doutrina católica. Mas vocês não têm escrúpulo algum em meter a pecha de herege num colega de discussão, apenas para defender o Profeta imortal falecido. E olha que alguém disse aqui, muito a propósito, que:
Frederico,
Salve Maria.
“O Gustavo estava defendendo uma tese protestante não porque entrou na discussão entre acidente e substância, mas porque negou que o batismo opere uma justificação ontológica na criatura.
Ele negou isso, assim como negam os protestantes.”
Estou de volta, vendo essa infrutífera polêmica por mim causada. Os post parecem intermináveis. Entretanto, fui acusado de defender doutrina protestante, acusação essa que me obriga a uma defesa.
A justificação do batismo é acidental e não ontológica,
pois as consequências do pecado original ( morte, doenças, contradições, ignorância e etc.) continuam presentes no homem ( ele continua com a possibilidade de pecar e perder a graça santificante recebida no batismo – e de fato peca, mesmo que venialmente)
A justificação ocorre, pelos méritos infinitos de Cristo que operam na alma através da ação da Graça. Somente a aceitação dela não fará que ela se mantenha na alma ( como pensam os protestantes). É necessário os outros Sacramentos para readiquirí-la quando se a perdeu ou ainda não a possuiu iniciamente ( sacramentos de mortos espiritualmente – O próprio Batismo aqui discutido, Penitência e Extrema Unção).Já para manter e aumentar a Graça na alma é necessário os sacramentos de vivos( A Eucaristia – o principal deles, e os também muito importantes que apontam para a Eucaristia: Crisma, Ordem e Matrimônio). Observe: os Sacramentos que fazem a Graça permanecer na alma impõem devereres rigorosos para as potências da Alma para que esta não só mantenha a Graça, mas a aumente.
Para a inteligência o dever é: conhecer a Verdade ensinada infalivelmente pela Santa Igreja. Para isso é necessário estudar. Virtude principal adquirida: Sabedoria
Para a Vontade o dever é : Amar e desejar o bem que foi ordenadamente conhecido pela inteligência. Para isso é absolutamente necessário a Oração que irá alimentar corretamente a mesma moderando os apetites desta.( A oração faz uma ponte de virtudes entre a inteligência e a vontade). Virtude principal adquirida: Castidade
Para a sensibilidade o dever é: praticar a caridade com as boas obras e mortificar os sentidos fazendo
sacrifícios. Virtudes principais adquiridas : Temperança/Bondade.
Disso tude se verifica que se no protestantismo a justificação do batismo é feita ao encobrir os pecados ( um erro grave e capital da heresia protestóide), no catolicismo a justificação obriga nos afastar deles voluntariamente através dos Sacramentos.
In Corde Iesu et Mariae semeper.
Gustavo.
Rapaz, eu fiz questão de voltar aos primeiros comentários deste post para verificar se eu havia cometido alguma injustiça absurda contra o Gustavo. Eu até admito que posso ter interpretado errado a primeira explicação dele (que é aliás discutível – e foi exatamente isto o que foi feito -, mas deixa para lá). Na segunda explicação, no entanto, a doutrina errônea parecia muito mais evidente do que a ortodoxia (uma vez que foi afirmado, verbis, que “[a] justificação não muda ontologicamente o homem”, insinuando ainda que a mudança seria meramente de comportamento). Mesmo assim, eu respondi dizendo ser uma “a única coisa que interessa para além das discordâncias terminológicas: a Justificação é intrínseca ao ser do homem”. Depois de muita conversa, terminei citando o Ludwig Ott e dizendo, verbis:
O Gustavo então confirmou, e eu nem voltei mais para este debate, dando-o por encerrado. Até que, uma semana depois, o sr. Cantagalo ressuscita o debate já pacificado, já com os dois contendedores em acordo, trazendo à baila (sim, repito o termo) preciosismos terminológicos e tratando-os como se fossem o aspecto principal desta discussão – inventando, portanto, uma inexistente oposição entre mim e o Gustavo. E quem fez isso foi a mesma pessoa que acusou, no último comentário, o sr. Frederico de… desviar a discussão!
Apenas comentando grosseiramente o resto da mensagem:
De fato, não sabia, e obrigado [sério] pela oportunidade de aprendizado. Mas isto não invalida absolutamente nada do que eu disse aqui até então, uma vez que eu aplicava “substância” no sentido de “substância primeira” e, no sentido de “substância segunda”, eu aplicava “natureza”, o que – para além de um preciosismo terminológico… – dá rigorosamente no mesmo.
Adoraria saber de onde foi tirado isso, uma vez que eu disse lá atrás que substância é “o que é individualizado”. Gostaria também de saber, ainda, qual é o uso no qual eu emprego o termo e no quê, exatamente, ele se distingue do uso em que eu afirmo o estar empregando. Aliás, gostaria de saber como é possível afirmar conhecer o sentido no qual um termo é empregado mais do que a própria pessoa que o emprega.
É “uma grosseira bobagem” somente se o senhor continuar travado na igualdade “substância = natureza”. A qual, aliás, nada do que eu disse até então o permite concluir que eu assuma. Aliás, fazê-lo é má-fé intelectual, uma vez que eu já disse aqui, com todas as letras, que “[a] única forma de ‘mudança ontológica’ ou de ‘mudança substancial’ não é ‘mudança na natureza'”.
Para mim, toda mudança ontológica é (a tautologia parece fazer-se necessária) mudança no ser e, portanto, é mudança na substância [primeira].
Por favor, diga-me então qual é “o sentido que eu quero”. Aliás, dada a reicindência, estou pensando em terceirizar para o senhor o encargo de arbitrar o sentido no qual eu emprego os termos que escrevo…
Tampouco eu jamais disse isso – ao contrário, estou desde o começo o negando.
