Divulgou-se na mídia uma técnica para «evita[r] que doenças genéticas sejam transmitidas para filhos». A notícia é alvissareira e muito nos anima! O repórter começa falando em “tratamento”. Após alguns minutos mostrando mulheres grávidas fazendo Yoga, o repórter anuncia a nova “técnica toda especial” que evita que doenças graves sejam transmitidas para bebês. Aqui começa o nosso horror.
Um casal quer ter filhos, mas o marido sofre de uma grave doença e tem medo de transmiti-la aos seus filhos. A doença: paramiloidose, transmitida geneticamente. O tratamento: DGPI. Diagnóstico Genético Pré-Implantacional. A médica descreve a técnica (aos 4m20s): «[a] gente escolhe, entre os vários embriões que são feitos (sic) por fertilização in vitro, quais aqueles que não são portadores daquela doença para serem implantados». E o resultado desta aplicação concreta: «[d]as 11 células [i.e., dos nove embriões], em nove a doença apareceu. Apenas dois embriões eram livres da paramiloidose». Estes últimos foram implantados, e um deles nasceu. A reportagem se exime de chamar a atenção para este “detalhe”, mas os outros nove embriões, naturalmente, eram produtos defeituosos e foram descartados.
Grande técnica! Faz-se um embrião, se ele não for saudável, descarta-se-lhe e faz-se outro! E o repórter, aos 5m20s, ainda vem falar sobre as questões éticas que esta técnica pode levantar… incrivelmente, não percebe ele que os limites éticos já foram jogados no lixo há muito tempo, junto com os outro nove filhos “defeituosos” que este casal descartou até conseguir uma criança perfeita.
A diferença entre isto e os bebês espartanos que, após o nascimento, eram lançados montanha abaixo caso fossem defeituosos é nenhuma: apenas o progresso da técnica elevou a níveis ultra-eficientes a velha eugenia. Ao invés da montanha onde um ancião avaliava minuciosamente o recém-nascido, uma placa de Petri onde o cientista analisa com avançado aparato tecnológico o recém-fecundado. Nada muda: um e outro serão descartados se não forem perfeitos. E ainda chamam isto de “avanço da ciência”! Barbárie e decadência, isto sim. Voltamos aos tempos pagãos, e – graças ao progresso científico – conseguimos realizar as suas barbaridades de modo muito mais eficaz. Isto não é motivo para se comemorar.
O que me espanta não é a contrariedade a respeito do método mas a raiva demonstrada entrelinhas. Se uma crença acredita que o método é antiético que oriente seus seguidores a não utilizá-lo (o que, é sabido, não funciona nada bem com o rebanho católico romano, que geralmente faz o que bem entende). Que os demais, que desejam ter filhos saudáveis não por orgulho mas para poupar de sofrimentos uma criança, possam utilizá-lo sem espernear religioso alheio.
No caso os 11 embriões não seriam gerados naturalmente, alguns seriam descartados mas de acordo com uma randomização. Por que não ordenar o processo possibilitando uma criança saudável? Por que não utilizar a inteligência que Deus nos deu para evitar sofrimento? Claro, porque dogmas são mais importantes do que sentimentos e afinal de contas o que são pessoas perto de dogmas, não é? O que é o sentimento de uma mãe com um filho deficiente genético? Dane-se, não é?
O bom é que isso não tem volta. A ciência progride e as pessoas enxergam esse avanço em sua qualidade de vida, as igrejas perdem o poder de decisão sobre a vida de seus seguidores se distanciando cada vez mais da realidade. Também não me espanta a tendência à diminuição de ligação com instituições religiosas e o aumento dos “sem-religião”, que conservam uma espiritualidade própria.
Vai dizer que vcs tb são contrários a isso? Não creio.
Admirável mundo novo.O filme Gattaca tem este tema como assunto,sobre a possibilidade deste futuro sombrio.
http://www.youtube.com/watch?v=ZppWok6SX88
Vale a pena assistir.
A o quê, ao descarte de seres humanos “defeituosos”? Sim, é óbvio que nós somos contrários a isso.
O que me espanta é que você diga não acreditar nesta obviedade. Fico a imaginar se estou tendo alguma dificuldade em tornar conhecidos os princípios católicos, que me esforço por expôr aqui ao longo dos últimos anos…
Olha só o truque do Jorge Land.
