Respeito devido aos sacerdotes – Sta. Catarina de Sena

Filha querida, ao manifestar-te a grande virtude daqueles pastores, quero colocar em evidência a dignidade dos meus ministros. Pelo pecado de Adão, as portas da eternidade fecharam-se, mas o meu Filho abriu-as com a chave do seu sangue. Ao sofrer a paixão e morte, ele destruiu vossa morte e vos lavou no sangue. Sim, foram seu sangue e sua morte que, em virtude da união da natureza divina com a humana, deram acesso ao céu. E a quem deixou Cristo tal chave? Ao apóstolo Pedro e a seus sucessores, os que vieram e que virão depois dele até o dia do juízo final. Todos possuem a mesma autoridade de Pedro; nenhum pecado a diminui, do mesmo modo que não destrói a santidade do sangue de Cristo e dos Sacramentos. Já disse que o sol eucarístico não tem manchas e que o mal cometido por quem o administra ou recebe não apaga sua luz. Não, o pecado não danifica os sacramentos da santa Igreja, não lhes diminui a força; prejudica a graça e aumenta a culpa somente em quem os ministra ou recebe indignamente.

Na terra, quem possui a chave do sangue é o Cristo-na-terra. Certa vez eu te manifestei essa verdade numa visão, para indicar o grande respeito que os leigos devem ter pelos ministros, bons ou maus que eles sejam, e quanto me desagrada que alguém os ofenda. Pus diante de ti a jerarquia da Igreja sob a figura de uma dispensa contendo o sangue de meu Filho. No sangue estava a virtude de todos os sacramentos e a vida dos fiéis. À porta daquela despensa, vias o Cristo-na-terra, encarregado de distribuir o sangue e fazer-se ajudar por outros no serviço de toda a santa Igreja. Quem ele escolhia e ungia, logo se tornava ministro. Dele procedia toda a ordem clerical; ele dava a cada um sua função no ministério do glorioso sangue. E como dispunha dos seus auxiliares, possuía a força de corrigi-los nos seus defeitos.

De fato, é assim que eu quero que aconteça. Pela dignidade e autoridade confiada a meus ministros, retirei-os de qualquer sujeição aos poderes civis. A lei civil não tem poder legal para puni-los; somente o possui aquele que foi posto como senhor e ministro da lei divina.

Os ministros são ungidos meus. A respeito deles diz a Escritura: “Não toqueis nos meus cristos” (Sl 105, 15). Quem os punir cairá na maior infelicidade. Se me perguntares por que a culpa dos perseguidores da santa Igreja é a maior de todas e, ainda, por que não se deve ter menor respeito pelos meus ministros por causa de seus defeitos, respondo-te: porque, em virtude do sangue por eles ministrado, toda reverência feita a eles, na realidade não atinge a eles, mas a mim. Não fosse assim, poderíeis ter para com eles o mesmo comportamento de praxe para com os demais homens. Quem vos obriga a respeitá-los é o ministério do sangue. Quando desejais receber os sacramentos, procurais meus ministros; não por eles mesmos, mas pelo poder que lhes dei. Se recusais fazê-lo, em caso de possibilidade, estais em perigo de condenação. A reverência é dada a mim e a meu Filho encarnado, que somos uma só coisa pela união da natureza divina com a humana. Mas também o desrespeito. Afirmo-te que devem ser respeitados pela autoridade que lhes dei, e por isso mesmo não podem ser ofendidos. Quem os ofende, a mim ofende. Disto a proibição: “Não quero que mãos humanas toquem nos meus cristos”!

