Nota de Esclarecimento da Arquidiocese – sobre sentença contra ex-prefeito do Rio

[Sobre a recente condenação do ex-prefeito do Rio de Janeiro por improbidade administrativa, a Assessoria Jurídica da Arquidiocese do Rio de Janeiro emitiu a nota que reproduzo abaixo. Segundo a matéria de iG, «ao utilizar dinheiro público para a construção de um templo de uma única religião os réus violaram a Constituição Federal, que proíbe o Estado de subvencionar qualquer culto religioso».

A argumentação é, de fato, no mínimo estranha. O IPHAN não custeia (miseravelmente, vá lá, mas custeia) a preservação de igrejas antigas? Desde quando isto viola a Constituição Federal? Sem contar que este blá-blá-blá de “Estado Laico” já encheu. A aporrinhação está descambando em perseguição descarada. O Catolicismo é parte constituinte da história e da cultura do Brasil, de modo que não há sociedade brasileira sem Igreja Católica. Os poderes públicos têm a obrigação de custodiar a sociedade que existe de fato, não podendo inventar (às expensas do erário público) uma nova sociedade artificial e separada de suas raízes históricas.

Em todo o caso, a Arquidiocese (citada na decisão) deixou claro que o templo construído (de modo pretensamente ilegal) não lhe pertence e, portanto, a sentença é totalmente descabida.

Fonte: Arquidiocese do Rio de Janeiro.]

Nota de Esclarecimento

Em razão da sentença proferida em Ação Civil Publica movida pelo Ministerio Publico e noticiada na Imprensa, a Assessoria jurídica da Arquidiocese do Rio de Janeiro esclarece que a decisão proferida – no que diz respeito à Arquidiocese – foi injusta e errônea, uma vez que sequer foi capaz de apontar em quê consistiu o alegado enriquecimento ilícito, que, de fato, jamais ocorreu. Está claro nos autos do processo que a Arquidiocese do Rio de Janeiro não pediu, não sugeriu, não foi consultada e muito menos teve qualquer conhecimento acerca do projeto ou da construção da Igreja de São Jorge. A Arquidiocese não poderia jamais ter se beneficiado através de qualquer enriquecimento ilícito, uma vez que a Igreja de São Jorge, cuja construção foi o objeto da ação, não pertence e nunca pertenceu à Arquidiocese. Então, afigura-se ilógico que alguém seja obrigado a ressarcir o que nunca recebeu.

A Igreja Católica tradicionalmente celebra em diversos locais que não são de sua propriedade, sendo certo que esse fato não caracteriza qualquer irregularidade.

A Arquidiocese afirma jamais ter se locupletado às custas do erário público, como erradamente disposto na sentença. Muito pelo contrário. A Arquidiocese se faz presente cooperando com o Poder Público disponibilizando educação, saúde, creches e tantas outras atividades de assistência social de grande relevância para a sociedade.

Estamos certos de que os erros e injustiças contidos na decisão proferida serão oportunamente reparados, uma vez que o ordenamento jurídico brasileiro disponibiliza mecanismos que possibilitam ao Poder Judiciário corrigir os erros de seus próprios integrantes.

“Fé – Amor – Reparação” – D. Fernando Rifan

[Oportuníssimo o artigo semanal de D. Fernando Rifan, que reproduzo na íntegra abaixo, e que vem a lume no momento propício para reparar o estrago causado por certos divulgadores de opiniões heréticas cujas idéias costumam aparecer com mais destaque principalmente nos momentos em que é mais importante voltar-se para Deus. Afundar o mal na superabundância do bem é algo sábio; e depois de ter precisado descascar ontem as bobagens do sr. José Lisboa, poder oferecer aos meus leitores um pouco de catequese positiva a respeito da festa de Corpus Christi apresenta-se como um valoroso refrigério. Bendito seja Deus no Santíssimo Sacramento do Altar.]

FÉ – AMOR – REPARAÇÃO

 Dom Fernando Arêas Rifan*

Amanhã celebraremos com toda a Igreja a solene festa do Corpo de Deus, ou Corpus Christi, solenidade em honra do Corpo de Cristo, presente na Santíssima Eucaristia.

Por que tal festa? “Augustíssimo sacramento é a Santíssima Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja. O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os outros sacramentos e todas as obras de apostolado da Igreja se relacionam intimamente com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam” (Direito Canônico cân. 897).

O mesmo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” (nn.1407, 1409 e 1414).

Esse tesouro de valor incalculável, a Santíssima Eucaristia, centro e o ponto culminante da vida da Igreja Católica, foi instituído por Jesus na Última Ceia, na Quinta-feira Santa. Mas, então, a Igreja estava ocupada com as dores da Paixão de Cristo e não podia dar largas à sua alegria por tão augusto testamento. Por isso, na primeira quinta-feira livre depois do tempo pascal, ou seja, amanhã, a Igreja festeja com toda a solenidade, com Missa e procissão solenes, Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, presente sob as espécies de pão e vinho, na Hóstia Consagrada. Esta festa tem a finalidade de expressarmos publicamente a nossa e adoração para com Jesus Eucarístico e, ao mesmo tempo, nossa reparação pelos ultrajes, sacrilégios, profanações, e, até também, pelos abusos litúrgicos que infelizmente acontecem com relação à Santíssima Eucaristia.

