Mais sobre Nazismo

Como o pessoal da UNA parece não ter o que fazer, resolveram ressuscitar um post do Deus lo Vult! de mais de três meses atrás, falando (a UNA) sobre as hipocrisias e as mentiras religiosas no tocante à atuação da Igreja Católica durante o III Reich.

Os “argumentos” dos ateus resumem-se, quase todos, a ironias infantis e sem graça do tipo “a igreja é inocentinha… nunca foi comparsa dos nazis…” e outras besteiras.

Por exemplo: é óbvio que a presença do Papa junto a autoridades políticas quaisquer não significa, sob ótica nenhuma, um apoio irrestrito a estas autoridades. Assim, por exemplo, João Paulo II foi a Cuba e se encontrou com Fidel Castro, e tem foto dos dois juntos. Isso significa, por acaso, que a Igreja apóia o comunismo cubano?

Quando isto foi comentado, o assunto era uma famosa foto em que Pio XII, então ainda Cardeal Pacceli, aparece junto com Hitler. O contra-argumento da UNA é o seguinte: “curiosamente não vi estes padres fazendo saudação socialista”. Resta explicar qual seria a “saudação socialista” que eles estavam esperando ver. Ademais, eu também não vi o cardeal Pacelli fazer Heil Hitler.

Quanto ao fato de que houve católicos, inclusive padres e bispos, que apoiaram o regime de Hitler, nós não o negamos. Apenas repetimos o óbvio: isto é a posição particular destes católicos, e não da Igreja. Os padres acaso faziam Heil Hitler em obediência a alguma ordem da Igreja? Onde está essa ordem? Onde está a bula papal ou o decreto da Congregação para os Bispos que determina que os padres façam saudações nazistas sempre que virem passar os oficiais de Hitler?

Engraçado também é o seguinte: “três anos antes que Adolf Hitler subisse ao poder, a arquidiocese de Mogúncia condenou de forma pública o Partido Nazista”, e isto simplesmente não é levado em consideração pelos detratores da Igreja. “Ah”, dirão os anti-clericais raivosos, “isto é somente uma diocese pequena dentro da Alemanha, e esta condenação nunca foi tornada oficial para a Igreja como um todo”. Ué, e daí? E quando acusam a Igreja de cumplicidade com o Nazismo ostentando, aos borbotões, as fotos de clérigos simpatizantes do Nazismo, que não chegam nem mesmo a ser a posição oficial de uma Diocese minúscula? Por que usam dois pesos e duas medidas?

Outrossim, a Reichskonkordat não fala, em nenhum momento, em “Nazismo”, em “Nacional-Socialismo”, em permissão para que os católicos votem em partidos nazistas, nem em nada do tipo. Trata de alguns direitos da Igreja em território alemão. Aliás, quando ela foi assinada, nem havia ainda o Nazismo como um sistema político totalitário, que só se configurou no ano seguinte, em 1934 – e esta informação encontra-se até mesmo na Wikipedia. Qual é, portanto, a relação da Concordata com os descalabros nazistas?

Um argumento do mesmo nível seria o seguinte: o Vaticano assinou recentemente uma concordata com a República Federativa do Brasil, e o governo brasileiro é a favor do aborto. Ergo, deveria dizer um ateu, a Igreja apóia o aborto. Mas ele não ousa expôr este sofisma tão cretino… por quê? De novo, dois pesos e duas medidas. Esta é a honestidade atéia.

Por fim, e a título de curiosidade, vale a pena ler esta seleção de frases tiradas do insuspeito “O Papa de Hitler” de Cornwell, entre as quais destaco:

[A]pesar das confiantes declarações de Hitler, o VATICANO não era absolutamente favorável ao Partido nazista. A Santa Sé não endossava o nazismo implícito ou explícito do nacional socialismo.

[…]

Os nazistas consideraram a encíclica [Mit Brennender Sorge] como um ato subversivo. As empresas que colaboraram na impressão do documento foram fechadas, muitos dos seus empregados foram presos.

