A Fé decorre da própria inteligência humana, e não de suas limitações

Muito bonito este artigo de D. Odilo publicado sábado no Estadão, que vale a leitura na íntegra e do qual destaco:

Nossa inteligência é “capaz de Deus” e não está fechada para Ele. Crer é um ato humano livre por excelência, mediante o qual nos abrimos ao supremo Tu, ao Deus pessoal, e podemos alcançar uma certeza interior não menos importante do que aquela que nos vem das ciências exatas ou naturais. Reduzir nossa capacidade racional às certezas verificáveis seria diminuir essa mesma capacidade.

E isto vem ao encontro de várias coisas que costumamos falar aqui no Deus lo Vult! a respeito da capacidade humana de crer e da arbitrariedade irracional da resposta atéia ao problema de Deus. Para além de quaisquer limitações da moderna ciência paira o Onipotente, e reconhecê-Lo é um dever imperioso da consciência sincera, é decorrência da própria capacidade humana de questionar o Universo.

Sim, crer ainda faz sentido, porque este ato decorre da própria essência do ser humano, e não – como os paladinos do ateísmo gostam de fazer acreditar – de limitações intelectuais contingentes próprias de determinadas épocas históricas.

Último dia de votação: Deus lo Vult! e Prêmio Topblog 2012

Atenção! Estamos nas últimas horas da votação do prêmio Topblog 2012, ao qual este blog está concorrendo. Diferentemente do ano passado, desta vez não houve divulgação parcial dos blogs mais votados na segunda fase; portanto, estamos no escuro. Não sabemos se estamos perto ou longe do podium, mas de uma coisa temos certeza: estamos no páreo e precisamos do seu voto!

Clique no selo ao lado direito do blog ou no link encurtado abaixo para votar:

bit.ly/votedeuslovult

Os votos foram zerados no início da segunda fase (que começou no último dia 10 de outubro) e, portanto, quem votou antes disso precisa votar novamente. É permitido um voto por email válido, por perfil do Facebook e por conta do Twitter. Quem tiver os três, pode votar com todos os três – todos estes votos contam e são importantes.

De acordo com o regulamento, o período de votação se «encerra dia 10/11/2012, às 14h – horário de Brasília» – i.e., amanhã. Faltam menos de 24 horas. Peço a todos os meus leitores (e a todos os que acharem que o trabalho aqui realizado merece este reconhecimento) uma força-tarefa especial nestes últimos instantes: votem e divulguem! E não deixem para amanhã porque amanhã já acaba a eleição.

Há outros excelentes blogs concorrendo, que eu recomendo enfaticamente e para os quais eu também peço votos: pode-se votar em todos eles, não sendo necessário escolher um em detrimento do outro. São eles:

  1. O Tubo de Ensaio é veterano na competição, tendo vencido já duas edições do prêmio: 2010 e 2011. Este ano tenta o tricampeonato. Para votar nele, cliquem aqui.
  2. O Dominus Vobiscum foi finalista do ano passado junto com este blog, e este ano está concorrendo novamente. Para votar nele, cliquem aqui.
  3. O Sou conservador sim e daí? foi campeão no ano passado na categoria “Política”, e também está concorrendo de novo ao prêmio deste ano. Para voltar nele, cliquem aqui.
  4. A novidade deste ano e forte candidato ao pódio é o excelente Salvem a Liturgia!, que dispensa apresentações. Para votar nele, cliquem aqui.

Avante! O resultado deste prêmio depende diretamente do reconhecimento dos leitores do blog. Vocês podem fazer a diferença. A todos, desde já o meu muito obrigado.

O sentido da vida e o pecado contra o Espírito Santo

Albert Camus afirmou uma vez: “Há um só problema verdadeiramente sério e é … estabelecer se vale ou não a pena viver…”. O grande problema, o grande causador das neuroses e depressões, é o vazio existencial.

Dom Fernando Rifan, “O sentido da vida”.

Eu já cansei de citar Santo Agostinho com o seu “Criastes-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em Vós”. Feciste nos ad Te, Domine, et inquietum est cor nostrum donec requiescat in Te. A sentença é d’As Confissões, obra que li há uns dez anos. Sempre conservei na memória, contudo, algumas passagens para mim assustadoramente marcantes dessa grande obra do Santo de Hipona.

