O Escapulário da Virgem do Carmo

Hoje é a festa de Nossa Senhora do Carmo e eu me lembrei do artigo da semana passada de D. Fernando Rifan que falou sobre Ela. Recomento a leitura do texto do grande bispo de Cedamusa sobre os aspectos históricos da devoção à Virgem do Monte Carmelo (à guisa de exemplo: «[n]a pequena nuvem portadora da chuva após a grande seca, Elias viu simbolicamente Maria, a futura mãe do Messias esperado»), mas também sobre o Santo Escapulário e os privilégios que a Virgem Mãe de Deus prometeu aos que o usassem devotamente.

O Escapulário do Carmo! É possível conhecer um pouco mais sobre o pequeno sacramental aqui. Mas, para além destas (importantes) “especificações técnicas”, pode ser muito proveitosa no dia de hoje a leitura desta mensagem de Sua Santidade o Papa João Paulo II à Ordem do Carmelo em 2001. Das palavras do Papa, eu destaco (grifos meus):

5. No sinal do Escapulário evidencia-se uma síntese eficaz de espiritualidade mariana, que alimenta a devoção dos crentes, tornando-os sensíveis à presença amorosa da Virgem Mãe na sua vida. O Escapulário é essencialmente um “hábito”. Quem o recebe é agregado ou associado num grau mais ou menos íntimo à Ordem do Carmelo, dedicado ao serviço de Nossa Senhora para o bem de toda a Igreja (cf. Fórmula da imposição do Escapulário, no “Rito da Bênção e imposição do Escapulário”, aprovado pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, 5/1/1996). Por conseguinte, quem veste o Escapulário é introduzido na terra do Carmelo, para que “coma os seus frutos e produtos” (cf. Jer 2, 7), e experimente a presença doce e materna de Maria, no empenho quotidiano de se revestir interiormente de Jesus Cristo e de o manifestar vivo em si para o bem da Igreja e de toda a humanidade (cf. Fórmula da imposição do Escapulário, cit.).

São portanto duas as verdades recordadas no sinal do Escapulário: por um lado, a protecção contínua da Virgem Santíssima, não só ao longo do caminho da vida, mas também no momento da passagem para a plenitude da glória eterna; por outro, a consciência de que a devoção a Ela não se pode limitar a orações e obséquios em sua honra em algumas circunstâncias, mas deve constituir um “hábito”, isto é, um ponto de referência permanente do seu comportamento cristão, tecido de oração e de vida interior, mediante a prática frequente dos Sacramentos e o exercício concreto das obras de misericórdia espiritual e corporal. Desta forma o Escapulário torna-se sinal de “aliança” e de comunhão recíproca entre Maria e os fiéis: de facto, ele traduz de maneira concreta a entrega que Jesus, na cruz, fez a João, e nele a todos nós, da sua Mãe, e o acto de confiar o seu apóstolo predilecto e a nós a Ela, constituída nossa Mãe espiritual.

E estas palavras do Papa parecem-me excelentes para responder tanto à sanha iconoclasta dos inimigos da Mãe de Deus quanto a algum presunçoso laxista que porventura exista entre os cristãos e que, enganosamente, acredite ou se queira fazer acreditar ser devoto da Virgem do Carmo. A concepção de mundo expressa nestas palavras do Vigário de Cristo assinala a radical diferença entre uma concepção “mágica” ou “supersticiosa” do Cristianismo e a sua dimensão real: os sinais externos não apenas não substituem uma vida moral reta como também eles só fazem sentido se forem a sincera expressão exterior de uma vida agradável a Deus. O Escapulário do Carmo não é um amuleto da sorte nem um talismã mágico para livrar as pessoas do inferno, e usá-lo desta maneira significa, simplesmente, não usar o escapulário.

Aos que o usam devota e sinceramente, no entanto, ele se transforma em penhor de salvação, como as flores abertas e vistosas de um jardim bem cuidado revelam a vitalidade do jardim e o empenho do jardineiro no seu cultivo. Da mesma forma que jogar um belo ramalhete de flores sobre um terreno descuidado e repleto de ervas daninhas não o transforma em um jardim, cobrir com um escapulário uma alma imunda e repleta de pecados não a transforma em serva dedicada da Rainha do Carmelo. Os devotos da Mãe de Deus o são antes e primordialmente na alma, e os sinais externos são (sempre!) frutos desta fecundidade anterior e interior. O escravo da Rainha do Carmelo não perde a sua dignidade quando o seu hábito lhe é tirado, assim como uma roseira não deixa de ser uma roseira se lhe arrancam uma rosa: com o tempo, um e outra irão se revestir novamente – de escapulário ou de rosas. Ao contrário, um vaso de flores não vira uma roseira nem mesmo se lhe adornam com as mais belas rosas do mundo, pois estas cedo ou tarde fenecerão, deixando o vaso de novo vazio. E o escapulário sobre os ombros do católico deve ser como as rosas da roseira, e não como as do estéril e frio vaso de flores. Se não for assim, ele não é verdadeiro escapulário e não faz sentido utilizá-lo.