[…]

L’Osservatore Romano é condenado pelos fascistas, exemplares destruídos, jornaleiros espancados. Finalmente Pacelli foi emboscado em Roma, em conseqüência ele tornou-se um prisioneiro voluntário dentro do Vaticano.

[…]

[O] plano de Hitler [sobre isto, vejam também aqui] para seqüestrar Pacelli…

Eis o Papa de Hitler! Os ateus, para serem coerentes, deveriam acrescentar mais uma acusação à Igreja Católica: que Ela, além de apoiar o Nazismo, era radicalmente masoquista.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

29 comentários em “Mais sobre Nazismo”

  1. O ateísmo é naturalmente contrário à coerência.

  2. Alguém pode me dizer onde está o Cardeal Pacelli naquela foto com Hitler? Aquele homem que está na frente de Hitler não é Pacelli.

  3. Realmente, é velho demais para ser Pacelli no tempo de Cardeal.

  4. Ainda bem que os dirigentes da Igreja Católica na Alemanha indenizaram aquelas pessoas que foram usadas como escravos por alguns membros do clero alemão durante a 2º guerra mundial, porém, ficou devendo a condenação destes mesmo clero pelo Vaticano, e por falar nisto o que o Jorge tem a dizer da réplica que a UNA destinou a resposta a matéria que o Jorge postou aqui com o título “MAIS SOBRE O NAZISMO” teremos uma tréplica, ou você Jorge vai deixar por isto mesmo?, por favor Jorge, não me decepcione.

  5. Então quer dizer que se aparece fotos de bispos, padres e irmãs religiosas ao lado de oficiais e soldados nazistas e até mesmo de Adolf Hitler é prova o suficiente de que a Igreja apoiou maciçamente o nazismo, esquecendo até aqueles padres e irmãs que morreram em campos de concentração por esconder judeus e não apoiar este louco, e até de bispos como Von Galen conhecido como o leão de Müster http://pt.wikipedia.org/wiki/Von_Galen) e se aparecesse uma foto da mãe do profeta profano ou de qualquer membro da U N A ao lado de prostitutas é fato o suficiente de acreditar que as mães deste pessoal todo eram todas prostitutas?, e Outra coisa que me irrita, é o Jorge jogar um post deste, vem o pessoal da U N A joga outro post e o Jorge se cala por inteiro, poxa Jorge, me desculpe, mas estava esperando que desses uma tréplica ao pessoa da U N A em vez disto você se cala e quem cala consente está dando mais munição a este pessoal todo como dando razão a eles todos, se é para ser assim então nem jogue uma postagem desta, pois se é para jogar um post deste e depois vem o inimigo jogar um outro post como resposta e se calar por aí é como deixar a guerra por vencida aí nem vale apena manter nem o blog nesta condição.

  6. Ué!? o profeta do profano com esse nome deveria a ficar do lado do maligno!

    Então senhor profeta do profano, o senhor deve ser um fiel seguidor do profano Adolfinho. E tenta para uma imagem de ser contra o nazismo.

    Me engana que eu gosto!

  7. Sidnei,

    cala essa matraca e vai arrumar o que fazer, miséra!

    Dá um tempo ao menos pro cara respirar. Ele deve ter muitas outras coisas pra fazer além de manter o blog. Já pensou nisso? =P

  8. Dá um tempo ao menos pro cara respirar. Ele deve ter muitas outras coisas pra fazer além de manter o blog. Já pensou nisso? =P

    Pensei, mas quem quer manter um blog, tem que está ciente que de vez enquanto tem quer dá uma olhada e verificar o que os outros estão postando nele, e como o mal a maioria das vezes é mais rapido em fazer estragos, quem tem um blog como este tem que ficar em alerta para que o inimigo tome conta do pedaço e venha fazer mais estragos ainda.

  9. Ad nominem tão cedo, Sidnei? Até onde eu sei, as prostitutas não matam em escala industrial milhares de inocentes.
    Renato, se o sr fizesse ao menos o mister de ler algo de história, teria visto que Adolfinho associou-se a diversos grupos de cristãos em sua sanha “reformista”, mas depois que se descobriu seus crimes, os mesmos que o apoiaram agora tentam renegá-lo…por que será?