O Papa João Paulo II, na sua Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, já nos advertia contra os “abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento” e lastimava que se tivesse reduzido a compreensão do mistério eucarístico, despojando-o do seu aspecto de sacrifício para ressaltar só o aspecto de encontro fraterno ao redor da mesa, concluindo: “A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambigüidades e reduções”.

Nessa festa de Corpus Christi, demonstremos, pois, a importância da Eucaristia na Igreja e a nossa fé, adoração, respeito, reparação e amor por Jesus Eucarístico.

 

*Bispo da Administração Apostólica
Pessoal São João Maria Vianney

Meditando o Mistério da Eucaristia: contra os maus filósofos e falsos doutores

É verdadeiramente impressionante a quantidade de lixo herético que circula livremente pelos novos meios de comunicação, ostentando ares de catolicismo e disseminando a confusão entre os fiéis católicos. A mais nova pérola é este texto que leva por título “Corpus Christi: Momento para repensar o mistério da Eucaristia”, da autoria do sr. José Lisboa Moreira de Oliveira e (nada surpreendentemente) publicado em Adital, um dos maiores portais de porcaria pretensamente católica que existe na internet dos nossos dias.

O texto é repleto de um ethos anti-católico de uma ponta à outra, além de misturar mentiras deslavadas com interpretações toscas sobre os Evangelhos em tal profusão que consegue (por certo deliberadamente) ofuscar o que existe de mais importante na celebração de Corpus Christi que toda a Igreja vai festejar depois de amanhã. Este texto é de um desserviço tamanho que custa imaginar ter sido possível escrevê-lo de outra maneira que não por inspiração direta de Satanás. Comento-o rapidamente.

O primeiro momento deste processo reflexivo deveria ser um repensar a própria solenidade de Corpus Christi. Sabemos que esta festa surgiu no auge de uma violenta crise pela qual passava a Igreja Católica. A liturgia havia se sofisticado e se distanciado do povo. Era celebrada em latim, língua não mais falada pelas comunidades. Além de serem celebradas numa língua incompreensível, as liturgias eram pomposas, luxuosas, uma verdadeira afronta aos pobres.

Primeiro que é uma mentira deslavada que a festa tenha surgido “no auge de uma violenta crise pela qual passava a Igreja Católica”. Que crise, cara-pálida? A festa foi instituída no século XIII, século das luzes, apogeu da Cristandade, quando as sucessivas vitórias da Igreja nas cruzadas contra os mouros e na Inquisição contra os cátaros já desabrochavam em flor vistosa e já permitiam uma relativa paz e tranqüilidade na Europa, que se desenvolvia garbosamente.

Ademais, a liturgia se sofisticara, sem dúvidas, mas não “se distanciara” do povo porque – nunca é demais repetir – a Liturgia não é para o povo e sim para Deus. É o povo que deve se elevar até Deus através da Sagrada Liturgia, e isso se consegue tanto melhor quanto mais solenes forem as celebrações da Igreja. Os que chamam isto de “afronta aos pobres” curiosamente nunca foram pobres na vida, e a realidade da piedade dos menos favorecidos materialmente (em todos os tempos e culturas) dá testemunho constante a respeito de quão descabido é este discurso de ódio às coisas sagradas que usa por pretexto uma pobreza que é via de regra estranha e desconhecida aos que o proferem.

Assim, por exemplo, o preço da missa dependia do modo como o padre erguia a hóstia consagrada durante a anamnesis, chamada de “consagração”, e considerada o momento mais importante da missa. Quanto mais alta a elevação, mais cara era a missa.

Como o sr. José não cita as fontes de suas afirmações gratuitas, fica impossível saber se este fato é verdade ou se é mais uma mentira estúpida (como a da “violenta crise” da Igreja no século XIII). Em todo caso, o que importa aqui é i) que a Igreja jamais determinou “preço” de Sacramento algum, condenando duramente e desde sempre a prática da simonia; ii) que os emolumentos estipulados pelas autoridades eclesiásticas por ocasião da administração dos sacramentos existem até os dias de hoje, sendo uma prática perfeitamente razoável e que não se confunde (a não ser graças à má-fé de alguns) com “preço da missa”; e iii) que não se tem registro histórico de algum tempo ou lugar – caso os haja, apresentem-nos! – onde a cobrança de taxas proporcionais à altura da elevação da Hóstia Consagrada no momento da Consagração tivesse o status de costume legítimo (e não de – no máximo! – abuso coibido).

As pessoas não mais participavam da Eucaristia e a tinham apenas como simples devoção. Iam às igrejas para adorar o Santíssimo Sacramento e não para participar da Ceia do Senhor.

Eu não sei se o autor não sabe ou finge não saber, mas a única maneira de se “participar da Ceia do Senhor” é adorando-O. Não existe esta oposição apresentada entre “adorar o Santíssimo Sacramento” e “participar da Ceia do Senhor”, muitíssimo pelo contrário: esta participação só é possível por meio daquela adoração, como veremos mais abaixo com Santo Agostinho. Comungar é adorar.

A situação ficou tão grave que a própria hierarquia determinou que se comungasse pelo menos uma vez por ano, durante o período da Páscoa.

