“Supremo libera pesquisas com células-tronco embrionárias”, diz o G1. “STF aprova pesquisas com células-tronco embrionárias”, é a manchete da Folha online. “Supremo autoriza pesquisas com células-tronco embrionárias”, noticia o Estadão. “STF autoriza pesquisas com células-tronco embrionárias”, anuncia o Jornal do Commercio daqui da terrinha. É impressionante o tom monocórdico da cantilena!
As manchetes poderiam ser diferentes. “Aberto importante precedente para a legalização do aborto”. “Embriões humanos não são sujeitos de direitos”. “Vida não merece proteção desde a concepção”. “Embrião pode morrer”. Qualquer coisa que expusesse, de maneira clara e sem floreios, a verdade nua e crua da decisão do Supremo Tribunal Federal, que deveria cobrir de vergonha toda esta nação.
Foram dois dias de votação, dois dias de orações e de esperanças, dois dias de expectativas e de angústias. Está consumado. Aquela que se intitula Suprema Justiça condenou os inocentes à morte. A votação teve o placar de 6 x 5, que é o que consta no site do Supremo Tribunal Federal.
O resultado é desastroso sob todos os aspectos. Em primeiro lugar, porque o simples fato de tal pergunta – se o Estado deve proteger os inocentes – ter sido formulada revela a mais completa confusão na qual se encontra o povo brasileiro em geral e os Ministros do Supremo em particular. É preocupantemente sintomático que as pessoas não saibam diferenciar as discussões que são válidas daquelas que são intrinsecamente nonsense. É óbvio que o Estado deve proteger os inocentes, e o óbvio não pode sequer ser discutido. Eis o primeiro passo em direção ao abismo.
Em segundo lugar: o próprio fato de tal pergunta ter sido levada a julgamento revela mais um grau da escala de sandice que acomete os brasileiros, porque, se já é preocupante a concessão de se debater a pergunta nonsense, a noção que se encontra adjacente ao julgamento é ainda mais diabólica: não só é permitido discutir o óbvio, como o Estado tem o poder de dizer e fazer o contrário do óbvio. Ora, uma coisa – que já é bastante séria – é fazer uma, digamos, discussão acadêmica sobre se é permitido ao Estado matar nordestinos; outra coisa muitíssimo mais séria é o Supremo Tribunal reunir-se para deliberar e aprovar a carnificina no Nordeste Brasileiro. Não satisfeito em conceder que a proteção à vida humana é passível de discussão, o país concedeu também que competia ao Supremo Tribunal Federal deliberar sobre a manutenção ou retirada desta proteção. O segundo passo é dado. O abismo já se abre monstruoso diante dos pés.
E, no final, a queda: o poder da deliberação absurda sobre a discussão nonsense foi concedido não a uma nobre casta de probos e ilibados baluartes das virtudes, não a uma elite intelectual e moral que fosse digna deste nome, mas a um bando de malucos, com surtos de megalomania, notoriamente preconceituosos, volúveis, irresponsáveis e levianos. É isso o que se infere dos votos dos ministros – à exceção (honrosa) dos ministros Direito e Lewandowski. Não encontrei na internet a íntegra dos discursos, mas os excertos a seguir foram tirados do “ao vivo” do G1.
“Nossa religião, aqui dentro, é o direito” – é a afirmação esdrúxula da sra. Carmen Lúcia. A “combinação do caráter laico do Estado e o princípio da liberdade individual ditam que ninguém pode interferir caso os pais desejem dar esse destino aos embriões congelados que carregam seu material genético”, é a besteira monumental defendida pelo sr. Joaquim Barbosa. O sr. Marco Mello “passou por Santo Agostinho e até pelo livro bíblico do Êxodo, no qual a morte de um feto é citada como uma ofensa menor do que um assassinato”. Já o sr. Celso de Mello “começa frisando o caráter “secular e laico” do Estado brasileiro e louvando os votos dos ministros do STF que o precederam”, e diz ainda que “a religião é uma questão de ordem estritamente privada”.