Abraços,
Jorge
Gustavo, Salve Maria!
Eu não lhe chamei de protestante, apenas disse que a tese que você defendeu era protestante.
E você confirmou no seu último post, apesar do Sr. Cantagalo tentar contornar o tema.
O batismo opera a justificação da alma não porque nos leva a afastar do pecado, mas porque nos redime. Essa justificação faz com que o homem, do ponto de vista ** ontológico ** deixe de ser pecador.
Você está confundindo o conceito de “ontológico”, como se ele estivesse alterando a natureza do homem quando, na realidade, ele “justifica” a natureza decaída pelo pecado original.
Essa alteração faz com que o homem deixe de ser pecador (ontologicamente) enquanto que o conceito protestante nega isso.
O trecho que enviei para a lista não era meu. Era de um documento assinado por vários teólogos tradicionalistas e conservadores. Foi enviado a propósito do documento conjunto sobre a justificação que estava para ser assinado.
Essa explicação (que você não aceitou) é o centro do problema da justificação.
Ou o homem deixa de ser pecador e se torna santo (e capaz de adquirir méritos) ou ele continua pecador (e não pode adquirir méritos).
Diz S. Paulo: “completo em minha carne o que faltou no sofrimento de Cristo”.
Ele só pode fazer isso porque foi, ontologicamente, justificado em sua natureza decaída
In Domina
Frederico
Sr. Cantagalo, Salve Maria!
Deixe de se fazer de desentendido.
O Fedeli usa as palavras alterando os sentidos. É claro que o Dr. Plinio falava em imaginação, mas no sentido de idealização, enquanto o Fedeli usa a mesma palavra no sentido de fantasia, assim como você o fez.
Sua apreciação sobre o vídeo apenas demonstra a incapacidade de entender o que são os arquétipos, confundindo-os com uma fantasia, assim como fizeram tantos revolucionários ao longo da história, incapazes de admiração.
Eu lhe mostrei várias alterações de sentido que fez o Fedeli. Como era óbvio, você não é capaz de percebê-las ou prefere fingir que não percebeu.
Se você queria saber o que é transesfera, podia simplesmente ter entrado no google e encontrado. Sua pergunta apenas confirma como o Fedeli enganava seus discípulos, que nem mesmo conheciam os conceitos que ele criticava.
Um dos capítolos do livro que o Fedeli critica (inocência primeva), diz: “Uma visão sublimada e transcendente da realidade: a trans-esfera”
Ou, se preferir, é uma maneira de olhar de forma “transcendente” para a natureza criada, buscando nela arquétipos.
Peguemos uma definição que está no livro citado: — Trans-esfera é uma visão transcendente da realidade que resulta da contemplação dos possíveis de Deus, a partir do universo criado ou das obras dos homens, e que produz na alma que a ela se consagra um élan de união com o absoluto de Deus.
Se você quer entender como o Fedeli adultera os textos, leia o original:
http://www.pliniocorreadeoliveira.info/Livro%20da%20Inocencia/2008_IP_01_Sumario_Capa.htm
Leia o conjunto sem seus preconceitos que entenderá as diferenças entre o que disse o Dr. Plinio e como o Fedeli adultera o sentido.
In Domina
Frederico
Ah, ia me esquecendo de demonstrar como o discípulo segue o mestre e o Sr. Cantagalo faz como o Fedeli:
Diz ele que eu cometi uma contradição entre duas postagens que tratam do exemplo sobre o Brasões aristocráticos.
O Fedeli havia dito:
> “[Para Plinio:]Tudo o que existe é uma
> participação nisso que não existe”
> (PCO, A Inocência Primeva e a
> Contemplação Sacral do Universo,
> Instituto Plínio Corrêa de Oliveira,
> ed. Artpress, São Paulo, 2008, p. 230.
> E desse modo, PCO contraia
> diametralmente o que São Paulo
> afirma na Epístola aos Romanos (I, 20).
Ao que eu respondi: Infelizmente, é o Fedeli quem está contrariando S. Paulo, que mostra como, através das criaturas imperfeitas, pode-se conhecer ao Deus perfeito.
O Sr. Cantagalo, por sua vez, diz: Fedeli não está contrariando São Paulo. Ele está criticando a frase atribuída a Plínio (o que você não negou) que diz “tudo o que existe é uma participação no que não existe” — frase que você parece defender. Depois, você fala em Deus perfeito. Você quer dizer que Deus perfeito não existe?
Não vou nem mesmo comentar os devaneios do raciocínio que leva o meu interlocutor a achar que eu nego a existência de Deus… Vamos direto à comparação para ver quem está sendo contraditório.
No segundo post, onde haveria uma hipotética contradição, eu demonstrei como o Fedeli adulterou o sentido do texto do Dr. Plinio.
Para essa demonstração, usei três pontos. No primeiro deles, escrevi: 1) O Dr. Plinio não disse que tudo que existe é uma participação do que não existe. Pelo contrário, essa frase está dentro de um texto que diz, claramente, que o artista concebeu esse brasão. Ele não existe ** materialmente ** por não ter sido executado, mas ele existe enquanto conceito ordenativo dos demais brasões (criado pelo artista, portanto, existente).
Fazendo-se de desentendido, o Sr. Cantagalo responde: “Agora, nessa segunda postagem, você entra em contradição com a primeira. Naquela, você diz que negar que “tudo o que existe é uma participação no que não existe” era negar São Paulo… (o que considero uma bobagem fenomenal). Agora, você diz que a frase estava no contexto da fábula dos tais brasões da república aristocrática sem rei. Então você nega a defesa anterior da frase?”
Eu não havia dito que “negar que ‘tudo o que existe é uma participação no que não existe’ era negar S. Paulo. O que eu tinha dito era que o Fedeli estava negando S. Paulo por não aceitar que, através das criaturas (portanto, existentes) conhece-se ao Criador, portanto, também existente. E esse era o sentido do texto do Dr. Plinio, adulterado pelo Fedeli.
