Curtas: divórcio no Brasil, medidas pró-vida, Dom Evaristo Arns e o esvaziamento das igrejas, erro médico salva bebê

Brasil tem recorde de divórcios em 2011. «O número de divórcios chegou a 351.153, um crescimento de 45,6% em relação a 2010, quando foram registrados 243.224».

A razão? Naturalmente, o afrouxamento das exigências para o divórcio. «Conforme a pesquisa, um dos fatores foi a mudança na Constituição Federal em 2010, que derrubou o prazo para se divorciar, tornando esta a forma efetiva de dissolução dos casamentos, sem a etapa prévia da separação».

Pode-se argumentar que estas pessoas já não estavam vivendo um “casamento de verdade” mesmo, e que o fim do prazo legal para o divórcio só fez diminuir a burocracia necessária para regulamentar de direito uma situação que já existia de fato. Data venia, discordo. Casamento tem muito mais a ver com responsabilidade do que com os cônjuges “sentirem-se bem”, “amarem-se romanticamente” ou qualquer outro critério subjetivo do tipo. O casamento existe enquanto não se desiste dele; e conferir facilidades à desistência conjugal, longe de meramente regulamentar uma situação de fato, é contribuir positivamente para o fim do casamento – e, por conseguinte, para a banalização de um dos pilares necessários à vida em sociedade.

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– É antiga, mas merece dois tostões: “Proibir o aborto está longe de ser uma medida pró-vida”. «Eu nunca vou chamar de “pró-vida” alguém que faz piquete contra o programa Planned Parenthood e que faz lobby contra as leis relacionadas ao controle de armas regido pelo senso comum».

O que dizer? São comparações descabidas em cima de comparações descabidas! Ninguém é a favor da destruição ambiental ou do morticínio por armas de fogo. As bandeiras são pelo (verdadeiro!) desenvolvimento sustentável, que resguarda a primazia do homem na escala de valores da natureza, e pelo exercício do direito à legítima defesa, que dá a cada um a capacidade de proteger a si próprio e aos seus. Ao contrário, o aborto é a destruição direta de um ser humano. Causa espécie que existam pessoas incapazes de distinguir entre um espantalho e uma reivindicação literal!

Bem característico da qualidade argumentativa do texto é este período aqui: «O respeito pela santidade da vida, se você acredita que ela começa no momento da concepção, não pode terminar no nascimento». Oras, em primeiro lugar, ninguém “acredita” que a vida começa na concepção. Nós sabemos, com sólido e inabalável fundamento científico e filosófico, que a união dos gametas masculino e feminino produz um novo ser, distinto da mãe e pertencente à espécie humana. Isto é um fato, não uma coisa na qual se “acredita”. Se os “pro-choice” defendem que certos seres humanos são mais passíveis de proteção do que outros, que assumam abertamente as suas posições. Mas não venham querer jogar fatos objetivos e incontestes para o cômodo terreno das crendices e opiniões.

Em segundo lugar, é bastante óbvio que ninguém que é contra o aborto afirma que os cuidados com o ser humano devam terminar no momento do nascimento: isto é só mais um espantalho grosseiríssimo do sr. Thomas Friedman. Mas para quem tem o admirável dom de escrever um texto falacioso do primeiro ao último parágrafo, tal sofisma deve brotar com a naturalidade de um cacoete involuntário e incontrolável. Talvez ele nem perceba; mas isso, embora possa talvez escusá-lo da patifaria intelectual, não transforma esta tagarelice em argumento que deva ser levado a sério.

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– Dom Evaristo Arns admite que suas homilias esvaziavam a igreja. Simplesmente faço coro [p.s.: ao trecho abaixo que é d’O Catequista, e não de D. Arns]:

O crescimento das igrejas evangélicas se deu, em grande parte, graças ao bla-bla-blá marxista dos padres da Teologia da Libertação. O fiel ia pra paróquia querendo ouvir palavras de vida eterna, e, em vez disso, tinha que aturar um sermão enfadonho contra o “capetalismo”, sobre os oprimidos etc. (tudo muito teórico e distante da realidade do povo, pra variar). Um belo dia, cedendo ao convite de um amigo crente, o sujeito resolvia dar uma passadinha no culto, e o que ele via? Um pastor falando das coisas de Deus, falando de Cristo, explicando as coisas da Bíblia… Opa, finalmente!

E aí, entre uma paróquia transformada em filial do partido comunista e uma igrejola cheia de gente histérica, mas que, ao menos, ainda lembra que Jesus existe, com quem vocês acham que o povo simples fechava?

Estes resultados são tão deprimentes quanto previsíveis. O povo simples tem sede de Deus e, portanto, não se deixa engabelar facilmente pelo materialismo grosseiro e estéril da Teologia da Libertação. Foram às seitas protestantes para beber água suja, sim, mas muitas vezes forçados pelas circunstâncias eclesiásticas católicas – onde nem sequer água barrenta lhes davam. Foram à pocilga comer o farelo dos porcos porque, para vergonha nossa, nas paróquias só lhes davam pedras para comer.