“O cristão na casa de Deus” – como se comportar na Santa Missa

[Utilidade pública. Vi no Facebook; serve, naturalmente, não apenas para os fiéis que assistem à Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano como também para todos os que entram em um Templo Católico, na Casa de Deus, independente da celebração específica que estejam assistindo. Afinal, a Missa é a Cruz. Há um só Calvário, há uma só Missa, e toda Missa deve ser tratada com o respeito que é devido ao Sacrifício Propiciatório de Cristo-Deus em favor de nós.]

O CRISTÃO NA “CASA DE DEUS”

1 – Bem sabe o cristão que nossos templos são lugares sagrados. Igualmente sabe que nas Igrejas católicas mora o Deus eterno e omnipotente, real e verdadeiro, embora se oculte aos nossos olhos materiais sob os véus eucarísticos.

Na Igreja, portanto, deve haver todo respeito, o maior silêncio e devoção.

[…]

3 – Quando o cristão entra na Igreja, vai logo fazer uma devota genuflexão diante do altar do Santíssimo, que é fácil reconhecer, pois diante dele arde continuamente uma lâmpada, e aí adora o seu Deus na Eucaristia. Para Jesus Sacramentado deve estar polarizada a atenção, a fé, o amor dos fiéis.

[…]

6 – As senhoras devem estar na Igreja com a cabeça coberta, principalmente na recepção dos sacramentos. Os vestidos devem ser discretos e modesto. Nada de decotes exagerados e vestidos sem mangas.

[…]

8 – Ninguém deve sair da Igreja durante o sermão. Isto incomoda o auditório e o pregador e constitui grande falta de educação.

9 – Não se pode ficar sentado nem sair da Igreja durante a bênção do Santíssimo, que aliás dura poucos minutos.

[…]

11 – Eis algumas faltas de educação que ainda devemos evitar na Igreja: Conversar, cochicar, rir – olhar para os que entram ou saem – fixar curiosamente as pessoas – perturbar, como quer que seja, as pessoas que rezam – cuspir no chão – assoar-se com estrondo – fazer ruído com os bancos ou cadeiras – ajoelhar ou assentar-se desajeitadamente – cruzar as pernas – estar de mãos nos bolso – cumprimentar ostensivamente os amigos (basta um aceno de cabeça) – não tomar parte nas práticas e orações em comum – gritar ou arrastar a voz nas orações ou cânticos – não guardar silêncio e respeito durante os casamentos, baptizados e exéquias – fazer algazarra na porta ou nas proximidades – enfim tomar atitudes que revelem falta de fé ou de educação.

Extraído de Compêndio de Civilidade:
para uso das famílias e dos colégios.
11ª edição.

Ainda a Marcha das Vadias e a histeria dos revolucionários: a repercussão

Com relação ao que falei aqui a respeito do lúcido artigo do Carlos Ramalhete contra a “Marcha das Vadias” publicado ontem na Gazeta do Povo de Curitiba – e da intolerante reação revolucionária que se lhe seguiu –, são dignas de menção outras iniciativas parecidas com a minha que surgiram na blogosfera conservadora de ontem para hoje.

1. Marcha das Vadias: militando pela imodéstia e pela morte, por Everth Queiroz. «Este tumulto generalizado em reação ao brilhante artigo do prof. Carlos Ramalhete não tem razão de ser. Porque, como qualquer outro evento, este também é passível de crítica; afinal, vivemos em uma sociedade em que convivemos diariamente com o plural, com opiniões diferentes, com modos diversos de enxergar a realidade. Acontece que o pessoal desses novos movimentos sociais – e aqui a nossa crítica se estende aos grupos LGBT – não tolera ser contrariado, não suporta ver seus interesses ou anseios contestados».

2. Ah, que é isso? Elas estão descontroladas! Feministas surtam e declaram guerra à Gazeta do Povo por artigo crítico à “Marcha das Vadias”, por Renan Cunha. «O que eu, realmente, não consigo entender é como uma pessoa que se autointitula vadia – sinônimo de puta – tem a pretensão de se dizer ofendida por alguém dizer que ela veste carcaça de gambá. É o cúmulo da falta de senso do ridículo e da vergonha na cara. Até porque, acaso uma pessoa que se despe em público, expondo seu corpo à céu aberto, não está se igualando a uma carne no balcão do açougue?».

