En la calle

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Parando rapidamente para pegar uma pizza. A conectividade cá em España está a pior possível! Mas estamos na Jornada!

Madrid está belíssima. Não existe uma estação de metrô onde não encontremos grupos e mais grupos de jovens padronizados, aqui vindos para ver o Papa. Jovens que fazem questão de mostrar a quê vieram. Somos brasileiros e espanhóis, franceses e alemães, italianos e finlandeses e tantas outras nacionalidades que eu sequer sabia existirem. Mas, antes e acima de tudo, somos católicos. E hoje é dia de testemunhar publicamente a Fé.

Aviso

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Em viagem! Graças ao bom Deus, tudo correu bem. Desde hoje pela manhã estou em terras espanholas – agora, mais especificamente, en Castilla y León -, onde devo me juntar nos próximos dias aos outros milhares de peregrinos que aqui viemos para ver o Papa!

São centenas de milhares de inscritos de todo o orbe para a Jornada Mundial da Juventude, que ocorre em Madrid na próxima semana. Multidões de jovens acorrendo ao Vigário de Cristo. A testemunhar a vitalidade de uma Fé de 2000 anos. Aqui estarei! Para saudar o Papa, e oferecer-lhe publicamente, uma vez mais, minha submissão filial.

Aqui, na foto, um quarto de hotel bagunçado, longe de casa. Todo sacrifício vale a pena. Tudo para o convívio dos próximos dias.

Ateus: reencenando velhos erros

Eu acho engraçado como ainda existem estudiosos com a audácia de prever que o ateísmo tomará o lugar das religiões. Parece que eles não aprenderam nada! Durante o Iluminismo francês, Voltaire já previra o fim da Igreja Católica para muito em breve, acusando-A de atrapalhar os avanços científicos (mesmo que grande parte dos cientistas da época fossem jesuítas) – como se vê, nada mudou. Faz quase trezentos anos! E o nosso século, que se gaba de ser progressista e avançado, ainda se mantém terrivelmente preso aos preconceitos iluministas. Enquanto o mundo gira e a Cruz permanece inabalável, enquanto os inimigos de Deus passam e a Igreja de Cristo permanece, parece não haver nada de novo sob o sol. Os modismos (inclusive os intelectuais) passam, e a palavra de Deus permanece. Os homens já deveriam ter aprendido. Mas somos uma gente de cerviz dura.

Écrasez l’Infâme! Esmagai a Infame! Embora a perseguição exista desde a época de Cristo, creio ter sido Voltaire o primeiro a formular o grito de guerra neste imperativo satânico. Contudo, o mais impressionante é que Voltaire perdeu e, mesmo assim, possui ainda hoje uma multidão de asseclas seguindo-lhe os passos que a História já mostrou não levarem a lugar algum – senão a um precipício. Por quê?

O fenômeno parece apresentar-se em todos os lugares – recentemente eu lia sobre um pastor protestante ateu… E, por mais que seja necessário relativizar os dados do estudo (pois quem se diz “sem religião” não quer, nem de longe, dizer-se “ateu”), o fato é que as coisas me parecem estar encaminhadas nesta direção sim. Afinal, o individualismo é já o primeiro passo para o ateísmo (como aliás mostra o caso do pastor ateu). Ter uma confiança absoluta em si é já ter perdido o senso das proporções, é já ter direcionado o seu ato de fé para quem dele não é digno. Daqui para o ateísmo explícito, é só dar mais alguns passos.

Trata-se, no fundo, de uma antiquíssima tentação, de um pecado provavelmente tão velho quanto o próprio mundo – quiçá ainda mais. Trata-se de uma paráfrase (apresentando-se sempre em formas novas mas, no fundo, com a mesma essência podre e carcomida pelos séculos de sempre) do Non Serviam! que Lúcifer lançou à face do Deus Onipotente. O ateísmo não é senão um orgulho doentio, uma confiança desmesurada em si próprio.

Recentemente alguém me falava de um filósofo que postulara a inexistência de Deus “argumentando” que seria inconcebível existir alguma coisa maior do que ele [= o autor do “argumento”] próprio. É bastante óbvio que isto não é um argumento, mas é uma desculpa psicológica que ao orgulhoso sem dúvidas deve parecer bastante razoável: “não, eu não acredito que exista alguém maior do que mim”. Para mim, é exatamente este o pensamento que a imensíssima maioria dos ateus faz – mesmo que seja apenas tacitamente, no fundo do coração, repetindo-o freqüentemente para amortecer a própria consciência.