Para ele a vida do embrião não importa. Claro -o embrião- não fala e vai ser atirado no lixo. É como se o filho defeituoso fosse motivo de desprezo e falta de amor por parte da mãe.
Ele utiliza a artimanha de que a ciência pode dar lições de moral o que é absolutamente falso, do ponto de vista ético.
“Claro, porque dogmas são mais importantes do que sentimentos e afinal de contas o que são pessoas perto de dogmas, não é? O que é o sentimento de uma mãe com um filho deficiente genético? Dane-se, não é?”
Apelo sentimentalista. Os embriões descartados que se danem, né? Direitos humanos agora são dogmas? O sentimento de uma mãe com um filho deficiente (que os amam da mesma maneira) não pode justificar uma colheita seletiva de filhos. “Quero esse fortinho aqui, os outros a gente descarta, não os vi ainda mesmo, pode jogar fora”.
Admita que não há diferença entre o descarte feito em laboratório ou nos poços espartanos.
Exatamente isto: a moral, a compaixão, o temor à Deus, o amor, a ética, a espiritualidade de grande parcela da humanidade diminui no mesmo ritmo do “avanço” da ciência.
E não venham dizer que a Igreja é contra a ciência porque isto é balela, a Igreja é contra a falta de ética com que a ciência muitas vezes é usada.
Triste é constatar que é exatamente o que o Jorge escreveu: “Barbárie e decadência, isto sim. Voltamos aos tempos pagãos, e – graças ao progresso científico – conseguimos realizar as suas barbaridades de modo muito mais eficaz.”
Deus tenha misericórdia !!!!!!!!
“Por que não utilizar a inteligência que Deus nos deu para evitar sofrimento? Claro, porque dogmas são mais importantes do que sentimentos e afinal de contas o que são pessoas perto de dogmas, não é? O que é o sentimento de uma mãe com um filho deficiente genético? Dane-se, não é?”
Deixa eu mudar o sujeito:
“Por que não utilizar a inteligência que Deus nos deu para evitar sofrimento? Claro, porque dogmas são mais importantes do que sentimentos e afinal de contas o que são pessoas perto de dogmas, não é? Gente, filhos deveriam poder descartar pais inválidos. O que é o sentimento de um filho com pais doentes pra cuidar? Dane-se, não é?
Se vcs tivessem alguma doença que pode ser transmitida para os filhos e pudessem usar essa técnica para ter uma criança saudável, vcs iriam preferir correr o risco de ter um filho doente? É muita hipocrisia, sinceramente.
Um abençoado Natal para você, Giuliano! :)
Um embrião é uma possibilidade de vida, uma reunião de células, uma criança é um ser humano. A natureza faz com que mulheres por vezes descartem embriões naturalmente, então a natureza é assassina? O problema é discutir com pessoas que ignoram completamente os processos que envolvem manipulação genética, fiv, seleção de embriões, etc.
Sim, existe um componente sentimental/emocional que pode ser entendido por pais que correm o risco de terem filhos com doenças genéticas mas não por pessoas que não percebem nada além de fé cega ao redor.
Jesus Cristo, que parecia se importar tanto com os outros a ponto de curá-los, ressuscitá-los, etc ficaria mais satisfeito ao ver uma criança nascer doente ou com saúde? Vejo problemas éticos em manipulação genética com fins estéticos como escolha da cor de olhos, cabelos, etc, mas no caso de doenças, é justificável a manipulação.
Não me importa se a igreja é contra ou a favor da ciência, me importa poder usufruir dos benefícios científicos de acordo com minha própria decisão e consciência e não pela crença ou consciência alheia.
Engraçado, pensei que alguém fosse comentar este trecho, especialmente o entre parênteses:
“Se uma crença acredita que o método é antiético que oriente seus seguidores a não utilizá-lo (o que, é sabido, não funciona nada bem com o rebanho católico romano, que geralmente faz o que bem entende)”
Parece que ao menos nisso concordamos.
Jorge Land,
Por que você usa a ciência somente naquilo que interessa para a defesa de sua tese? É a mesma ciência que produz as técnicas de reprodução assistida que afirma que o embrião é um ente vivo, distinto da mãe, e da espécie humana.