O que fez o Fedeli e repetiu o Sr. Cantagalo? O primeiro adulterou o texto original. O segundo, fazendo-se de desentendido, adulterou o meu.
Poderíamos pegar outros exemplos, mas de nada adianta responder a quem não quer ouvir.
In Domina
Frederico
Seu Jorge
Admitir que pode errar já é uma coisa muito boa, seu Jorge.
O Frederico acusando o Gustavo de defender tese protestante, e você aí bem quietinho, depois de ter dado munição ao dito cujo. Não falei nada na hora porque não pude, mas não é porque passou uma semana que eu vou deixar de reparar uma injustiça (ou você acha que o Gustavo estava se sentindo bem sendo acusado de defender heresia protestante?)
Num post a respeito de um discurso de Plinio Corrêa de Oliveira sobre catedrais medievais, tratar da ortodoxia do sr. Gustavo tem que nome? Fui eu quem começou isso?
Não aplicava nada, até porque confunde os acidentes com a substância (primeira ou segunda). Não foi você que disse isso aqui? — “Ainda: considerando o cachorro individual realmente existente, a substância primeira “Rin-tin-tin”, ser um Pastor Alemão é essencial e não acidental.” Substância vem do latim substare, é o que está debaixo dos acidentes, o suporte dos acidentes. Se você achava que “ser pastor alemão” fazia parte da substância do Rin-Tin-Tin, é evidente que você estava usando a expressão em nenhum dos seus dois sentidos (ser de determinada raça é acidente e, por definição, a substância não é acidente mas aquilo em que o acidente inere).
Régis Jolivet não é grande coisa (neotomista!), mas talvez algumas definições do manual dele possam ajudar você:
http://www.consciencia.org/cursofilosofiajolivet24.shtml
Simples, basta ler o que você escreveu! Em nenhum dos dois sentidos de substância (primeira ou segunda) ela é simplesmente “o que é individualizado”. A substância segunda é a essência considerada abstratamente, como universal; a substância primeira é a considerada concretamente, no indivíduo — o que não significa que tudo o que existe no indivíduo (por exemplo, a raça do Rin-Tin-Tim) pertença à substância, como o senhor parece pensar.
Leia a explicação do Jolivet. Como eu disse, trata-se de um manual não muito profundo, mas talvez seja o melhor para principiantes.
Infelizmente, Santo Tomás e Aristóteles estavam travados na mesma igualdade ao definir o que fosse natureza:
Et sic etiam philosophus dicit in V metaphysicae quod omnis substantia est natura. Tamen nomen naturae hoc modo sumptae videtur significare essentiam rei, secundum quod habet ordinem ad propriam operationem rei
http://www.corpusthomisticum.org/oee.html#69872
“E assim também diz o Filósofo no livro V da Metafísica que toda substância é natureza. Todavia, o termo natureza, quando é tomado deste modo, parece significar a essência da coisa na medida em que se ordena à operação própria da coisa”.
E, pior, a Igreja também está travada na mesma igualdade ao falar em “transubstanciação” para explicar a Eucaristia…
Ora, nem toda mudança no ser é substancial, até porque a substância é uma só entre as dez categorias em que se divide o ser. Em verdade, Aristóteles dividiu o movimento ou mudança em quatro classes, segundo as categorias em que possa ocorrer:
a) a mudança substancial: a passagem de uma substância a outra (a produção de sal e água a partir da reação entre ácido clorídrico e soda cáustica, a morte de um ser vivo, ou, no plano sobrenatural, a transubstanciação, na Missa);
b) a mudança qualitativa: a aquisição ou perda de uma qualidade pela substância: a mulher que pinta seus cabelos, a água que se solidifica pelo frio ou, no plano sobrenatural, o homem que recebe a graça santificante;
c) a mudança quantitativa: a árvore que aumenta de tamanho, o metal que se dilata pelo calor, o menino que cresce etc.;
d) a mudança local: a substância que passa de um lugar a outro.
Por isso, a justificação não é uma mudança substancial, mas qualitativa: o homem não deixa de ser homem ao ser justificado — ele permanece homem, só que agora justo.
Seu Frederico
Quem defende uma tese protestante é o quê? Por acaso é católico?
Deixe de falar bobagem. A definição do dogma é a do Concílio de Trento e o Gustavo já mostrou por mais de trezentas vezes que está de acordo com ela. Pouco me importa o que digam ou o que você acha que disseram teólogos tradicionalistas a mais não poder, ainda mais quando estão protestando contra um documento da Santa Sé…
Mais Frederico
É a primeira vez que vejo alguém falar de imaginação (de imagem) “no sentido de idealização” (de ideia). Mas fantasia não é o correspondente helenizante (phantasmata) da palavra imaginação com sua raiz latina (imago, imaginis)? Acho que quem está alterando o sentido da palavras é você mesmo…
Sim, confesso que sou um revolucionário incorrigível, totalmente incapaz de entender o que seja uma limonadérrima ou um chope da transesfera.
O que eu percebi é o seguinte: o Fedeli acusa o Plinio de ter dito uma bobagem fenomenal ou algo muito estranho do ponto de vista da fé católica e da razão natural. Aí você vem, xinga o Fedeli e fala algo perfeitamente razoável, mas que não explica em nada o que o Plinio falou nem refuta a acusação do Fedeli. Exemplo didático:
FEDELI – Plinio disse que macarronada cura espinhela caída.
FREDERICO – Fedeli é um mau caráter. Macarronada é uma massa italiana, feita com farinha de trigo e servida com molho de tomate.