Uma delas é essa frase a respeito do “vazio existencial” que existe no homem. Santo Agostinho escreveu-a em sua forma lapidar: Deus nos criou para Ele e, portanto, a nossa existência não está ainda tranqüila enquanto não Lhe estamos devotados integralmente. Falta-nos algo; ou melhor dizendo, falta-nos Alguém. Nos círculos da Renovação Carismática falava-se exatamente a mesma coisa, só que com outras palavras: no nosso coração existe um buraco infinito que só Deus, Infinito, é capaz de preencher. Enquanto Ele não o faz – ou, melhor dizendo, enquanto nós não O deixamos fazer -, a sensação de vazio interior é inevitável.

A menos, claro, que alguém tente enganar-se a si mesmo; esta, no meu entender, é a principal razão do crescimento do proselitismo ateu nos dias de hoje. A fanática sanha “apologética” dos Arautos da Irreligião sempre se me afigurou como uma tentativa desesperada de auto-negação, um mecanismo psicológico que leva os descrentes a tentarem sufocar a voz da própria consciência por meio da repetição frenética e desesperada, quase que em caricata oração, de um único versículo bíblico com a exclusão de todos os outros: non est Deus.

E volto às Confissões, com uma segunda passagem que eu nunca esqueci mesmo após todos esses anos: “Senti e experimentei não ser para saber que o pão, amável ao paladar sadio, é repugnante ao doente, e a luz, adorável aos olhos sãos, é odiosa aos [olhos] enfermos”. Perdoem-me qualquer imprecisão, pois cito tudo de memória. Mas se aplica perfeitamente: os que não querem que Deus exista (não lembro agora quem foi que disse que ninguém jamais falou “Deus não existe” sem ter antes desejado secretamente que Ele não existisse…) assustam-se com a mera possibilidade de dúvida acerca da Sua existência, fogem das evidências que apontam para Ele com a mesma devotada repugnância com que um estômago doente põe para fora o alimento que lhe seria salutar.

Há pecados que não têm perdão, os famosos “pecados contra o Espírito Santo” que a tradição católica enumerou e explicitou. Explica a Igreja que eles não são propriamente pecados imperdoáveis, mas sim aqueles pecados que, por sua própria natureza, repelem o perdão divino. Um deles é exatamente a negação da Verdade conhecida como tal: trata-se, p.ex., exatamente do orgulho de recusar-se a enxergar que Deus existe ou a achegar-se-Lhe suplicando a misericórdia da qual o homem tem a mais absoluta necessidade. O perdão de Deus é graça gratuita, claro está, mas não é exatamente um dom “incondicional”. Como tudo que está sob o império da economia da salvação, o perdão divino está condicionado ao livre-arbítrio humano, que precisa desejá-lo como conditio sine qua non para o receber.

Mas o orgulho é próprio da natureza humana decaída, e este vício – mormente o intelectual – é difícil de ser arrancado uma vez que finca as suas raízes no coração. Se o paladar enfermo rejeita o remédio, o que se pode fazer? Se a Anti-Fé atéia postula como o mais inquestionável dos dogmas que não há Deus, como aqueles que tiveram a infelicidade de abraçá-la um dia poderão se libertar de suas garras se não podem sequer suplicar ao Deus no Qual não crêem que Se digne conceder-lhes o dom da Fé?

A situação é sem dúvidas terrível, e é justamente por isso que ela mereceu ser chamada de “Pecado contra o Espírito Santo”, aquele que não será perdoado nem neste século e nem no vindouro: não, repitamos, porque não possa absolutamente ser perdoado, mas porque – na expressão do Catecismo Romano que cito também de memória – “só a muito custo se lhe obtém o perdão”, uma vez que este pecado específico (ao contrário de outros) fecha deliberadamente as portas do coração humano à ação santificante de Deus.

Convém, contudo, que não nos desesperemos. Na nossa recitação diária do Santo Rosário, nós acrescentamos a jaculatória de Fátima e pedimos que o bom Jesus possa socorrer “principalmente aqueles que mais precisarem”. “Da Vossa misericórdia”, em alguns lugares se costuma acrescentar. E a força de tantas orações pode aproveitar aos nossos queridos irmãos que não têm Fé; não nos esqueçamos de que Deus concede a todos os homens graças suficientes para que se salvem, e os misteriosos caminhos da liberdade humana são tais que, em princípio, até o último suspiro um homem pode decidir voltar-se para Deus. Rezemos, portanto, por aqueles que não querem ou não podem rezar por si próprios! Ó Deus, pedimo-Vos “por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam”. Orações são umas das pouquíssimas coisas (senão as únicas) das quais se pode com a mais absoluta certeza dizer que não são em vão.