3. Mancha das Vadias, por Wagner Moura. «É incrível a lógica del@s. Fingindo desejo de visibilidade, el@s se “invisibilizam” para melhor poder agir. Elas querem o de sempre: aborto, fim da família e todas essas causas financiadas pelas mesmas fundações internacionais de sempre. Mas embalando tudo para presente com um monte de mulher nua gritando palavras de ordem e chamando atenção para como o fato de se dizerem vadias não as torna vadias… É mais, digamos, divertido. E o brasileiro gosta e com o tempo vai se acostumar. No futuro – sombrio – vamos ler aquelas máterias de famílias as mais sem cérebro levando suas crianças para um evento desses e dizendo que é bom, é maravilhoso, é cidadão e que suas crianças precisam crescer nesse mundo».

Permanece válido o convite que fiz ontem a todos os que não concordam com a coisificação feminina personificada com tanta crua eloqüência em manifestações de feministas como a “Marcha das Vadias” para que escrevam – e peçam que outros também escrevam – à Gazeta do Povo manifestando apoio ao artigo do Carlos Ramalhete e à linha editorial do jornal de Curitiba:

a) enviando email para leitor@gazetadopovo.com.br; e
b) por meio da página de “Fale Conosco” (http://www.gazetadopovo.com.br/faleconosco/) do jornal.

Conheça, pense, divulgue. O Brasil agradece.

Em defesa das mulheres, da sociedade, da civilização: cartas à Gazeta do Povo!

Uma das maiores evidências de que grande parte do mundo moderno perdeu completamente o senso crítico é o (paradoxal) glamour no qual parece estar envolvida a assim chamada Marcha das Vadias. Imaginar que é uma boa idéia balançar as tetas em público para exigir respeito sexual é um dos maiores atestados de insanidade que alguém pode passar; como se fizesse algum sentido expôr-se em público como um objeto de desejo sexual para exigir não ser tratada como um objeto de desejo sexual, ou como se o problema da depravação masculina pudesse ser resolvido com depravação feminina e não com modéstia e recato. Sobre o assunto eu já escrevi algumas linhas aqui em maio último, às quais remeto quem se interessar.

Se é verdade que no passado mulheres foram mal-tratadas, havia ao menos a decência de lhes reconhecer a desgraça como um mal injusto digno de lágrimas e comiseração. A existência, p.ex., de um cafajeste sobre o qual pesasse a infâmia de haver desonrado moças de família ao menos evidenciava socialmente a enorme diferença existente entre a honra e a desonra, entre o cafajeste e o homem de bem.

Este feminismo moderno estúpido que quer transformar as mulheres em uma versão mil vezes piorada dos homens termina por fazer muito mais mal às mulheres do que uma legião de cafajestes, porque o seu objetivo é muito mais radical e degradante: enquanto um cafajeste busca o próprio prazer em detrimento da dignidade de uma mulher concreta, o feminismo quer arrastar todas as mulheres ao lamaçal imundo de sua aviltante concepção depravada do sexo feminino. O estrago feito por um crápula tratando uma mulher como objeto é incomparavelmente menor do que o estrago feito por um movimento que intenta transformar todas as mulheres do mundo em vadias que se orgulham daquilo que em outros tempos até mesmo os cafajestes tomariam por infâmia e vergonha. Um cafajeste provavelmente respeitaria ao menos a sua mãe e irmã: uma feminista não poupa nem essas.

Infelizmente, a loucura generalizada parece não ter fim e, no próximo final de semana, está programada para acontecer em Curitiba uma edição “fora de época” deste atentado ao pudor disfarçado de reivindicação justa em prol das mulheres que é a “Marcha das Vadias”. A coluna semanal do Carlos Ramalhete desta quinta-feira versou (brilhantemente, como de costume – leiam lá) sobre este assunto, e não me resta senão fazer coro às muito bem colocadas palavras do articulista: «[a] imbecilidade machista deve ser combatida pela afirmação da dignidade e da capacidade feminina, não pela imitação do pior do sexo masculino». Claro e cristalino para quem não tenha colocado a ideologia acima do bom senso e seja capaz de manter ainda um mínimo de respeito cavalheiresco diante da dignidade do sexo feminino.