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Erro médico salva bebê prematuro. Há «um código ético seguido pelos hospitais do Reino Unido que diz que os médicos não devem se esforçar para manter vivos esses bebês prematuros». E então aconteceu o seguinte:

Mas Maddalena sobreviveu, e, quando foi pesada, a balança marcou 1 libra (aproximadamente 453 gramas), número considerado razoável que fez com que os médicos decidissem agir para mantê-la viva. Acontece que a bebê pesava, na verdade, apenas 382 gramas, e uma tesoura esquecida em cima da balança havia aumentado seu peso. Se não fosse por isso, provavelmente eles teriam seguido o código e deixado os esforços de lado.

Ela sobreviveu e agora já está em casa. Um amigo perguntou que espécie de código de ética é este que proíbe os médicos de se esforçarem para salvar a vida de bebês prematuros; a perplexidade dele é plenamente justificável. É o tecnicismo colocado acima do mais elementar respeito à vida humana frágil e indefesa! E ainda querem nos fazer acreditar que estamos evoluídos. Ao contrário, parece-me bastante óbvio que o progresso moral não acompanhou o extraordinário desenvolvimento técnico que alcançamos. E é claro que a técnica é uma coisa muito boa, mas ela é um meio que se deve orientar ao bem do ser humano. Afinal de contas, se isto for esquecido, de que nos serve a técnica? Mais vale um médico sem perícia e sem tecnologia preocupado em salvar uma criança prematura do que um que, embora possua excelentes habilidades e tecnologia de ponta, prefira deixar um bebê frágil morrer sem cuidados! E a saúde moral de qualquer sociedade está fortemente relacionada ao quanto ela percebe que esta proposição é evidente.

O destempero e despreparo dos que defendem o “casamento gay”

O deputado Jean Wyllys voltou a subir nas tamancas para proferir ataques grosseiros à Igreja Católica e ao Papa Bento XVI. O último “piti” do excelentíssimo deputado ocorrera em janeiro deste ano, e nós tratamos então exaustivamente do assunto aqui no blog. Na última sexta-feira (14 de dezembro) o deputado iniciou nova saraivada de invectivas com esta postagem do Twitter, à qual seguiram-se outras com a sua já característica deselegância.

O Ecclesia Una fez a cobertura, e é dele que colho o seguinte printscreen com as delicadezas proferidas por um suposto representante do povo brasileiro (ainda facilmente acessíveis a partir de sua timeline, se a rolarmos um pouco para baixo):

jean-wyllys-xingando-no-twitter

A origem do ataque histérico foi esta matéria, que falava sobre a Mensagem Pontifícia do XLVI Dia Mundial da Paz (contra ela, aliás, o Jean Wyllys não foi o único a se levantar). Analisemo-la com um pouco mais de atenção (coisa que o excelentíssimo deputado se furtou de fazer).

Em sua mensagem, o Papa começa lembrando que o nosso tempo – marcado «por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra» – requer a busca «[d]o desenvolvimento de todo o homem e do homem todo». Falando especificamente sobre a Paz, Sua Santidade diz:

A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus.

E, logo em seguida, repetindo e desenvolvendo a mesma idéia:

A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício.

Finalmente, o Papa chega ao ponto que provocou urticária no deputado:

Também a estrutura natural do matrimónio, como união entre um homem e uma mulher, deve ser reconhecida e promovida contra as tentativas de a tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter peculiar e a sua insubstituível função social.

O argumento do Papa é rigoroso: a paz é o exercício da convivência, e esta precisa estar alicerçada em critérios objetivos e válidos para todos. O que aliás é bastante óbvio: se a gente não entra em acordo sobre quais são os direitos e deveres do ser humano, é impossível arbitrar os conflitos surgidos e é impossível haver paz. Estes critérios – diz o Papa – são essencialmente aquilo que «constitui a verdadeira natureza do ser humano», e esta identifica-se com a antropologia cristã da qual a Igreja age há vinte séculos como porta-voz.

No mundo há os não-crentes e, por certo, há os que não reconhecem à Igreja de Cristo autoridade alguma para sentenciar a «verdadeira natureza do ser humano». Isto, no entanto, não invalida o argumento: trata-se na verdade de um tema caro ao Papa Bento XVI já há muitos anos. Segundo o então cardeal Joseph Ratzinger:

[A] tentativa, levada ao extremo, de considerar as coisas humanas menosprezando completamente Deus nos leva cada vez mais ao abismo, ao encerramento total do homem. Deveríamos, então, voltar ao axioma dos Ilustrados e dizer: mesmo quem não consiga encontrar o caminho da aceitação de Deus deveria buscar viver e dirigir sua vida “veluti si Deus daretur”, como se Deus existisse. Este é o conselho que dava Pascal a seus amigos não crentes; é o conselho que queríamos também dar a nossos amigos que não crêem. Deste modo, ninguém fica limitado em sua liberdade e nossa vida encontra um novo sustentáculo e um critério cuja necessidade é urgente.

É possível discordar do Papa, naturalmente. Mas é preciso fazê-lo no plano dos argumentos e dos fatos que ele coloca; ninguém diga que isto é uma alegação gratuita, porque não é. É a conclusão de um longo e  minucioso arrazoado (que pode ser visto no link acima) feito por um homem que, para além de quaisquer reservas teológicas contra o qual se tenha, é um intelectual de peso e renome. Evidentemente, não se pode discordar do Papa dando um chilique afetado e desfilando meia-dúzia de calúnias históricas que absolutamente nada têm a ver com o tema em pauta. Isto só mostra o destempero e despreparo dos que defendem o “casamento gay” e demais pontas de lança da revolução moral. E, mais uma vez, só demonstra que o Papa está com a razão.