Porque a apologética é sem dúvidas necessária, mas muito mais necessária é a oração, esta que é a alma de todo apostolado. A decisão de crer é uma decisão pessoal e interior, que pode perfeitamente (permita-o Deus!) ser ensejada à força de nossos arrazoados, mas que ninguém é capaz de produzir em si ou em outrem por virtude própria. São importantíssimas as discussões sobre Deus, sem dúvidas, mas o acumulado de todas elas levadas a cabo ao longo dos séculos pelas mais brilhantes mentes que já passaram pela Terra não é capaz, por si mesmo, de produzir a virtude da Fé em uma única alma. Mais do que ser convencido acerca de Deus, o homem precisa crer. E termino com uma terceira lembrança d’As Confissões que sempre me acompanhou ao longo dos anos, e que resume perfeitamente isto que estou querendo dizer, de um modo até muito melhor do que eu próprio consigo: “prefira [o homem] encontrar a Deus sem O conhecer a, conhecendo-O, não O encontrar”. Que Santo Agostinho possa rogar por todos nós.

Barack Obama é reeleito presidente dos Estados Unidos

O presidente Barack Obama foi reeleito nas eleições americanas que o mundo acompanhou ontem. A julgar pela cobertura que a mídia nacional dá ao fato, o sentimento de júbilo é unânime: parece que os Estados Unidos conseguiram uma importante vitória em 2012, capaz de pôr freios às diabólicas tentativas de retrocesso do Partido Republicano e de assegurar a continuidade de um projeto político que está transformando o mundo em um lugar mais justo e mais solidário… enfim, em uma palavra, melhor.

Naturalmente, eu não compartilho desta euforia. Praticamente todas as vezes em que eu escrevi sobre Obama aqui no Deus lo Vult! foi para denunciar algum aspecto bárbaro e desumano da sua política de governo. São bem conhecidas as posições favoráveis do presidente americano à destruição de embriões humanos em pesquisas científicas, ao casamento gay e ao aborto. E, paradoxalmente, estas coisas – que a meu ver constituem a diferença capital entre os programas dos dois candidatos à presidência que se enfrentaram nas urnas ontem – não parecem fazer parte das razões que levam os brasileiros a ter simpatia pelo primeiro presidente negro dos Estados Unidos. O fato de Obama ser o presidente mais radicalmente abortista que já pisou na Casa Branca não parece ser levado em consideração quando se faz uma avaliação positiva ou negativa do seu primeiro mandato presidencial.

Ao contrário, fala-se muito em generalidades de somenos importância, como política militar ou questões ambientais; isto quando não se acredita, explícita ou veladamente, que Obama é o melhor candidato à presidência dos Estados Unidos simplesmente por ser negro, em um racismo às avessas tão sem sentido quanto irresponsável. Mas, na verdade, as questões morais são exatamente aquelas que são inegociáveis. É possível gozar de uma relativa liberdade quando se está tratando de outros assuntos; p.ex., é perfeitamente lícito divergir quanto às políticas concretas de investimento nas Forças Armadas, ou de promoção de mecanismos de desenvolvimento sustentável, ou de determinação da esfera de ação do Estado na economia, ou de programas sociais a nível governamental, ou coisas do tipo. O que não se pode é pôr em discussão os direitos humanos fundamentais, entre os quais se sobressaem a defesa intransigente da vida humana (com o conseqüente veto a toda forma de aborto) e a proteção da Família, célula-mater da sociedade (o que implica na rejeição das políticas revolucionárias de ressignificação de “Família” para que o termo abarque também as duplas de sodomitas ou safistas). Não obstante, a impressão que eu tenho quando vejo as pessoas falarem bem de Obama é a de que elas só olham para aqueles primeiros aspectos do seu programa político, e não para estes últimos. E isto é angustiante.

Eu não sei o que aguarda os Estados Unidos (e o resto do mundo) com a reeleição do Obama; sei que o cenário da luta pró-vida (esta que é, insisto, a única luta verdadeiramente importante no momento em que vivemos, porque é uma batalha da Civilização contra a Barbárie: o resto é mera escaramuça de pouco valor a longo prazo) se apresenta tétrico e sombrio. Hoje não é um dia de alegria, muito pelo contrário: é um dia de luto porque acabamos perdendo uma importante batalha “por tabela” e o povo dos Estados Unidos, por conta de questões marginais, acabou dando mais um voto de confiança a um presidente que sempre conferiu à sua ação pública um tom assustadoramente anti-vida. Dias difíceis se anunciam. Deus salve a América.