Mais outra falsidade histórica gritante: as pessoas comungavam pouco não por “falta de piedade” ou por “ignorância” da Eucaristia, mas exatamente pela razão contrária: porque sabiam perfeitamente que a Eucaristia era o Corpo do Senhor e levavam por isso muitíssimo a sério aquela advertência de São Paulo: “quem come e bebe sem distinguir a Carne do Senhor, come e bebe a própria condenação” [cf. 1Cor 11, 29]. A (relativa) pouca freqüência à comunhão eucarística não era porque “o povo” se sentia “distante” da “hierarquia” nem nenhuma outra bobagem do tipo: o povo comungava menos porque levava a Eucaristia mais a sério. Muito mais a sério, aliás, do que A leva o sr. José de Oliveira!

Foi neste contexto que o papa Urbano IV, em 1264, fixou a solenidade de Corpus Christi: uma festa para adorar pública e pomposamente a hóstia consagrada. Portanto, a festa de Corpus Christi, como veremos a seguir, é um desvirtuamento radical do significado litúrgico do mistério do Corpo e do Sangue do Senhor. Ou, se preferirmos, uma traição do pedido do Mestre: “Tomai e comei, tomai e bebei”.

Ora, vê-se que o sr. José ou não sabe usar conjunções conclusivas ou não sabe encadear raciocínios (ou as duas coisas). A afirmação de que a festa de Corpus Christi “é um desvirtuamento radical do significado litúrgico do mistério do Corpo e do Sangue do Senhor” não está implicada (nem mesmo pretensamente) pelo blá-blá-blá anterior e, portanto, não cabe o uso de coordenação conclusiva.

Considero a festa de Corpus Christi, na forma como ainda é celebrada atualmente, um desvirtuamento litúrgico e uma traição do mandato de Cristo por várias razões. Antes de tudo porque Jesus não deixou dito que ele queria ser adorado pomposamente num ostensório luxuoso nas igrejas e pelas vias públicas de uma cidade

Irrelevante, porque Ele tampouco deixou dito o contrário. E Aquele “que não tinha onde reclinar a cabeça” Se permitiu, sim, algumas atitudes dos Seus discípulos que seriam facilmente consideradas como “traições” por gente do naipe do sr. José de Oliveira, como p.ex. naquela ocasião em que Ele deixou uma mulher derramar um vaso inteiro de perfume caro sobre Sua cabeça [cf. Mt 26, 7].

Colocar a Eucaristia, sacramento do simples e pobre pedaço de pão, num ostensório de ouro é, recordando São João Crisóstomo, ofender aquele que não tinha onde reclinar a cabeça.

De novo, não é citada fonte alguma da citação que (se existe) está certamente descontextualizada, uma vez que uma besteira desta magnitude jamais seria sequer insinuada pelo Doutor Eucarístico e que é o autor da Divina Liturgia que leva seu nome.

Em segundo lugar porque o cerne da Eucaristia está não na adoração, mas na refeição, na comida, na ceia. Ou, se quisermos, o modo correto de adorar a Eucaristia é participar da ceia, é comer do pão e beber do cálice

Pode até ser que na cabeça do sr. José o cerne da Eucaristia não esteja na adoração. Na Fé legada por Cristo à Sua Igreja, no entanto, sempre foi necessário adorar a Cristo Eucarístico. Na conhecida frase de Sto. Agostinho (relembrada, p.ex., na Sacramentum Caritatis): «Nemo autem illam carnem manducat, nisi prius adoraverit; (…) peccemus non adorando – ninguém come esta carne, sem antes a adorar; (…) pecaríamos se não a adorássemos». Ora, diante do Papa Bento XVI citando Santo Agostinho de Hipona, quem é o sr. José Lisboa Moreira de Oliveira para vir com estes despautérios? Por que as besteiras que este senhor escreve mereceriam mais crédito do que as palavras do Papa e dos Padres da Igreja?

As normas para o culto à Eucaristia fora da missa, emanadas pelo próprio Vaticano, são muito claras a este respeito. Chegam inclusive a dizer que se deve evitar neste culto tudo aquilo que possa tirar da Eucaristia a sua natureza de alimento, de comida, de refeição. Por rigor de lógica as espécies eucarísticas, quando colocadas para a veneração dos fiéis, deveriam ser postas em pratos de comida e não em ostensórios luxuosos.

Haja paciência! “A conservação da Santíssima Eucaristia e seu culto fora da missa” é precisamente o nome de um dos capítulos da Redemptionis Sacramentum, instrução “[s]obre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia”. Lá não existe uma única palavra sobre “evitar neste culto tudo aquilo que possa tirar da Eucaristia a sua natureza de alimento, de comida, de refeição” (!) que o autor do artigo inventou. O que existe em outra parte do mesmíssimo documento (n. 77) é precisamente o contrário:

[77.] A celebração da santa Missa, de nenhum modo, pode ser inserida como parte integrante de uma ceia comum, nem se unir com qualquer tipo de banquete. Não se celebre a Missa, a não ser por grave necessidade, sobre uma mesa de refeição, ou num refeitório, ou num lugar que será utilizado para uma festa, nem em qualquer sala onde hajam alimentos, nem os participantes na Missa se sentem à mesa, durante a celebração. Se, por uma grave necessidade, deva-se celebrar a Missa no mesmo lugar onde depois será a refeição, deve-se mediar um espaço suficiente de tempo entre a conclusão da Missa e o início da refeição, sem que se exibam aos fiéis, durante a celebração da Missa, alimentos ordinários.