  10. ”Adolfinho associou-se a diversos grupos de cristãos em sua sanha “reformista”,…”

    Adolfinho associou-se, mas não era cristão.

    O profeta do profano é tão burro, e não conhece nada sobre história: pois saberia que para chegar ao poder, Adolfinho teve que se parecer cristão.

    Mas estudando a vida do Adolfinho senhor ”profeta” do profano, sabe-se que ele era seguidor de seitas ocultistas satânicas e maçonicas. Igualzinho o senhor que segue o satanismo!

    Então senhor ”profeta” do profano, tire à máscara. Pois Adolfinho seguia o diabo como o senhor também segue.

  11. Ad nominem tão cedo, Sidnei? Até onde eu sei, as prostitutas não matam em escala industrial milhares de inocentes.

    Dependem, muitas fazem abortos, outras destroem casamentos, e sim destroem suas próprias vidas pois a prostituição lhes rouba a dignidade de viver uma vida humana feliz e assim como agem as prostitutas agiram também os nazistas, agora se é para justificar que usa mãe aparecesse ao lado de prostitutas a mesma também seria, fazer o que.

  12. Ao “profeta do profano”.

    Visitou este link que a Sara Rozante disponibilizou? Caso não, pois o faça; e veremos a “capacidade de dissimulação dos cristãos/católicos”. Ou será “cristãos”/protestantes?
    E outra, o fato de alguns terem traído a Cristo e a sua Igreja, não quer dizer que Ela é culpada dos erros deles!

    É incrível a desonestidade dos que tem ódio da Igreja!

    E faço um complemento da afirmação do Renato: “Adolfinho associou-se, mas não era cristão.”
    Não só ele como este grupos ditos “cristãos”.

  13. Pq condenar a igreja por ter apoiado Hitler se Deus é pior que Hitler!
    Deus matou muito mais que Hitler como nos mostra a bíblia.
    Hitler era humano, um ser limitado, louco talvez!!! sendo assim errou!
    Já Deus não erra. Ou seja, ele sabe perfeitamente o que estava fazendo.

  14. Deixemos de lado o papo ligado a religião, ao ateismo e levemos a conversa para o lado histórico:

    Ustasha.

    Vaticano encobertou Pavelic depois do genocídio promovido pelo seu regime, e alem de tudo totalmente apoiado pela igreja. Falar que Pacelli era inocente é demais. E ainda virou saber que o cardeal Alojzije Stepinac foi beatificado é deprimente.

    Simples, direto e e inegável. A historia está ai para qualquer um ver, cheia de documentos e fotos.

  15. Vaticano encobertou Pavelic depois do genocídio promovido pelo seu regime, e alem de tudo totalmente apoiado pela igreja

    Simplesmente mentiroso. Não existe uma única linha emanada pela Santa Sé que possa ser interpretada como um apoio ao massacre de ortodoxos na Croácia.

    E ainda virou saber que o cardeal Alojzije Stepinac foi beatificado é deprimente.

    Mas é claro. Da sua homilia de beatificação:

    São significativas, a respeito disso, as palavras que o novo Beato pronunciava em 1943, durante a segunda guerra mundial, quando a Europa se encontrava amordaçada por uma violência inaudita: «Qual é o sistema que a Igreja Católica hoje apoia, enquanto o mundo inteiro está a combater por uma nova ordem mundial? Nós, ao condenarmos todas as injustiças, todos os massacres dos inocentes, todos os incêndios das aldeias tranquilas, cada destruição dos afãs dos pobres […] respondemos assim: a Igreja apoia aquele sistema que tem tantos anos quantos os Dez Mandamentos de Deus. Somos favoráveis ao sistema que não foi escrito em tábuas corruptíveis, mas inscrito com o dedo do Deus vivo nas consciências dos homens» (Homilias, Discursos, Mensagens, Zagrábia 1996, pp. 179-180).