P.S.: Quem quiser fazer uma reclamação oficial à Câmara dos Deputados contra esta (mais uma!) quebra de decoro do deputado Jean Wyllys, não hesite em usar o site da Câmara.

O aborto nunca salva a vida de uma mulher. Ele apenas mata um bebê.

Interessante este curto vídeo sobre o aborto, produzido após uma mulher indiana ter morrido na Irlanda alegadamente porque os médicos locais se recusaram a fazer-lhe um aborto. A notícia repercutiu mundo afora; curiosamente, as declarações dos bispos irlandeses sobre a licitude do “aborto indireto” ninguém publicou.

Os ativistas pró-aborto foram rápidos em condenar a atitude dos médicos irlandeses:

Halappanavar teve forte dores no dia 21 de Outubro. Ela estava a perder o bebé e, de acordo com o seu marido, pediu várias vezes a interrupção da gravidez após ter sido informada de que o feto não sobreviveria. Mas Halappanavar e o seu marido foram informados de que a Irlanda é um país católico e como o feto ainda tinha batimento cardíaco, o procedimento estava fora de questão. Halappanavar morreu de septicemia; a sua família acredita que este desfecho teria sido evitado se a interrupção da gravidez tivesse sido realizada.

A história está evidentemente mal contada e tudo o que nós sabemos é que uma mulher grávida, infelizmente, morreu de infecção. Que o aborto pudesse salvar-lhe a vida é apenas especulação sem fundamento; aliás, de acordo com o repórter irlandês que cobriu o caso, pode ser que nem tenha havido uma solicitação de aborto – donde não se pode falar, portanto, em “omissão” dos médicos, e tudo o que nós temos aqui é – mais uma vez – o lobby abortista aproveitando-se da tragédia alheia para fazer propaganda da sua agenda ideológica.

Não existe aborto terapêutico. Não há cura que possa advir da morte de alguém. Postular que o sacrifício de um ser humano inocente possa ser exigido para salvar a vida de alguém é superstição pagã, e não ciência médica. Não existe verdadeiro respeito à vida quando se descarta o ser humano que a mulher doente carrega em seu ventre.  Nunca é demais deixar claro: o aborto nunca salva a vida de uma mulher. Ele apenas mata um bebê.

Há espaço para as Universidades Católicas num mundo pluralizado?

A direção da PUC-SP negou pela segunda vez a decisão do Conselho Universitário de rejeitar a nomeação da profa. Anna Cintra para a reitoria da Universidade [1]. A nota foi clara: «Sendo a PUC-SP uma universidade comunitária-privada, somente o grão-chanceler [no caso, o arcebispo Dom Odilo Scherer], como instância de deliberação máxima, tem poderes para revogar a nomeação da Reitora, nos termos de seus estatutos». Os professores suspenderam a greve [2].

Anteontem, uma liminar da Justiça havia suspendido a nomeação da reitora [3] até que o Conselho Universitário julgasse um pedido de anulação feito pelos alunos. O julgamento foi feito ontem, quando «representantes de professores, alunos e funcionários, que formam o conselho, aprovaram um recurso dos estudantes de direito da PUC, que pedia a suspensão da lista tríplice dos candidatos à reitoria» [1]. Mesmo assim, «a direção da PUC julgou “incoerente” a decisão do conselho suspendendo a lista tríplice, pois há quase 90 dias o mesmo órgão havia aprovado os três nomes» [1]. Tendo havido o julgamento, a liminar perde a validade [3]; a direção da PUC rejeitando a decisão do Conselho Universitário, a profa. Anna Cintra permanece na reitoria [1]; sendo suspensa a greve [2], espera-se que os ânimos se pacifiquem e os grevistas (ao menos por enquanto) aceitem a nomeação da nova reitora. Mas eu não me arrisco a prever o desenrolar deste imbroglio todo.

Mais do que as questões de fato (que inclusive já haviam sido comentadas no Deus lo Vult!), interessam-nos aqui os princípios por trás desta disputa toda. Em artigo publicado na Folha de São Paulo, o Cardeal Odilo Scherer, grão-chanceler da PUC-SP, fez uma aberta defesa da missão da Universidade Confessional e Católica dentro de uma sociedade democrática e plural:

Para um pesquisador cristão, a coerência com a sua fé não o faz sobrepor ao seu trabalho critérios alheios à ciência; sua própria fé leva-o ao amor à verdade e ao respeito pela dignidade da pessoa humana.

Num contexto relativista, como o atual, uma universidade católica contribui para mostrar que há valores inegociáveis, como a busca da verdade, o valor da vida humana em todas as suas etapas e a dignidade da mulher.

[…]

Por isso, mesmo, num mundo que parece esquecer-se de Deus, uma universidade católica tem uma importante função social, também como contribuição para o pluralismo e a liberdade de pensamento. E isso não parece irrelevante para o convívio democrático!

A posição de Dom Odilo está perfeita e responde com maestria à pergunta que intitula este texto. Esta firmeza do Cardeal de São Paulo, contudo, provocou a ira de outros colunistas da Folha de São Paulo. Na última terça-feira, o Vladimir Safatle reservou o seu espaço hebdomadário no jornal para criticar não apenas a posição de D. Odilo, como também o próprio lugar de uma Universidade Confessional dentro de um Estado Democrático. As idéias do colunista são francamente absurdas; para ficar em só dois exemplos:

1. «Desde o seu início, ela [a Universidade] foi uma ideia vinculada à constituição de um espaço crítico de livre pensar. Ela era a expressão social do desejo de que o conhecimento se desenvolvesse em um ambiente livre de dogmas, sem a tutela de autoridades externas, sejam elas vindas do Estado, da igreja ou do mercado».