Para que eu vou entrar no Google se eu posso perguntar diretamente a você, que pode me dar a explicação autêntica, com toda a garantia de imparcialidade, sem o perigo das distorções do Fedeli e quejandos?
Sinceramente, isso parece mesmo coisa dos escritores românticos do sec. XIX, uma tentativa de substituir o mundo real, criado por Deus, a realidade enquanto tal, por um mundo como simples ideia ou, pior, como pura imaginação. Um gosto mórbido pela lenda ou pelo mito, “como mais verdadeiros que a própria verdade” (Santo Irineu de Lião). Vejam só isto:
Os únicos que apreciam devaneios aqui são você e os tefepistas da trans-esfera.
Acusação que você não provou nem tem como provar, pois são inúmeros os textos em que o Fedeli não só aceita como defende que, por meio das criaturas existentes, chega-se ao conhecimento do Criador. Quem poderia ser acusado disso é o próprio Plinio, que pretende chegar ao Absoluto, não pelas criaturas visíveis (cf. Rm 1,20) e realmente existentes, mas pela imaginação, pela lenda, pelo “Carlos Magno irreal” e pelas transesferas da vida.
Ah, estou me sentindo um adúltero! :-)
E de nada adianta tentar defender o indefensável, não é mesmo? Sabe o que o senhor faz, seu Frederico? Vá sonhar com o Aldrovando da Trans-esfera, que é um Aldrovando irreal, porém mais profundo e sublime que todos os Aldrovandos reais, possíveis, virtuais ou imaginários. O Aldrovandérrimo!
Sr. CantaGalo, Salve Maria!
Eu não disse que o Gustavo era protestante, mas que era um católico que estava fazendo uma confusão de termos. Nessa confusão, a tese que ele acabou defendendo era protestante.
E ele está longe de ser um inocente atacado injustamente nesse debate. Foi ele quem começou o ataque contra o vídeo, assim como outros fedelianos começaram a fazer outros ataques, sempre para denegrir o Dr. Plinio através de falsas acusações.
O caso do Gustavo tinha sido resolvido quando o Sr. Jorge Ferraz, de maneira muito apostólica, transcreveu definições de um dicionário de teologia, com a qual o Gustavo concordou, passando ao lado da palavra “ontológico” que estava difícil de ser por ele entendida.
Pela tese anterior do Gustavo, Deus apenas viveria na alma da pessoa, através da Graça, mas a pessoa não viveria da vida de Deus pois isso, segundo ele, tinha sabor de gnose.
Quando ele concordou com o Sr. Jorge Ferraz, de que a graça do batismo produz uma santificação, assimilação, o debate estava encerrado.
Foi quando apareceu mais um Fedeliano, incapaz de debater de forma objetiva, que o assunto se tornou, novamente, confuso.
Aliás, foi também outro fedeliano que trouxe, anonimamente, novas acusações contra o Dr. Plinio.
Portanto, tenha ao menos a honestidade de reconhecer quem foi agredido aqui nesse debate ao invés de reclamarem quando desmascarados.
Sobre a definição que você trouxe da Justificação, você parece que não a leu inteira. Ela é clara em dizer aquilo que tem sido dito desde o início, ou seja, que ela produz uma santificação.
Essa santificação faz a alma justificada participar da vida de Cristo. Não são duas vidas (uma nossa e outra de Cristo), mas a nossa participação na vida de Cristo, sem haver confusão entre criatura e Criador.
Se é isso que o Gustavo pensa, estamos de acordo. Todavia, não era isso que ele defendeu, quando não queria entender que a graça faz com que a pessoa seja muito mais ela do que ela seria sem a graça de Deus.
S. Paulo não era outra pessoa quando se tornou santo, pelo contrário, após a santificação, ele era muito mais S. Paulo (pois refletia, de forma mais perfeita, aquilo que foi chamado a “ser” por Deus).
Esse é o sentido que está claro no vídeo e que o Gustavo insinuou ser gnóstico por usar a palavra “ser”…
Sobre o debate em relação às acusações do Fedeli, você, ao menos, reconhece que ele alterou o sentido no texto sobre o brasões? Ou também não é capaz de fazer isso?
No que diz respeito à palavra imaginação, aconselho-o a pegar um bom dicionário, onde encontrará umas cinco definições diferentes.
Não se atenha a uma teoria que aprendeu, mas ao sentido com o qual as palavras são ditas.
Lembre-se do que fizeram as falsas testemunhas do Evangelho ao dizerem que Nosso Senhor teria dito que reconstruiria o Templo em três dias. Nosso Senhor disse isso, mas não nesse sentido, ainda que as palavras fossem iguais. E, por isso, o Evangelho diz que mentiram.
In Domina
Frederico
Não sou fedeliano (você nem sabe quem sou eu pra fazer um julgamento desses), mas, já que você reclama de assuntos confusos, me explica uma coisa. Você disse:
Como a metafísica pode ser contraditória se é a ciência do ser enquanto ser e o ser exclui a contradição?
PS – Contraditória é a suposta metafísica dos sistemas gnósticos, como o idealismo hegeliano, que erigem a contradição em princípio universal.