    Beato Stepinac,
    rogai por nós!

  16. Não existe uma única linha emanada pela Santa Sé que possa ser interpretada como um apoio ao massacre de ortodoxos na Croácia.

    Como também não existe um documento de Hitler “mandando” exterminar judeus e outras minorias em campos de concentração, nas câmaras…e etc.
    Então pegando pela sua abordagem, Hitler seria inocente. E ai?

    Qual é o sistema que a Igreja Católica hoje apoia, enquanto o mundo inteiro está a combater por uma nova ordem mundial? Nós, ao condenarmos todas as injustiças, todos os massacres dos inocentes, todos os incêndios das aldeias tranquilas, cada destruição dos afãs dos pobres […] respondemos assim: a Igreja apoia aquele sistema que tem tantos anos quantos os Dez Mandamentos de Deus. Somos favoráveis ao sistema que não foi escrito em tábuas corruptíveis, mas inscrito com o dedo do Deus vivo nas consciências dos homens»

    Vamos lá então. Foi ótima a frase acima que você mencionou. Conforme Bulajic, no livro Ustashi genocide in the Independent state of Croatia(NDH) from 1941-1945, do Ministério da informação da Sérvia, foram executados na Croacia mais de 750 mil sérvios, judeus e ciganos., sendo que a maioria das mortes foi causada pelo grupo de extrema direita cristão Ustasha.

    Mas já que gosta de citação de Spetinac, vamos pegar outra, uma que João paulo Segundo ignorou, que está no livro The Yugoslav Auschwitz and the Vatican: The Croatian massacre of the serbs during World War II:

    “Alem de tudo, os croatas e os sérvios pertencem a dois mundos distintos, pólo norte e pólo sul. e nunca se darão bem a não ser por um milagre de Deus. O cisma da Igreja Ortodoxa é a maior maldição da Europa, quase mais que o protestantismo. Aqui não há moral, princípios, verdade, justiça nem honestidade.”

    A frase de Spetinac que você citou é depois dele ver o rumo da guerra e tentar reverter os erros cometidos.

    Me explica o por que J.Paulo II não visitou nenhuma vez os campos de concentração dos Ustashas e outros campos na Croacia, dando mais enfase a “JASENOVAC”? Outra coisa, para não esquecer, foi a relação de J.P.II com o negador do Holocausto Franjo Tudjman.
    Como é possível a beatificação dele depois de “dezenas de pessoas que testemunharam os atos cometidos por cleros no regime Ustasha?
    Será que o sofrimentos deles não valeram de nada?
    A gafe dos atos humanitários de Spetinac estão ai para qualquer pessoa ver, tamanha falsidade. Tanto que já tentaram leva-lo ao hall dos Justos entre as nações e foi categoricamente negado ( só para não entrar muito nos detalhes, as pessoas que enviaram o nome do beato são defensoras do nazismo, vulgos “revisionistas”.

    Outra coisa, já que chamou meu comentario de mentiroso, explique o por que da ajuda da Igreja para a fuga de Pavelic.

  17. Típico dos ateus é citar os erros da Igreja!!!!!

    Meu Queridos!!!Olhem para Cristo!!!!!

    Nenhum católico esclarecido nega os erros particulares de bispos,padres,clérigos em geral…

    Uma coisa é uns padres apoiarem o nazismo! Outra totalmente diferente é o Vaticano apóiar!!!!

    Eu não nego os erros de pseudolíderes da Igreja que eu frequento,Assembléia de Deus,e por que os ateus não reconhecem que existem homens de Deus? É claro que representantes da Igreja erraram no passado!mas a salvação é INDIVIDUAL e segundo a Bíblia cada um responderá pelos seus atos!!!!