Conversa fiada pura e simples. As Universidades foram inventadas pela Igreja Católica na Idade Média. Elas nunca pretenderam ser um espaço livre das influências da Igreja, primeiro porque o homem medieval não conseguia conceber nada de útil que pudesse existir à margem das influências benéficas da Igreja de Cristo, e segundo porque foi a própria Igreja a responsável pela criação do Sistema Universitário. O que o Safatle está falando é simplesmente uma inverdade histórica grosseira.

2. «A universidade, mesmo particular, é uma autorização do poder público que exige, para tanto, a garantia de que valores fundamentais para a formação livre serão respeitados».

Isto é uma meia verdade que, no contexto do artigo, se transforma em uma mentira completa. Televisão é concessão pública, Universidade não.

É verdade que a Constituição Federal exige da iniciativa privada «I – cumprimento das normas gerais da educação nacional; [e] II – autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público» (Art. 209). No mesmo sentido, o Decreto 5.733 de 2006 diz que «o funcionamento de instituição de educação superior e a oferta de curso superior dependem de ato autorizativo do Poder Público» (Art. 10), mas – atenção! – isto é «nos termos deste Decreto» (id. ibid.), e não na concepção do articulista da Folha. E os termos dispostos na lei não justificam, nem de longe, a ameaça velada que o Safatle faz: não há absolutamente nada aqui (nem na 10.861/2004, nem em lugar nenhum) que impeça um Instituto de Ensino Superior de ser Confessional. O Decreto fala da regulação pelo MEC, dever legal com o qual a PUC-SP – até onde conste – está em dia.

Os «valores fundamentais para a formação livre» exigidos pelo Poder Público brasileiro para o funcionamento das Universidades não exigem sua “aconfessionalidade”. Muito pelo contrário aliás, a Lei de Diretrizes e Bases reconhece explicitamente a existência das Universidades Confessionais (Art. 20, inciso III), contrariando frontalmente o articulista da Folha que diz não haver, «no interior da República, (…) espaço para universidades católicas, protestantes, judaicas ou islâmicas». E o sujeito me vem falar em “formação livre”! Que formação livre, se ele deseja impôr a todas as Universidades brasileiras – tanto públicas como privadas – uma orientação político-ideológica particular que nem a própria legislação brasileira impõe?

Por fim, a bravata do final do artigo é somente isto: uma bravata pueril e cínica. O MST mantém mais de 1500 escolas em todo o país. No dia em que o Vladimir Safatle vier a público exigir que nestas escolas se ensine a propriedade privada, o agronegócio e o latifúndio, aí a gente pode começar a pensar em levá-lo a sério. Enquanto isso, o seu discurso sobre o dever das instituições católicas de promoverem valores contrários aos da Igreja não passa de hipocrisia mal-disfarçada.

Nossa Senhora de Guadalupe: diálogos com San Juan Diego

No dia de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira das Américas, publico um trecho da narrativa das aparições da Mãe de Deus ao índio Juan Diego em 1531, há quase quinhentos anos. A passagem consta no livro de Edésia Aducci, “Maria e Seus títulos gloriosos”, e eu a cito apud “PCO – Plinio Corrêa de Oliveira”.

* * *

Na primeira aparição, Nossa Senhora, falando no idioma mexicano, dirige-se a Juan Diego: “Meu filho, a quem amo ternamente, como a um filho pequenino e delicado, aonde vais?” Resposta dele: “Vou, nobre Senhora minha, à cidade, ao bairro de Tlaltelolco, ouvir a santa missa que nos celebra o ministro de Deus e súdito seu”.

Ela: “Fica sabendo, filho muito querido, que eu sou a sempre Virgem Maria, Mãe do verdadeiro Deus, e é meu desejo que me erijam um templo neste lugar, de onde, como Mãe piedosa tua e de teus semelhantes, mostrarei minha clemência amorosa e a compaixão que tenho dos naturais e daqueles que me amam e procuram; ouvirei seus rogos e súplicas, para dar-lhes consolo e alívio; e, para que se realize a minha vontade, hás de ir à cidade do México, dirigindo-te ao palácio do bispo que ali reside, ao qual dirás que eu te envio e que é vontade minha que me edifique um templo neste lugar; referirás quanto viste e ouviste; eu te agradecerei o que por mim fizeres a este respeito, te darei prestígio e te exaltarei”.

Resposta dele: “Já vou, nobilíssima Senhora minha, executar as tuas ordens, como humilde servo teu”.

Segunda aparição: Juan Diego volta do palácio do bispo, no mesmo dia, à tarde. A Santíssima Virgem o esperava. “Minha muito querida Rainha e altíssima Senhora, fiz o que me mandaste, e, ainda que não pudesse entrar a falar com o senhor bispo senão depois de muito tempo, comuniquei-lhe a tua mensagem, conforme me ordenaste; ouviu-me afavelmente e com atenção; mas, pelo seu modo e pelas perguntas que me fez, entendi que não me havia dado crédito; portanto, te peço que encarregues disso uma pessoa (…) digna de respeito, e em quem se possa acreditar, porque bem sabes, minha Senhora, (…) que não é para mim este negócio a que me envias; perdoa, minha Rainha, o meu atrevimento, se me afastei do respeito devido à tua grandeza; que eu não tenha merecido tua indignação, nem te haja desagradado minha resposta”.