É preciso ser cego para não ver o preconceito contra a Igreja Católica, o ranço anti-clerical dessa gente; principalmente pelo fato de que não há argumentos religiosos no discurso pró-vida! Os votos dos ministros estão, portanto, enviesados por puro preconceito: já que a Igreja Católica tem uma determinada posição, eles simplesmente votam na posição contrária. E, talvez por ato falho, revelam-no claramente, quando destilam o seu ranço contra a Igreja em situações onde Ela não está presente. A obsessão pelo “Estado Laico” está de tal maneira arraigada nas cabeças dos senhores ministros que a preocupação principal é não seguir a opinião da Igreja – opinião não-religiosa, é sempre bom frisar – porque, caso ela seja seguida, será uma ingerência religiosa obscurantista nos assuntos que competem ao Estado e um retorno à Idade das Trevas medieval! Isso não está dito de modo explícito, mas está tão claramente expresso nas entrelinhas do discurso ofensivo à Igreja que é impossível passar despercebido. Não haveria necessidade de se ser anti-clerical e nem mesmo de se afirmar com tanta ênfase a “iurelatria” e a proscrição de Deus das salas do STJ, se não estivessem os votos já enviesados pelo preconceito prévio contra a Igreja e as cartas já marcadas de antemão. Nenhum ministro quer a “pecha” de ser “ligado à Igreja”, de ser “conservador”, “obscurantista”, de pertencer a esta “Instituição Retrógrada”. É vergonhoso, é ridículo, mas é verdade, infelizmente.
Esta é a primeira farsa da vitória de Satanás. Mas tem uma outra trapaça que, de tão gritante, merece ser citada: todo o arrazoado dos senhores ministros foi baseado sobre uma versão falseada do problema, segundo a qual os embriões, se não fossem utilizados em pesquisas científicas, seriam “jogados no lixo”. Como, “jogados no lixo”? E a possibilidade dos genitores os procurarem? E a possibilidade de adoção? E a possibilidade de se manterem os embriões congelados, simplesmente, enquanto não se lhes arranja um útero onde eles possam se desenvolver? É uma grosseira mentira que a única alternativa possível à experimentação científica seja o descarte. E, num ambiente de indiscutível alta erudição como o é o Supremo, como se justifica que uma burla grosseira dessas possa ter passado incólume? Quanta leviandade! O Supremo Tribunal Federal parece ser a Casa da Mãe Joana, onde cada um faz o que quer, e onde nenhuma seriedade é exigida.
E os deuses da Suprema Justiça – a brasileira, que não faz jus ao nome que leva -, onipotentes do alto do seu poder de voto, viraram as costas a Cristo e prostraram-se diante de Satanás em adoração. O sangue dos inocentes irá manchar a terra desta Terra de Santa Cruz. A maior nação católica acaba de cerrar fileiras com os inimigos da Igreja. Tenha Deus misericóridia de nós todos.
E existe, por fim, mais um aspecto diabólico, malignamente perverso, desta palhaçada toda, que precisa ser exposto, ao menos, para se tentar fazer um desagravo. Noticiou o G1:
O aposentado Pedro Freire, de 60 anos, assistiu ao julgamento ao lado do neto, João Victor Freire Xavier, de 9 anos, que tem distrofia muscular. Segundo ele, o menino sempre acompanhou pela TV os debates sobre o tema. “Ele nos cobra muito, pergunta quando o remédio vai sair”, comentou.
Nós estamos falando de uma criança doente, que está sendo covardemente usada, alimentada com falsas expectativas e vãs esperanças, manipulada pelo lobby dos que querem movimentar a opinião pública por vias sentimentalistas para a aprovação da destruição de embriões humanos. Ele tem nove anos, e já pergunta quando vão sair os remédios. Quem é que vai se preocupar em dizer ao menino, dia após dia, mês após mês, ano após ano, que ele espere a panacéia universal que vai ser descoberta “logo amanhã”?
