Três comentários maçantes – exatamente naquele estilo que eu deplorei aqui de «mera reprodução de conteúdo», e neste caso com o agravante de serem mau conteúdo – foram postados (e não aprovados) nos últimos dias. À guisa de resposta, somente algumas linhas.
O primeiro deles, São Pio X “descanonizado” pelo Vaticano, parece acreditar (i) que o site da Santa Sé é o rol oficial dos santos canonizados da Igreja, (ii) que, nele, a ausência de um título é igual à negação do status de bem-aventurança daquele a quem o título falta e (iii) que alterações no conteúdo do site têm o condão de mudar a Fé e o Culto oficiais da Igreja de Cristo. Em suma, delírio puro e simples. Pra responder à besteira, basta remeter à página de S. Pio X como ela se encontra atualmente: lá, é possível ler, com todas as letras, «S. Pius PP. X», e este “S.” no início outra coisa não significa que São (Santo). Causa finita.
O segundo, Vaticano promoverá “pastoral de misericórdia” para os divorciados e casais do mesmo sexo, é outro delírio, dessa vez decorrente de péssimo jornalismo. A notícia fala da apresentação do Instrumentum Laboris para o próximo sínodo sobre a família; acontece que (i) no texto não existe o termo “pastoral de misericórdia”, (ii) a parte que nele fala «sobre as uniões entre pessoas do mesmo sexo» (nn. 110-120) na verdade se opõe à união civil homossexual («Todas as Conferências Episcopais se expressaram contra uma “redefinição” do matrimónio entre homem e mulher, através da introdução de uma legislação que permita a união entre duas pessoas do mesmo sexo», IL 113), (iii) ela merece uma consideração à parte daquela reservada às outras “situações pastorais difíceis” (como uniões de fato, mães solteiras e divorciados recasados), o que torna portanto (no mínimo!) impreciso falar numa suposta “pastoral” que englobe ao mesmo tempo as uniões homoafetivas e os casamentos adulterinos, como consta na manchete; e (iv) a única coisa que se pode minimamente afirmar como “favorável” a estas uniões é a idéia de que «caso as pessoas que vivem nestas uniões peçam o baptismo para o filho, (…) o filho deve ser acolhido com as mesmas atenção, ternura e solicitude que recebem os outros filhos» (IL 120) – uma posição, convenhamos, bastante defensável. Ainda uma coisa: já existe atendimento pastoral para divorciados recasados, e isso nunca teve nada a ver com uma condescendência institucional para com os que não honraram os votos do Sagrado Matrimônio: a Igreja ainda é contra o divórcio. E mais: este documento não é prescritivo, não se trata de “diretrizes” para nada, mas tão-somente da consolidação das posições dos diversos bispos e Conferências a respeito de um assunto que há-de ser debatido no sínodo vindouro. Por fim: “casais do mesmo sexo” é uma contradição em termos.
O terceiro, por fim, Visitação Apostólica à diocese de Ciudad del Este, traz até uma informação relevante – o fato de que haverá uma Visitação Apostólica a Ciudad del Este; mas se perde em elucubrações e devaneios que raiam às teorias da conspiração. O único dado concreto e objetivo do qual dispomos é o de que, no final deste mês, haverá um Visitador Apostólico no Paraguai. Ponto. Daí a afirmar que isso seja porque, no atual pontificado, «[t]udo o que é tradicional deve ser neutralizado» é no mínimo paranóico.
Uma das principais razões para as quais eu pretendo cobrar maior qualidade nos comentários aqui postados é exatamente esta: acusações disparatadas são muito fáceis de serem cuspidas, mas demandam um razoável esforço para serem respondidas a contento. A verdade sempre teve esta espécie de desvantagem diante da mera “opinião”: por conta de sua solidez precisa mover-se mais lentamente, e para ser ela mesma precisa honrar certos compromissos que os achismos de todos os naipes se sentem no direito de desrespeitar. Faz parte da natureza das coisas. Não pensem, assim, que certo eventual silêncio por parte do autor dessas linhas implique necessariamente em concordância tácita com o que é dito: às vezes pode significar simplesmente que a resposta, escalonada junto com um sem-número de outras atividades concorrentes e analisada em termos de custo-benefício, simplesmente não possui prioridade alta o bastante para ser executada. É uma pena, eu realmente gostaria de responder sempre tudo. Mas às vezes é humanamente impossível. Peço desde já perdão por essas minhas limitações. Espero melhorar.
Ô meu caro, não peça desculpas por sua humanidade. A “culpa” não é tua… é de Deus. rsrs. Se me permite, gostaria de “copiar” parte do texto que fala sobre a natureza das coisas, e da verdade… achei preciso! Grande abraço… que nosso Senhor te abençoe, abundantemente.
“A mentira corre meio mundo antes da verdade calçar as botas” (ditado inglês).
Os assuntos acima sob questionamentos, parecem-me os que se encontram no site do Fratresinunum, como o caso do supostamente perseguido D Rogelio Livieres de Ciudad del Est por ser um bispo estilo conservador; sua diocese seria generosa em quantidade de novos sacerdotes ligados aos tradicionais.
Mais recente: “Cardeal Baldisseri: Vaticano promoverá “Pastoral da Misericórdia” para os divorciados e casais do mesmo sexo, fonte: ACI/Europa Press.
Jorge,
o caso de S. Pio X na verdade foi relatado pelo site “Rorate Coeli”, que reparou que no site do Vaticano, S. João Paulo II e S. João XXIII apareciam com o devido registro do ‘S.’ antes do nome, enquanto Pio X não. Eu fui no site e realmente não tinha. Alguns dias depois apareceu consertado. Mas não creio ser coisa pra tanto alarde.
Abraço.
http://freirojao.blogspot.com.br/2014/06/podemos-descanonizar-um-santo-o-site-do.html
Jorge,
Este artigo pode ser citado aqui, para conhecimento dos estimados irmãos?
http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/politica/cnbb-chama-socialista-que-faleceu-de-cristao/
Paz a ti Jorge.
“Estamos aqui”,
Não é interessante. Quem quiser acompanhar o Constantino, pode fazê-lo em sua própria página. Atualmente, pretendo privilegiar, no Deus lo Vult!, a produção autônoma de conteúdo, e não a mera indicação de leituras, por pertinentes e úteis que sejam.
Abraços,
Jorge