A Santíssima Virgem insiste com Juan Diego. Este volta ao bispo e o prelado exige um sinal da aparição. Volta o índio e Nossa Senhora manda que volte no dia seguinte, ao mesmo local, que Ela satisfaria o desejo do bispo; mas Juan Diego, precisando chamar o sacerdote para seu tio, que adoecera gravemente, e desvia-se do caminho combinado, certo que a Santíssima Virgem não o veria. Mas eis que Nossa Senhora aparece-lhe noutro local. “Aonde vais, meu filho, e por que tomaste este caminho?” Juan Diego: “Minha muito amada Senhora, Deus te guarde! Como amanheceste? Estás com saúde?… Não te agastes com o que te vou dizer: está enfermo um servo teu, meu tio, e eu vou depressa à igreja de Tlaltelolco, para trazer um sacerdote para confessá-lo e ungi-lo, e, depois de feita esta diligência, voltarei a este lugar, para obedecer à tua ordem. Perdoa-me, peço-te Senhora minha, e tem um pouco de paciência, que amanhã voltarei sem falta”.

Resposta dela: “Ouve, meu filho, o que eu vou dizer-te: não te aflija coisa alguma, nem temas enfermidade nem outro acidente penoso. Não estou aqui eu, que sou tua Mãe? Não estás debaixo de minha proteção e amparo? Não sou eu vida e saúde? Não estás em meu regaço e não andas por minha conta? Tens necessidade de outra coisa?… Não tenhas cuidado algum com a doença de teu tio, que não morrerá dessa vez, e tem certeza de que já está curado”.

O Papado em São Cipriano e nos primórdios do Cristianismo

Com relação às discussões a respeito de São Cipriano de Cartago e o Papado que estão sendo travadas neste post do Deus lo Vult!, vale a pena dizer quanto segue:

– A citada “brilhante refutação do Lucas” é um texto tosco e prolixo, de péssimo gosto, repleto de argumentos ad hominem e que não diz nada sobre o verdadeiro mérito da questão, qual seja, sobre se São Cipriano alguma vez na vida negou o Papado.

– A resposta a esta questão é evidentemente negativa. São Cipriano de Cartago, como bispo católico, jamais negou e nem poderia ter negado a primazia do Bispo de Roma sobre toda a Igreja de Deus. Se fosse possível aos santos de Deus revirarem-se no túmulo, por certo os ossos do grande mártir estariam provocando terremotos com estes disparates proferidos atualmente pelos filhos de Lutero.

– A tagarelice da “brilhante refutação do Lucas” resume-se a (i) questionar traduções de textos de São Cipriano, (ii) discutir a possibilidade (dentro da Doutrina Católica) do Papa cair em heresia e (iii) trazer meia dúzia de citações do Bispo de Cartago e dos Concílios primitivos que, na “lógica” protestante, apoiariam a posição de Lutero.

Quanto a (i), basta dizer que é completamente irrelevante. A discussão original versava, entre outros pontos, sobre uma suposta interpolação no tratado de São Cipriano sobre a Unidade da Igreja. Este site protestante traz a íntegra da obra em português e, apontando a “falsificação” católica, mostra a seguinte tabela:

Texto de São Cipriano Texto Interpolado
Loquitur Dominus ad Petrum, Ego tibi dico Tu es Petrus, etc.(a)Super unum(b) ædificat ecclesiam.

Hoc erant utique et cæteri apostoli quot fuit Petrus, qui consortio præditi et honoris et potestatis, sed exordium ab unitate proficisitur,(c) ut(d) Christi ecclesia(e) una monstretur.(f)

Qui Ecclesiæ resistitur et resistit,(g) in ecclesia se esse confidit?

(a) Et iterum eidem, post ressurectionem suam dicit, Pasce oves meas.(b) Super illum unum…et illi pascendas mandat oves suas.

(c) Et primatus Petro datur.

(d) Una.

(e) Et cathedra.

(f) Et pastores sunt omnes et grex unus ostenditur, qui ab apostolis omnibus, unanimi consensione pascatur, etc.

(g) Qui cathedram Petri, super quem fundata est ecclesia deserit, etc.

Ora, eu confesso que nunca vi este texto interpolado na vida! O texto que consta na Enciclopédia Católica é o incontroverso (à exceção do ponto ‘(a)’, que é meramente descritivo do fato bíblico). Também no Catecismo Romano (Parte I, Cap. X, XII), que traduzo abaixo do espanhol, não há os trechos interpolados:

Fala o Senhor a Pedro: [«]Pedro, Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja[»]. Sobre um [o Senhor] edifica a Igreja, e ainda que após Sua Ressurreição dê a todos os Apóstolos igual poder e diga: [«]Assim como o Pai me enviou, assim Eu envio a vós: recebei o Espírito Santo[»]; com tudo isso, para manifestar a unidade, dispôs com Sua autoridade a origem da mesma unidade, que começasse de um.