Que a Virgem Maria, Refúgio dos Pecadores e Espelho da Justiça, possa olhar com misericórdia para este menino e para todo o povo brasileiro. E que Ela possa, com toda a corte celeste, ser em favor dos mais novos excluídos e desprotegidos do beneplácito da Nação Brasileira, aqueles que são tão pobres que têm bem menos do que a roupa do corpo, pois nem mesmo têm o corpo já formado; aqueles que nem ainda nasceram, e já são órfãos; aqueles a quem não foi dado um lar, num útero materno, onde eles pudessem crescer; aqueles que não podem alimentar-se sozinhos e que não são alimentados, e que passam fome e frio, muito frio, na solidão das câmaras criogênicas.
Jorge, incrivelmente são os anticatólicos os que mais usam de argumentos que citam a religião! Um grande deboche.
Parecia que não estavam nem aí para qualquer argumento… Importava cumprir uma agenda. Só pode ter sido isso! Não vejo outra justificativa para afirmações insistentes sobre, como você diz bem, “uma grosseira mentira” a respeito do descarte como única alternativa. Bom, seus comentários são longos e proveitosos! Quase consigo ver suas mãos reforçando cada palavra indignada.
Juelho,
suas palavras conseguem expressar de forma extraordinária a nossa indignação pelas mentiras deslavadas que nos são enfiadas goela abaixo, e pela grave injustiça emanada da Suprema Corte brasileira.
Que a Virgem Santíssima receba em suas suaves mãos os inocentes que serão assassinados em prol de um pretenso desenvolvimento científico.
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus!
“A maior nação católica acaba de cerrar fileiras com os inimigos da Igreja.”
não concordo com essa frase… podemos ser a nação com maior percentual de católicos mas não somos (infelizmente) uma nação católica. Prova disso são os projetos absurdos, o descaso com os mais fracos, a corrupção desmedida, o “estado laico” (que no nosso caso deveria ser chamado de “estado ateu”) e essa infeliz decisão do STF…
Gabriel,
Você tem toda razão. A despeito do catolicismo ser a religião majoritária do povo brasileiro, existe um abismo ideológico entre o povo e os seus [supostos] representantes.
Utilizei, no meu post, a palavra “Nação” no sentido de “povo”, e não no de “Estado”*. O povo brasileiro é católico; e o católico médio é um bom católico, que faz o que pode com a inanição doutrinária à qual é submetido.
Rezemos para que o nosso país possa ter, um dia, representantes que realmente representem os interesses do povo brasileiro.
Abraços, em Cristo,
Jorge Ferraz
*Caso interesse:
Estado: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado
Nação: http://pt.wikipedia.org/wiki/Na%C3%A7%C3%A3o
Você escreveu tudo o que gostaria de dizer.
De fato, hoje é um dia de luto.
Quando saiu o resultado, infelizmente eu esperava que pudéssemos perder, já que nossa nação e nosso povo está tão descristianizado… Nosso povo está longe de Cristo, fazendo tudo ao contrário do que Ele mandou. E tudo por quê? Por causa de três malditas coisas que mata e perde o homem: o Ser, o Ter e o Poder.
Fico pensando como será para estes o peso do braço do Senhor.
Rezemos para não nos perdermos.
parabéns pelo artigo!
Confesso que não tive estômago para acompanhar os votos de alguns ministros, tão imbecis eram as argumentações, tão revoltantemente “desinformados” sobre tudo eles pareciam, a ponto de se mostrarem verdadeiras bestas até para um leigo quase iletrado como eu.
Por outro lado tive o prazer de conseguir acompanhar um pequeno trecho do voto do Sr. Lewandowski, justamente sobre epistemologia da ciência, excelente, escancarou a demência da ministra anterior que cantou as maravilhas do progresso dessa “deusa”.