Entendeu, sr. José? As “normas emanadas pelo Vaticano” dizem exatamente o contrário do que o senhor está dizendo, i.e., que não é permitido celebrar a Eucaristia em um contexto que lembre o de uma refeição comum! E se o autor deste lixo de texto mente assim de modo tão descarado sobre textos recentes que qualquer um pode encontrar na internet, o quanto não será que ele mente a respeito de textos antigos dos Padres da Igreja aos quais o acesso é muito mais difícil?

Assim a concepção comum presente na mente de bispos, padres e fiéis é que os termos “carne”, “corpo”, “sangue” se refiram exclusivamente ao corpo biológico de Jesus.

De novo, só se for na cabeça do sr. José, que já deve ter percebido o quanto é fácil e cômodo atacar espantalhos. À parte as besteiras proferidas no texto, toda criança recém-catequizada aprende que na Eucaristia está presente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não tem nada de “exclusivamente” o “corpo biológico de Jesus”, ao contrário do que disse o autor do artigo. A Fé dos “bispos, padres e fiéis” católicos é esta: «No santíssimo sacramento da Eucaristia estão “contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo”» (CEC §1374). Donde fica desmascarada esta [mais uma] mentira do sr. José, sobre a concepção dos católicos a respeito da Sagrada Eucaristia.

Por fim, a festa de Corpus Christi deveria ser um momento para se pensar numa solução definitiva para o problema daquelas milhares de comunidades cristãs espalhadas pelo mundo e que são privadas da celebração eucarística dominical, por falta de um ministro ordenado que a presida.

A “solução definitiva” para isto foi dada pelo próprio Jesus: «Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie operários para sua messe» (Mt 9, 38). Não existe mágica: sem ministro ordenado não há Eucaristia. Infelizmente, ao invés de usar a festa de Corpus Christi para fomentar as orações pelas vocações, o autor do artigo quer reduzir a Santíssima Eucaristia a uma refeição comum que qualquer pessoa pode “confeccionar” por conta própria. Concepção mais protestante impossível.

Mesmo reconhecendo que em circunstância normais cabe ao bispo e seu conselho presbiteral presidir a Eucaristia, Tertuliano afirmava: “Onde não há um colégio de ministros inseridos, tu, leigo, deves celebrar a Eucaristia e batizar; tu és, então, o teu próprio sacerdote, pois, onde dois ou três estão reunidos, aí está a Igreja, mesmo que os três sejam leigos”.

A cereja do bolo vem no final! Depois de mentir, mentir e mentir de novo ao longo de todo o texto, será que merece crédito a citação final de Tertuliano (que, mais uma vez, é sacada da cartola sem referência e sem nada)? Ainda considerando que ela seja verídica com todas as aspas que o autor coloca (o que é inverossímil, mas vá lá), ainda assim não muda em uma vírgula a Fé da Igreja expressa com clareza pela totalidade dos Padres, pois de Tertuliano se pode parafrasear São Jerônimo e dizer: «De Tertuliano não direi senão que não pertenceu à Igreja». De fato, Tertuliano rompeu com a Igreja Católica e, portanto, esta frase alardeada pelo sr. José de Oliveira, se verídica for, é certamente expressão das suas próprias crenças pessoais, e não testemunho da Fé da Igreja de Cristo.

A despeito de eu ter cortado muita coisa do texto do sr. José de Oliveira, mesmo assim esta resposta ficou longa; mas é necessário defender a Fé da Igreja de Cristo, quando [falsos] doutores e [maus] filósofos vêm entulhar a internet com lixo teológico travestido de reflexão católica séria. Estamos às vésperas da Solenidade de Corpus Christi e, nesta Quinta-Feira sublime, importa-nos adorar devotamente a Divindade de Cristo oculta sob as espécies do pão e do vinho. Com toda a pompa que Ele – o Rei dos Reis! – merece, com toda a solenidade com a qual a Igreja de Deus sempre reverenciou o Santíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de Deus. Importa-nos oferecê-Lo tudo o que somos e tudo o que temos! A fim de que, reverenciando com dignidade o Senhor da História oculto sob um pequeno pedaço de pão, possamos ter um dia a – imerecida – glória de vê-Lo como Ele é; de sermos felizes contemplando a face d’Aquele que, hoje, veneramos no Santíssimo Sacramento do Altar.

Aviso: problema técnico

Conforme eu relatei no Facebook na semana passada, deve fazer uns quinze dias que a GVT está bloqueando o acesso a um servidor específico que pertence à Bluehost e é onde mantenho hospedado o Deus lo Vult!. Por conseguinte, usuários da GVT não estão conseguindo acessar o site. O problema não é no site nem no servidor de hospedagem: o problema é com a GVT.

Nos últimos dias eu já entrei em contato com o suporte da GVT, com a ouvidoria da empresa e com a Anatel. Estou acompanhando o desenrolar desta história. Novas notícias (boas notícias, espero) em breve.

UPDATE: No último dia 15 de junho, sexta-feira, dia do Sagrado Coração de Jesus, o Deus lo Vult! voltou a poder ser acessado pelos usuários da GVT. Laudetur Iesus Christus!