O que, aliás, é praticamente o mesmo texto do “e-cristianismo” citado. Aí eu pergunto: é sério que este texto não é suficiente para demonstrar que São Cipriano considerava que a Unidade da Igreja derivava de São Pedro? Retirando-se os trechos (alegadamente) interpolados e ficando com a exata versão que consta no site protestante, por acaso a passagem passa a dizer o contrário do que dizia? É lógico que não! Donde se vê que, neste contexto, a discussão sobre estas interpolações é completamente inútil, é somente uma cortina de fumaça levantada para ofuscar a clareza da Doutrina Católica testemunhada já no século III por São Cipriano.

Quanto a (ii), o dogma da infalibilidade pontifícia diz, tão-somente, que o Papa é infalível quando se pronuncia ex cathedra, i.e., quando fala a toda a Igreja usando a Sua autoridade de Sucessor de Pedro para, em assunto de Fé ou Moral, confirmar a verdade e condenar o erro. E daí que São Cipriano discordou de Santo Estêvão? E daí que São Paulo resistiu em face a São Pedro? Os erros pessoais dos Romanos Pontífices em nada afetam a infalibilidade papal, posto que esta envolve somente alguns atos pontifícios, e não todas as atitudes dos Papas. Será possível que os protestantes ainda não entenderam este ponto básico do Catecismo das Crianças, e insistem em se debater atrapalhadamente contra espantalhos toscos?

Ainda: discutir se o Papa pode ou não cair em heresia só faz sentido partindo do pressuposto que existe um Papa que não erra em matéria de Fé, é óbvio, posto que senão esta discussão sequer existiria, uma vez que ninguém jamais negou que um bispo pudesse ser herege e a História nos dá exemplos abundantes desta verdade. Se o Bispo de Roma fosse simplesmente um bispo igual aos outros não haveria a discussão sobre se ele pode ou não cair em heresia, posto que a resposta a isto seria evidentemente positiva. Negar que exista um Papa porque um dia ele foi acusado de estar errado é, parafraseando Chesterton, o mesmo que negar a existência do Banco do Brasil por conta de uma cédula de Real falsificada – ou, dito de outra maneira, seria como se acusar uma lei de Inconstitucionalidade implicasse que não existe Congresso Nacional.

Por fim, sobre (iii), analisando com mais vagar os escritos de São Cipriano:

1. A Epístola 73 (onde, segundo o Lucas, São Cipriano chama o Papa de herege) seria uma excelente oportunidade para o santo, se protestante fosse, protestar com veemência contra esta pretensão romana de deter a primazia sobre a Igreja Católica inteira. Mas ele não faz isso. Muito pelo contrário até, ele reafirma a Doutrina Católica tradicional (grifos meus):

E a este respeito eu estou com razão indignado contra esta patente e manifesta tolice de Estêvão, de que ele – que se orgulha do seu lugar no episcopado e alega possuir a sucessão de Pedro, na qual os fundamentos da Igreja foram lançados – devesse introduzir muitas outras rochas e estabelecer novos fundamentos de muitas igrejas.

Ora, se São Cipriano fosse protestante e negasse o papado, o que ele deveria fazer neste momento? Dizer que não existe fundamento algum de Igreja sobre São Pedro, que isto é uma pretensão absurda da Sé de Roma, que todos os bispos são iguais, e todas as demais bobagens que os filhos de Lutero gostam de vociferar. Mas o que ele critica em Estêvão é justamente o contrário: é que ele (Estêvão) estaria minando a autoridade da Igreja ao permitir o batismo nas igrejas dos hereges. Ou seja, o santo não critica no Papa a sua pretensão ao Papado, mas justamente a sua [atribuída] omissão em condenar uma coisa [= o Batismo dos hereges] que parecia a São Cipriano minar a unidade da Igreja. São Cipriano não nega que Santo Estêvão seja Papa, muito pelo contrário: reclama que ele não esteja agindo como Papa! São Cipriano não afirma que todo bispo fosse rocha e fundamento da Igreja, muito pelo contrário: reclama que o Papa pretendesse estabelecer novas rochas e novos fundamentos! Isto está perfeitamente de acordo com tudo o que o santo mártir disse em outros lugares e com a pureza da Doutrina Católica. O resto é tesoura protestante.

2. A citação do Concílio de Cartago está criminosamente fora de contexto. São Cipriano está falando dos [e para os] bispos africanos que estavam lá reunidos para discutir a questão do Batismo dos hereges, e não sentenciando princípios eclesiológicos de validade universal. O assunto não tem, absolutamente, nada a ver com o primado do Papa. Extrapolar as (parcas!) palavras do santo aqui para fazê-lo contradizer o que ele próprio disse clara e demoradamente em outros lugares (em particular, no De Unitate Ecclesiae, onde o assunto era precisamente este e foi tratado com vagar e à exaustão de argumentos) sobre a primazia do Bispo de Roma é patifaria intelectual pura e simples.

3. O Concílio (Regional) de Cartago de 418, ao excomungar quem quisesse “apelar para Roma” (Cân. 17), só mostra que havia então o costume de que as questões nas igrejas locais fossem arbitradas pela Igreja de Roma – i.e., só dá (mais) um testemunho a favor do papado. Por qual outro motivo um católico africano iria apelar para a Igreja de Roma (que ficava “do outro lado do mar”, com todas as dificuldades logísticas que isto implicava então) se não fosse por acreditar que aquela Sé detinha jurisdição sobre as demais Igrejas Particulares do orbe? Por que eles não condenaram quem apelasse para a Igreja de Bizâncio, de Antioquia ou de Jerusalém? Ora, só pode ser porque ninguém apelava para estas Igrejas, embora Apostólicas, porque todos sabiam que o princípio da Unidade estava na Sé de Roma e não em nenhuma outra. Aqui, como em outros lugares, a existência do erro não implica na inexistência da verdade, muito pelo contrário: testemunha-a.