É claro que as inimigas das mulheres não gostaram, e estão se organizando para enviar ao jornal protestos contra o texto. Todos nós conhecemos a mil-vezes admirável coragem da Gazeta do Povo em manter uma linha editorial abertamente destoante da cantilena revolucionária da imprensa tupiniquim, e creio ser bastante evidente a importância que é defender este baluarte de bom senso num meio que se encontra tão vastamente dominado pelos bárbaros modernos. Assim sendo, é importante que nós escrevamos ao jornal em apoio ao texto do Carlos Ramalhete em particular e, em geral, à tomada de posição em prol do pensamento conservador – pensamento que é, este sim, representativo dos valores dos brasileiros – que o jornal de Curitiba faz tão abertamente e cuja importância é tão grande para a defesa dos valores da sociedade brasileira. Por isso, peço

1. que o artigo contra a Marcha das Vadias seja lido, comentado e divulgado; e

2. que sejam escritas mensagens de apoio, principalmente por mulheres, às idéias contidas no texto, a fim de que o ataque orquestrado das incendiárias de soutiens não ganhe a aparência de ser representativo dos leitores do jornal (e nem muito menos da sociedade como um todo). Isto é muito importante. É possível escrever

a) enviando email para leitor@gazetadopovo.com.br; e
b) por meio da página de “Fale Conosco” (http://www.gazetadopovo.com.br/faleconosco/) do jornal.

Os que puderem escrever mensagens de apoio e pedir para que outras pessoas também escrevam estarão prestando um enorme favor à sociedade brasileira, tão covardemente atacada pelos bárbaros inimigos da civilização que não parecem ser capazes de tolerar a existência de nenhum pensamento – por menor que seja! – destoante da hegemonia ideológica que infelizmente paira sobre o Brasil.

Sobre os recentes dados do IBGE referentes à queda do número de católicos no Brasil

Sobre o último censo do IBGE que mostra uma “queda recorde de fiéis [católicos] no Brasil”, caberia fazer algumas ligeiras observações.

1. Como o Reinaldo apontou, a outra possível leitura dos dados do IBGE é a de que a esmagadora maioria (86,8%) dos brasileiros ainda são cristãos. Cabe, portanto, lembrar o lado cheio do copo.

2. A missão da Igreja Católica não é “ser popular”, e o Seu sucesso é medido pela fidelidade intransigente à Doutrina legada por Seu Divino Fundador – e não por métricas de IBOPE nem por taxas estatísticas de crescimento aplicáveis a empresas ou a bolsa de valores. E, no quesito “fidelidade”, a Igreja de Cristo vai muito bem, obrigado.

3.  Como disse alguém recentemente, a Igreja não está perdendo “fiéis”, e sim infiéis. Os fiéis, graças a Deus, continuam n’Ela. Esta diminuição do número de católicos não implica em uma diminuição da Sua força ou da Sua ação na sociedade porque os que saíram são, precisamente, os que já nada faziam por Ela.

4. A Igreja não tem problema em ser pequena. Historicamente, a propósito, Ela foi minoria (perseguida inclusive) por incontáveis vezes. Mesmo nos momentos de relativa tranqüilidade e de exuberante desenvolvimento do catolicismo, o número de católicos convictos sempre foi e sempre vai ser muitíssimo menor do que o de batizados mais ou menos indiferentes à questão religiosa. A preocupação da Igreja é e sempre foi com a qualidade dos Seus fiéis, e não com a quantidade deles.

5. A evidente maior causa desta diminuição do número de católicos no Brasil é a adoção, por parte de algumas autoridades religiosas, de uma política de “boa convivência” com o mundo que termina degenerando, na prática, na negação da identidade católica. Catolicismo superficial e meloso (= “shows-missa”, “Jesus-amigão”, “fé-auto-ajuda”, etc.) e marxismo putrefato transvestido de doutrina católica (= “Teologia da Libertação”) são os grandes rombos no casco da nau da Igreja no Brasil responsáveis pela maior parte desta sangria de católicos.

6. Com todos os ataques que a Religião Verdadeira sofre nos dias de hoje, o que é verdadeiramente impressionante é que mais da metade dos brasileiros ainda tenham a coragem de se afirmarem católicos diante de um agente do Governo!

Num mundo onde o que é passageiro e efêmero é exaltado quase ao ponto da idolatria (à guisa de exemplo, eu soube recentemente que alguém teve a idéia fantástica de imprimir livros que se auto-destroem (a tinta desaparecendo e as páginas ficando em branco) depois de dois meses), torna-se admirável que ainda haja pessoas dispostas a guardar a Fé legada pelos cristãos dos tempos passados. Contra as tormentas atuais, o que permanece firme como rocha é a clareza daquela promessa de Cristo a São Pedro: non praevalebunt! A cultura do efêmero, por sua própria pregação inconseqüente e irresponsável, há de passar: afirmar isso chega a ser redundante. E então a Igreja há de vicejar novamente sobre os escombros da modernidade falida. Por fim, triunfará o Imaculado Coração da Virgem como Ela prometeu. Façamos cada qual a nossa parte, enquanto esperamos no Senhor. Dias melhores virão, é certo.