“Um cientista santo” – Dom Fernando Rifan

[Publico artigo de D. Fernando Rifan sobre o Dr. Jerôme Lejeune. O texto é bastante útil para os que (ainda) pensam haver alguma incompatibilidade entre ciência e Fé; entre ser cientista e ser católico. Dia desses, um amigo me falava que deixara de escrever sobre Fé e Ciência por uma razão bem simples: não há muito o que escrever. As “regrais gerais” são suficientemente sucintas e claras e, uma vez que se lhas entende, só resta aplicá-las e aplicá-las de novo aos casos individuais que porventura apareçam. E isto é geralmente “trabalho mecânico” e não intelectual; agrega conhecimento apenas quantitativa, e não qualitativamente.

Outro dia um aluno me perguntou o que a Igreja dizia sobre extraterrestres. Eu disse que Ela não dizia nada e isto “nem interessava”, ao que ele aquiesceu com entusiasmo por haver entendido. A Igreja pode discorrer sobre as (possíveis) características espirituais dos extraterrestres, pode propôr hipóteses para explicar-lhes a (possível) existência ou descartar algumas outras como incompatíveis com a Revelação, ou outras coisas do tipo. Mas a Igreja não pode dizer nada sobre a questão de fato da existência ou não deles, porque o objetivo d’Ela não é perscrutar o Universo em busca de vida alienígena, e sim anunciar aos homens a salvação de Deus. Se algum dia esta missão d’Ela esbarrasse em uma nave extraterrestre, isto poderia ser interessantíssimo como obra de ficção científica ou como especulação recreativa para as horas vagas; mas isto, absolutamente, não interessa para a maior parte das pessoas no presente momento.

Da parte da Igreja, não há e nem pode haver óbice a nenhuma espécie de conhecimento verdadeiro, porque toda verdade vem de Deus e, sendo Deus o autor da Revelação, não há contradição possível entre o mundo que Ele criou e as coisas que Ele revelou a respeito de Si próprio e do mundo criado. Esta é a regra geral: sábio é o homem que a compreende! Então ele poderá fortalecer a sua Fé e a sua ciência diante das descobertas científicas concretas com as quais se deparar ao longo de sua vida. Por outro lado, estulto é o sujeito que em qualquer relampejo de técnica julga descobrir uma “prova” de que Deus não existe. Este infeliz não conseguirá jamais entender nem a religião e nem a ciência.]

UM CIENTISTA SANTO

Dom Fernando Arêas Rifan*

 

Em 2001, em Roma, tive a honra de jantar com uma distinta senhora e seu genro, cuja identidade me surpreendeu. Tratava-se da viúva do grande médico cientista, Dr. Jerôme Lejeune, falecido em 1994, e seu genro, o diretor da Fundação Jerôme Lejeune, inaugurada após sua morte, que dá continuidade à sua ação em favor dos deficientes mentais.

Jérôme Jean Louis Marie Lejeune (1926-1994) foi um médico francês, pediatra, professor de genética e cientista, a quem se deve a descoberta da anomalia cromossômica que dá origem à trissomia 21, identificando assim a origem genética da chamada Síndrome de Down.   

O professor Lejeune, considerado o pai da genética moderna, obteve, entre várias honrarias e títulos, os de doutor Honoris Causa das universidades de Düsseldorf (Alemanha), Pamplona (Espanha), Buenos Aires (Argentina) e da Pontifícia Universidade do Chile. Ele era membro da Academia de Medicina da França, da Academia Real da Suécia, da Academia Pontifícia do Vaticano, da American Academy of Arts and Sciences e da Academia de Lincei (Roma) entre outras. Participou e presidiu várias comissões internacionais da ONU e OMS. Obteve numerosos prêmios pelos seus trabalhos sobre as patologias cromossômicas, entre os quais o Prêmio Kennedy em 1962, que recebeu diretamente das mãos do presidente John F. Kennedy. Em 1964, ele foi o primeiro professor de genética na Faculdade de Medicina de Paris.

Em 1974, o Papa Paulo VI o convida a fazer parte da Pontifícia Academia das Ciências e, mais tarde, do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde. Em 1981, Jérôme foi eleito à Academia de Ciências Morais e Políticas da França e, em 1994, tornou-se o primeiro presidente da Pontifícia Academia para a Vida, criada naquele mesmo ano pelo Beato João Paulo II, de quem era amigo particular.

Mas, o mais surpreendente de tudo isso: ele teve uma vida santa. João Paulo II, em 1997, na Jornada Mundial da Juventude em Paris, fez questão de ir rezar no seu túmulo. Seu processo de beatificação e canonização foi aberto em 28 de junho de 2007. Com Missa pela vida celebrada na Catedral de Notre-Dame de Paris, em abril passado, encerrou-se o processo diocesano da causa de beatificação e canonização do servo de Deus Jérôme Lejeune. Conhecido por tratar e acompanhar pacientes com deficiência intelectual e, sobretudo, pelo compromisso em favor da vida humana, em 1971 realizou um discurso contra o aborto no National Institute for Health e depois disto mandou uma mensagem à sua esposa dizendo: “hoje perdi meu Prêmio Nobel”. Nesse discurso, Lejeune foi forte: “Vocês estão transformando seu instituto de saúde em um instituto de morte”.

A Igreja tem santos de todos os tipos, temperamentos, profissões, classes sociais, idades, países e línguas. Assim ela nos ensina que a santidade não está excluída de ninguém. Pelo contrário, está ao alcance de todos. “Todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade” (Lumen Gentium, 39).