Quando o Papa São Celestino recebeu uma carta neste teor (enviada pelo Sínodo de Cartago de 424), ele simplesmente rejeitou-a. E ninguém o obrigou a acatar a decisão deste sínodo africano, pois todo mundo sabia que o Papa era o Papa e as Igrejas da África deviam estar submissas à Igreja de Roma, fundamento da Unidade, como o santo Bispo de Cartago demonstrou à profusão de argumentos dois séculos antes.

4. Por fim, a citação do Cân. VI do Concílio de Nicéia é de novo descabida, pois trata de questões administrativas (sobre ordenação de bispos) e não sobre a autoridade da Sé de Roma para arbitrar questões de Fé. Vê-se, assim, que para quem reclama tanto de contexto de citações os protestantes costumam agir com uma canalhice ímpar, pinçando aqui e acolá frases desconexas para tentar fazer parecer que os católicos dos primeiros séculos acreditavam nas fábulas protestantes que só foram surgir com Lutero, dezesseis séculos depois de Cristo.

Last but not least, cabe notar o quanto esta situação é surreal: um protestante tentando usar um tratado de São Cipriano sobre a Unidade da Igreja para defender a posição protestante. Cáspita, qual a unidade que existe no Protestantismo? Onde estão os bispos – sucessores dos Apóstolos – nas seitas luteranas e derivadas? Concedendo – para argumentar – que São Cipriano achasse mesmo que «todos os bispos eram sucessores de Pedro» e, portanto, todos detinham igual autoridade, onde raios estão os sucessores de São Pedro nas seitas evangélicas? Com que autoridade esta heresia praticamente recém-saída das profundezas do Inferno quer conversar de igual para igual com a Sé de Pedro? Até se entende que os Ortodoxos usem a autoridade dos demais Apóstolos e dos bispos locais para negar a jurisdição de Roma. No entanto, um protestante utilizar estes argumentos para defender o Protestantismo é simplesmente um ridículo nonsense.

Na Dinamarca, onde o aborto é legalizado, a taxa de mortalidade entre as mulheres que abortam é três vezes maior do que entre as que não abortam

O aborto é intrinsecamente errado porque é o assassinato direto de um ser humano inocente, é um mal em si; e o que é mal em si não pode ser utilizado nem mesmo para se obter um fim bom. Assim, p.ex., supondo-se que certos efeitos bons pudessem decorrer [da legalização] do aborto (p.ex., uma melhoria da saúde das mulheres de um país), ainda assim o aborto não poderia ser aceito. A discussão aqui não é meramente utilitarista, e sim de princípios: se for sempre errado matar um ser humano, então os seres humanos não podem ser mortos em nenhuma situação. Trazer a discussão para uma casuística forçada (“ah, vejam as pobres mulheres que morrem fazendo abortos clandestinos!”) é falsificá-la e se furtar a encará-la no campo dos princípios, que é o seu lugar natural e, portanto, é o foro onde ela deve ser tratada.

Mesmo assim, é interessante ver que até a nível utilitarista o aborto é uma péssima idéia. Recentemente divulgou-se (aqui no original de LifeSiteNews.com; aqui em uma adaptação para o português) um estudo realizado na Dinamarca com mulheres em idade fértil ao longo de 25 anos. Uma das suas conclusões é que um único aborto realizado aumenta o risco de morte materna em 45% em comparação com as mulheres que nunca fizeram um aborto. E este efeito é cumulativo (o que se chama, segundo LSN, de “dose effect”): para mulheres que fizeram dois abortos, este percentual aumenta para 114%; com três ou mais, chegamos a um risco de morte 192% maior em comparação com quem nunca realizou um aborto. Ou seja, praticamente três vezes maior.

Atenção! Não estamos falando simplesmente de mortes decorrentes diretamente do aborto em si (digamos, complicações pós-abortivas), é lógico, porque a taxa de mortalidade por complicações de aborto de quem nunca realizou aborto algum é zero. Está-se falando de mortalidade em geral. O Abstract do artigo explica a sua metodologia: foram utilizados «dados das mulheres nascidas entre 1962 e 1993 (n = 1.001.266) (…) para identificar relações entre padrões de término de gravidez e taxas de mortalidade ao longo de 25 anos». Analisando-se um universo de mais de um milhão de mulheres, descobriu-se que as mulheres que realizaram abortos apresentavam uma taxa de mortalidade até três vezes maior do que aquelas cujas gravidezes sempre terminaram em nascimentos! E ainda nos querem convencer que os promotores do aborto estão preocupados com a saúde das mulheres…

Aqui não se trata, repitamos, de mortes decorrentes de abortos clandestinos realizados “em condições inseguras”: nós estamos falando da Dinamarca, onde o aborto é legalizado há quase quarenta anos (legislação obtida via Wikipedia)! Ou seja, legalizar o aborto só fez com que as taxas de mortalidade entre as mulheres que abortam fossem três vezes maiores do que entre as que não abortam. À luz destes dados, cabe perguntar quais são os reais interesses por detrás dos que promovem o aborto. Será que estão realmente falando da saúde das mulheres?