Sobre imagens e símbolos, no funeral de D. Eugenio Sales

A foto abaixo foi compartilhada à exaustão ontem tanto no Facebook quanto na blogosfera católica. Pesquisando um pouco, cheguei à sua [mais provável] fonte original que é esta galeria de imagens da UOL, na qual podem inclusive ser vistas outras imagens da alva guardiã do féretro do Eminentíssimo cardeal brasileiro recém-falecido. Ontem, um jornal da Globo também falou sobre ela.

Como sempre, houve entre os críticos da religião quem se incomodasse com o fato de uma pomba branca ter passado tanto tempo ao lado do ataúde cardinalício. Depois das primeiras levianas acusações de montagem terem sido desmentidas pela profusão das fontes testemunhas primárias, passou-se rapidamente às buscas de causas naturais para o fenômeno, não raro chegando a acusações (igualmente levianas) de fraude deliberada. Isto como se nós, os religiosos, tivéssemos em algum momento insinuado que a pomba branca era uma demonstração cabal da existência de Deus ou coisa parecida, ou como se os inimigos de Deus tivessem perdido as aulas básicas de lógica elementar e acreditassem sinceramente, por algum irracional e nonsense ato de fé, que refutar uma demonstração é equivalente a demonstrar a falsidade da tese em análise.

E não é a primeira vez que isso acontece. Coisa idêntica foi feita diante, p.ex., da cruz em pé no meio dos escombros aos quais foi reduzida uma igreja no Haiti quando houve um terremoto, ou diante da pequena imagem de Nossa Senhora das Graças deixada em pé após as enchentes de Petrópolis no início do ano passado. Ou quando foi divulgada uma imagem de um batismo na Espanha na qual a água derramada pelo padre formava uma cruz. Eu aproveito a oportunidade da – belíssima! – imagem dos funerais de D. Eugenio Sales para repetir o que eu já falei algures sobre o assunto.

Em uma palavra, os (auto-intitulados) livres-pensadores têm uma absurda dificuldade em entender um símbolo (ou uma extraordinária má-vontade em aplicar este conceito a assuntos religiosos). É como se a única forma de uma imagem ser verdadeira seria se ela correspondesse perfeitamente à realidade empírica, e – pior! – contendo em si mesma todas as informações necessárias para explicitar sem margem de dúvida razoável a cadeia completa de causas materiais que a produziram. Pior ainda é quando atribuem uma falsa intenção a quem divulga a imagem e, não encontrando nela elementos suficientes para demonstrar aquela alegada intenção, classificam a imagem como falsa e quem a divulga como um enganador.

Por exemplo, a presente imagem da pomba acompanhando o esquife do cardeal. Foi dito – de maneira até inexplicavelmente agressiva – que é perfeitamente possível fazer uma pomba ficar num caixão sem que isto prove a existência de Deus. Oras, mas é claro que é possível, e de incontáveis maneiras: a pomba podia ser treinada, podia ser uma pomba de estimação do cardeal, podia haver algum vestígio de substância (p.ex., farelo de pão) sobre o caixão que a tivesse atraído, ou simplesmente a pomba pode ter ficado lá porque ela precisava ficar em algum lugar e calhou de ser em cima do caixão, etc. Na verdade, isto importa bem pouco, porque o ponto aqui é outro: é a força da imagem de uma pomba branca velando o corpo de um cardeal da Santa Igreja, e a mensagem aqui transmitida não perde o seu vigor dependendo da forma como a cena foi produzida.

Não existem somente as (na falta de expressão melhor) “verdades factuais”. Por exemplo – e este os ateus hão de entender -, quando alguém vê um conjunto de bolinhas e de linhas curvas em certa disposição, sabe que aquilo é um átomo. Pouco importa se o átomo “de verdade” não é exatamente assim (e as “bolinhas”, longe de serem indivisíveis, são formadas por diversas outras partículas sub-atômicas, e os elétrons não descrevem bem movimentos elípticos e são melhor representados por funções de probabilidade, etc.), aquilo é um átomo. Ainda por exemplo (os ateus façam uma forcinha para entenderem esta), aquele quadro que tem na igreja do Senhor do Bonfim em Salvador e que retrata a morte do ímpio não significa que os demoniozinhos são bípedes com caras de monstros e que ficam fisicamente puxando o moribundo para impedi-lo de [até mesmo involuntariamente] estender os braços em direção à cruz que lhe é oferecida. Um sujeito que dissesse que este quadro é “falso” ou “mentiroso” por conta disso não entendeu, absolutamente, qual é o propósito do quadro, e está preso em uma visão tosca de um emaranhado de elementos sensíveis com relação aos quais não tem, absolutamente, a menor visão de conjunto.