São Paulo disse que já não era ele quem vivia, mas Cristo que vivia nele. Isso porque vivia a vida de Cristo e voluntariamente submetia-se à Sua vontade de tal forma a não mais parecer ter vontade própria, só a de Cristo. Mas São Paulo nunca disse que Deus era mais São Paulo do que São Paulo…
Cristo vivia em São Paulo, pela presença de inabitação. Pela presença de imensidade, Deus está presente no mais íntimo de todas as criaturas. Porém, isso não significa que Deus seja todas as criaturas ou que todas as criaturas sejam Deus ou, pior ainda, que Deus seja mais as criaturas que as próprias criaturas… O fato (o fatinho) de Frederico Viotti habitar uma casa, não faz desta casa um Frederico Viotti, nem se pode dizer que Frederico Viotti é mais a casa que a própria casa…
A Igreja sempre ensinou — e também a razão natural — que Deus é absolutamente distinto das criaturas. Deus não é nenhuma criatura, nem criatura alguma é Deus. Mesmo quando um teólogo cristão fala em deificação ou divinização ele não quer dizer que o homem vai se transformar em Deus, mas se refere à participação na vida divina. Participar, em sentido filosófico e teológico, significa ter em parte algo que outro ser tem por inteiro. Por exemplo, a panela no fogão, ao cozinhar, participa do calor do fogo — mas não tem calor em si mesma, nem torna-se fogo. Você pode ser muito santo, mas ninguém será tão santo a ponto de tornar-se a quarta pessoa da Santíssima Trindade.
Além disso, a frase “Deus é mais eu do que eu mesmo sou eu” é autocontraditória e, portanto, sem sentido. É a negação do princípio de identidade, que proclama que todo ser é idêntico a si mesmo (ou seja, ninguém é mais eu que eu mesmo). Não nego que seja uma frase de efeito, como o são todos os paradoxos, mas a rigor não significa nada objetivamente. É como se dissesse: A é mais B do que o próprio B é B.
No entanto, a frase, apesar de autocontraditória e absurda, está bem próxima do “tat tvam asi”, princípio do gnosticismo hindu, pelo qual todas as coisas, em seu mais íntimo, têm uma identidade profunda com o Absoluto (ao contrário do que ensina a doutrina católica e a filosofia aristotélico-tomista):
http://en.wikipedia.org/wiki/Tat_Tvam_Asi
Até porque o gnosticismo é autocontraditório e absurdo, uma vez que pretende fazer uma metafísica tendo por base a possibilidade e a realidade da contradição, como princípio universal.
Namastê, pra você, Frederico!
Salve Maria!
Parece até que o Sr. Uivalobo detectou a expressão “querelle de mots” (picuinha por palavras), usada acima para descrever alguns desenvolvimentos deste debate, e julgou que alguém estava requisitando seus serviços…
Serei breve: a sentença que o Sr. Uivalobo qualifica de “gnóstica”, “autocontraditória”, “hindu” etc., repito, nada mais é que uma citação de Santo Agostinho pelo Prof. Plínio.
Admito que exagerei com o “ipsis litteris”, pois na verdade se tratava de uma tradução, não literal, mas poética; todavia, tanto o verso claudeliano, quanto sua relação com o passo célebre de Santo Agostinho, são mencionados por muitos autores, donde não espantar encontrar a mesma relação num homem erudito como o Dr. Plínio Correa de Oliveira; um exemplo entre tantos:
Étienne Gilson, em L’Esprit de la Philosophie Médiévale, p. 341, não hesita em traduzir um com o outro, como se pode ver clicando no número da página que acabo de citar. (Ou então, presumo, adquirindo a versão em português, se não me engano, da Editora Permanência.)
Enfim, eu poderia citar ainda alguns bons textos que usam a mesma expressão de modo ortodoxo e rigoroso, mas me parece que, a esta hora da noite, bastam as duas citações acima.
* * *
Gustavo, meu caro, permita-me trazer aqui três citações que talvez ajudem você a entender o que permanece errado na sua abordagem da questão da graça, e que os amigos Jorge Ferraz e Frederico Viotti vêm tentando lhe mostrar com paciência heróica:
Ajudou?
Abraços,
Em JMJ,
Felipe Coelho
Felipe Fedelho, o discípulo perfeito do Orlando Fedeli, o que vem fazendo nestas paragens?
Você seria mais preciso se dissesse que a frase infeliz do Senhor Doutor Plinio era uma citação do poeta Paul Claudel, não de Santo Agostinho.
Pelo jeito, você não sabe latim. A frase de Santo Agostinho é “tu autem eras interior intimo meo”. Em português, literalmente, dá “tu, porém, eras mais interno a mim que o meu próprio íntimo”. Não tem nada a ver com “Deus é mais eu que eu mesmo sou eu”.
Apesar de sua raivinha, certas coisas você não pode negar:
E, como diria Horácio, “poetis omnia licet” — como você não sabe latim, traduzo: “aos poetas tudo é permitido”. Mesmo violar o princípio da não-contradição. Jus poeticum, licença poética. Existe mesmo a poesia do absurdo. Ionesco que o diga. Quem sabe agora os tefepistas, cansados de aguardar o retorno do Profeta imortal, fiquem esperando Godot…
Declamando versos de Paul Claudel!
Afinal, quem não garante que Paul Claudel seja o Santo Agostinho da Transesfera? Um Santo Agostinho com jus poeticum, mais profundo que o Agostinho real! Como o Carlos Magno da lenda!
A obra em que você achou a suposta genealogia da frase de Plinio tem nome bem sugestivo: Mythes claudéliens!
Poesia, lendas e mitos! Isso já está virando uma novela romântica de Sir Walter Scott! Só falta a capa e a espada!
Eu não qualifiquei sentença nenhuma de gnóstica ou hindu. Eu disse que a frase é autocontraditória. E é mesmo: A é mais B do que B é B. Se isso não é um enunciado autocontraditório, não sei o que mais possa ser. E disse que a frase estava mais próxima do tat tvam asi (esta sim uma frase hindu, seu Fedelho!) do que da frase original de Santo Agostinho (antes dela ser transfigurada poeticamente pelo gênio de Paul Claudel, é claro!).
E não está mesmo?
Na medida em que é possível uma expressão absurda ser empregada de modo ortodoxo e rigoroso, não é verdade? Ocorre que textos, não apenas bons, mas ótimos, não têm o condão de apagar o absurdo de uma frase intrinsecamente contraditória. O fato dela ser repetida não a torna mais coerente. Esse teu pensamento lembra um pouco o de Joseph Goebbels.
