O convento e o altar

Fundação Sarney aluga convento para festa sexy. A notícia é menos chocante do que parece à primeira vista, porque o convento em questão já não funciona como convento há anos; em 1990, ele foi doado pelo então governador do Maranhão à Fundação Sarney. É um prédio histórico no centro histórico de São Luís.

Sarney disse que não sabia nada sobre a festa. Li num comentário do Estadão que era, na verdade, uma festa à fantasia. O mais triste, no entanto, é a dessacralização, o que quer que tenha acontecido no Convento das Mercês.

Aliás, ela começou bem antes. O convento é de 1654. Não sei quando foi que ele fechou as portas; mas um convento vazio é um prédio triste. Mutatis mutandis, aqui em Recife temos muitas igrejas antigas com altares laterais belíssimos que não são mais utilizados: um altar sobre o qual não é oferecido o Santo Sacrifício da Missa é uma coisa muito triste.

Porque trata-se de algo que perdeu a sua finalidade. Se o sal perde o sabor, para mais nada serve senão para ser lançado fora. Se o convento perde as vocações, só serve para prédio histórico estéril (ou, pior ainda, para festas mundanas). Se o altar perde a Santa Missa, só serve para apoiar vasos de flores ou castiçais.

A perda de vocações é algo sintomático e preocupante. Não se dá de repente – como também não é do dia para a noite que o prédio se transforma, de convento, em salão de festas. O sal perde o sabor aos poucos… e, se não percebemos a tempo, o futuro é a festa realizada no prédio histórico.

Tarde demais…? Com o quê será restituído o sabor ao sal? Um sacerdote meu amigo disse-me outra vez que o seu sonho era “ressuscitar altares”, celebrando a Santa Missa nos altares das igrejas onde ela não é celebrada há muitos anos. É um belo sonho. Desejo-lhe muitas ressurreições. Porque, se aos homens é impossível reverter a crise que atravessa a Igreja, a Deus não é impossível. A Deus, nada é impossível.

Por meio da Santa Missa, nada é impossível. O convento e o altar têm muito em comum, ordenados que são ambos a Deus. Ressuscitar os altares é ressuscitar os conventos. Pedir ao Senhor da messe que mande operários é já antecipar os campos repletos de trabalhadores. Deus é fiel. A despeito de nossas infidelidades.

Rezemos ao Altíssimo. Peçamos vocações. Ofereçamos as nossas vidas em desagravo pelas dessacralizações, pelas festas nos antigos celeiros de almas consagradas, pelas flores murchas esquecidas nos altares onde Cristo era imolado. Ele é fiel. E não Se esquecerá do Seu povo. O sal há de recuperar o sabor. O convento e o altar voltarão a servir a Deus. Para a Sua maior glória.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

4 comentários em “O convento e o altar”

  1. O problema não está tanto na crise vocacional quanto na relativização do sagrado. Se o convento não tem mais vocações, a primeira coisa a se fazer é procurar uma congregação/ordem que não tenha convento digno e fazer a doação.

    Parece que para alguns superiores é melhor dar o convento nas mãos do demônio em troca de algum dinheiro do que preservar a sacralidade do prédio. Esta sim é a verdadeira crise pela qual passamos. Eu não me envergonho tanto quanto católico por este triste fato. Eu me envergonho muito mais enquanto brasileiro por ver um prédio histórico sendo usado para fins indevidos. Ao menos que usassem como museu…Que Deus converta o coração destes políticos ignorantes que nos regem.

  2. Uma vez conversando com uma carmelita, ela me dizia que não havia falta de vocações. Em certo sentido, ela estava certa. É claro que há uma crise vocacional. E os conventos e mosteiros vazios demonstram isso. Por outro, lado, sempre há pessoas que batem às portas dos conventos e mosteiros, rapazes e moças, homens e mulheres, desejosos de seguir a Cristo mais de perto.
    Gostaria de citar o caso interessante de um mosteiro de clarissas na Espanha:

    http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=NOVIDADE1&id=ni10551

    http://www.cantodapaz.com.br/blog/2009/11/20/um-milagre-na-espanha-vocacoes-clarianas/

  3. Gostaria de indicar os sites de alguns mosteiros da Ordem cisterciense (um ramo da Ordem de São Bento) aqui no Brasil.

    Que Nossa Senhora, a quem todos os mosteiros cistercienses estão consagrados, possa acolher e dar perseverança às vocações cistercienses e monásticas em geral!

    http://www.abadiaitaporanga.org.br/

    http://www.abadiaitaporanga.org.br/AbadiaNossaSenhoradaassun%E7%E3o.htm

    http://abadia.org.br/

    http://www.mosteirotrapista.org.br/

    São Bernardo, rogai por nós!

  4. Pessoal sou de são luis e conheço muito bem o Convento das Merçes.Lá só tem o nome de convento mas pelo que eu sei da história nunca teve freiras ou padres circulando por lá.O Convento das Merces é na realidade um Museu Histórico
    que por sinal pra quem gosta de cultura vale a pena con ferir e saber mais sobre nossa história.Festas?Sempre acontece o bumba boi que acontece por lá é uma maravilha.Se vc não for de São LUIS vai conhecer!mas não fique escrevendo o que não sabe.

Os comentários estão fechados.