Acho que eu já disse aqui outras vezes que é melhor ler besteiras do que ser analfabeto – parafraseando o antigo ditado, segundo o qual é melhor ouvir besteiras do que ser surdo. Por isso, nem reclamo mais (tanto) quando me cai aos olhos uma bobagem do calibre deste texto do sr. Claudio Weber Abramo sobre o direito de não ser importunado.
Trata-se de uma infantil reclamação sobre manifestações religiosas em estádios de futebol, que descamba para a já conhecida intolerância do ateísmo militante. O senhor Abramo não quer ser importunado. Por qual motivo, então, ele importuna os outros despejando lixo na internet? “Um ateu que viva num ambiente repleto de evocações a seres incorpóreos, influências etéreas e exortações à ‘espiritualidade’ não pode deixar de indignar-se com a coisa toda”, diz o articulista. Por que ele não vai à China? Lá deve ser o paraíso dos ateus. Ou o que ele quer é transformar o Brasil em uma ditadura atéia onde ele possa viver sem ser importunado? Mas, aí, os cristãos ficariam incomodados… por qual fantástico motivo estes últimos poderiam ser importunados e ele não?
Por qual motivo as manifestações religiosas dos não-ateus incomodam tanto os – assim intitulados – “livres-pensadores”? Em um artigo do João Pereira Coutinho citado aqui ontem, o português dizia: “Conheço pessoas que não fumam. E conheço pessoas que não fumam e não querem que os outros fumem. As primeiras são infelizes. As segundas são miseráveis”. Cai como uma luva para os ateus: existem pessoas que não acreditam em Deus, e existem aquelas que não acreditam e não querem que os outros acreditem. As primeiras, infelizes e, as segundas, miseráveis. O autor do texto ora citado parece pertencer à segunda categoria.
A justificativa dele para a sua posição? “O que está em jogo no caso da propaganda religiosa é o interesse coletivo. Interessa ao coletivo a disseminação de crenças em seres incorpóreos, influências etéreas e assim por diante?”. Ah, então tá. Como muito argutamente notou alguém numa lista de emails, se amanhã o sr. Abramo decidir que eu não existo, os meus amigos ficam ipso facto proibidos de falar em público de mim, porque não interessa ao coletivo. Não sei qual a razão do articulista achar que ele próprio é de interesse público.
Mas o manancial de bobagens parece inesgotável! Chega a ser frustrante ler que “[i]nteiras bibliotecas foram escritas para demonstrar que religião não é uma boa coisa (…) em particular[,] a ofensa que religiões representam à racionalidade, portanto à compreensão do mundo, portanto à capacidade de alterar o mundo”. As duas primeiras ofensas – à racionalidade e à compreensão do mundo – só podem ser uma piada de péssimo gosto. Tal sentença é, ela própria, uma ofensa à racionalidade. A terceira – ofensa à capacidade de alterar o mundo – pode ser verdadeira e talvez revele, afinal, o motivo profundo do ódio do articulista. Talvez ele esteja insatisfeito com o mundo que existe e deseje “alterá-lo”. Como na antiga União Soviética, quiçá. Só que está historicamente comprovado que o mundo inventado pelos sem-Deus não é bonito. Será que deveríamos repetir os mesmos erros de outora, somente para que o senhor Abramo não seja importunado?
Leitura fortemente correlata: A intolerância dos tolerantes! Ou: derrubem o Cristo Redentor e ponham Descartes no lugar.
Nossa, o Abramo junior é muito mais idiota do que eu pensava. O sujeito propõe, na cara-dura, a repressão estatal à religião. Bem, pelo menos o raivoso Abramo está sendo mais sincero do que a maior parte dos ateístas militantes, que querem o mesmo que ele mas se travestem de defensores da “tolerância”, “diversidade”, etc…
Carlos
Que ele se pergunte na próxima vez se é de interesse coletivo ver cartazes em ônibus em que se lê: “Provavelmente, Deus não existe. Então pare de se preocupar com isso e aproveite a vida.” E se igualmente não se configura numa atitude proselitista espalhar tais cartazes.
Att!