Afinal, o que é a fé inabalável na Ciência senão uma confiança absoluta no poderio humano e, portanto, em si próprio – parte da espécie humana? Existe porventura alguém que exija confiança cega na inteligência humana e que não esteja, no próprio ato de proferir este dogma, pensando em sua própria inteligência? Colocar o progresso (feito por homens e direcionado a homens) como fim último da vida humana não é incluir-se entre os artífices disto que se compreende como sendo a razão da existência? Por mais voltas que demos, não dá para escapar da inevitável conclusão: “eu sou a coisa mais importante do mundo, e não pode existir no mundo nada mais importante do que eu”.

Assim, muito ao invés de ser um ato de “inteligência”, de “liberdade” ou de qualquer outro nome pomposo que lhe queiramos dar, o ateísmo é no fundo um ato de orgulho. Se o nosso mundo está ficando mais ateu, isto significa simplesmente que estamos criando gerações de orgulhosos pretensamente auto-suficientes, que julgam ter o rei na barriga e entendem que o modelo ptolomaico está errado porque o universo inteiro, afinal de contas, gravita em torno de seus próprios umbigos. Portanto, isto é antes motivo de sérias preocupações do que de júbilo. Como na esmagadora maioria das coisas que o engenho humano é capaz de produzir por si só, este “mundo ateu” é pobre, feio, mesquinho, triste, degradante.

Decreto sobre indulgência plenária para JMJ 2011

[Original: Vaticano.

Tradução: Canção Nova. Grifos neste.]

Decreto sobre indulgência plenária
para JMJ 2011

Concede-se a Indulgência Plenária aos fiéis que, em ocasião da 23ª Jornada Mundial da Juventude, estarão em Madri em espírito de peregrinação; também poderão conseguir a indulgencia parcial todos aqueles que, onde quer que estejam, rezarão pelos propósitos espirituais deste encontro e para o seu feliz êxito.

Chegou à Penitenciaria Apostólica a suplica de Sua Eminência Reverendíssima Antonio Maria Rouco Varela, cardeal arcebispo de Madrid e Presidente da Conferencia dos Bispos da Espanha, para que os jovens pudessem obter os esperados frutos de santificação da 23ª Jornada Mundial da Juventude, que se celebrará de 16 a 21 de agosto, na capital, e que terá como tema: “Enraizados e fundamentados em Cristo, firmes na fé” (cfr Col 2,7).

A Penitenciária Apostólica, tendo exposto ao Santo Padre estas considerações, foi munida de faculdades especiais para conceder, mediante o presente Decreto, o dom da Indulgência, segundo a mente do próprio Pontífice, como se segue:

Concede-se a Indulgência Plenária aos fiéis que devotamente participarão a todas as funções sacras ou exercícios que se desenvolverão em Madrid durante a 23ª Jornada Mundial da Juventude até a sua conclusão solene, fazendo, além disso, a confissão, e depois disso recebendo a Santa Comunhão e a oração pelas intenções de Sua Santidade.

Concede-se a Indulgência parcial aos fiéis, onde quer que se encontrem, durante o referido encontro, desde que com a alma contrita elevem as suas orações a Deus Espírito Santo, a fim que os jovens sejam motivados pela caridade e tenham a força para anunciar com a própria vida o Evangelho.

A fim que depois os fiéis possam mais facilmente tornar-se participantes destes dons celestes, os sacerdotes legitimamente aprovados para a escuta das confissões sacramentais, com alma pronta e generosa, se prestem a recebê-las e proponham aos fiéis orações publicas para o bom êxito da “Jornada Mundial da Juventude”.

O presente decreto tem validade para esta ocasião. Mesmo diante de qualquer contrária disposição Roma, da Sede da Penitenciária Apostólica, 2 de agosto, ano da Encarnação do Senhor 2011, na pia memória da “Porciùncola”.

FORTUNATO Card. BALDELLI
Penitenciário Maior

“Parece um bonequinho, tem que apertar a descarga e torcer para não entupir” [sobre aborto clandestino]

Após aborto, mulheres entram em hospitais como pacientes e saem indiciadas. Esta é a chamada pró-aborto de uma notícia daqui do Diário de Pernambuco da última segunda-feira. Ao longo da matéria, a crítica aos médicos que – supostamente – acionam as autoridades policiais após perceberem que suas pacientes tentaram cometer o horrendo crime do aborto.