Jorge Land,
No meio das ovelhas existem os lobos infiltrados, no meio do rebanho católico com certeza existem também aqueles que usam o termo “católico” como um mero título, sem assumir os ensinamentos cristãos, sem a obediência as regras de Deus, sem observar Seus Mandamentos, sem observar a orientação da Igreja de Cristo, como se apenas se dizer católico fosse garantia de algo (isto tudo já foi inclusive profetizado por Jesus Cristo e pelos apóstolos e já naquela época existiam os que viviam apenas o exterior da religião ou a seletividade das normas divinas).
Mas, pode ter certeza também que em nosso meio há muitos mais que entendem o que é ser católico, quais os princípios, mandamentos deve seguir e, principalmente, a quem devem ouvir.
Por ora, o joio cresce no meio do trigo, mas chegará o tempo da colheita. O importante é continuarmos anunciando a verdade e pedindo à Deus pela conversão da humanidade e pelo nosso fortalecimento para não nos desviarmos do Caminho.
Paz de Cristo.
Lampedusa, você está equivocado. Religiosos ou cientistas ligados a instituições religiosas acreditam que a formação do embrião é o início da vida. Sugiro que leia o artigo a seguir: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/814968-cientistas-defendem-5-momentos-para-inicio-da-vida-humana.shtml .
Parece mais lógico que se a morte cerebral determina a morte do ser humano o início da atividade cerebral marcaria o advento de um novo ser humano.
Nem todo ovo é um pintinho meu caro.
Feliz Natal.
Jorge Land, para nós católicos a fecundação é o início da vida e ponto final.
Gustavo, minha colocação faz alusão ao comentário do Lampedusa.
O ponto final é um indício dos problemas.
Jorge Land,
Nem tudo o que parece ser mais lógico significa, necessariamente, o que é verdadeiro e correto e nem tudo o que parte da ciência aponta como explicação “lógica” para algo é realmente lógico e verdadeiro.
Aliás, para quem crê em Deus e que a Bíblia seja a Sua Palavra lá encontramos:
“Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados.
Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes;
E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são ” (1 Coríntios 1: 25, 27-28)
Sobre a formação do ser humano, sobre Deus nos chamar pelo nome já quando no ventre de nossa mãe, sobre Ele nos conhecer quando ainda ninguém mais nos conhece, quando ninguém mais ainda tomou conhecimento de nossa presença.
“Pois possuíste os meus rins; cobriste-me no ventre de minha mãe.
Eu te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem.
Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui feito, e entretecido nas profundezas da terra.
Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia”. Salmos 139:13-16
“Ouvi-me, ilhas, e escutai vós, povos de longe: O SENHOR me chamou desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe fez menção do meu nome.” Isaías 49:1
Você diz com base em parecer de um grupo de cientistas: “Parece mais lógico que se a morte cerebral determina a morte do ser humano o início da atividade cerebral marcaria o advento de um novo ser humano.”
Mas a própria ciência diz: “Para Yan, o critério de vida precisa ser adaptado em cada espécie. “Ouriços do mar, por exemplo, não têm cérebro.
Então, podemos chegar a seguinte lógica:
* existe vida sem a presença de cérebro;
* conseqüentemente, no caso dos seres humanos, já existe vida antes da formação do cérebro.
Daqui a pouco vão começar a dizer que espermatozóide também é um ser humano…Quem se masturba mata milhões de vidas! Patético!
Caro Jorge Land:
Um ovo galado não é um pintinho, mas ninguém questiona que um ovo galado seja um ser vivo distinto do galo e da galinha que o originaram. Não fosse assim, não haveria sentido em haver leis que protegem os ovos de tartarugas e de outros bichos. O mesmo se dá com um óvulo humano fecundado.
Dizer que a vida humana começa com o desenvolvimento do cérebro é um erro lógico crasso pois implica que ou (i) um zigoto humano não é humano ou (ii) um zigoto humano não tem vida.
Definir que a vida humana começa com o desenvolvimento do cérebro pode ser juridicamente útil para definir (más) políticas públicas mas é biologicamente tão absurdo como dizer que a vida humana adulta começa aos 18 anos ou que a velhice começa aos 65.