E mais, Fedelho, agradeço pela caridade: Uivalobo! O lobo, de fato, é temido por coelhos e fedelhos.
Prezado Lobo em Pele de Galo, Salve Maria!
Longe de sentir pelo senhor “raivinha”, como bem mesquinhamente me atribui, estou é me divertindo um bocado com sua cruzada metafísica contra o uso de paradoxos.
É bem ridícula!
Ainda bem que você não é exegeta! Do contrário, a blasfêmia não teria fim…
Imagino ainda a sua cara, ao saber que escreveu parágrafos e parágrafos de análise metafísica, desmontando… um verso de Claudel!
E traduzindo Santo Agostinho!
(Mas não sei se é mais ridícula que seu costume grotesco de votar em seus próprios posts, tão logo os publica…)
De todo o modo, saiba que, ao contrário de você, jamais fiz piadas de mau gosto com o nome alheio, afinal, você nem mesmo teve a hombridade de, numa discussão grave como esta, envolvendo a reputação de uns e outros, utilizar seu próprio nome…
Ademais, o que há de errado em lembrar o parentesco lupino a um personagem de Monteiro Lobato?
Enfim, aguardo sua demonstração rigorosamente tomista do caráter autocontraditório e gnóstico hegeliano ou hindu da Divina Comédia…
Em JMJ,
Felipe Coelho
Sr. Felipe Fedelho
Suas manifestações de irritação contra minha participação nesta parlenda são por certo muito divertidas, mas não infirmam o que falei sobre o caráter autocontraditório da sentença em questão.
E aí, já reconheceu a legitimidade do pontificado de Sua Santidade Bento XVI ou continua sua pertinácia no sedevacantismo?
Sr. Cantagalo,
Creio que existam aqui duas questões distintas: a primeira é referente a uma suposta participação minha em um suposto linchamento moral do Gustavo em cuja defesa o senhor apareceu vestido de armadura brilhante; e a segunda é sobre conceitos filosóficos e sua aplicação.
Quanto à primeira, eu continuo pensando que o senhor atrapalhou muito mais do que ajudou, uma vez que agora – e graças ao senhor – o Gustavo voltou a dizer que “[a] justificação do batismo (…) não [é] ontológica”. Como eu disse desde praticamente a primeira vez que me manifestei aqui, penso que o problema é terminológico; mas dada a polêmica gerada, acho que não se pode descartar que o problema seja de compreensão mesmo, e a confusão que poderia ser mais facilmente dissipada quando se colocava de lado uma querela terminológica quase irrelevante agora fica muito mais difícil porque as duas partes passam a lutar encarniçadamente pela defesa da forma com a qual se expressaram.
Quanto à segunda:
Tá, então me explique o seguinte: ser homem [= “varão”, em oposição a “mulher”] é essencial ou é acidental no indivíduo Aldrovando Cantagalo?
Sendo acidentes qualidades que não fazem com que a coisa deixe de ser aquilo que é, eu consigo me imaginar perfeitamente mais negro ou mais branco, mais alto ou mais baixo, sendo empregado ou empregador, andando ou parado, irado ou calmo, em casa ou no trabalho, sentado ou deitado, nascido em fevereiro ou em abril, nu ou vestido, sem que no entanto eu deixe de ser o que sou. No entanto, não consigo de nenhuma maneira imaginar como eu poderia ser mulher e continuar sendo o mesmo indivíduo que sou, ou como “ser homem” e “ser mulher” podem ser consideradas qualidades da mesma espécie de ser careca ou cabeludo.
Se não for muito incômodo, peço que responda com explanações detalhadas de filósofos ou de manuais de filosofia sobre a questão específica (p.ex., o Jolivet não fala absolutamente nada sobre isso).
Da resposta a isto dependem as minhas outras dúvidas sobre substância e “o que é individualizado”, sobre substância e natureza e sobre modalidades de mudança.
Abraços,
Jorge
Ser varão é um acidente do indivíduo Aldrovando Cantagalo. O que é essencial é ser homem, ser humano. A forma substancial do homem é a alma e a alma não tem sexo. Observe a seguinte sentença de Santo Antão:
http://www.cristianismo.org.br/sent-sab/se-ant25.htm
Sim, isso é verdade, porque a distinção entre acidentes e substância não é apreendida pela imaginação, mas pela inteligência. Fisicamente, acidentes e substância são inseparáveis. E, do mesmo modo, você não pode imaginar o acidente “cor branca” a não ser inerindo nalgum objeto, só que imaginar um objeto branco não é a mesma coisa que apreender o acidente “cor branca” enquanto tal. Do mesmo modo, o acidente sexo masculino só pode ser imaginado como inerindo nalgum animal.
Sr. Caio Julio,
Mas isto não é razoável. A definição de “essencial” como “aquilo sem o qual o ser não é ele próprio” torna-se, deste jeito, totalmente arbitrária.
Ter três lados é essencial em um triângulo, ou não? Por que eu não poderia dizer “os triângulos não existem, o que existem são os polígonos, e ter três ângulos é acidental no indivíduo ‘Triângulo das Bermudas’ que é substancialmente um polígono, para o qual o essencial é que tenha um número qualquer de lados”?
Por que eu não poderia dizer então que “ser humano” não existe, o que existe é “criatura”, e um humano é simplesmente a substância “criatura” na forma acidental de “homem”?
Por que eu não poderia, ainda, dizer que a única coisa que existe é “energia”, e átomos então são a substância energia na forma acidental de matéria, ou que carbono são a substância “átomos” na forma acidental de “unidos-de-seis-em-seis”, ou ainda que cachorros são a substância “átomos de carbono” organizados na forma acidental de um mamífero quadrúpede que late?