Eu não vou nem comentar o notório viés da “pesquisa inédita” noticiada, que tem entre seus autores o abortista “Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero” (Anis) e em particular a dra. Débora Diniz, escancaradamente pró-aborto. Também não vou comentar a irrelevância estatística do estudo apresentado, que contou com o fantástico número de… 7 (isto mesmo, sete!) mulheres (!). Não sei, também, se o médico (ou qualquer outro profissional) realmente está impedido de chamar as autoridades policiais quando se depara com um crime diante de si.

Vou comentar somente um ponto que talvez passe batido à primeira leitura do texto. Refiro-me ao parágrafo que segue, contando a história de Joana (nome fictício), atualmente “com 27 anos, mãe de dois filhos”:

Depois do primeiro aborto, aos 16 anos, ela recorreu à prática mais três vezes, em um curto espaço de tempo. Chegou a tomar um preparo que incluía boldo e querosene, em certa ocasião. Hoje, casada, mãe de um garoto de 13 e uma menina de três, Joana faz um mea-culpa, mas explica que o desespero toma conta da mulher que se vê diante de uma gestação indesejada. “Acho que agiria diferente se fosse agora. Não sei se teria todos os filhos, mas evitaria engravidar. Naquela época, me faltava juízo”, diz a diarista, que atualmente não descuida do anticoncepcional. Ela acredita que ninguém passa por um aborto impunemente. “Não é por causa de religião, mas acho que um dia serei cobrada. O castigo começa na hora em que você vê o feto, parece um bonequinho, tem que apertar a descarga e torcer para não entupir.”

Do chocante exposto acima, nós podemos ver que:

i) trata-se de um procedimento amplamente banalizado, a ponto de uma garota fazê-lo quatro vezes (!) em “um curto espaço de tempo” (!) sem que ninguém pareça ter se importado minimamente com isso;

ii) Joana hoje em dia é mãe de dois filhos, o que foi sorte – uma vez que abortos podem provocar esterilidade;

iii) mesmo tendo provocado pelo menos quatro abortos, Joana se arrepende e diz achar que agiria diferente se fosse agora; o que faz com que seja uma tremenda vigarice apresentá-la como exemplo capaz de provocar clamor pela liberação do aborto no Brasil; e

iv) a garota descreve com uma frieza enojante – digna de alguma psicopatia – o procedimento de ocultação de cadáver do seu filho recém-assassinado: «você vê o feto, parece um bonequinho, tem que apertar a descarga e torcer para não entupir».

Se fosse algum maníaco sexual explicando em detalhes o procedimento de estupro de suas vítimas, a narrativa certamente feriria a susceptibilidade dos leitores e não seria veiculada. Se fosse um assassino explicando pormenorizadamente como se desfez do corpo de alguma vítima (p.ex., cortando em pedaços e jogando aos cachorros), muitos iriam se revoltar com esta frieza doentia. Ora, aqui nós temos uma mulher falando sobre como “se livrar” do cadáver de uma criança (o filho dela!) por ela assassinada! É sintomático que isto não provoque a indignação dos leitores do jornal. É um absurdo que clama aos céus uma confissão dessas ser utilizada para fazer a apologia do assassinato de crianças, pintando os criminosos como vítimas e tentando macabramente angariar-lhes simpatia. Quanto à criança, brutalmente assassinada e lançada no esgoto, com esta ninguém se importa, esta ninguém vê – contanto que não entupa o vaso sanitário. Que Deus nos perdoe.

O “Orgulho Hétero” e o amor conjugal

Certas coisas valem mais pelas reações que provocam do que por elas mesmas. Na semana passada, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou a criação do “Dia do Orgulho Hétero” – “um protesto contra os privilégios dados aos gays”, segundo o autor da proposta (deputado Carlos Apolinário).

Eu não posso dizer que fui um grande entusiasta da ação, por diversos motivos – entre os quais a nossa dignidade. Não acho correto rebaixarmo-nos ao nível dos vícios e concedermo-lhes a (totalmente injusta e imerecida) honra de um tratamento de igual para igual. O “orgulho gay” é uma ideologia subversiva e anti-natural, financiada sabe-se Deus por quem e que nada tem a ver com as pessoas realmente homossexuais. A heterossexualidade é o sublime dom com o qual Deus agraciou os homens, a fim de melhor conduzi-los a Ele. As duas coisas não podem receber paridade. Não pode haver um “orgulho gay” e um “orgulho hétero” lado a lado, como se fossem a mesma coisa ou coisas equiparáveis.