Além disso, qualquer definição sobre o início da vida que não seja a fecundação (verdadeiro salto ontológico entre o humano e o não-humano) será meramente um acordo tácito temporário que será quebrado tão logo o lobby pró-morte angarie mais adeptos. Como você certamente sabe pois está no artigo da FSP que você recomendou, não falta quem defenda que a vida humana começa ao nascer e até já há “filosófos” de renome (Paul Singer) defendendo que a vida humana começa aos dois anos de idade.
Sua afirmação de que a natureza é assassina é mero jogo de palavras. Como você certamente sabe, assassinato implica em intenção e não há intenção na Natureza. O fato de que uns 30 % (!) das fecundações termine em abortos espontâneos apenas ressalta a importância de se valorizar mais ainda a vida humana.
Você diz ser contra a manipulação genética para fins estéticos mas diz ser favorável para fins medicinais. Doce ingenuidade ou canto de sereia?
Poucas coisas estão tão entrelaçadas como saúde e estética. Por exemplo, está cientificamente provado que ser baixinho ou ser gordinho ou ser careca gera problemas de auto-estima que podem levar à depressão clínica, havendo casos de suicídio. Portanto, a manipulação genética visando ao aumento da estatura e à eliminação da obesidade/calvíce são, na sua opinião, eticamente admissíveis, correto?
Na Europa setentrional, verdadeiro paraíso terrestre, a síndrome de Down está praticamente extinta. Não há doença congênita que uma lei de aborto flexível e testes pré-natal não sejam capazes de curar.
Feliz 2013.
JB,
podemos ficar aqui discutindo formas de linguagem, expressões e situações, por mim tudo bem.
– os ovos de tartaruga não são protegidos porque contém uma vida, são protegidos porque a espécie está em extinção e em cada um há uma probabilidade de aumentar a espécie. Probabilidade.
– seria erro crasso dizer que a Terra é o centro do sistema solar ou que é plana, ou seja, insistir em algo contrário ao já provado. Você sabe que essa discussão – qual o início da vida – é polêmica, o erro crasso é meu apenas por discordar da sua crença? Talvez seja melhor acreditar em um livro escrito há 2 milênios com a ignorância da época e com interpretações antiquadas do que com a ciência atual.
– um espermatozóide não é um ser humano, um óvulo também não, um embrião formado exteriormente não tem chances de continuar se multiplicando fora do útero (e mesmo que seja implantado pode ser que nem se fixe, e mesmo que se fixe pode não “vingar”.). Ou seja, é uma possibilidade interrompida, não um assassinato.
– Parece que para você existem “boas políticas públicas” quando a igreja católica influencia em termos e conceitos legais e todos os outros se calam.
– Não concordo que um assassinato careça de intenção. A definição “o que mata alguém” pode ser encontrada nos dicionários. Há homicídios culposos e dolosos. Além disso você entendeu bem que utilizei uma metáfora, aliás muito comum no português: “doença assassina”, curva assassina”, etc. Um raio que mata um homem não tem intenção mas foi a fonte de sua morte. Se gosta de tudo ao pé da letra deve continuar acreditando em Adão e Eva, a cobra e a maçã.
– Parece haver um medo entre os católicos de que por atrás de uma abordagem há sempre uma teoria da conspiração para o mal. Paranoia que impede de analisar melhor pontos importantes, nega-se A com medo de B,C, Z.
– Nem canto de sereia nem ingenuidade. Você sabe bem a diferença entre uma criança que pode nascer com problemas de má formação, cegueira, distúrbios mentais, etc decorrentes de problemas genéticos e um adulto que fica careca. Aí é apelar, meu amigo!
– Puxa, realmente Deus deve estar muito chateado porque há uma região do mundo onde as pessoas vivem mais, não passam fome, tem abrigo, serviço médico e hospitalar e as pessoas sofrem menos. É, eu sei, são ateus em sua maioria. Bom mesmo é nos países religiosos onde o sofrimento é a base para conseguir um bom lugar no céu.
Caro Jorge Land,
Ovos de tartaruga são protegidos por lei porque contêm um embrião de tartaruga VIVO. Não faria menor sentido ter uma lei protegendo ovos de uma espécie ameaçada se esses ovos não fossem vivos e capazes de gerar um outro indivíduo dessa espécie. Simples assim.