A majestosa ave ebúrnea posta como atalaia do corpo do eminentíssimo cardeal Eugenio Sales ao longo de todo o cortejo fúnebre não tem verdades metafísicas a comunicar com a autoridade de um emissário dos Céus. Aliás, até mesmo para os católicos, a sua presença não deve ser tomada como um sinal inequívoco de que o egrégio purpurado encontra-se já na Glória de Deus. Mas ela serve, sim, como um sinal de esperança na misericórdia divina; como uma homenagem – justíssima, por certo, independente de quem a tenha preparado – ao general que parte (sobre homenagens, aliás, vale ler o frei Rojão), convidando-nos a continuar aqui na terra o seu trabalho e a oferecer-lhe, como gratidão pelo bem realizado, o sufrágio de nossas orações. Que o Senhor lhe dê o descanso eterno, e a luz perpétua brilhe sobre ele. Descanse em paz, Dom Eugenio Sales.

Nota de Falecimento: Dom Eugênio Cardeal Sales

[Eu soube esta madrugada do falecimento de Sua Eminência Reverendíssima o Cardeal Dom Eugenio de Araújo Sales; reproduzo a pequena nota que consta no site da Arquidiocese do Rio de Janeiro – no qual, a propósito, o cardeal sempre colocava os seus artigos e cujo acervo se encontra agora à disposição, como um legado, aos que por aqui ficamos ainda mais um pouco, deste que era o mais antigo cardeal da Santa Igreja.

A CNBB também emitiu uma nota de pesar. O Deus lo Vult! faz coro às lamentações que ressoam por todo o orbe católico, pedindo à SSma. Virgem, Porta do Céu, que receba D. Eugenio nas Moradas Celestes o quanto antes, a fim de que aquele que tanto lutou pela Igreja cá na terra possa continuar intercedendo por Ela diante de Deus.

Requiem aeternam dona ei, domine,
et lux perpetua luceat ei.

Requiescat in Pace,
Amen.]

Dom Eugenio Sales entra na Glória Eterna

É com pesar que a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro noticia o falecimento de seu Arcebispo Emérito Cardeal Dom Eugenio de Araujo Sales, no final da noite desta segunda-feira, 9 de julho de 2012.

O corpo de Dom Eugenio chegará à Catedral de São Sebastião às 12h desta terça-feira, dia 10 de julho, onde acontecerá o velório do Cardeal, com missas de duas em duas horas. Na quarta-feira, dia 11 de julho, o Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, presidirá a Missa Exequial seguida do sepultamento, na cripta da mesma Catedral.

Dom Eugenio de Araujo Sales, o mais antigo Cardeal da Igreja Católica, era Cardeal Presbítero da Santa Igreja Romana, do Título de São Gregório VII. Seu lema, fundamentado na Carta de São Paulo aos Coríntios, foi: “Impendam et Superimpendar”, tirado de 2Cor 12,15: “Quanto a mim, de bom grado despenderei, e me despenderei todo inteiro, em vosso favor. Será que, dedicando-vos mais amor, serei, por isto, menos amado?”

Exemplo de idiotice TL: Cristo, o trabalhador rejeitado!

O infame “cantor” Falcão disse certa feita que “a besteira é a base da sabedoria”. A antológica frase – “antológica”, claro está, porque digna de uma anta – é o título de um dos seus álbuns. Ao humorista brasileiro, contudo, a gente pode ao menos dar um desconto e dizer que ele está deliberadamente procurando fazer piada, que ele não leva a sério as bobagens que diz. Coisa muito diferente ocorre quando estamos tratando de uma publicação religiosa de renome e alcance nacional.

Trata-se – sim, é ele de novo – d’O Domingo, semanário litúrgico-catequético da Paulus. Desta vez, eu não vou falar das colunas que são publicadas no final [uma delas, aliás, miraculosamente, está boa: a de D. Angélico Bernardino, que tem por título “sejam santos”], mas da primeira coisa que eu ouvi quando a Missa estava por começar. Trata-se do comentário que, no jornalzinho, encabeça os “Ritos Iniciais”, e que é lido imediatamente antes da procissão de entrada. Ontem isto ressoou dentro da Igreja enquanto os fiéis estavam piedosamente esperando a Santa Missa iniciar. O comentário diz, verbis, o seguinte:

Jesus foi rejeitado em sua própria terra por ser trabalhador e filho de Maria, mulher simples da aldeia de Nazaré. Hoje continua sendo rejeitado em tantas pessoas empobrecidas e excluídas da vida social. Celebrando a sua páscoa, somos convidados a aceitar o fato de que Deus nos fala por meio dos simples, fracos e pobres.