Desculpe as palavras um pouco inflamadas, mas acho que esse é o sentimento geral diante da súbita queda do coeficiente intelectual dos srs. ministros, que culminou nessa desgraça para o povo brasileiro.
Lutemos, lutemos e que Deus nos ajude!
Para a pior asneira dos dias de votação foi ouvir o ministro Eros Grau citar São Tomas de Aquino para justificar o seu voto em favor do “mal menor”.
Blog Deus lo Vult!: “todo o arrazoado dos senhores ministros foi baseado sobre uma versão falseada do problema, segundo a qual os embriões, se não fossem utilizados em pesquisas científicas, seriam ‘jogados no lixo'”
Não, o buraco é mais embaixo!
Todo o arrozoado dos senhores ministros foi baseado sobre uma versão falseada do problema, segundo a qual “são legítimos aqueles processos artificiais que geram essa ‘problemática do congelamento de embriões'”.
Aqueles embriões não deviam estar ali, congelados! Eles estão, eles existem daquela forma, porque a Verdade foi deixada de lado…
Por que é polêmico?
NAS mãos de um artesão habilidoso, uma massa de argila mole pode ser moldada em praticamente qualquer peça. As células-tronco embrionárias são o equivalente vivo dessa argila. Elas podem, em tese, produzir praticamente qualquer uma das mais de 200 espécies de células que formam o corpo humano. Como fazem isso? Veja o que acontece com uma célula-ovo (óvulo) recém-fertilizada.
Logo após a fertilização, o óvulo começa a se dividir. Nos humanos, cerca de cinco dias de divisão celular resultam numa bolinha de células chamada blastocisto. É basicamente uma esfera oca composta de uma camada externa de células, parecida com uma concha, e de um pequenino aglomerado de umas 30 células chamado massa celular interna, que se fixa na parede interna da esfera. A camada de células externa se torna a placenta, e a massa celular interna, o embrião humano.
No estágio blastocístico, porém, as células da massa celular interna ainda não começaram a se especializar na formação de tipos específicos de células, tais como células nervosas, renais ou musculares. Por isso são chamadas células-tronco. E, visto que dão origem a praticamente todos os diferentes tipos de células do corpo, são chamadas pluripotentes. Para entendermos o porquê da empolgação e polêmica em torno das células-tronco, vejamos o que os cientistas já fizeram até agora e quais são suas metas, começando com as células-tronco embrionárias.
Células-tronco embrionárias
O relatório Células-tronco e o futuro da medicina regenerativa (em inglês), declarou: “Nos últimos três anos, tornou-se possível remover essas células-tronco [embrionárias humanas] do blastocisto e mantê-las num estado indiferenciado em linhas de cultura de células no laboratório.” Expresso de maneira simples, células-tronco embrionárias podem ser cultivadas de modo a produzirem um número ilimitado de cópias idênticas a si mesmas. Células-tronco embrionárias, extraídas de camundongos, cultivadas pela primeira vez em 1981, já produziram bilhões de células duplicadas em laboratório.
Visto que todas essas células permanecem indiferenciadas, os cientistas esperam que, com os corretos estímulos bioquímicos, as células-tronco possam ser programadas para se transformarem em praticamente qualquer tipo de células que venham a ser necessárias para a terapia de substituição de tecido. Simplificando, as células-tronco são vistas como possíveis fontes de ilimitadas ‘peças de reposição’.
Em dois estudos com animais, os pesquisadores induziram células-tronco embrionárias a se tornarem células produtoras de insulina, que foram então transplantadas para camundongos diabéticos. Num dos estudos, os sintomas do diabetes foram revertidos, mas no outro as células novas não produziram insulina suficiente. Em estudos similares, os cientistas têm obtido êxito parcial na restauração de funções neurais em danos na medula espinhal e na correção de sintomas do mal de Parkinson. “Esses estudos oferecem esperança”, diz a Academia Nacional de Ciências, “mas não evidência definitiva de que tratamentos similares possam ser eficazes em humanos”. Mas por que a pesquisa sobre células-tronco embrionárias humanas é tão polêmica?