Nem poderá alguém escusar-se, dizendo: “Eu não ofendo a santa Igreja, nem me revolto contra ela; apenas sou contra os defeitos dos maus pastores”! Tal pessoa mente sobre a própria cabeça. O egoísmo a cegou e não vê. Aliás, vê; mas finge não enxergar, para abafar a voz da consciência. Ela compreende muito bem que está perseguindo o sangue do meu Filho e não os pastores. Nestas coisas, injúria ou ato de reverência dirigem-se a mim. Qualquer injúria: caçoadas, traições, afrontas. Já disse e repito: não quero que meus cristos sejam ofendidos. Somente eu devo puni-los, não outros. No entanto, homens ímpios continuam a revelar a irreverência que têm pelo sangue de Cristo, o pouco apreço que possuem pelo amado tesouro que deixei para a vida e santificação de suas almas. Não poderíeis ter recebido maior presente que o todo-Deus e todo-Homem como alimento. Cada vez que o conceito relativo aos meus ministros não coloca em mim sua principal justificativa, torna-se inconsistente e a pessoa neles vê somente muitos defeitos e pecados. De tais defeitos falarei em outro lugar. Mas quando o respeito se fundamenta em mim, jamais desaparece, mesmo diante de defeitos nos ministros; como disse, a grandeza da eucaristia não é diminuída por causa dos pecados. A veneração pelos sacerdotes não pode cessar; se tal coisa acontecer, sinto-me ofendido.

Santa Catarina de Sena, “O Diálogo”
Cap. 28.
Paulus, 9ª edição, São Paulo, 2005
pp. 237-240

14 comentários em “Respeito devido aos sacerdotes – Sta. Catarina de Sena”

  1. De um amigo nosso: “o Dialogo de Santa Catarina de Sena, é profundamente anticlerical. Nunca vi outro livro falar mais mal de padre do que esse. Como são conversações da santa com Jesus, imagino que Ele também é profundamente anticlerical. Sejamos, pois, anticlericais, à imitação de Nosso Senhor.” :D

  2. Caro Jorge,

    Sendo pecado atentar contra a honra e a dignidade de um sacerdote, talvez o seja apenas venial com respeito a esse do vídeo do link abaixo:

    http://rorate-caeli.blogspot.com/2008/11/in-viennese-tradition.html

    Ministro à parte, o objeto, por vezes, da contundência de minhas palavras não é propriamente o autor desses absurdos, mas precisamente os abusos, em si, inomináveis. É Nosso Senhor sacramentado que está sendo escarnecido com tamanha e mudana irreverência, permitida, tolerada e até participada por esse bispo. Acaso são judeus? Não! Devemos nos portar diante da renovação do Santo Sacrifício do Calvário à imitação dos discípulos de Cristo, e não de seus algozes.

    O cardeal Schönborn foi quem certa vez um padre graduado do neocatecumenato disse em público que seria um bom sucessor de Bento XVI. Imagine!

    Abraço,

    Antonio

  3. Caro Sr. Jorge Ferraz,

    Não existe nenhuma informação a respeito da revogação do Decretum Contra Communismum no site do Vaticano pelo Novo Código de Direito Canônico e na internet. Ao que tudo indica, ele contínua em vigor. Nem mesmo o CVII, revogou as condenações pré-conciliares contra o comunismo.

    Deixa eu ver se entendi, os Bispos da CNBB e a própia entidade, apóiam movimentos contrários e estranhos ao espírito católico, coloco isto as claras, e sou eu que estou agindo publicamente como se os Bispos não fossem Bispos?

    Ora, “Si palam res est, repetitio injuria non est” “não é injúria ir repetir o que está à vista de todos.” Não fiz nada além apresentar Organismos da CNBB. Definitivamente, não vigora na Igreja Católica o princípio despótico do argumento da autoridade. O mesmo que permitiu no julgamento de Nosso Senhor, ao soldado esbofeteá-lo por responder “mau” ao Sumo Sacerdote.

    Se falei mal, mostra me onde falei para que eu possa me corrigir. Mas se não falei mal, porque me acusas de desrepeitar os Bispos e agir como se eles não fossem Bispos? O que atraiu Santo Agostinho a Igreja Católica, foi o argumento da autoridade ou a sua legítima autoridade?

    São Roberto Belarmino, ensinou que é “É lícito resistir ao Pontífice que tentasse destruir a Igreja. Digo que é lícito resistir-lhe não fazendo o que ordena e impedindo a execução de sua vontade” (De Romano Pontifice, lib. II, c. 29). O que se aplica ao Papa, aplica-se aos Bispos. Evidentemente o efeito da aplicação prática desta regra, seria exatamente que o agente estaria desrespeitando o Papa e agisse como se ele não fosse Papa. No entanto por saber o que e quem é o Papa, que lhe é licíto resistir e impedir a execução de sua vontade. Se a execução de uma lei má não é impedida, tem se o que disse o Papa São Félix II, o erro torna se verdade.