A questão do início da vida não é tema de polêmica científica. É ponto pacífico na biologia que a vida de um novo ser, humano, animal ou vegetal, começa com a fecundação. O debate que existe, com clara motivação ideológica, é sobre qual seria o limite jurídico-legal de interrupção da gravidez e/ou experimentação científica. Esse “debate” não tem nada a ver com o conceito biológico do início da vida (aliás, en passant, o conceito jurídico de morte cerebral também não tem nada a ver com o conceito biológico de vida).
Você diz que há um “debate” entre os cientistas sobre quando começa a vida, mas observe que você já tomou seu partido! No entanto, enquanto o debate “científico” durasse, você seria racionalmente obrigado a optar pela defesa da vida desde a concepção. É o chamado princípio precaucionário.
Eu não citei a Bíblia nem a Igreja em nenhum momento e nem precisarei fazê-lo pois este é simplesmente um debate entre a razão humana e a ideologia da morte. Boas políticas públicas são aquelas ditadas conforme a razão natural e vontade dos povos. A cultura da morte passa longe disso.
Espermatozóides e óvulos não são seres humanos pois são haplóides e não são totipotentes.
Um embrião humano, além de ser obviamente um SER VIVO, é um ser com constituição genética distinta de seus progenitores, diplóide e totipotente. Um embrião humano não é uma pessoa ainda, mas é um ser vivo pertencente à espécie humana. Ou não?
São esses fatos biológicos insofismáveis – estar vivo e pertencer à mesma espécie que nós – que dão ao zigoto, embrião, feto, bebé, criança, jovem, adulto e idoso uma dignidade especial.
Em relação a doença e estética, os limites são muito mais tênues do que você ingenuamente imagina, sem falar que em ciência raramente o grau de certeza de um análise é 100 %.
Por exemplo, qual é o grau de distúrbios mentais aceitável para permitir a manipulação/destruição de embriões? Um embrião em que for detectada epilepsia ou uma forma leve de autismo pode ser destruído? Um embrião em que for detectada um doença com 85 % de probabilidade de torna-lo cego quando adulto pode ser destruído?
“Sou a favor da manipulação genética apenas em casos de doenças graves”, diria o descolado Jorge Land à mesa do jantar. Pobrezinho! Acha-se tão moderno e já foi ultrapassado por sua própria época. Mal sabe você que na maaaraaavilhooosaa Europa já se descartam embriões em função da cor dos olhos (a cor preferida pelos pais é azul, caso interesse). Pelos maaaraaavilhooosoos padrões norte-europeus, a sua posição já seria tachada de retrógada!
Não se trata de teoria de conspiração. Uma análise dos últimos 30 anos facilmente revela que a única barreira segura é a da proteção absoluta desde a fecundação. Qualquer outra barreira funcionará apenas momentâneamente. É isso o que está acontencendo no Brasil. O STF, como você deve saber, autorizou o aborto de anencéfalos. Poucos meses depois já havia juízes autorizando o aborto de fetos com deficiências de outros tipos. Inevitavelmente, em mais 10 ou 20 anos, chegaremos à liberação total do aborto e do uso de embriões em pesquisas científicas. É o que já acontece em outros países “desenvolvidos”.
Suponho que Deus esteja triste ao ver que na super, hiper, mega desenvolvida Europa do Norte, onde nada materialmente lhes falta, as taxas de suícidio sejam as maiores do mundo (e subindo).
Não adianta, JB, não vamos concordar. O que você chama de vida eu chamo de potencial de vida e não vamos sair disso.
Vários conceitos tem limites tênues, convivemos com eles diariamente e não negamos simplesmente que existam. Direitos e deveres, mentiras e verdades, crença e realidade. Dependem inclusive de pontos de vista intelectuais e culturais e quanto mais ligados a situações que contrariam o estabelecido e a tabus mais difícil demarcar a linha. Nem por isso podemos nos furtar a isso.
Li em outro post deste blog pessoas com “saudades das Cruzadas” e da “Santa Inquisição”. Quais as semelhanças e diferenças entre esse tipo de pensamento e a chamada Jihad islâmica? Para quem olha de fora é extremamente tênue.