 

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney

Convite: Dedicação da Igreja Matriz de São Sebastião e São Cristóvão.

Mais um convite: conforme consta na página da Paróquia da Imbiribeira no Facebook, será na próxima semana a dedicação da Matriz de S. Sebastião e S. Cristóvão, após a conclusão das reformas das quais a igreja foi palco nos últimos tempos.

Os que já tiveram a oportunidade de vê-la disseram que a igreja está bem bonita. A paróquia merece ser prestigiada. Fica o convite.

É com grande alegria que a comunidade paroquial da Imbiribeira e seu pároco. Pe. Nildo Leal de Sá, convidam V. Rev.ma para a solene Celebração Eucarística presidida por S. Ex.Cia Rev.ma, D.Antônio Fernando Saburido, OSB, na qual se fará a dedicação da Igreja Matriz de São Sebastião e São Cristóvão.

Data: 5 de junho de 2012.
Horário: 19 h.
Endereço: Rua Moacir de Albuquerque, 198, Imbiribeira
Recife – PE

Palestra com Graça Salgueiro no Círculo Católico – ATUALIZADO

Divulgo com alegria esta imperdível palestra da Graça Salgueiro que será realizada aqui em Recife, no Círculo Católico, no próximo dia 13 de junho de 2012, a partir das 19h00. Os demais detalhes podem ser encontrados no cartaz: cliquem para ampliar. Para quem não conhece, a Graça Salgueiro é «estudiosa da estratégia e ações da esquerda latino-americana lideradas pelo Foro de São Paulo no continente, edita o blog Notalatina e tem seus artigos publicados no site argentino La Historia Paralela», como consta em sua minibiografia do Mídia Sem Máscara. Quem puder, não deixe de ir.

[UPDATE: recebi a mensagem seguinte da própria Graça Salgueiro. A palestra será gratuita, mas as inscrições – por razões de espaço – devem ser feitas. Assim, quem de fato for precisa ligar para o Círculo Católico e confirmar a presença.

Amigos,

Acabo de ser informada que minha palestra terá entrada GRATUITA, mas que é necessário telefonar para fazer a inscrição, por questão de vaga.

Assim, aqueles que estão de fato interessados, têm disponibilidade e se comprometeram em ir, peço-lhes que por gentileza LIGUEM PARA O CÍRCULO CATÓLICO DE PERNAMBUCO para confirmar a presença e reservar sua vaga, cujos números encontram-se no cartaz divulgado ontem.

Agradeço se repassarem para seus contatos

As demais informações permanecem tal como foram originalmente divulgadas.]

Curtas: aborto frustrado, Gaystapo e a homofobia-de-pensamento, mensagem aos congressistas contra o aborto dos anencéfalos e fotos de criança anencéfala no Facebook

Médico falha aborto e juiz condena-o a cuidar da criança. A história é bizarra: um aborto foi mal-sucedido e a mãe só o percebeu quando a gestação já estava avançada a ponto de não lhe ser mais possível abortar legalmente. “A jovem mãe de 22 anos processou o médico e, numa sentença inédita, o tribunal de Palma de Mallorca condenou agora o clínico, o hospital e também as seguradoras envolvidas a indemnizar a mãe em 150 mil euros, por danos morais, e ainda a cuidar financeiramente da criança até que cumpra a idade de 25 anos”.

É tão surreal que eu achei ser hoax. Mas está também no La Razón, no El Mundo e no El País. Alguém vai contar para esta criança que ela é sustentada pelo seu verdugo frustrado? Aliás, uma mãe dessas tem porventura condições de ter a guarda do filho?

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Comercial da Nova Schin pode ser retirado do ar por incentivar homofobia. “No anúncio, um homem travestido de mulher é objeto de piada entre um grupo de amigos. A ABGLT pede a retirada do filme do ar imediatamente”.

Mas a cereja do bolo vem depois: «Atualmente, o conceito de homofobia não se refere apenas a agressão física ou assassinato contra a população LGBT. Segundo a ABGLT, o conceito é mais amplo: “A homofobia (…) transcende a hostilidade e a violência contra LGBT e associa-se a pensamentos e estruturas hierarquizantes relativas a padrões relacionais e identitários de gênero, a um só tempo sexistas e heteronormativos”».

Entenderam? Homofobia é crime de pensamento! A Gaystapo está, portanto, confessadamente empenhada em criminalizar um tipo de pensamento. Não é o suficiente não agredir (física ou verbalmente) homossexuais; ninguém pode sequer não gostar de gays! São essas as pessoas que estão sendo eleitas como padrões normativos para a sociedade. É evidente o risco que nós corremos. É fundamental deter esta sanha totalitária dos adoradores do vício contra a natureza.

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– Não deixem de ver este formulário para envio de mensagens aos congressistas. “Para que sua voz chegue aos Congressistas só é preciso preencher o formulário abaixo e clicar em “Enviar”, este simples gesto vai contribuir para que o Brasil salve muitos nascituros acometidos de anencefalia”. É simples e prático. Faça com que os parlamentares do seu estado saibam a sua posição a respeito da eugenia recém-legalizada no Brasil.

