São poucos os dias que separam o Domingo de Ramos da Sexta-Feira da Paixão: que separam a entrada gloriosa de Nosso Senhor em Jerusalém, aclamado pelo povo, da Sua Crucificação horrenda, instigada também pelo povo, poucos dias depois. Na Liturgia de ontem, o drama se desenrola com ainda maior volatilidade: o contraste entre os gritos de «Hosana!» e «Crucifica-O!» atinge o fiel católico que assiste à Missa no pequeno intervalo entre a procissão de entrada e o Evangelho. Nós O saudamos! Nós O crucificamos!
A súbita mudança de humor pode parecer inverossímil; no entanto, com que facilidade os nossos melhores propósitos de amor e dedicação a Deus esvanecem-se e dão lugar, da noite para o dia, aos mais mesquinhos sentimentos de egoísmo e amor-próprio! Não cabe somente aos judeus daquele tempo o terrível crime do deicídio; em verdade, cada um de nós, e por incontáveis vezes!, assassinamos a Deus. Verdade que aprendemos no Catecismo. Verdade que a Sagrada Liturgia não nos deixa esquecer. Verdade enfim que experimentamos em nossa carne – que, se mirarmos com sinceridade o espelho de nossa alma, não deixaremos de ver com desconcertante clareza.
Começa a Semana Santa. É uma síntese de nossa vida. Sigamo-la atentamente.