Não me considero moderno nem descolado, apenas tenho minhas próprias opiniões e não preciso de ninguém, pessoa ou instituição, para aprovar ou não minhas escolhas. O debate pode aprimorar o pensamento mas não cerceá-lo que é que vejo a religião fazendo.
Se fazem escolhas genéticas estéticas pessoalmente não concordo mas o problema e responsabilidade é dos pais, dos médicos e da ética médica desenvolvida pelo país em questão.
Mas me diga uma coisa, quero saber sua opinião num caso desses:
– um casal tenta engravidar naturalmente durante anos e não consegue.
– faz inúmeras tentativas através de tratamentos e não funciona.
– após sacrifícios financeiros, emocionais e físicos lhes apresentam uma folha com a imagem de 10 embriões variando entre mórulas e blástulas classificados de A a C.
– São escolhidas as blástulas tipo A para implantação, as mais desenvolvidas.
– Como resultado o casal tem 2 filhos.
Esse casal provavelmente nunca teria filhos não fosse a ciência. Eles assassinaram os embriões descartados (que naturalmente não vingariam nunca e não passariam nunca de serem possibilidades) ou deram à vida à 2 crianças que naturalmente não nasceriam?
É lamentável que seres humanos tirem a própria vida, o ideal seria haver meios para avaliar o quadro psicológico de pessoas vulneráveis antes que cometessem tal ato – e em um sistema social em que as instituições funcionam aposto que estão trabalhando nisso).Mesmo assim o suicídio é um ato pessoal, uma escolha própria (apesar de desesperada e radical). O sofrimento cristão, ao contrário, é uma ideologia que pode fazer com que a pessoa se acomode em situação medíocre por ser “vontade de Deus” ou por considerar que depois terá sua recompensa celestial. A liberdade de pensamento individual é muito valiosa, tolhe-la é o pior mal que uma sociedade comunista, por exemplo, pode fazer. Da mesma forma ter o pensamento domado por culpas e pecados é aprisionar o pensamento. Ambas as formas lhe matam em vida.
Caro Jorge Land:
Em relação à sua pergunta, a resposta óbvia é que o casal está inteiramente errado ao usar um método anti-ético para ter filhos. No seu exemplo, a morte ganhou por 8 x 2.
Como eu já disse, mesmo admitindo, for argument`s sake, que exista um “debate” entre “cientistas” sobre o início da vida humana, a única posição ética e racional admissível é suspender a matança de embriões até o fim do “debate”.
Mais importante e sintomático, contudo, é o uso dessa pergunta como estratégia argumentativa. O casal que quer e não pode ter filhos é o menos indicado para opinar pois o raciocínio desse casal muito provavelmente estará obnubilado pela dor. Perguntar o que alguém faria se estivesse nessa situação é forçar uma resposta toldada pelo sentimentalismo e consequentemente sem valor como argumento.
É importante ter empatia com o sofrimento daqueles que poderiam ser curados mediante o uso dessas técnicas médicas. Longe de mim advogar a dureza de coração, mas a natural e saudável empatia que temos por aqueles que sofrem não pode obscurecer nossa razão.
JB,
8 a 2? Nenhum dos dez teria chance de forma natural, entenda isso!
só para deixar claro:
– a “resposta óbvia” é óbvia para você.
– o “método anti-ético” é anti-ético para você.
– um casal que quer e não pode ter filhos as vezes, surpresa!, pode ter filhos!
– longe de ser apenas um exemplo hipotético que inclui lamúrias no raciocínio lógico o que relatei foi o que aconteceu comigo. Para a Igreja portanto sou um assassino e meus 2 filhos, muito inteligentes, educados, amáveis, não pertencem ao rol dos “católicos puros”, afinal foram gerados através de uma técnica desaconselhada pela inteligência católica. Não seria isso uma forma de pré-conceito? Uma eugenia as avessas?
– Isso reforça a ideia de que mantê-los longe do catolicismo é uma questão de segurança, contra pedofilia, contra a formatação do sentimento de culpa, a favor da liberdade de pensamento.
Foi bom conversar com você porque sei que ao menos meus filhos não farão catecismo. Afinal, para um pai assassino, mantê-los longe da igreja não é nada demais, não é?
Queria saber se alguém, dos que aqui estão discutindo, tem algum filho com síndrome genética ?