    O discurso políticamente correto de não obedecer cegamente, apenas nos torna cúmplice da execução de uma lei íniqua. Minha desobediência neste caso, não erradica a lei, é necessário resísti-la e lutar contra a sua execução. Muitos antes de nós desobedeceram, isto no entanto não impediu que as coisas chegassem onde chegaram. Portanto, apenas desobedecer até agora ajudou apenas na implemantação do erro. Dom Félix Sarda Y Salvai, pergunta-se no livro “O liberalismo é pecado” no XXII capítulo :

    “…2° – Dado que o Liberalismo é coisa má, não é faltar caridade chamar maus os defensores públicos e conscientes do Liberalismo.
    É em substância aplicar ao caso presente a lei de justiça que se tem aplicado em todos os séculos. Nós, os católicos de hoje, não fazemos inovações neste ponto, seguimos a prática constante da antiguidade. Os propaladores e fautores de heresias foram em todos os tempos chamados hereges, como os seus autores. E como a heresia foi sempre considerada na Igreja como mal gravíssimo, a tais fautores e propaladores chamou sempre a Igreja maus e malvados. Registrem-se as coleções dos autores eclesiásticos. Veja-se como os Apóstolos trataram os primeiros heresiarcas e como continuaram tratando-os os Santos Padres e depois os modernos controversistas e a mesma Igreja em sua linguagem oficial. Não há, pois, falta de CARIDADE em chamar ao mau – mau; aos autores, fautores e seguidores do mal – maus e malvados; e ao conjunto de todos os seus atos, palavras e escritos – iniquidade, maldade, perversidade. O lobo foi sempre chamado lobo e mais nada, e nunca se julgou fazer má obra ao rebanho nem a seu dono, chamar-lhe e apostrofá-lo assim.”

    Uma coisa é a caridade, outra é o respeito humano. É um dever que a caridade me impõem lutar contra tudo que a CNBB tem feito. Apenas desobedecer, é uma imposição do respeito humano, voltado a preservação da pessoa dos Bispos. Quanto a isso advertia São Gregório Magno:

    “É preferível que ocorra um escândalo a esconder a verdade; escândalo maior seria tolerar o erro.” SÃO GREGÓRIO MAGNO

    É por amar a Igreja e amar os Bispos que denúncio o mau que tem praticado em não exercer a autoridade que lhes é própia. Como bem diz Santa Catarina de Sena, nenhum pecado lhes retira esta autoridade, mas se deixarem de utilizar desta é um sumo pecado. Porque de seu exercício depende toda Igreja (Principalmente os mais fracos). Não podemos reproduzir um modelo subversivo e vicioso onde vigora a desobediência. A CNBB não obedece ao Papa e nós não obecemos a ela, mas os simples obedecem a CNBB e fica por isto mesmo.

    Ainda voltando a Santa Catarina de Sena, um Bispo ou um Sacerdote em pecado, não agem de acordo com suas funções. Isto não quer dizer que não sejam Bispos, mas sim que não estão agindo como tais. Por que então ao demonstrar que os Bispos da CNBB não estão agindo como Bispos, quer dizer que estou dizendo que não são Bispos?

    Abaixo dois trechos da regra Pastoral de São Gregório Magno. Fique com DEUS.

    “Os bispos são os olhos do povo. [se usam, vamos dizer, óculos vermelhos, o povo enxergará vermelho…] Se os que governam o povo não têm luz, os que lhes estão submetidos só podem cair em confusão e erro”. Regra Pastoral – São Gregório Magno

    Do silêncio dos pastores

    “O Pastor deve saber guardar silêncio com discrição e falar com oportunidade, de modo que nem diga o que deve calar, nem cale o que deve dizer. Porque assim como a palavra indiscreta leva ao erro, também o silêncio imprudente confirma no erro os que deviam ser ensinados. Muitas vezes os pastores incompetentes, pelo temor de perder a estima dos homens, não se atrevem a dizer livremente a verdade; e deste modo, segundo a palavra da Verdade, não atendem à guarda do rebanho com o zelo de verdadeiros pastores, mas comportam-se como mercenários: fogem ao vir o lobo, refugiando-se no silêncio.

