Ela está sempre conosco. Por mais que às vezes não consigamos perceber a Sua solicitude maternal; por mais que, no meio das atribulações do quotidiano, não tenhamos tempo para lançar-Lhe um olhar de agradecimento e de ternura; por mais que nos seja tão difícil vislumbrá-La por detrás das ave-marias que repetimos mecânica e apressadamente; ainda assim, Ela está sempre conosco. Ela nunca nos abandona.
Nunca nos abandona; pois se não abandonou o Seu Filho Unigênito na Cruz, por qual motivo haveria de abandonar a nós, que padecemos tribulações tão amenas perto d’Aquela terrível que Ela viu Seu Divino Filho sofrer? No Gólgota todos fugiram; e, se lá Ela não fugiu, então não haverá de fugir jamais. Não haverá de nos abandonar, a nós que d’Ela somos tão necessitados. A nós, que Lhe fomos entregues por filhos pelo Seu Filho!
E aquela entrega foi a nossa salvação. Se nós às vezes nos esquecemos de que Cristo no-La deu por Mãe, Ela de Sua parte jamais Se esquece de que Ele Lhe nos deu por filhos. Podemos por vezes esquecer que temos uma Mãe; de que nos tem por filhos, ao contrário, Ela jamais Se esquece. Jamais nos abandona e jamais cessa de velar por nós com zelo maternal; jamais nos deixa de agraciar com mimos e cuidados, a cada dia, a cada instante.
A cada instante, sim, porque a cada instante recebemos incontáveis graças de Deus, ainda que nossa natural ingratidão nos impeça de o perceber. E todas as graças que recebemos d’Ele, vêm-nos através das mãos d’Ela; vêm-nos porque Ela nos ama e nos quer levar para junto do Seu Filho, a fim de reunir na Eternidade toda a Sua família – a enorme Família dos Filhos de Deus que nasceu da Cruz do Calvário. Quando fomos entregues a Ela; quando Lhe fomos consagrados pelo próprio Cristo. E, daquele dia em diante, Ela tem Se preocupado em nos levar a Deus. Em nos conduzir aos Céus. Ela jamais desiste de nós.
Ainda quando não o queremos! De todos os títulos com os quais Ela é ornada, um dos mais comoventes é o de Refugium Peccatorum, o Refúgio dos Pecadores. Porque o pecado, bem o sabemos, nos afasta de Deus; mas é como se, de certo modo, não nos afastasse d’Ela, é como se não fosse capaz de fazê-La desistir de nós. Quando nós voltamos as costas para Deus, ainda assim A encontramos à nossa frente: como se Ela Se colocasse de modo a não nos deixar afastarmo-nos o bastante. E olhando para o rosto d’Ela nós encontramos a paz. Mesmo pecadores, não temos mais vontade de fugir.
Ela não nos deixa fugir; quando estamos longe de Deus, Ela vem nos visitar. E Ela, mais uma vez, à semelhança do que fez em Judá, traz-nos a Salvação. E não podemos senão repetir maravilhados: «donde me vem a dita de vir a mim a Mãe do meu Senhor?». E podemos sempre repeti-lo, porque Ela sempre nos vem. Porque somos filhos d’Ela, a Ela entregues pelo próprio Senhor: eis a nossa salvação! Somos filhos d’Ela e, embora nem sempre nos portemos como Seus filhos, Ela não deixa jamais de agir para nós como Mãe.