Perguntam-me sobre política. Ora, sobre este tema, nas atuais circunstâncias, penso que, de minha lavra, há bem pouco que se falar. Primeiro que este blog não é, nunca foi e nem nunca se propôs a ser um blog sobre política: aqui se discute religião, principalmente apologética, e todos os demais temas pelos quais aqui se fazem eventuais incursões só ganham espaço na medida em que este autor considere possível apresentar, sobre eles, algum enfoque religioso.
Depois, a política partidária tem — deve ter! — relevância nula na nossa vida de cristãos. E praticamente tudo o que se discute hoje na internet sob o nome de “política” tem uma conotação partidária insuportável e malsã. Por exemplo, no momento em que escrevo estas linhas sou bombardeado por notícias sobre a eleição da presidência do Senado. Ora, o tema pode ser muito caro a quem é senador ou àqueles cujo trabalho gravita em torno do Poder Legislativo Federal; pode proporcionar comentários espirituosos e dar ensejo a discursos inflamados, que a todos nós é sem dúvida lícito consumir com alguma moderação. Mas o assunto não deve, em absoluto, ocupar as nossas preocupações por um lapso considerável de tempo: com todas as vênias, suas excelências não merecem tanto assim a nossa consideração. Sequer se esforçam por merecê-la. Sim, a democracia é uma coisa muito bonita e o homem é zoon politikon desde que se entende por gente, todos o sabemos. Mas antes de ser orientado para a pólis o homem é vocacionado para o Alto, e o cuidado excessivo das coisas dos homens geralmente redunda em incúria para com as coisas de Deus.
Não, o maior risco dos tempos modernos não é a alienação política. O maior risco que corremos hoje em dia é, sem sombra de dúvidas, o desleixo espiritual. Toda atividade política profícua (e política, propriamente falando, é o que diz respeito à vida do homem em sociedade, não se reduzindo ao partidarismo político), para ser legítima, não pode ser senão o natural transbordar de uma vida espiritual pujante. A humanidade já perdeu a conta dos santos que transformaram o mundo; e até hoje não se tem notícia de alguém que, à força de mudar o mundo, tenha terminado santo.
Tudo isso é clichê, é básico, é o bê-a-bá do Catolicismo. Mas é preciso insistir nisso porque nos dias que correm se vê muito ufanismo sem cabimento. É preciso dizer com clareza que o momento político que o país atravessa hoje não é triunfante, é periclitante. O cenário está basicamente tomado por raposas sem patriotismo em torno às quais se aglomeram ineptos bem-intencionados. Sim, tal é o arranjo que foi possível, em meio aos desarranjos que nos ameaçavam no horizonte, mas não se pode jamais perder de vista que ainda é muito pouco, que ainda é muito ruim, que ainda é indigno de pessoas civilizadas e aviltoso à vocação do Brasil. Não é possível se acomodar.
Aquele “não vos conformeis com este mundo” talvez nos deva interpelar com tanto mais veemência quanto mais admirável aparente ser o mundo novo que temos diante dos olhos. Poderíamos estar pior? Sim, poderíamos sem dúvidas estar muito pior, e graças a Deus que não estamos! Mas isso de maneira alguma é motivo para a acomodação e o relaxamento. O Cristianismo é progredir olhando para os santos que estão muito acima de nós, e não se satisfazer com a constatação de que estamos melhores que os publicanos.
Até porque nenhuma verdadeira vitória é fácil e nenhuma conquista é duradoura se não for sustentada por esforços conscientes e prolongados. As coisas que nos vêm melhor do que esperávamos devem nos provocar antes uma prudente reserva do que um entusiasmo ligeiro. Isso não é pessimismo nem desconfiança da Providência, é exatamente o contrário: é saber que a Providência, em última análise, é o Altíssimo encontrando maneiras de reproduzir na História os passos de Seu Filho rumo ao Calvário. Se não se encaixa no quadro maior da Paixão de Cristo, então não é Providência — esta é uma lição que deveríamos ter sempre diante dos olhos quando precisarmos julgar as coisas deste mundo.
Finalmente, o que esperar da atual política brasileira? Ora, o mesmo de sempre. Não esperar nada dos que detêm o poder; rezar sempre para que governem com justiça; e se esforçar sempre — sem relaxar jamais! — para semear o reino de Deus naquele palmo de terra insignificante que está ao alcance de nossas mãos e das de mais ninguém. O mundo é mais vasto do que se vê dos palácios dos reis. Não permitamos que o deslumbre das cortes nos cegue para todo o trabalho que ainda temos por fazer.