Com base nestes números, podemos com segurança dizer que a verdadeira “questão de saúde pública” responsável por altos índices de mortalidade materna é o aborto em si, e não a sua proibição. Muito pelo contrário até: se desejamos melhorar a saúde das nossas mulheres, é fundamental garantir que elas não realizem jamais nenhum aborto, para que assim possam viver mais e melhor.

Eslováquia diz não à implicância ateísta

Comentei meio en passant há uns dias sobre as moedas comemorativas da Eslováquia, nas quais a representação dos santos Cirilo e Metódio fora proibida por não sei qual comissão da União Européia. Quer dizer, eles podiam constar na moedas, contanto que não fossem representados como santos: as imagens deles podiam ser cunhadas, desde que não ostentassem sobre as suas cabeças as auréolas características da representação iconográfica dos santos católicos.

Para a minha alegria, li em ACI Digital que a Eslováquia não aceitou a imposição laicista e «votou para que se mantenha o desenho original da moeda comemorativa da evangelização da Grande Morávia pelos dois irmãos e santos Cirilo e Metódio, grandes evangelizadores e construtores da cultura dos países eslavos».

Bravo! Os dois santos irmãos responsáveis pela civilização eslava permanecem com o seu justo lugar na moeda comemorativa da Eslováquia, ostentando todos os seus adornos com os quais a piedade cristã tradicionalmente os representou. Por enquanto, Deus fica nas notas de Real e São Cirilo e São Metódio nas moedas de Euro.

No meio das trevas do Pecado, uma Virgem resplandecia Cheia de Graça!

Hoje se celebra a Imaculada Conceição d’Aquela Mulher extraordinária que sozinha venceu todas as heresias do mundo inteiro; d’Aquela que o próprio Verbo de Deus quis ter por Mãe e, instando-nos a sermos imitadores d’Ele, estabeleceu que também a nós – e já nesta terra! – seriam concedidas as graças de tão excelsa maternidade espiritual. Se Cristo é Filho da Virgem e nós somos chamados a um convívio familiar com Ele, então somos nós todos filhos d’Ela também. Se Cristo é Filho da Virgem e nós somos irmãos de Cristo, segue-se com lógica inelutável que somos também filhos desta Sua Divina Mãe.

Hoje é a Festa da Imaculada Conceição da Virgem Santíssima, e o reverendíssimo sacerdote na homilia que eu ouvia esta manhã lembrava-nos que Deus tem uma visão positiva do homem. Deus, que tudo o que criou viu que era bom, não abandonou a Sua obra após a tragédia do Pecado Original. Já no Proto-Evangelho do Gênesis ele anuncia um Salvador que virá por meio da descendência da Mulher; em um certo sentido, a Virgem Imaculada, coroada de Graça e de Beleza, é o arquétipo de ser humano nos desígnios do Onipotente. Ela é Toda Bela e desde sempre livre da mancha do Pecado Original, Ela é a Filha Dileta de Deus Pai, a Mãe Amável de Deus Filho, a Esposa Fiel do Espírito Santo e o Templo Imaculado da Trindade Santa; nós todos, que nesta Mulher estamos tão bem representados diante do Altíssimo, alegremo-nos n’Ela, com Ela e por Ela!

O dia de hoje está profundamente associado a um dos títulos com os quais a Santíssima Virgem é louvada na Ladainha Lauretana: a Santíssima Virgem é a Estrela da Manhã, Stella Matutina. Aquela que surge no Céu da noite como um prenúncio da Alvorada, antes do nascer do sol mas como a avisar que o sol está por nascer. Assim a Santíssima Virgem, resplandecendo Imaculada no horizonte da história da humanidade antes mesmo do Cordeiro de Deus vir ao mundo para livrá-lo do Pecado. Como a anuciar-Lhe, exigindo-Lhe até, pois é do Seu Sacrifício na Cruz do Calvário que brotam todas as graças do mundo, sem excetuar nem mesmo estas com as quais a Virgem Santíssima aparece adornada no dia de hoje. E é justamente na Stella Matutina que eu penso toda vez que rememoro a Saudação Angélica, testemunho escriturístico e eloqüente da grande Festa hoje celebrada: Ave, gratia plena! No meio das trevas do Pecado, uma Virgem resplandecia Cheia de Graça. No meio do mundo que jazia sob o Maligno, uma Mulher erguia a fronte Imaculada. Na plenitude dos tempos em que a Criação esperava o Seu Salvador, a Sua Mãe Puríssima lá estava para trazê-Lo ao mundo: foi por Seu Fiat que o Verbo se fez  carne, foi pela Sua resposta generosa a Deus que o Cristo veio ao mundo, foi pelo seu Sim que nos chegou a Salvação, Jesus.

Deus Vos salve, Virgem Soberana, a Quem todos os cristãos somos infinitos devedores! Deus Vos salve, Bem-Aventurada e Imaculada Mãe de Deus, Maria Santíssima por Quem se salva todo espírito fiel! Lembrai-Vos de falar a Vosso Divino Filho coisas boas a nosso favor. E aqui, na terra, concedei-nos sempre a graça de viver e morrer cantando os Vossos louvores.