É na inteligência mesmo que está o problema – vide acima.
Mas eu posso imaginar a cor branca na minha mesa e imaginar a cor vermelha na minha mesa e, mesmo assim, manter a unidade da minha mesa (= é a mesma mesa, quer branca, quer vermelha). Como posso me imaginar careca ou cabeludo, sendo eu mesmo. O que não dá, de nenhuma maneira, é para me imaginar mulher sendo eu o mesmo indivíduo.
Abraços,
Jorge
Pode não parecer razoável, pela dificuldade de abstração. Além disso, de onde você tirou essa definição de essência? Ela não é exata mas, em vez de citar qualquer manual de filosofia, vou citar o próprio Santo Tomás de Aquino, em seu famoso De Ente et Essentia, no capítulo em que ele tenta definir o que seja essência e os vários pontos de vista em que ela pode ser considerada:
«Et quia illud, per quod res constituitur in proprio genere vel specie, est hoc quod significatur per diffinitionem indicantem quid est res, inde est quod nomen essentiae a philosophis in nomen quiditatis mutatur. Et hoc est quod Philosophus frequenter nominat quod quid erat esse, id est hoc per quod aliquid habet esse quid.
Dicitur etiam forma secundum quod per formam significatur certitudo uniuscuiusque rei, ut dicit Avicenna in II metaphysicae suae.
Hoc etiam alio nomine natura dicitur accipiendo naturam secundum primum modum illorum quattuor, quos Boethius in libro de duabus naturis assignat, secundum scilicet quod natura dicitur omne illud quod intellectu quoquo modo capi potest. Non enim res est intelligibilis nisi per diffinitionem et essentiam suam. Et sic etiam philosophus dicit in V metaphysicae quod omnis substantia est natura. Tamen nomen naturae hoc modo sumptae videtur significare essentiam rei, secundum quod habet ordinem ad propriam operationem rei, cum nulla res propria operatione destituatur. Quiditatis vero nomen sumitur ex hoc, quod per diffinitionem significatur. Sed essentia dicitur secundum quod per eam et in ea ens habet esse.»
http://www.corpusthomisticum.org/oee.html#69872
“E porque aquilo pelo qual a coisa é constituída em seu próprio gênero ou espécie é o que significamos pela definição, a qual indica o que é a coisa. Daqui procede que o nome ‘essência’ foi mudado pelos filósofos para o nome ‘quididade’. É por isso que o Filósofo, no livro VII da Metafísica, frequentemente chama a essência de ‘aquilo que é o ser’, isto é, aquilo pelo qual algo possui um determinado ser.
“A essência também é dita forma, na medida em que pela forma é significada a perfeição ou certeza de cada coisa, conforme diz Avicena no livro III de sua Metafísica.
“A essência também é dita natureza, na medida em que tomamos o termo no primeiro daqueles quatro modos que são apontados por Boécio no livro Das Duas Naturezas, segundo o qual é dito natureza tudo aquilo que de algum modo pode ser apreendido pelo intelecto. De fato, nenhuma coisa é inteligível senão por sua definição e essência. E assim também diz o Filósofo no livro V da Metafísica, que toda substância é natureza: porém o nome de natureza, tomado deste modo, parece significar a essência da coisa na medida em que tem ordem ou ordenação à operação própria da coisa, já que nenhuma coisa é destituída de operação própria. O nome ‘quididade’, porém, é tomado de algo ser significado pela definição; enquanto a essência é dita na medida em que nela e por ela a coisa tem o ser”.
Assim, Santo Tomás ensina que são sinônimos, embora cada termo seja empregado de um ponto de vista: essência, substância, quididade, forma e natureza.
Essência é aquilo que o ente é. Por exemplo, homem (homo, hominis, não vir, viris) é a essência de Jorge Ferraz.
Substância é a essência enquanto suporte dos acidentes. Você pode considerar a substância abstratamente, isto é, pensada independentemente de seus acidentes (substância segunda), ou concretamente: aquela substância em que de fato inerem os acidentes do Jorge Ferraz (substância primeira).
Quididade é a essência enquanto resposta à pergunta “quid est? — o que é isto? Diante do Jorge Ferraz eu pergunto: o que é isto? Resposta: um homem. Ser homem é a quididade do Jorge Ferraz. Diante do Rin-Tin-Tin pergunto: o que é isto? Resposta: um cão, e por aí vai.
Forma é a essência enquanto causa formal, isto é, na medida em que é a causa da coisa ser o que é. As coisas materiais são produzidas pela união de matéria e forma: a matéria é pura indeterminação, pura potência; a forma é o princípio ou a estrutura que confere determinações à matéria — por isso Santo Tomás lhe chama essência. Mais adiante, ainda no De Ente et Essentia, Santo Tomás vai dizer que, embora se possa dizer que a forma é essência, esta é melhor dita da união da matéria e forma (o sínolo). Mais explicações sobre a distinção entre matéria e forma:
http://www.cristianismo.org.br/efp2-18.htm#A
Natureza é a essência enquanto princípio das operações do ente. Assim, quando se diz que a natureza do homem é racional, com isso se quer referir à essência do homem, enquanto princípio de suas operações (a operação racional, ao menos em potência, pertence à essência do homem).
Ter três lados é essencial num triângulo, mas é acidental que o triângulo seja escaleno, isósceles, equilátero… Veja só como acidentes e substância são coisas que não se podem separar pela imaginação, mas apenas pela inteligência: você entende perfeitamente que isósceles, escaleno ou equilátero não pertencem à essência do triângulo, mas sabe que não pode imaginar um triângulo independentemente desses acidentes (você sempre imaginará um triângulo que seja equilátero ou isósceles ou escaleno).