A juventude da Missa Antiga

Encontrei esta bonita foto no Fratres in Unum, sobre a singela legenda de «[q]ualquer diferença em relação à sua paróquia, cujas missas são assistidas majoritariamente por senhoras com mais de 50 anos, não é mera coincidência». Trata-se de uma Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano, celebrada no último dia 03 de novembro (sábado passado) pelo Card. Cañizares na Basílica de São Pedro.

É um belíssimo argumento contra os que chamam as antigas rubricas de “ultrapassadas”, “estéreis”, incapazes de atender aos anseios dos homens modernos, ou qualquer outra bobagem do tipo. Aliás, melhor: trata-se de um fato que faz calar todos os [pseudo-]argumentos dos progressistas que vaticinam o fim da Igreja para “logo mais” caso Ela não abandone as Suas práticas seculares em favor dos últimos modismos modernos. Esta é uma Missa em latim (nesta “língua que ninguém entende”), celebrada versus Deum (“de costas para o povo”) por um cardeal romano com toda a solenidade (toda esta “pompa” que incomoda o povo simples) a que Deus tem direito. Ou seja, é exatamente tudo aquilo a que os modernos têm ojeriza e que afirmam afastar as pessoas da Igreja. Eis, no entanto, a Basílica lotada!

Porque, no meio das coisas voláteis do mundo moderno, o homem é atraído precisamente pelas coisas que não passam. Cansei de explicar para as pessoas que uma doutrina que dissesse hoje uma coisa e amanhã dissesse o seu contrário não teria, absolutamente, nenhum valor enquanto doutrina; tratar-se-ia tão somente de opinião mais ou menos digna de crédito, ou de livre-investigação intelectual condicionada às limitações do saber humano em cada momento histórico concreto. Ora, afora os Fanáticos Irreligiosos (que existem somente para desempenhar no mundo o necessário papel da exceção que confirma a regra), quem seria louco o bastante para confiar nas suas próprias limitações racionais em assuntos de tão grave importância como o são as coisas necessárias à salvação eterna da própria alma?

A Doutrina Verdadeira precisa ser certa e, para ser certa, Ela precisa ser Imutável, porque a Verdade é atemporal e o que é verdadeiro hoje não passa a ser falso amanhã. A Doutrina Verdadeira, para poder existir entre homens intrinsecamente falíveis e limitados, precisa ser uma dádiva concedida aos seres humanos por Alguém que não pode enganar-Se e nem nos enganar, precisa ter sido entregue aos homens por um Deus que é Ele próprio a própria Verdade. A Doutrina Verdadeira, assim, não é algo que os homens constroem, mas sim um dom concedido por Deus que nós recebemos daqueles que nos precederam e que temos a missão de conservar e guardar íntegro. E que melhor maneira de testemunhar ao mundo a nossa adesão integral àquilo que nos foi legado do que rezar publicamente do mesmo modo que rezaram os cristãos ao longo dos séculos? Que forma mais conveniente de expressar a nossa Fé em uma Doutrina que recebemos dos que vieram antes de nós do que conservar também a forma como rezavam estes cristãos que nos precederam neste mundo e a quem devemos o dom da Fé?

É muito estreita a ligação entre a Liturgia e a Doutrina da Igreja! A clássica expressão lex orandi, lex credendi não tem apenas o significado mais óbvio de que os Ritos Católicos expressam a Fé Católica: o mesmo se poderia dizer de qualquer rito que expressasse qualquer crença, bastando para isso que ele fosse determinado em conformidade com o que se acredita e alterado de acordo com as mudanças na própria forma de se acreditar. Ao contrário, a tradicional expressão católica reveste-se de uma eloqüente dimensão pedagógica quando se torna visível a unidade entre as liturgias de todos os tempos e lugares e entre estas e a Liturgia Celeste, Eterna e Imutável de cujo vicejante vigor vive a Igreja de Deus.

E ainda hoje em dia há católicos que percebem este nexo e se encantam com a força deste símbolo. Há católicos – muitos, em todos os lugares, de todas as idades – que encontram na Forma Extraordinária do Rito Romano a maneira mais salutar de viver a Fé Católica, há fiéis – jovens inclusive! – que vêem na espiritualidade tradicional católica a forma mais adequada de viverem sob a égide da Cruz de Cristo no mundo de hoje. Que a sua vida possa servir de poderosa inspiração para os que vagam no desespero do mundo moderno! Que a sua Fé possa contagiar muitas almas sedentas de Deus também no nosso tempo. Que, por intermédio deles, Cristo Nosso Senhor possa ser cada vez mais conhecido e amado neste mundo que d’Ele tem tanta necessidade.

