O Papa não disse nenhuma novidade anteontem ao se “pronunciar contra o casamento gay”. Eu já disse e repeti aqui diversas vezes que a Igreja já emitiu estas mesmíssimas opiniões naquelas Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais de 2003 – quando o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé era ainda o então Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI gloriosamente reinante. E, neste documento, é-nos possível encontrar muito claramente a posição da Igreja Católica (por conta da qual os hipócritas rasgam as vestes hoje, como se o Papa estivesse falando alguma coisa inesperada e inaudita). Por exemplo, no seu número 8:
As uniões homossexuais não desempenham, nem mesmo em sentido analógico remoto, as funções pelas quais o matrimónio e a família merecem um reconhecimento específico e qualificado. Há, pelo contrário, razões válidas para afirmar que tais uniões são nocivas a um recto progresso da sociedade humana, sobretudo se aumentasse a sua efectiva incidência sobre o tecido social.
No entanto, as manchetes dos jornais dos últimos dias noticiavam com estardalhaço: o Papa dissera que o casamento gay ameaça a humanidade! Rapidamente todos os defensores das idéias modernas (aquelas pessoas para as quais, na feliz comparação que vi no Facebook dia desses, ter “uma mente aberta” significa concordar completamente com tudo o que elas dizem) começaram a protestar. Com celeridade se revelou (pela n-ésima vez) a incrível e hipócrita intolerância dos que exigem que sejamos todos tolerantes. Por exemplo, o conhecido deputado Jean Wyllys cuspiu no seu Twitter as seguintes pérolas de caridade fraterna e de respeito à diversidade:
É com esta lista enorme de gentilezas que os inimigos da civilização tratam os que discordam de suas idéias doentias. Questionar se os que matam homossexuais não são os seus próprios (ex-)parceiros homossexuais é um absurdo homofóbico inadmissível em uma sociedade civilizada; chamar abertamente o líder da Igreja Católica de simpático ao nazismo e acobertador de pedófilos é legítimo exercício do direito à liberdade de expressão. Quando a gente fala que pedofilia e homossexualismo andam de mãos dadas, somos uns ignorantes desonestos espalhando mentiras pela internet; quando eles associam aberta e gratuitamente a pedofilia aos “membros da Igreja”, não estão de maneira alguma fazendo um discurso de ódio – e sim divergindo civilizadamente de pessoas que eles sem dúvidas tratam da mesma maneira que exigem ser tratados. A hipocrisia dessa gente é assustadora.
Mas voltemos ao discurso de Sua Santidade ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé. O ponto que gerou polêmica foi este aqui:
A educação é um tema crucial para todas as gerações, pois depende dela tanto o desenvolvimento saudável de cada pessoa como o futuro da sociedade inteira. Por isso mesmo, aquela constitui uma tarefa de primária grandeza num tempo difícil e delicado. Para além de um objectivo claro, como é o de levar os jovens a um pleno conhecimento da realidade e, consequentemente, da verdade, a educação tem necessidade de lugares. Dentre estes, conta-se em primeiro lugar a família, fundada sobre o matrimónio entre um homem e uma mulher; não se trata duma simples convenção social, mas antes da célula fundamental de toda a sociedade. Por conseguinte, as políticas que atentam contra a família ameaçam a dignidade humana e o próprio futuro da humanidade. O quadro familiar é fundamental no percurso educativo e para o próprio desenvolvimento dos indivíduos e dos Estados; consequentemente, são necessárias políticas que o valorizem e colaborem para a sua coesão social e diálogo.
Nada de novo sob o sol, Bento XVI não disse esta semana nada que já não estivesse dito no documento de 2003. O Papa é contra o “casamento” gay? É claro que é, ora bolas, e daí? Todo mundo é porventura obrigado a rezar pela cartilha gay? Estes intolerantes gayzistas fanáticos não são capazes de conviver civilizadamente com os que discordam de suas opiniões disparatadas? Por acaso as depravações do estilo-de-vida homossexual precisam ser aplaudidas por todo mundo, de tal modo que não haja espaço para uma única voz dissoante? Poucas vezes o “acuse-os do que você é e xingue-os do que você faz” foi empregado com tanta clareza e tanto cinismo quanto nas atitudes do Movimento Homossexual! Se restava ainda alguma dúvida de que a promoção do Gayzismo era danosa à sociedade, esta virulência intolerante e anti-civilizada da militância gay demonstra de forma cabal os perigos de se conferir direitos ao vício e privilégios ao comportamento contrário à natureza.