Além disso, os triângulos não são coisas reais, são possíveis, entes de razão. Quando falamos de Rin-Tin-Tim ou de Jorge Ferraz, estamos falando de coisas reais, entes que realmente existem. A filosofia de Aristóteles e Santo Tomás de Aquino pressupõe que os conceitos de essência (ou substância) e acidentes podem ser aplicados às coisas reais, significando determinações que existem realmente e que são realmente distintas, indo além de meros modelos conceituais relativos criados pelo homem para lidar com os fenômenos. Assim, ou Rintintim e Jorge Ferraz têm a mesma essência ou têm essências diferentes, pertencendo a espécies de entes diferentes. Outro pressuposto de Aristóteles e Santo Tomás de Aquino é que não existe essência do individual nas coisas corpóreas. Dois entes corpóreos da mesma espécie não se distinguem pela forma (ou natureza), mas pela matéria (materia signata quantitate, matéria assinalada pela quantidade) — a forma universal do homem, aplicada a esta matéria aqui, tem como resultado o Jorge Ferraz.
Esta é a 11ª Tese Tomista, dentre as 24 Teses publicadas pela Sagrada Congregação dos Estudos e aprovadas por Sua Santidade, o papa São Pio X, aos 27 de julho de 1914 (trata-se, portanto, de um documento do magistério eclesiástico):
«A matéria marcada pela quantidade é o princípio de individuação, isto é, da distinção numérica impossível nos puros espíritos, pela qual um indivíduo se distingue de outro na mesma natureza específica.»
http://www.aquinate.net/portal/Tomismo/Filosofia/tomismo-filosofia-as-24-teses-tomistas.htm
Portanto, segundo a filosofia de Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, o Jorge Ferraz não possui outra essência que não aquela comum a todos os homens (de ambos os sexos). Além disso, a própria teologia pressupõe que todos os homens tenham a mesma natureza, para explicar a eficácia da redenção a partir da natureza humana de Jesus Cristo.
Foi o Bem-aventurado João Duns Escoto, já na fase de decadência da escolástica, que aventou a hipótese de uma essência individual, já prenunciando o individualismo da filosofia moderna. Era o que ele chamava de haeceitas (heceidade), de haec, “este”, em latim. A heceidade seria um princípio formal que faria do Jorge Ferraz não apenas um homem, mas este homem aqui. Particularmente, eu acho a filosofia de Duns Escoto muito esquisita, até porque ele sustenta ser impossível provar pela razão natural a imortalidade da alma humana.
Penso que a resposta a esta pergunta já está dada nas considerações supra.
A rigor, átomos não existem. São modelos com base nos quais os cientistas fazem seu trabalho de controle e previsão dos fenômenos naturais. Em geral, átomos isolados são partículas muito instáveis que representam mais uma fase de transição (um movimento, diria Aristóteles) do que propriamente um estado. Se a memória não me falha apenas os átomos dos gases nobres são estáveis a ponto de não necessitarem formar agregados atômicos (moléculas e cristais) para se estabilizarem. Além disso, os seres vivos possuem operações imanentes que os fazem substancialmente distintos do mundo mineral ao seu redor.
Aí é que está, imaginando você não vai chegar algum, porque essas noções metafísicas só podem ser pensadas.
Prezado Aldrovando,
Salve Maria!!!
Reconhecendo que o movimento acidental da minha
potência inteletiva no assunto não é lá grandes coisas
e a partir da sua breve exposição tomista formulo a
questão:
Posso dizer que a substância do corpo é material e a da alma é espiritual? Se sim , concluo que ambos em seus movimentos acidentais ( em específico da alma , abordada aqui com suas capacidades de inteligir, desejar e sensibilizar ) não mudam suas substâncias ( equanto existem ),logo não ocorre uma mudança ontológica no ser, e sim uma mudança acidental com acréscimo de qualidades nos entes em questão.
De passagem:
” e filho da Santíssima (e horrorosa) Dona Lucília.”
Ao ver o vídeo abaixo me lembrei dessa sua frase acima
http://www.youtube.com/watch?v=YXUu1QyyvYA
Vídeo interessante esse… o Dr.Plínio passa da contemplação dos olhos da mãe dele para a Virgem maria num “pulinho” que eu nunca vi antes um católico fazer.
In Corde Iesu et Mariae semper.
Gustavo.
semper
Cantagalo, Salve Maria!
Deixe de ser orgulhoso e leia com atenção o texto.
Quando eu disse que a metafísica é contraditória eu fiz uma **ironia** sobre a burrice do texto do Fedeli.
Sua falta de entendimento sobre a graça é patente, como foi o caso do Gustavo.
Ademais, indico-lhe os textos de Santo Tomás sobre Deus como princípio ordenativo e causa exemplar, onde entenderá um pouco do que confunde com gnose.
O Dr. Plinio faz, explicitamente, a distinção entre criatura e Criador. Ele não precisava fazer isso, mas era provável que estivesse preocupado com espíritos azedos e críticos como você.
Deus é o arquétipo último de todas as criaturas. É nele que está o verdadeiro S. Paulo e é nesse sentido que Deus é mais S. Paulo do que S. Paulo é S. Paulo.
A frase de S. Paulo (já não sou eu quem vivo, mas Cristo quem vive em mim) não tem sentido se você não entender que Deus transformou S. Paulo em um S. Paulo melhor, mais parecido com Deus e também com o próprio S. Paulo (como foi criado para ser S. Paulo e não como ele era antes de transformado em Cristo).
Deus é a causa exemplar. Nós somos criados à semelhança, mas perdemos essa semelhança com o pecado. A graça nos faz, novamente, semelhante à Deus (que é, nesse sentido, o original a quem nos assemelhamos).
Sem isso, você simplesmente não entende o conceito de santificação, assimilação, que é o mesmo erro do Gustavo.
In Domina
Frederico