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Facebook se desculpa por apagar fotos de bebê com anencefalia. “A rede social Facebook pediu desculpas a Heather Walker, após ter apagado repetidamente suas fotos e inclusive seu perfil, logo depois que ela postou fotos do seu bebê que nasceu com anencefalia e faleceu oito horas depois do parto”. Obtivemos esta pequena vitória, cuja repercussão pode ser – afinal de contas – bem positiva. Mas é evidente que ainda há muito por fazer. O caminho é longo e importa começá-lo a trilhar imediatamente! Ajude-nos Deus. Que Ele nos socorra com presteza.

O que esperam as senhoritas com as tetas à mostra?

Com relação à (assim chamada) “Marcha das Vadias” que ocorreu durante o último fim de semana em diversos estados do país, eu remeto integralmente à lúcida análise do Everth, à qual tenho bem pouco o que acrescentar. Apenas gostaria de chamar a atenção para as pessoas que, talvez, simpatizem com a [alegada] causa dessas mulheres.

Uma coisa precisa ficar clara antes de tudo: isto, absolutamente, não se trata de uma manifestação contra o estupro, como por vezes querem vender. E isto é óbvio, porque não existe ninguém que seja “a favor do estupro” a ponto de ser necessário uma manifestação pública pouco convencional como esta. Há, no entanto, muitas pessoas que são contra a “Marcha das Vadias”, por razões as mais diversas e que não têm nada a ver com a aprovação, de nenhuma maneira, da violência contra a mulher – muitíssimo pelo contrário. Este texto fala um pouco sobre isso.

Durante a semana passada, no Facebook, eu lia a “história” da manifestação: a idéia da marcha surgiu quando um policial, investigando uma onda de estupros que estava acontecendo em determinada localidade, disse que as mulheres poderiam evitar ser estupradas se parassem de se vestir como vadias.

Eu não estava presente e não sei em que tom esta declaração foi feita. Até posso entender que isto tenha ofendido terrivelmente as mulheres lá presentes (principalmente as vítimas). Há, no entanto, dois grandes problemas com a reação surgida daí (e que culminou nos deploráveis eventos de ontem).

O primeiro e evidente problema é que o conteúdo do conselho do policial é sensato e prudente, como qualquer pessoa de bom senso pode facilmente perceber. Lembro-me de que, há alguns anos, eu estava em Salvador (turista inexperiente…) e cheguei à noite no centro histórico, ali perto do Pelourinho. Um dos flanelinhas que estava por ali falou rapidamente para um amigo, apontando para um cordão que ele carregava no pescoço: “a prata, tira a prata”. Não era um assalto, era um aviso a um turista incauto de que aquela área era propícia a assaltos e, portanto, ele deveria tomar alguns cuidados elementares como não andar com objetos de valor à mostra.

Não passou por nossas cabeças – por um instante sequer! – que o flanelinha estivesse defendendo os assaltantes do centro de Salvador, ou dizendo que a culpa de sermos assaltados seria nossa caso estivéssemos com um pingente no pescoço, ou nos chamando de mauricinhos esbanjadores ostensivos e nem nenhuma outra besteira do tipo. Ao contrário, ficou-nos claro que estávamos em um lugar onde havia pessoas de má índole e o sujeito, conhecedor dos arredores, estava tentando nos proteger dos assaltantes que se sabia haver por ali. Se o conselho de guardar um pingente (ou tirar o relógio, ou manter o celular no bolso, ou o que seja) em um lugar onde está havendo uma onda de assaltos é um conselho legítimo e sensato, por qual motivo o de vestir-se com mais decoro em um ambiente onde está havendo uma onda de estupros deveria ser encarado como uma defesa do estuprador ou uma agressão injustificável à vítima da violência?

Este é o primeiro problema. O segundo é a tentativa (estúpida) de forçar a realidade para caber nas exigências descabidas da ideologia feminista. Uma das fotos que eu vi no Facebook mostrava um homem sem camisa e uma inscrição dizendo algo como “ele está com calor ou será que ele quer ser estuprado?”, em uma tentativa pueril de se igualar homens e mulheres – como se uma menina com os seios à mostra provocasse ou devesse provocar, nos homens, a exata mesma reação que um homem sem camisa provoca nas mulheres.

Digam o que disserem os manifestantes de reivindicações estapafúrdias, o fato indiscutível é que há mais homens estuprando mulheres do que o contrário. Digam o que disserem os companheiros revolucionários, o fato insofismável é que os homens geralmente se excitam à vista de um par de seios mais do que as mulheres se excitam à vista de um peito masculino à mostra. A evidência desta realidade é tão universalmente avassaladora – refletindo-se não somente na teologia moral católica, mas na própria moda quotidiana, no desenho dos trajes de banho, na censura dos meios de comunicação (audio)visuais e no bom senso mais elementar – que assusta ver as pessoas negarem-na. Afinal de contas, o que esperam as senhoritas com as tetas à mostra? Que os homens deixem de sentir excitação sexual por seios?