O assunto não é propriamente uma novidade inusitada. Não é de hoje que brincávamos em fazer uma “Parada do Orgulho Hétero”; não me lembro de quem me deu a melhor resposta sobre o assunto, mas recordo-me dela. “Não ia dar ninguém, esse negócio de ‘parada’ é coisa de gay. Homem que é homem não ia perder tempo com isso”. E, bem ou mal, isto é um dado da realidade que não pode ser ignorado. Bem ou mal, nós aparentemente não estamos dispostos a fazermos estardalhaços na defesa do óbvio – pelo menos não um estardalhaço equiparável àquele que fazem os inimigos da civilização.

Volto ao dom conjugal. Uma amiga dizia-me recentemente (tendo lido não-me-lembro-onde) que a natural complementaridade entre os sexos (que, embora inclua, não se resume às diferenças anatômicas) tem um fim sobrenatural. As nossas almas foram criadas para serem esposas de Deus, e Deus é o Outro, infinitamente distinto de nós. O amor entre o homem e a mulher existe para ensiná-los a se relacionarem não com si mesmos ou com alguém que lhes é similar, mas com quem é diferente – com o outro; e, assim, o Matrimônio existe para ser um reflexo aqui na terra das Núpcias que um dia (assim esperamos!) serão celebradas no nosso encontro definitivo com o Autor de toda a vida, o Amado de nossas almas. E isto é uma coisa tão sublime e tão radicalmente distinta da caricatura homossexual que as duas coisas simplesmente não podem ser colocadas lado-a-lado. A mera insinuação de que tal seja possível é uma ofensa à dignidade intrínseca do Matrimônio.

E volto, por fim, às nossas reações à agenda gay. Não temos a cultura de fazer baderna pública, por certo; mas a – enorme – tolerância do povo brasileiro está sendo posta à prova até o limite. Contra o Dia do Orgulho Hétero, eu vi duas notícias: uma sobre uma invasão de hackers ao site do vereador e, outra, a respeito de uma carta do deputado Jean Wyllys ao Kassab sobre o tema. Valem os comentários (os do primeiro, no Facebook). O povo não está satisfeito com a agenda gayzista! No senso comum dos brasileiros, não há espaço para a contestação daquilo que é clarissimamente um dom de Deus.

Colação de grau – Alcides

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Teatro da Universidade Federal de Pernambuco. Colação de grau de uma turma de Bacharelado em Biomedicina – a turma de Alcides do Nascimento Lins. Ele aqui estaria, não fosse o bárbaro crime que lhe ceifou a vida em fevereiro do ano passado.

O seu nome foi lembrado durante toda a cerimônia. Neste instante da foto, o magnífico reitor Amaro Lins se emocionava ao lembrá-lo; a voz se lhe embarga. A mãe dele compõe a mesa. A comoção é geral.

Que o Senhor dê a Alcides o descanso eterno. E, aos que ficamos, paciência nas tribulações: a graça de tudo (literalmente tudo) ordenar para Cristo. E, a despeito dos nossos pecados, um mundo mais justo.

“As portas do Abismo nada poderão contra Ela” – Beato John Newman

«Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja; e as portas do abismo nada poderão contra ela.»

Outrora, era uma fonte de perplexidade para quem crê, como lemos nos salmos e nos profetas, ver que os maus tinham êxito onde os servos de Deus pareciam fracassar. E o mesmo se passa ao tempo do Evangelho. E no entanto a Igreja possui este privilégio especial, que mais nenhuma outra religião tem, de saber que, tendo sido fundada aquando de primeira vinda de Cristo, não desaparecerá antes do Seu regresso.

Contudo, em cada geração, parece que sucumbe e que os seus inimigos triunfam. O combate entre a Igreja e o mundo tem isto de particular: parece sempre que o mundo a vence, mas é Ela que de facto ganha. Os seus inimigos triunfam constantemente, dizendo-a vencida; os seus membros perdem frequentemente a esperança. Mas a Igreja permanece. […] Os reinos fundam-se e desmoronam-se; as nações espraiam-se e desaparecem; as dinastias começam e terminam; os príncipes nascem e morrem; as coligações, os partidos, as ligas, os ofícios, as corporações, as instituições, as filosofias, as seitas e as heresias fazem-se e desfazem-se. Elas têm o seu tempo, mais a Igreja é eterna. E contudo, no seu tempo, elas parecerem ter uma grande importância. […]