    Por isso o Senhor os repreende por meio do Profeta: são cães mudos, incapazes de ladrar. E insiste noutro lugar: Não acudistes às brechas nem reconstruístes a muralha em defesa da Casa de Israel, para que pudesse resistir no combate no dia do Senhor. Acudir às brechas é opor-se aos poderes deste mundo, falando com inteira liberdade em defesa da grei. Resistir no combate no dia do Senhor é lutar por amor da justiça contra os ataques da iniquidade.

    Dizer de um pastor que teve medo de dizer a verdade, que é senão dizer que voltou as costas ao inimigo com o seu silêncio? Mas se ele vai em defesa do rebanho, é como se levantasse a muralha da Casa de Israel contra os seus inimigos…”

    (Da Regra Pastoral de S. Gregório Magno, Papa: séc. VI).

  4. Prezado sr. Gederson,

    Sobre o Decretum, o novo Código de Direito Canônico diz o seguinte:

    Can. 6 — § 1. Hoc Codice vim obtinente, abrogantur:

    1° “Codex Iuris Canonici” anno 1917 promulgatus;

    2° aliae quoque leges, sive universales sive particulares, praescriptis huius Codicis contrariae, nisi de particularibus aliud expresse caveatur;

    3° leges poenales quaelibet, sive universales sive particulares a Sede Apostolica latae, nisi in ipso hoc Codice recipiantur;

    4° ceterae quoque leges disciplinares universales materiam respicientes, quae hoc Codice ex integro ordinatur.

    Entendo que o Decretum é uma lei penal e, como tal, foi expressamente abrogada pelo novo código. Este entendimento foi-me passado pessoalmente – embora de maneira informal – por um canonista que trabalha no Vaticano, de modo que o considero válido até juízo melhor em contrário.

    No entanto, repito que isto não faz nenhuma diferença, porque, com excomunhão ou sem ela, ninguém pode ser comunista, uma vez que é doutrina já condenada pela Igreja (e esta não é passível de abrogação).

    Sobre o modus segundo o qual o católico precisa agir para com os bispos, releia as suas próprias citações e este escrito de Santa Catarina. Nenhum deles autoriza um leigo a faltar com o respeito devido aos Bispos pelo que eles são, independente de como ajam – aliás, os escritos da Doutora da Igreja o condenam abertamente. Perceba a diferença entre “obedecer” e “respeitar”, e perceba que, embora a obediência não seja absoluta, o respeito o é.

    Por favor, faça as denúncias junto à Cúria Romana que o senhor disse que ia fazer, mas pare de faltar com o respeito devido aos Sucessores dos Apóstolos.

    Abraços, em XC,
    Jorge Ferraz

  5. Jorge,

    E quando um sacerdote vai a um veículo de comunicação e fala coisas meio absurdas (assista a entrevista do Pe. Fábio ao Jô Soares) é errado combater as heresias que esse sacerdote proferiu?

    Obrigado.

  6. É muito triste ver católicos atacando padres, bispos e religiosos.É um absurdo essa falta de respeito que está se alastrando pelo Brasil.Pessoas que nunca frequentaram um seminário, não fizeram curso nenhum a respeito da formação religiosa e presbiteral e no entanto, atacam sem pudor os nosso sacerdotes.
    Alguém ligado a hierarquia da igreja já deveria ter tomado tais providências, pois não é concebível que qualquer pessoa apenas porque não concorda com certos movimentos da igreja ache no direito de denegrir a imagem dos sacerdotes.
    Todo mundo agora quer uma igreja conservadora, mas ninguém quer ir viver o celibato, em outros casos ninguém quer por seus filhos para viver por debaixo de uma batina.
    Ridículo, feio, nojento tem sido as atitudes de alguns católicos que não respeitam os sacerdotes, bispos e religiosos.
    PAZ E BEM!!!

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