Já vi algumas pessoas me perguntarem acerca da relevância social da Igreja Católica no Brasil de hoje. Explicando melhor: pessoas que, vendo o Protestantismo ocupar espaços públicos até ontem reservados ao Catolicismo Romano, querem saber de mim, como católico, se a Igreja não está preocupado com isso, se Ela não pretende fazer nada para reverter essa situação.
Ora, não há nada que a Igreja possa fazer a não ser aquilo que é a sua missão atávica: anunciar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo em sua pureza e em sua integridade, sem lhe adicionar ou suprimir absolutamente nada. Não penso, de nenhuma maneira, que os representantes da Igreja (e aqui eu me refiro principalmente aos clérigos, mas o mesmo se aplica, mutatis mutandis, aos leigos) devam se preocupar em responder aos anseios do mundo moderno. Penso, aliás, que é exatamente o contrário, e que é justamente quando a Igreja se deixa pautar pelas reivindicações do saeculum que a sociedade deixa de Lhe dar valor.
Porque as esferas de atuação são bem distintas. Não adianta à Igreja, por exemplo, tentar competir com as festas e com os bailes no quesito de atração da juventude. Ora, se a juventude é atraída por dada sensualidade, ou certa irreverência, ou determinado passatempo fútil, é lógico e evidente que a Igreja não Se poderá jamais tornar suficientemente fútil, irreverente ou sensual a ponto de bater o mundo nestas características. Se tal fosse possível, deixaria de ser Igreja.
É fora de qualquer discussão que existem diversões sadias. Mas de maneira alguma compete à Igreja — à Igreja enquanto tal — proporcionar, diretamente, essas diversões, transformando os seus templos em casas de espetáculos ou em clubes familiares — ainda que fossem primorosos os espetáculos que lá se representassem ou muito distintas as famílias que ali se reunissem. Ao argumento de combater as más diversões, a Igreja não pode fazer de Si própria um parque de diversões, por mais que fosse um parque de diversões sadias.
O mesmo se diga a respeito da política. Não pode a Igreja competir com as associações civis ou com os partidos políticos no que concerne à persuasão das massas acerca da melhor maneira de se organizar in concreto a vida em sociedade. Ora, a Igreja aponta para a Eternidade, e se é verdade que o Eterno não é alheio ao contingente (coisa, aliás, que é particularmente verdade em se tratando do Cristianismo, que é a Religião do Verbo Encarnado!), não é menos verdade que Nosso Senhor não instituiu a Igreja para sair pelo mundo organizando as mil formas possíveis de os homens interagirem entre si.
Por vezes as pessoas — muitas delas bem formadas — estranham que a Igreja não estabeleça um partido político para fazer frente aos desmandos que grassam no país. É coisa boa e justa que os católicos se envolvam em partidos políticos; que a Igreja tenha Ela própria, institucionalmente, um partido político, aí já é coisa bastante inconveniente. Sinceramente, e para dizer o mínimo, é indigno d’Ela descer a essas minudências de estabelecer orçamentos e impostos, de fiscalizar a realização de obras públicas e dirigir políticas de combate à pobreza.
Porque a Igreja é Rainha e não convém à Rainha sair pelo castelo, à própria conta, com as próprias mãos, espanando o pó dos móveis e lavando os pratos dos banquetes reais. Note-se bem: com isso não se quer dizer, evidentemente, que o castelo deva ter salas empoeiradas e cozinhas sujas. Acontece que a boa ordem de um castelo exige a colaboração de um grande número de pessoas diferentes, com responsabilidades diferentes, todas necessárias ao bem do todo. Se não houvesse quem limpasse, quem cozinhasse, quem passasse, rainha nenhuma conseguiria dar conta de todo o trabalho palaciano. E se não houvesse rainha… ora, sem rainha, por que é que alguém iria construir um castelo em primeiro lugar?
Assim é a Igreja na sociedade, ou ao menos a Igreja discente, a hierarquia eclesiástica. Não dispondo de braços para fazer todas as coisas necessárias à vida secular, a Igreja espera — os padres, os bispos esperam — que os cristãos leigos tomem sob seu encargo a condução dos negócios terrenos. E que o façam de maneira ordenada e correta, edificando a cidade humana à sombra, imagem e semelhança da Jerusalém Celeste.
Da mesma forma esses cristãos leigos devem ordenar o corpo social em atenção ao fim último de cada homem, que é o conhecimento de Deus e o exercício das virtudes com vistas à sua própria salvação — esta, que só no seio da Igreja se dá. Espera, assim, o laicato — e, diga-se, também todo o gênero dos homens de boa vontade aos quais a Igreja já há décadas costume dirigir os Seus pronunciamentos — que a Igreja lhe dirija o caminho, apontando-lhe o que é reto e lhe censurando os desvios. Vivem os leigos, destarte, de olhos voltados para a Igreja — “ecce sicut oculi servorum in manibus dominorum suorum sicut oculi ancillæ in manibus dominæ ejus ita oculi nostri ad Dominum Deum nostrum” (Psalm CXXII, 2) –, esperando d’Ela conforto e direção. Edificando em função d’Ela a Cidade Terrena, que outro motivo não haverá para a construção de uma sociedade o mais possível justa e fraterna.