    Jorge,

    Só uma pergunta! Este blog ateu(UNA)que cita o seu blog e diz que “Deus lo vult” era o lema das Cruzadas!!!Esta informação procede?

    http://unabrasil.wordpress.com/2009/12/31/a-una-incomoda-muita-gente/

    Abraços,

  18. Erro: Uma coisa são os padres apoairem o nazismo…corrija aí esse erro de concordância Jorge!
    digitei na pressa!

  19. Caro Daniel Moratori

    Não permita que sua obsessão pela guerra e sua suposta imparcialidade para com o mal ceguem-no. É mentira que possamos mostrar de forma verdadeira toda a crueldade de uma guerra e mantermo-nos “neutros com relação às ideologias vigentes”.

    As pessoas que dizem ser capaz de comentar de forma imparcial todas as crueldades de uma guerra, jamais são capazes de admitir o gozo, cruel e mórbido, que tais “comentários imparciais” lhe trazem.

    Que a luz de Cristo te ajude a realmente buscar a verdade.

  20. Caro Jorge Ferraz,

    No intuito de ajudá-lo a botar um ponto final nessa conversa e colocar a ateuzada em seu lugar de uma vez por todas, acrescento um texto de Dinesh D’Souza que trata do assunto com a transparência que se espera de uma pessoa honesta. A tradução é de minha autoria.

    Título: FOI HITLER CRISTÃO?

    Chamada: Lideranças ateístas têm argumentado que Adolf Hitler e seu regime nazista eram teístas e especificamente cristãos. Por Dinesh D’Souza.

    Christopher Hitchens, em seu livro Deus não é Grande, retrata Hitler como um politeísta pagão — não exatamente um teísta convencional, mas ainda um teísta. Sites ateus rotineiramente alegam que Hitler era cristão porque nasceu católico, nunca renunciou publicamente a seu catolicismo e escreveu em Mein Kampf: “defendendo-me contra os judeus, luto pela obra do Senhor”. O escritor ateu Sam Harris escreve que “o Holocausto marcou o auge de… duzentos anos de perseguição cristã contra os judeus”; portanto, “conscientemente ou não, os nazistas eram agentes da religião”.

    Quão convincentes são essas alegações? Meu best-seller do New York Times, What’s So Great About Christianity (“O Que É Tão Grande no Cristianismo”), tem a história completa e as citações necessárias, mas aqui está a versão condensada. Hitler nasceu católico, assim como Stálin nasceu na Igreja Ortodoxa Russa e Mao foi criado como budista. Esses fatos não provam nada. Muitos rejeitam sua criação religiosa, como esses três homens fizeram. Desde cedo, escreve o historiador Allan Bullock, Hitler “absolutamente não tinha tempo para o ensinamento católico, considerando-o como de uma religião adequada a escravos e detestando sua ética”.

    Então, como explicar a afirmação de Hitler de que no exercício do seu programa antissemita ele era um instrumento da providência divina? Em sua ascensão ao poder, Hitler precisava do apoio do povo alemão — tanto dos católicos da Baviera como dos luteranos prussianos — e para garantir isso, usava ocasionalmente a retórica do “Estou fazendo a obra do Senhor” [1]. Alegar que essa retórica faz de Hitler um cristão é confundir oportunismo político com convicção pessoal. O próprio Hitler diz em Mein Kampf que seus pronunciamentos públicos devem ser entendidos como propaganda; que não têm relação com a verdade, mas são projetados para influenciar as massas.

    A ideia nazista de um Cristo ariano que usa a espada para limpar a terra dos judeus — que os historiadores chamam de “Cristianismo Ariano” — era obviamente um afastamento radical do entendimento tradicional cristão e foi condenado como tal, no momento oportuno, pelo Papa Pio XI[2]. Além disso, o antissemitismo de Hitler não era religioso — era racial. Os judeus foram alvos não devido à sua religião — na verdade, muitos judeus alemães eram completamente seculares em seu modo de vida — mas devido à sua identidade racial. O antissemitismo de Hitler era secular. Teve conotação étnica e não religiosa[3].