Neste momento, muitas coisas põem a nossa fé à prova. Não vemos o futuro; não vemos que o que parece agora ter êxito não durará muito tempo. Hoje, vemos filosofias, seitas e clãs alastrarem, florescentes. A Igreja parece pobre e impotente. […] Peçamos a Deus que nos instrua: temos necessidade de ser ensinados por Ele, estamos cegos. Quando as palavras de Cristo puseram os apóstolos à prova, eles pediram-Lhe: «Aumenta a nossa fé» (Lc 17.5). Procuremo-Lo com sinceridade: nós não nos conhecemos; temos necessidade da Sua graça. Qualquer que seja a perplexidade a que o mundo nos induza […], procuremo-Lo com um espírito puro e sincero. Peçamos humildemente que nos mostre o que não compreendemos, que suavize o nosso coração quando ele se obstina, que nos dê a graça de O amarmos e de Lhe obedecermos fielmente na nossa procura.

Sermões sobre os temas do dia, nº 6, «Fé e Experiência», 2.4
Citado por Evangelho Quotidiano, 04/ago/2011

“Um belo poema sempre leva a Deus”

Eu não conhecia este poema do Mário Quintana (na verdade, eu nem sei se é verdadeiro ou apócrifo). A despeito de uma certa irreverência, gostei bastante dele quando o li recentemente. Por conta principalmente de dois versos: “Tu quiseste dizer a Verdade e disseste a Beleza”, por um lado, e “a Beleza é a forma angélica da Verdade”, por outro.

Já devo ter citado algures a frase (que, se muito não me engano, é de Dostoiévski) segundo a qual a Beleza salvará o mundo. E o Pe. Z até há bem pouco ostentava no What Does The Prayer Really Say? a mesmíssima frase em uma versão católica: Save the Liturgy, Save the World. Salve a Liturgia, salve o mundo.

Porque os transcendentais identificam-se; e falar Verdade é falar Bondade é falar Beleza. E o Santo Sacrifício da Missa é sem dúvidas verdadeiro, porque é o verdadeiro Sacrifício de Cristo, e é sem dúvidas bom, porque é a Oblação Pura agradável ao Pai Onipotente. Mas ele é também indubitavelmente belo, e esta beleza – esta Beleza – precisa transparecer nos ritos exteriores. Precisa emanar da Liturgia.

Dói-me ver algumas missas tão horrivelmente celebradas que… fazem ser muito difícil enxergar a Beleza do Sacrifício de Cristo escondida por debaixo daquela bagunça ocorrendo no Altar de Deus! Lembro-me de uma história segundo a qual alguns embaixadores de um império oriental decidiram levar o Cristianismo para as suas terras quando tomaram contato com a Divina Liturgia de São João Crisóstomo; e lembro-me também dos índios do Brasil recém-descoberto, quando assistiam a uma Missa aqui celebrada e, apontando para o altar, apontavam em seguida também para o Céu. Como é difícil imaginar que algo assim pudesse acontecer hoje em dia nas nossas paróquias! No entanto, é o mesmíssimo Sacrifício que converteu selvagens e orientais: pleno de Beleza porque Belo é o Deus sobre o altar.

E o Sacrifício Verdadeiro é também o Belo Sacrifício, porque a Beleza é a Verdade! Eu também não o sabia, mas (ao que parece) são os modernos que mais gostam de incluir o Pulchrum entre os Transcendentais, e há inclusive quem defenda a hipótese de um aspecto não-transcendental da Beleza na Filosofia de Santo Tomás de Aquino. Para além das disputas acadêmicas, contudo, resta evidente (e certamente ninguém o haverá de negar) que Deus é Belo. E que, portanto, belas devem ser as coisas com as quais nos referimos a Ele.

O Mário Quintana tem ainda um outro poema: Se eu fosse um padre. No qual ele diz coisas absurdas sobre não falar em Deus ou em pecado, em anjos ou em santos. Mas o intento dele nestes versos é dizer que basta falar da Beleza porque, n’Ela, está tudo contido: Porque a poesia purifica a alma… / e um belo poema — ainda que de Deus se aparte — / um belo poema sempre leva a Deus!. E alegra-me ver que um poema, ainda que com tão fortes rasgos de oposição ao Cristianismo (aliás, talvez eu me alegre até mesmo por causa disso), seja capaz de perceber que Deus é a Beleza. No meio de tantas coisas más, falsas e feias que encontramos até mesmo dentro da Igreja, é-me um revigorante refrigério encontrar um poeta capaz de identificar os Transcendentais.