Cientistas à caça da “prova científica” da existência da alma

Recebi hoje por email esta notícia que narra as aventuras de dois pesquisadores na busca da prova científica da existência da alma. São “o médico americano Stuart Hamerroff e o físico britânico Sir Roger Penrose”; segundo a reportagem,

eles explicaram que a alma de uma pessoa está dentro das células cerebrais em um lugar chamado microtúbulo. Os microtúbulos, segundo os livros de biologia, são estruturas proteicas que fazem parte do citoesqueleto das células. Elas ajudam no transporte celular pelo corpo humano.

Bom, em primeiro lugar, é preciso deixar claro que a alma não “está” em nenhum lugar específico do corpo. Aliás, como explica Santo Tomás na Summa, ao invés de postular que o corpo contém a alma o mais exato é dizer que a alma contém o corpo (Summa, Ia, q.8, a.1, ad.2). E, em outro lugar (id., q.76, a.8, resp.), que se fosse para falar “onde” a alma se encontra no corpo humano, dever-se-ia dizer que ela está totalmente em todo o corpo e em cada uma de suas partes.

Localizar a alma em alguma parte específica do corpo humano (p.ex., digamos, o cérebro) só seria possível se ela (a alma) estivesse unida ao corpo somente como motor, teoria que o Aquinate demonstra ser insustentável por várias razões na mesma questão da Summa. Ao contrário, Santo Tomás – seguindo Aristóteles – afirma que a alma está unida ao corpo enquanto sua forma substancial, sendo assim o homem uma unidade substancial composta de corpo e alma. À luz desta concepção do ser humano é totalmente sem sentido pretender “encontrar” a alma em alguma parte do corpo humano. Talvez gostem desta teoria os espíritas ou os adeptos da metafísica de Descartes, mas ela não é compatível com a antropologia católica.

Segundo os pesquisadores, os microtúbulos têm energia quântica do universo. Essa energia seria a alma e ajudaria a formar a consciência de uma pessoa durante toda a sua vida. Portanto, quando a pessoa morre, essa energia quântica voltaria ao universo, de onde veio. Isso seria, portanto, a alma.

Eu torço o nariz sempre que leio “energia quântica do universo” aplicada neste sentido que beira o esoterismo. Concedo que, para os leigos, isto decorre da maneira pouco rigorosa que sói se usar para explicar a mecânica quântica fora dos círculos acadêmicos. Por exemplo, lembro-me de que eu passei muito tempo da minha adolescência achando que o Princípio da Incerteza de Heisenberg era um absurdo porque o compreendia como se o elétron fosse um Boo de Super Mario, que parava de se mover e cobria o rosto quando o personagem se virava para ele, voltando a andar somente quando aquele lhe dava as costas. Daí até eu chegar na faculdade e aprender que “observação” pressupõe o “contato físico” [= sensível] com o elétron (não sendo simplesmente “olhar” para ele) e que era desta interação entre a partícula e o instrumento de medida que surgia a perturbação de estado responsável pela incerteza postulada por Heisenberg passou-se um bocado de tempo. E tenho intimamente a convicção de que muita gente acha que a Física Quântica é uma espécie de mágica na qual, de alguma maneira, “cabem” igualmente o natural, o sobrenatural e os absurdos metafísicos.

De todo modo, não sei o teor exato das alegações dos drs. Hamerroff e Penrose, que comento somente à luz da citada matéria da INFO Online. Pode ser que eles tenham uma explicação científica rigorosa relacionando [o que chamam de] “consciência” com a “energia quântica do universo”. Sei, no entanto, que para o leitor médio esta correlação implica quase sempre em erros conceituais graves.

Não é a priori impossível que se detecte alguma perturbação sensível provocada pela alma, o que contudo não autoriza a confundir esta perturbação com a alma em si. Tratar-se-ia, mutatis mutandis, de alguém que olhasse para um eletrocardiograma e dissesse que o coração humano é um feixe de ondas elétricas detectável por aquele equipamento específico que o traduz graficamente. Ora, a atividade elétrica é provocada sim pelo coração humano, mas ela não é o próprio coração humano. Igualmente, parece-me em princípio não haver óbice a que a alma humana unida ao corpo provoque alguma espécie de movimento sensível que seja detectado sob a forma de energia quântica ou de qualquer outra natureza. Daí a igualar os efeitos às causas, contudo, vai um passo enorme que a ciência não está autorizada a dar. Sobre este assunto, vale igualmente tudo o que eu já falei aqui sobre as provas científicas da existência de Deus. Toda prova “científica” a respeito da existência da alma sempre vai ser – e por definição só pode ser – uma prova indireta.