A idéia é tão idiota e descabida que chega a ser irresponsável, podendo inclusive levar as meninas a acreditarem que elas não correm mais riscos de serem tratadas como objetos (e isto não se resume a serem vítimas de criminosos sexuais!) quando exibem aberta e despudoradamente os seus dotes em público. É muito fácil concordar que, em um mundo perfeito, ninguém deveria ser tratado de maneira desrespeitosa. Isto é evidente. Contudo, é também evidente que nós não vivemos em um mundo perfeito e, infelizmente, as mulheres que fazem questão de se apresentar como um objeto de desejo sexual serão, necessariamente, tratadas como objeto de desejo sexual. Talvez não o sejam por todo mundo e talvez não o sejam o tempo inteiro, mas é de uma ingenuidade atroz achar que todos os homens do mundo vão se de repente se transformar em gentlemen e tratar sempre como uma lady… quem tem orgulho de se apresentar como vadia.

A marcha deste final de semana, eu dizia, não é uma marcha contra o estupro ou a violência contra a mulher. Não é uma marcha em defesa da liberdade nem nada do tipo. Trata-se, tão somente, de mais uma velha e caquética manifestação feminista revolucionária, que se volta contra tudo – contra o pudor, contra a modéstia, contra a Igreja – que não cabe na estreita e pobre visão de mundo que os revolucionários querem impôr à sociedade. As mulheres não precisam desta depravação. Os homens de respeito não precisam deste espetáculo impudico para tratarem as mulheres como elas merecem. E é bastante evidente que quem é mau-caráter não vai se transformar em um cavalheiro ao ser confrontado com uma horda de mulheres seminuas alardeando orgulho… de serem vadias.

Os católicos e os tribunais modernos: Igreja nos EUA processa administração Obama

Várias dioceses e organizações católicas americanas estão processando em massa a administração Obama, acusando o presidente de violar a liberdade religiosa e pretender forçar cidadãos americanos a agirem de modo contrário à sua Fé. Especificamente, os processos gravitam em torno da «regulamentação que a Secretária de Saúde e Serviços Humanos Kathleen Sebelius anunciou em Agosto passado e concluiu em Janeiro[,] que solicitava a virtualmente todos os planos de saúde dos Estados Unidos a cobrirem esterilização e anticoncepcionais aprovados pela “Food and Drug Administration”, incluindo aqueles que podem provocar abortos». O site (em inglês) que reúne estas informações é o Preserve Religious Freedom, mantido pela Arquidiocese de Washington

A notícia é curiosa. Em primeiríssimo lugar, merece destaque e é digna de aplausos a iniciativa dos católicos americanos de procurarem fazer alguma coisa para frear as imoralidades que o presidente mais abortista que já pisou nos Estados Unidos da América está tentando impôr a um povo que em sua maioria considera o aborto moralmente incorreto. E, acto contínuo, isto serve para cobrir de vergonha os católicos desta Terra de Santa Cruz, onde a nossa Conferência age – tantas vezes! – de modo apático diante do governo anti-cristão ao qual estamos sujeitos – isto quando não lhe é subserviente. Ó bispos do Brasil, aprendei com os vossos irmãos de báculo e mitra da América do Norte!

Mas é também impossível não guardar um pouco de temor a respeito dessas ações judiciais. Isto porque o Estado não tem potestade para oferecer obstáculos à pregação do Evangelho da Igreja de Cristo; mas, num tribunal revolucionário, a gente não sabe ao certo o que pode acontecer. É possível que juízes iníquos decidam ilegitimamente a favor do presidente anti-cristão. O que aconteceria neste caso?

Certa feita alguém comentava sobre as paróquias e as leis municipais, e argumentava que os párocos de cidades pequenas deveriam realizar nos seus templos as reformas que fossem necessárias ao desempenho de seu ministério, sem se preocupar com burocracias de prefeituras. E citava um causo de um sacerdote que, certa feita, aporrinhado pelo prefeito da cidade a respeito de umas obras na igreja matriz, simplesmente respondeu: “a minha Igreja estava aqui antes da tua prefeitura”.

E neste caso, sim, antigüidade é posto. Pombas, nós construímos as catedrais medievais muito antes do CREA sonhar em existir! Tampouco o órgão burocrático tem credenciais para fazer frente às da Igreja Católica. É óbvio que existem regulamentações necessárias, mas estas não podem vir de cima, como um machado aleatório sufocando as necessidades humanas. Se a administração pública atual fosse transportada à Paris dos séculos XII-XIII, nós não teríamos hoje Notre Dame ou a Sainte-Chapelle.

Igualmente, no caso dos planos de saúde americanos, foi a Igreja quem inventou a saúde pública quando os EUA ainda eram terra de Apaches. O governo americano, portanto, não tem legitimidade para dizer como as organizações caritativas e os hospitais católicos devem prestar os seus serviços. E isto independe completamente de qualquer resultado de qualquer tribunal moderno, porque se trata simplesmente do dado factual: nós estávamos aqui antes. É digna de louvor, repito, a atitude dos católicos americanos. Fazem falta ações análogas aqui no Brasil. Mas não podemos perder de vista quem somos e nem tampouco abraçar com entusiasmo as teses modernas que são incompatíveis com a doutrina católica e até mesmo com a realidade elementar.

Afinal, nós e eles enxergamos o papel dos tribunais de formas irredutíveis entre si, e isto precisa ficar claro. Não é nos tribunais que está a nossa última esperança, e sim no Justo Juiz que é Senhor da História, a Cuja Providência confiamos o governo da Sua Igreja. Isto não significa que não devamos nos utilizar dos meios humanos contingentemente disponíveis; mas significa, sim, que estes devem ser sempre colocados em perspectiva.