    Hitler’s Table Talk (Conversas à Mesa de Hitler), uma reveladora coleção das opiniões privadas do Führer, reunidas por um assessor próximo durante os anos de guerra, mostra um Hitler furiosamente antirreligioso. Ele chamou o cristianismo de um dos grandes “flagelos” da história, e disse sobre os alemães: “Seremos o único povo imunizado contra essa doença”. Ele prometeu que “por meio dos camponeses, seremos capazes de destruir o cristianismo”. Na verdade, culpou os judeus por tê-lo inventado. Também condenou o cristianismo por sua oposição à evolução.

    Hitler reservava um desdém especial aos valores cristãos de igualdade e compaixão, que identificava como fraquezas. Alguns de seus principais conselheiros, como Goebbels, Himmler, Heydrich e Bormann, eram ateus que odiavam a religião e buscavam erradicar sua influência na Alemanha.

    Reconhecendo o absurdo de se equiparar nazismo com cristianismo, Christopher Hitchens tenta empurrar Hitler para o campo religioso retratando sua ideologia como um “fenômeno semipagão”. Hitchens sugere que Hitler pode ter sido um politeísta que adorava deuses pagãos, mas politeísmo ainda é teísmo. Este argumento não distingue entre paganismo antigo e paganismo moderno. É verdade que Hitler e os nazistas se basearam fortemente em arquétipos antigos — principalmente lendas nórdicas e teutônicas — para dar à sua visão de uma aura mística. Mas isso era misticismo secular, não misticismo religioso.

    Os antigos povos germânicos realmente acreditavam em deuses pagãos. Hitler e os nazistas, no entanto, invocavam os antigos mitos na forma moderna dada a eles por Nietzsche e Wagner. Para Nietzsche e Wagner, não havia dúvida quanto à veracidade dos mitos antigos. Wagner acreditava no deus nórdico Wotan tanto quanto Nietzsche acreditava em Apolo. Para Hitler e os nazistas, os mitos antigos eram valiosos porque poderiam dar profundidade e importância a uma concepção secular racial do mundo.

    Em sua história do Terceiro Reich, de vários volumes, o historiador Richard Evans escreve que “os nazistas consideravam as igrejas como os mais fortes e resistentes reservatórios de oposição ideológica aos princípios em que acreditavam”. Quando Hitler e os nazistas chegaram ao poder, eles iniciaram um implacável movimento para subjugar e enfraquecer as igrejas cristãs na Alemanha. Evans aponta que as políticas do governo de Hitler tornaram-se cada vez mais antirreligiosas após 1937.

    Os nazistas pararam de celebrar o Natal, e a Juventude de Hitler recitava uma oração agradecendo ao Führer, em vez de a Deus, por suas bênçãos. Clérigos considerados “problemáticos” receberam ordem de não pregar; centenas deles foram feitos prisioneiros e muitos foram simplesmente assassinados. Igrejas estavam sob vigilância constante da Gestapo. Os nazistas fecharam escolas religiosas, forçaram organizações cristãs a se dissolverem, demitiram funcionários públicos que eram cristãos praticantes, confiscaram propriedades da Igreja e jornais religiosos foram censurados. O pobre Sam Harris não explica como uma ideologia que Hitler e seus associados viam como de repúdio ao cristianismo pode ser retratada como o “auge” do cristianismo.

    Se o nazismo representou o auge de alguma coisa, foi o da ideologia de darwinismo social[4] do século XIX e início do século XX. Leia o estudo revelador do historiador Richard Weikart, De Darwin a Hitler. Como documentou Weikart, tanto Hitler como Himmler eram admiradores de Darwin e frequentemente falavam de seu papel na promulgação de uma “lei da natureza” que garantiu a “eliminação dos inaptos”. Weikart argumenta que o próprio Hitler “inspirou-se profundamente no darwinismo social, usado para construir sua própria filosofia racista”, e conclui que embora o darwinismo não seja uma explicação intelectual “suficiente” para o nazismo, é uma explicação “necessária”. Sem o darwinismo, muito possivelmente não haveria o nazismo.