E toda vez que são provocados por um pesquisador, eles respondem com a teoria das pessoas que são ressuscitadas depois de uma parada cardíaca e sempre voltam com uma história do momento da morte.

Para eles, a história nada mais é do que a experiência dessa energia quântica indo embora do corpo e se vendo obrigada a voltar – já que a pessoa conseguiu sobreviver ao acidente cardíaco.

 Já este argumento me parece nonsense por pelo menos duas razões. A primeira é que eu – como cético sobre Experiências de Quase-Morte – questiono a sua natureza, e me pergunto se não é possível explicá-las à luz de argumentos materialistas. A segunda é que… bom, ainda que tais experiências sejam verdadeiramente espirituais, disso não me parece decorrer necessariamente a existência das tais “energias quânticas” a explicá-las. Permanece aberto o abismo entre as ciências empíricas – inclusive as que estudam a energia quântica do universo – e as realidades espirituais; e, como eu já disse por diversas vezes, uma “ciência” auto-mutilada e reduzida àquilo que é mensurável e empiricamente verificável não será nunca capaz de o transpôr.

Dies Irae

Não é propriamente uma composição litúrgica, mas é uma peça da qual gosto bastante com o texto – este, sim, litúrgico – da sequência da Missa de hoje, Dia de Finados. E esta versão de Mozart é provavelmente a mais conhecida do Dies Irae.

A execução litúrgica, em Gregoriano – belíssima! -, eu encontrei no Subsídio Litúrgico. Segue abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=Dlr90NLDp-0

E, no dia de hoje, lembremo-nos de que havemos também nós de morrer. Lembremo-nos de que hoje celebramos os fiéis defuntos para que eles nos digam de que também a nossa hora há de chegar e, por isso, importa desde já – desde ontem! – viver com esta realidade diante dos olhos. A exortação é, se não me engano, de Santo Agostinho: enterramos com freqüência os nossos amigos e parentes, vemos funerais todos os dias e, não obstante, continuamos a nos prometer longos anos de vida. Insensata promessa que ninguém pode fazer para si!

Vivamos com a consciência de que estamos por aqui só de passagem. E que esta passagem pode ser bem curta e, aliás, geralmente é mais curta do que esperamos, não importa por quantos anos a Providência nos permita caminhar pelo mundo dos vivos. Vivamos à perspectiva de que iremos morrer, e em breve! Que o Todo-Poderoso possa Se compadecer das almas dos fiéis que padecem no Purgatório (hoje, a propósito, é dia de lucrar indulgência plenária para eles, em visitas a cemitérios ou igrejas, nas condições habituais: confissão, comunhão e oração pelas intenções do Santo Padre), e que eles ascendam o quanto antes à glória celeste para, de lá, interceder por nós. Que a Virgem Santíssima, Janua Coeli, receba-os o quanto antes no Reino do Seu Divino Filho.

Requiem aeternam dona eis, Domine,
et lux perpetua luceat eis.

Requiescant in Pacem.
Amen.

Venerável Padre Rodolfo Komórek

Conheci a história do Venerável Pe. Rodolfo Komórek (1890 – 1949) quando estivem em São José dos Campos, a visitar um amigo. Lembrei-me dele porque recebi recentemente por email a sua carta mortuária, cuja leitura é bem interessante e piedosa (trata-se não de uma carta do próprio pe. Rodolfo, mas sim de um irmão religioso escrevendo sobre a morte dele), prestando-se a boa referência biográfica sobre o sacerdote. P. ex., sobre o seu gosto pelas penitências:

De seu espírito de penitência fala ainda Mons. Ascânio Brandão, escritor de renome e conhecido em todo o Brasil Católico: “O seu espírito de penitência foi notável. Por mais que o procurasse ocultar, via-se logo a que austeridades se entregava continuamente. Dormia no chão duro. Tinha horror ao leito macio. Quando a obediência o obrigava a se acolher ao leito, sobre tábuas duras havia de repousar”.

De São José dos Campos eu trouxe um pequeno “santinho” do Padre Rodolfo, com uma pequena biografia e uma oração. Reproduzo-as abaixo, a quem se interessar, para que a história deste heróico salesiano possa ser conhecida e divulgada, e – quiçá, se o Bom Deus o permitir – inspirar sentimentos verdadeiros de piedade nos homens dos nossos tempos, tão sedentos das coisas do Alto.