Por que tanta preocupação?
O principal foco de preocupação é que o processo de extrair células-tronco embrionárias essencialmente destrói o embrião. Isso, explica a Academia Nacional de Ciências, “priva o embrião humano de qualquer potencial adicional de se transformar num ser humano pleno. Para quem acredita que a vida de um ser humano começa no momento da concepção, as pesquisas sobre as células-tronco embrionárias violam dogmas que proíbem a destruição da vida humana e o uso da vida humana como meio para outros objetivos, não importa quão nobres sejam esses objetivos”.
Onde os laboratórios obtêm os embriões para a extração das células-tronco? Em geral em clínicas de fertilização artificial, onde mulheres forneceram óvulos para fertilização in vitro. Embriões que sobram usualmente são congelados ou, então, descartados. Certa clínica na Índia descarta mais de 1.000 embriões humanos por ano.
Enquanto as pesquisas sobre células-tronco embrionárias continuam, alguns pesquisadores concentram seus esforços numa forma de célula-tronco bem menos controversial: a célula-tronco adulta.
Células-tronco adultas
“A célula-tronco adulta”, diz o Instituto Nacional de Saúde, dos Estados Unidos, “é uma célula indiferenciada (não-especializada) que se encontra em tecidos diferenciados (especializados)”, tais como os da medula óssea, do sangue e dos vasos sanguíneos, da pele, da medula espinhal, do fígado, do trato gastrointestinal e do pâncreas. Pesquisas iniciais sugeriram que as células-tronco adultas tinham um alcance muito mais limitado do que suas equivalentes embrionárias. No entanto, descobertas posteriores em estudos de animais sugerem que certos tipos de células-tronco adultas podem se diferenciar, transformando-se em tecidos diferentes dos quais se originaram.
Células-tronco adultas extraídas do sangue e da medula óssea, chamadas células-tronco hematopoéticas (HSCs, em inglês), têm a habilidade de “se auto-renovar continuamente na medula e se reorientar para produzir o pleno complemento de tipos de células presentes no sangue”, diz a Academia Nacional de Ciências. Esse tipo de células-tronco já tem sido usado para tratar a leucemia e vários outros problemas do sangue. Agora, alguns cientistas afirmam também que as HSCs aparentemente produzem células não-sanguíneas tais como células hepáticas e células que se parecem com neurônios e com outros tipos de células presentes no cérebro.
Usando outro tipo de células-tronco extraídas da medula óssea de camundongos, pesquisadores nos Estados Unidos parecem ter feito outro avanço significativo. Seu estudo, publicado na revista Nature, mostrou que essas células parecem ter “toda a versatilidade das células-tronco embrionárias”, segundo o jornal The New York Times. “Em princípio”, acrescenta o artigo, essas células-tronco adultas poderiam “fazer tudo o que se espera das células-tronco embrionárias”. Não obstante, os pesquisadores que trabalham com células-tronco adultas ainda encontram grandes obstáculos. Essas células são raras e difíceis de identificar. Por outro lado, quaisquer benefícios médicos que venham a trazer não significarão a destruição de embriões humanos.
Riscos à saúde e medicina regenerativa
Seja qual for a forma de célula-tronco que se use, as terapias ainda enfrentarão sérios obstáculos — mesmo que os cientistas venham a dominar os processos que produzam tecidos para transplante. Um dos principais obstáculos é a rejeição de tecido estranho pelo sistema imunológico do receptor. A solução atual é a administração de drogas potentes que suprimem o sistema imunológico, mas elas têm graves efeitos colaterais. A engenharia genética talvez contorne esse problema, caso as células-tronco possam ser alteradas de modo que os tecidos derivados delas não pareçam estranhos para seu novo hospedeiro.