O Evangelho da Missa de ontem é o sexto capítulo de São Marcos (v. 1-6), que fala sobre o profeta que não é aceito em sua terra. Obviamente, há um sem-número de meditações que podem ser feitas a partir desta perícope evangélica; à guisa de exemplo, o Presbíteros traz hoje tanto um roteiro homilético quanto uma homilia de D. Henrique Soares, o Evangelho Quotidiano trouxe ontem algumas palavras do Beato João XXIII sobre o “Filho do Carpinteiro”, há a própria Catena Aurea já citada, etc. Comentários a serem feitos, havia-os aos borbotões. No entanto, O Domingo me sai com esta história de que o problema que os judeus tinham com Nosso Senhor era porque Ele era trabalhador!

Cáspita, como assim Nosso Senhor foi rejeitado por ser “trabalhador”? E Ele deveria ser o quê para que fosse bem aceito, desocupado? E que misteriosa característica proletariofóbica específica dos judeus de Nazaré é esta, uma vez que é especificamente lá (e não em outros lugares) que os Evangelhos narram a rejeição de Cristo? E o que as palavras de Nosso Senhor – sobre um profeta não ser bem aceito em sua terra – têm minimamente a ver com esta suposta rejeição trabalhista com a qual O Domingo quer engabelar os seus leitores?

Os fiéis católicos que vão à Santa Missa não merecem esta idiotice. Eles têm o direito de ouvir a palavra de Deus em sua interpretação autêntica e frutuosa que só a Igreja de Cristo é capaz de fornecer, e não esta baboseira estéril de fazer corar qualquer professor de literatura ou de garantir uma reprovação sumária em qualquer avaliação de interpretação de texto. Os fiéis vão à Igreja porque querem ser edificados pela Doutrina Católica, e não enganados com esta empulhação marxista pseudo-católica já velha e putrefata que se esqueceu de que morreu e insiste em assombrar o mundo.

Veja-se como a ideologia é agora colocada acima da hermenêutica mais elementar: de onde foi tirada esta exegese louca de que Cristo foi rejeitado por ser trabalhador? O quê, no texto ou no contexto, dá margem para que seja feita semelhante inferência? Tudo isto só porque Nosso Senhor foi chamado de “carpinteiro” pelos judeus? Ora, por este modus interpretandi obtuso, a gente pode dizer que Herodíades era uma vegan fanática enrustida e pediu a cabeça de São João Batista porque este cometia o terrível crime de comer os gafanhotinhos que são criaturas de Deus.

E ainda concedendo que houvesse nesta única palavra – “o carpinteiro” – alguma conotação depreciativa (que claramente não se depreende do texto bíblico), há tão farto material a respeito do porquê do Messias não ser aceito e é tão eloqüente – prolixa até – a Doutrina Cristã sobre o assunto que é indiscutivelmente uma falcatrua e uma empulhação querer enquadrar a rejeição de Cristo em Nazaré num esquema estúpido de luta de classes onde os trabalhadores são oprimidos e marginalizados! É verdadeiramente impressionante o volume de besteira que a gente é obrigado a ouvir nesta vida; e  (ao contrário do que o Falcão poderia insinuar) não há nenhuma propriedade transmutadora de alquimia retórica capaz de fazer brotar alguma sabedoria desta infamante miséria intelectual.

Sobre a Comissão em Defesa da Vida da Regional Sul 1 da CNBB: nota contra o abortismo do governo Dilma

Grandes feitos têm pequenos começos. O chavão pode ser lugar-comum, mas é bastante adequado para falar sobre a resistência católica ao abortismo petista surgida no Brasil nos últimos anos.

Todo mundo sabe que o PT está escancaradamente comprometido com o morticínio de crianças indefesas no ventre de suas mães. E todo mundo sabe que, para os católicos, a defesa da vida não é um assunto periférico que possa ser utilizado como moeda de barganha política em benefício de outros interesses, por justos que estes sejam. Todo mundo sabe que, para os católicos, a rejeição total e absoluta ao aborto é uma das pré-condições mais básicas para que um candidato ou partido político possa licitamente receber o apoio dos que se preocupam em subordinar a contingência da vida em sociedade aos ditames da Eterna Lei de Deus. Corolário imediato disso é que nenhum católico pode apoiar com o próprio voto um candidato ou partido abortista.