Hoje é dia de Todos os Santos – mesmo dos não canonizados… – e, mesmo sem a chancela definitiva e segura de uma canonização, gosto de pensar que hoje é um dia apropriado para se celebrar também as virtudes do Venerável Padre Rodolfo Komórek, a cuja intercessão eu recorro, pedindo por mim próprio, por este meu apostolado virtual, pelos parentes e amigos, pela Santa Igreja de Deus, pelo bem do Brasil.

* * *

Dados Biográficos

PADRE RODOLFO nasceu em Bielsko (Polônia), dia 11 de outubro de 1890. Depois de uma infância edificante, vivida entre o lar, a igreja e a escola, ingressou no seminário diocesano e, após brilhantes estudos, ordenou-se sacerdote em 1913.

Deixou para o povo de sua terra natal exemplos admiráveis de zelo, piedade profunda e surpeendente espírito de penitência. Na guerra de 1914, foi capelão militar em hospitais e no campo de batalha. Sempre benquisto de todos os militares, recebeu duas condecorações do governo austríaco.

Voltando à pátria, prosseguiu seu trabalho apostólico no ministério paroquial. Desejando ser missionário, entrou na Congregação Salesiana de Dom Bosco, sendo, em 1924, destinado ao Brasil para cuidar dos colonos poloneses de Dom Feliciano (RS). A população dessa localidade chamava-o de “padre santo”. O mesmo aconteceu em outros lugares: Niterói (RJ), Luís Alves (SC) e Lavrinhas (SP).

No seminário salesiano de Lavrinhas apareceram-lhe os primeiros sintomas de moléstia pulmonar. Transferido então para São José dos Campos (SP), ali despendeu suas últimas energias, entregando-se com total doação ao cuidado espiritual e físico dos pobres e dos doentes de hospitais, asilos e pensões sanatoriais. Era de fato “um para todos”.

Muitos ainda recordam o virtuoso sacerdote, humilde, comedido e atencioso que, sem nunca elevar a voz, foi um semeador de alegria e de paz.

Faleceu em 11 de dezembro de 1949. Seu sepultamento foi uma comovente apoteose promovida por grande multidão agradecida. Os restos mortais do “padre santo” encontram-se hoje na chamada “Casa das Relíquias”, em São José dos Campos.

Reconhecendo a heroicidade de suas virtudes, a Santa Sé declarou-o Venerável em 6 de abril de 1996. Aguarda-se um “milagre” para o prosseguimento do Processo de Beatificação e Canonização.

* * *

Oração

Para pedir a intercessão e a glorificação do Padre Rodolfo

Glorificai, Senhor,
o Vosso servo padre Rodolfo Komórek,
que em vida,
pelo amor que Vos teve,
imolou-se pelo bem do próximo,
sobretudo dos pobres e doentes,
deixando-nos admiráveis exemplos
de pobreza, penitência e humildade.
Concedei-me, por sua intercessão,
a graça que confiante Vos peço
(fazer o pedido).

Amén.

As graças recebidas pela intercessão do Pe. Rodolfo sejam comunicadas à

Casa Padre Rodolfo
Rua Padre Rodolfo, 28 – Vila Ema
12243-080 – São José dos Campos – SP

O Haloween é uma festa pagã que os cristãos devem evitar?

No dia de Haloween, pergunta-se sobre a licitude moral de tomar parte nos festejos que hoje se celebram mundo afora (aliás, muito mais “mundo afora” do que no Brasil, convenhamos). Quanto a isto, responde-se:

“Haloween” é uma corruptela de «All Hallows’ Eve[ning]», ou seja, Vigília de Todos os Santos. Amanhã, dia Primeiro de Novembro, a Igreja celebra o dia de todos os santos e hoje, 31 de outubro, na véspera, era celebrada a “All Hallows Eve”, i.e., a sua vigília.

– Assim, o Haloween não é (e nem nunca foi) uma festa pagã. A festa celta pagã, como explica o Salvem a Liturgia!, era o Samhain. O Haloween (ou o “All Hallows’ Eve”, ou a Vigília de Todos os Santos) era e sempre foi uma festa cristã, celebrada no mesmo dia do festival pagão exatamente para debochar do paganismo vencido. É este, aliás, o sentido das máscaras e das fantasias.