Porque certas obras humanas só se alcançam à custa de um sacerdócio consistente e devotado. E os sacrifícios que não sejam feitos ao Deus Vivo e Verdadeiro são incapazes de sustentar os homens por tempo suficiente para que dêem frutos.
O que deve, enfim, fazer a Igreja neste momento em que a heresia avança e parece assumir verdadeiro protagonismo na condução dos rumos do país? A Igreja deve ensinar a verdade e condenar o erro!, deve insistir na pregação da Sã Doutrina, no anúncio do Evangelho, na propagação da Fé Católica e Apostólica sem a qual é impossível agradar a Deus. Deve sustentar e inflamar a Fé na alma dos homens, em primeiríssimo lugar, sem querer resolver de chofre, por conta própria, os problemas mundanos: estes serão resolvidos na medida em que puderem ser resolvidos por homens tementes a Deus — homens que aprenderem a temer a Deus ouvindo a pregação da Igreja e nenhuma outra. Porque muitos podem cuidar do palácio, mas somente uma pode reinar no castelo. São muitos os que podem construir uma sociedade mais justa; mas somente a Igreja pode anunciar a Salvação.
Isto me lembra a questão da perda dos Estados Papais no século XIX e XX.
O que de certa forma era um desastre, acabou sendo uma coisa boa, uma vez que os Papas puderam se dedicar quase que exclusivamente à doutrina cristã.
Lendo seu texto imagino como seria um Estado Papal hoje no século XXI. Diversos órgão da imprensa cobrando do Papa diminuição de impostos, reclamando das desigualdades sociais ou “Por que o Papa não recebe todos os imigrantes muçulmanos no Estado pontifício?”. Deus sempre retirando o bem do mal.
Como disse Nosso Senhor: Dê a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus.
Cabe realmente aos leigos fazer algo com relação à representatividade da Igreja no mundo político. “Há poucos trabalhadores na messe”; há que se arregaçar as mangas e cada um tentar auxiliar da melhor forma possível.
Belíssimo artigo Jorge. Voltando inspirado!!
Como seria bom se muitos dos nossos Bispos, Padres, Diáconos, Religiosos e Religiosas lessem e efetivamente aplicassem em nossa Igreja o que você tão bem colocou neste artigo…
“Porque muitos podem cuidar do palácio, mas somente uma pode reinar no castelo. São muitos os que podem construir uma sociedade mais justa; mas somente a Igreja pode anunciar a Salvação”.
É isso aí!
Por que a Igreja vai mal?
São os frutos do Vaticano II.
Vejam só:
O jornal “Valor Economico” publicou em 23/02/2018 no suplemento Fim-de-Semana a seguinte reportagem:
“O AVANÇO DA ONDA EVANGÉLICA – Em menos de 20 anos, o Brasil deixará de ter maioria católica”.
Em reportagem alentada (6 laudas), traz dados estatisticos do IBGE mostrando que o numero de católicos no Brasil diminui mais de 1% ao ano, ao passo que as seitas evangelicas aumentam, subindo acima de 0,7% a.a.
O “padre” Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC-USP, afirma que os números são piores que os mostrados na pesquisa, pois menos de 10% dos batizados frequentam a Missas dominicais, “o que significa um mínimo de pertença”.
A reportagem é deprimente, mostrando o escandaloso avanço das seitas evangélicas, e a passividade dos católicos, fruto da mentalidade modernista do clero.
O presidente da CNBB, “cardeal” Sergio da Rocha, chega a afirmar textualmente o seguinte disparate :
-“O pluralismo religioso é reflexo de uma sociedade plural. Não é possível manter a situação religiosa de outros tempos, nem seria conveniente, sob o ponto de vista teológico, uma igreja controladora da sociedade.” (verbis, fls. 06).
Pelo visto esse “Cardeal” deve ser cardeal de alguma outra igreja, pois a Igreja Católica, Apostólica e Romana é e sempre foi CONTRA a separação da Igreja com o estado.
Pior foi o que falou o “padre” Valeriano dos Santos Costa, trajado de paletó sem gravata, como um empresário moderno:
– “Aqui nós sempre ficamos muito quietinhos. As paróquias não podem ficar só com o costume de manutenção. Temos que ir a campo, procurar as pessoas. Temos que adotar esse espirito empresarial, que é o que cria novas possibilidades.” (verbis, fls. 06).
Esse “padre” confia mais no espírito empresarial do que no espírito de Deus. Sem comentários.
Com um clero como esse, que parece não mais ser católico, é um milagre que ainda existam católicos neste país.
Sem ensinar a palavra de Deus, sem falar do Céu, do Inferno, do pecado, das virtudes, sem ensinar a palavra de Deus, só podia resultar nessa debacle.
Certo está voce, Jorge, em apontar que a Igreja deve ensinar a verdade e condenar o erro.
Não fazer como esses “clérigos”, que contemporizam e convivem com o erro.
São os frutos do conciliabulo Vaticano II,
que abriu nas portas da Igreja para o mundo; e as pessoas foram todas embora!.
Depois de ler esse artigo, uma arguta conhecida minha comentou: se o concilio Vaticano II queria evangelizar o mundo, foi um tremendo fracasso.
Se queria destruir a Igreja Católica (que está sendo engolida pelas seitas aqui no Brasil), foi um tremendo sucesso.