Isto é terrivelmente óbvio, mas precisou ser dito às claras. Há dois anos, próximo às eleições presidenciais, três corajosos bispos da Regional Sul 1 da CNBB assinavam um panfleto que nada fazia senão repetir o óbvio. O pequeno documento terminava recomendando (sim, recomendando somente!) os cidadãos brasileiros a «que, nas próximas eleições, de[ss]em seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto». Isto foi o suficiente para que se instaurasse um rebuliço geral no Brasil.

A então candidata Dilma Rousseff passou a dar uma de doida e a desdizer publicamente, na maior cara de pau, tudo o que dissera antes a respeito das suas posições em relação à descriminalização do aborto no Brasil. Teve inclusive a pachorra de [já em campanha do segundo turno] ir a uma Missa em Aparecida mesmo sem fazer a menor idéia de como se comportar dentro de um templo católico. A hipocrisia, contudo, não funcionou como era esperado e a candidata do PT perdeu uma vitória que era dada por certa no primeiro turno. Passou-se então à perseguição ditatorial escancarada: os documentos da CNBB foram proibidos de serem circulados, inclusive com uma tentativa de invasão (claramente ilegítima) de uma gráfica por militantes do partido e posterior apreensão (igualmente ilegítima) por meio da Polícia Federal dos panfletos que lá estavam sendo produzidos. Mas o estrago foi tão grande que a sra. Rousseff comprometeu-se a, se eleita, não mexer na legislação brasileira sobre o aborto. Aliás, não fosse o seu adversário escolhido a dedo para perder a farsa eleitoral que tem por único propósito conferir um verniz de legitimidade democrática à tirania já instaurada, a sra. Rousseff certamente perderia as eleições. Teria sido divertido.

Hoje, dois anos e sucessivas tentativas de legalização subreptícia do aborto no país depois (STF e anencéfalos, política de “redução de danos” para mulheres que desejam provocar o aborto, anteprojeto de reforma do Código Penal, nomeação de uma abortista escancarada para a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, etc.), mais uma vez se levanta a voz dos católicos. Após circular a denúncia de que o Governo se prepara para implantar o aborto no país via Ministério da Saúde, a Comissão em Defesa da Vida da Regional Sul 1 da CNBB aprovou recentemente uma dura nota contra o Governo Dilma. O Deus lo Vult! recebeu-a por email; trechos da mesma podem ser encontrados na ACI Digital. O texto contundente termina pedindo provas concretas da boa fé da senhora presidente:

Não queremos que a Presidente Dilma faça pronunciamentos por palavras ou por escrito, queremos fatos:

1. A demissão imediata da Ministra Eleonora Menicucci da Secretaria das Políticas para as Mulheres.

2. A demissão imediata do Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, que está coordenando a implantação das novas medidas a serem tomadas por esse Ministério.

3. O rompimento imediato dos convênios do Ministério da Saúde com o grupo de estudo e pesquisa sobre o aborto no Brasil.

Nossos cumprimentos à Comissão em Defesa da Vida da Sul 1, que teve a coragem de tornar públicas estas considerações que são, como bem o sabemos, as mesmas posições que a maior parte da população brasileira tem sobre o assunto. Tendo sido eleita com 55 milhões de votos (o que é bem menos da metade – pra ser exato, apenas 40%do total de eleitores do Brasil em 2010), a senhora presidente parece não estar nem um pouco preocupada em governar de acordo com os anseios da população brasileira. Diante de um governo indesejado pela maior parte dos brasileiros e cujo maior feito nestes dois anos tem sido o descumprimento ostensivo das promessas de campanha a respeito do aborto, é importante que levantemos a nossa voz contra estes descalabros ilegítimos e protestemos energicamente contra o que está acontecendo em nossa Pátria. É importante que a população brasileira saiba o que a presidente está fazendo na presidência do país.

É HOJE: Sorteio de camisetas de Chesterton!

Atenção! Vai haver hoje um sorteio de duas camisas de Chesterton, cortesia das “Camisetas Chesterton Brasil”.

Para participar, basta curtir a página do Facebook, ajudando assim na divulgação desta iniciativa que tenciona tornar mais conhecido o grande pensador católico. Como disse o Wagner Moura:

Olá, pessoal! As camisetas estão à venda por R$25,00 mais frete. Para concorrer a duas, hoje, basta curtir a página www.facebook.com/camisetaschesterton e torcer! Sim, o ganhador não vai pagar nada e receberá a camiseta no endereço que informar. O sorteio será às 21h como está na imagem. Boa sorte!

Corram que ainda dá tempo!