– Este sentido perdeu-se em grande parte (afinal, quase ninguém lembra da Vigília de Todos os Santos quando se fala em Haloween), mas isso não impede os católicos de o utilizarem. Penso que é até mesmo importante que se faça este resgate histórico, para responder aos neo-pagãos que desejam forjar para si próprios (e, pior, impôr aos outros) uma celebração pagã inexistente há muitos séculos (ao contrário do Haloween que sempre existiu enquanto festa cristã com os mesmos elementos que possui hoje).

– A despeito das tentativas neo-pagãs de se resgatar o “Dia das Bruxas” (31 de outubro) celebrado hoje em dia como se fosse uma celebração – às vezes diz-se “ininterrupta” (!) – do Samhain celta, a própria realidade se encarrega de lhes fornecer um desmentido. Primeiro por causa do próprio nome da festa (derivado do “All Hallows’ Eve” cristão, e não do “Samhain” pagão), e depois devido aos elementos conservados nos festejos modernos: os pagãos não se vestiam de bruxas, por exemplo, e o clássico “Trick-or-Treating” (cuja origem é aliás controversa) popularizou-se por indivíduos e empresas interessados em estimular o consumismo infantil, e não por ocultistas celebrando antigos costumes pagãos. Em suma, praticamente nada no Haloween moderno remete ao Samhain celta. Não há, portanto, razões para se falar em “celebração pagã”.

– Não obstante, como em todas as épocas do ano, há festas e festas, há maneiras e maneiras de se comemorar um evento. Recentemente a Arquidiocese de Varsóvia alertava para o ocultismo praticado sob o pretexto de diversão durante o Haloween. Não nego que haja festas neo-pagãs celebradas no dia de hoje. E, como é evidente, os cristãos não podem tomar parte em festas neo-pagãs. O que nego é que todas as festas de Haloween sejam intrínseca e necessariamente pagãs. A bem da verdade, a maior parte delas é simplesmente neutra, sem nenhuma conotação nem cristã e nem pagã.

– Há quem diga que dessacralizar uma festa originalmente cristã é por si mesmo diabólico. Concordo com os princípios, mas não com a utilização da sentença no caso concreto, pois entendo que não se aplica. Primeiro porque nunca houve festa popular cristã de All Hallows’ Eve no Brasil que pudesse ser “dessacralizada” (a coisa já chegou aqui do jeito que é atualmente), e segundo porque os elementos do Haloween celebrado hoje em dia já faziam todos parte da festa cristã: as fantasias de bruxas e monstros são um deboche ao paganismo, os doces pedidos às portas das casas remete ao costume medieval das crianças pedirem bolinhos em troca de orações pelos mortos, as lanternas de abóboras representam as almas do Purgatório, etc. Não há, portanto, “dessacralização” aqui, pois estes elementos (que obviamente nunca foram “litúrgicos”) sempre foram utilizados dentro de um contexto cristão.

– Por fim, diante de uma festa pagã há muitos séculos cristianizada (e cujos elementos folclóricos existentes hoje em dia remetem todos à celebração cristã e não à pagã) que praticamente perdeu por completo toda conotação religiosa (quer cristã, quer pagã), vale o bom senso e as disposições interiores de quem participa delas (de um modo análogo a tudo o que eu já escrevi aqui sobre o Carnaval). Não há nada de intrinsecamente imoral em pôr uma fantasia para pedir ou distribuir doces. Os que desejam participar dos festejos do dia de hoje (e, óbvio, não o fazem movidos por nenhuma – aliás bem recente – mentalidade neo-pagã) podem perfeitamente fazê-lo com a consciência tranqüila.

Furacão Sandy espalha a destruição: mas a Consoladora dos Aflitos permanece em pé

Furacão Sandy chega aos Estados Unidos e provoca terríveis estragos em seu caminho. Cercada de dor e de destruição, em meio aos escombros, eleva-se incólume uma imagem da Virgem Santíssima, Nossa Senhora das Graças, como a mostrar que a Fé é maior e mais forte do que as tragédias humanas. A interceder pelo povo dos Estados Unidos: como a dizer que os furacões passam, mas existe uma Mulher que permanece de pé mesmo quando tudo desmorona ao redor.

Rezemos por aqueles sobre os quais se abateu esta catástrofe! Que Maria Santíssima lhes possa valer com Sua poderosa intercessão no meio da fúria da natureza; que, olhos fitos n’Ela, os que sofrem a ira do furacão possam encontrar a esperança necessária para superar as dificuldades presentes e transformá-las em sacrifício de valor sobrenatural para a Vida Eterna. Que Deus ajude a América.