    Os nazistas também contaram com o filósofo Friedrich Nietzsche, adaptando sua filosofia ateísta a seus propósitos brutais. A visão de Nietzsche do übermensch e sua ideia de elevação de uma nova ética “além do bem e do mal” foram avidamente abraçadas pelos propagandistas nazistas. A “vontade de poder” de Nietzsche se tornou quase que um slogan de recrutamento nazista. Não estou nem por um momento sugerindo que Darwin ou Nietzsche teriam aprovado as ideias de Hitler. Mas Hitler e seus capangas aprovaram das ideias de Darwin e Nietzsche. Harris simplesmente ignora as evidências da simpatia nazista por Darwin, Nietzsche e o ateísmo. Então, como podemos interpretar sua afirmação de que os líderes nazistas eram “consciente ou inconscientemente” agentes da religião? Claramente, é um absurdo.

    Assim, além da montanha de cadáveres que os regimes de ódio a Deus de Stalin, Mao, Pot Pot e outros produziram, devemos adicionar à contagem os corpos fornecidos pelo regime nazista que odeia a Deus. Os nazistas, como os comunistas, deliberadamente escolheram as igrejas e os crentes como alvos, pois queriam criar um novo homem e uma nova utopia livre dos grilhões da religião e moral tradicionais. Em um blog anterior, eu perguntei: qual é a contribuição do ateísmo para a civilização? Eis uma resposta: genocídio.

    RECONHECIMENTO

    D’SOUZA, Dinesh. “Was Hitler a Christian?” Blog de Dinesh D’Souza (1 de novembro de 2007).

    Copyright © 2007 — Dinesh D’Souza.

    NOTAS

    [1] O MOVIMENTO ROSA BRANCA, grupo alemão de resistência ao nazismo, disse em seu quarto panfleto clandestino: “Cada palavra que sai da boca de Hitler é uma mentira. Quando diz paz, quer dizer guerra, e quando blasfema, usa o nome do Todo-Poderoso; ele representa o poder do mal, o anjo caído, Satanás”. Os líderes da Rosa Branca foram todos mortos por dizerem verdades como essas (nota do tradutor).

    [2] MIT BRENNENDER SORGE — Com profunda preocupação (14 de março de 1937), é uma Carta Encíclica de Pio XI que condena o nacional-socialismo alemão e sua ideologia racista. Foi a primeira crítica oficial ao nazismo feita por um chefe de Estado e contém um ataque velado a Adolf Hitler, referindo-se a ele como “um profeta louco de arrogância repulsiva”. É um dos dois únicos documentos oficiais da Santa Sé escritos numa língua diferente do latim e do grego, juntamente com a encíclica Non Abbiamo Bisogno, de 1931, que critica o fascismo italiano (fonte: Wikipédia — nota do tradutor).

    [3] Nenhum judeu se salvou dos campos da morte por ter se convertido a outra religião ou ao ateísmo. Uma prova de que o preconceito não tinha fundamento religioso está no livro infantil Der Giftpilz (O Cogumelo Venenoso), adotado nas escolas alemãs como propaganda antissemita. Ali se dizia claramente: “Uma vez judeu, sempre judeu” (nota do tradutor, baseada em artigo da Wikipédia).

    [4] DARWINISMO SOCIAL, termo popularizado em 1944 pelo historiador americano Richard Hofstadter, é a tentativa de se aplicar o darwinismo nas sociedades humanas. Descreve o uso dos conceitos de luta pela existência e sobrevivência dos mais aptos para justificar políticas que insensivelmente não distinguem aqueles capazes de sustentar a si daqueles incapazes de se sustentar. Esse conceito motivou as ideias de eugenia, racismo, imperialismo, fascismo, nazismo e na luta entre grupos e etnias nacionais.

    Atualmente, devido às conotações negativas da teoria do darwinismo social, especialmente após as atrocidades da Segunda Guerra Mundial, poucos se descrevem como social-darwinistas — o termo geralmente é visto como pejorativo (nota do tradutor, baseada em artigo da Wikipédia).

    Origem: Catholic Education Resource Center (http://www.catholiceducation.org/articles/facts/fm0110.htm). Tradução: Paulo Celso dos Reis. Acesso em 2 de maio de 2014.

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