Outra possibilidade pode ser o uso de células-tronco tiradas dos tecidos do próprio paciente. Em testes clínicos iniciais, as células-tronco hematopoéticas já foram usadas assim no tratamento do lúpus. Pode ser que o diabetes também responda bem a terapias similares, desde que o tecido novo não seja suscetível ao mesmo ataque auto-imunológico que possa ter desencadeado a doença. Pessoas com certas doenças cardíacas talvez também se beneficiem de terapias à base de células-tronco. Uma proposta é que os pacientes de risco doem previamente suas próprias células-tronco, de modo que possam ser cultivadas e usadas mais tarde na substituição de tecido cardíaco doente.
Na luta contra o problema da rejeição imunológica, alguns cientistas até mesmo sugeriram clonar pacientes, permitindo, porém, que os clones se desenvolvessem apenas até o estágio blastocístico, em que as células-tronco embrionárias podem ser colhidas. (Veja o quadro “Como fazer um clone”.) Os tecidos cultivados a partir dessas células-tronco seriam geneticamente idênticos aos do doador-receptor, de modo que não disparariam uma resposta imunológica. Mas, além de ser moralmente repulsiva para muitas pessoas, tal clonagem poderia ser inútil caso a intenção fosse curar uma doença de causa genética. Resumindo o problema imunológico, a Academia Nacional de Ciências declarou: “Descobrir como evitar a rejeição de células transplantadas é fundamental para sua utilidade na medicina regenerativa e constitui um dos maiores desafios para a pesquisa nesse campo.”
O transplante de células-tronco embrionárias acarreta também o risco de formação de tumor, em especial de um chamado teratoma, que significa “tumor monstro”. Esse tumor pode abranger uma variedade de tecidos, tais como pele, cabelo, músculos, cartilagem e ossos. Durante o desenvolvimento normal, a divisão e a especialização celular seguem um estrito programa genético. Mas esses processos podem dar errado quando as células-tronco são separadas do blastocisto, cultivadas in vitro e, mais tarde, injetadas numa criatura viva. Aprender a dominar de modo artificial os enormemente complexos processos de divisão e especialização celular é outro grande desafio para os pesquisadores.
Não há curas iminentes
O relatório Células-tronco e o futuro da medicina regenerativa diz: “Devido a um mal-entendido a respeito do nível de conhecimento já alcançado, pode haver uma impressão injustificável de que é certa e iminente uma ampla aplicação clínica de novas terapias. Na verdade, a pesquisa das células-tronco ainda está engatinhando, e há grandes lacunas no conhecimento que constituem obstáculos à implementação de novas terapias à base de células-tronco adultas ou das derivadas de embrião.” Obviamente, há mais perguntas do que respostas. Alguns cientistas até mesmo “se previnem contra uma possível forte reação negativa, caso os tratamentos não se concretizem”, diz um artigo no New York Times.
Mesmo sem levar em conta a ciência das células-tronco, a medicina tem feito grandes avanços em muitas áreas em décadas recentes. No entanto, como vimos, alguns desses avanços levantam questões morais e éticas complexas. Assim, onde encontrar orientação confiável sobre esses assuntos? Além disso, à medida que as pesquisas ficam mais sofisticadas e mais caras, as terapias e medicamentos resultantes muitas vezes refletem esses custos. Alguns pesquisadores já calcularam que as terapias à base de células-tronco poderão custar centenas de milhares de dólares por paciente. Não obstante, já agora, milhões de pessoas não conseguem pagar os crescentes custos médicos e os planos de saúde. Portanto, quem realmente se beneficiará se, e quando, a revolução das células-tronco chegar às clínicas? Só o tempo dirá.
Mas de uma coisa podemos estar certos: nenhuma terapia concebida pelo homem eliminará as doenças e a morte. (Salmo 146:3, 4) Apenas o Criador tem o poder para fazer isso. Mas será que ele deseja fazer isso? O próximo artigo mostra a resposta da Bíblia a essa pergunta. Explica também como a Bíblia pode nos guiar nesse cada vez mais complexo labirinto de questões morais e éticas que surgem atualmente, mesmo as de natureza médica.