A CNBB e Dom Dadeus Grings

Ah, aí já é palhaçada. Dom Dadeus disse que a sociedade atual era pedófila. E aí choveram as reações: 1. Opinião de arcebispo da Capital sobre pedofilia não reflete posição da Igreja; 2. Reação: Declaração de que a ‘sociedade é pedófila’ não é opinião da CNBB; 3. Opinião de arcebispo sobre pedofilia não reflete posição da Igreja, diz CNBB.

É claro que qualquer pessoa de bom senso faz coro ao que disse Dom Dadeus, certamente usando uma figura de linguagem para se referir à erotização da sociedade moderna, inclusive da infância – que é pública e notória. É lógico para qualquer pessoa que tenha dois neurônios funcionais que o bispo não quis dizer que “a sociedade” molestasse, literalmente, crianças – seja lá o que isso signifique. Aliás, isso está explícito na própria fala do bispo que foi veiculada na imprensa:

Dom Dadeus, de 73 anos, criticou a liberalização da sexualidade por “gerar desvios de comportamento”, entre os quais a pedofilia.

Qual é, portanto, a razão das supostas “reações”? A sociedade onde vivemos por acaso não é absurdamente erotizada? Por acaso isto não é uma coisa condenável? Em quê, exatamente, a opinão de Dom Dadeus “não reflete [a] posição da Igreja”?

Vamos às três reportagens acimas. Na primeira e na terceira, que dizem essencialmente a mesma coisa, ao contrário do que é dito no título, não existe nenhuma sombra de crítica à declaração de Dom Dadeus por parte do porta-voz da Assembléia da CNBB, Dom Orani Tempesta. Vejamos (em G1). No título:

Nesta terça, arcebispo de Porto Alegre disse que ‘sociedade atual é pedófila’.

‘Não é doutrina da Igreja esse comportamento’, disse porta-voz da entidade.

E no corpo:

Dom Orani Tempesta, porta-voz da assembleia da CNBB, disse que aos bispos são livres para dar opiniões, mas que as declarações de Dom Dadeus foram mal interpretadas. Ele afirmou que a Igreja condena qualquer tipo de abuso sexual.

“Não é doutrina da Igreja esse tipo de comportamento. Aqueles que fizeram e cometeram algum crime devem ser julgados segundo a legislação de cada país, do Brasil e tudo mais”, afirmou.

Ou seja: o que “[n]ão é doutrina da Igreja” é o abuso sexual, óbvio. Não a declaração de Dom Dadeus de que a sociedade é pedófila (até porque isso, por definição, não é “doutrina”, mas deixa esse “detalhe” para lá). Qual é, portanto, a razão das manchetes, que nada têm a ver com o texto sob elas apresentado?

Na segunda reportagem, d’O Globo, embora ligeiramente diferente, também não há a declaração expressa de Dom Orani de que a CNBB discorda do que foi dito pelo Arcebispo de Porto Alegre. Portanto, aqui o que interessa são duas (de três) perguntas:

(1) Afinal de contas, a CNBB discorda ou não da opinião expressa por Dom Dadeus Grings?

(2a) Se não discorda, por que foi amplamente noticiado que discordava?

(2b) Se discorda, em quê, exatamente, o senhor Arcebispo afastou-se da posição da Igreja?

Nós gostamos dos pingos nos i’s. Sem isso, fica muito difícil saber quando a mídia está distorcendo as falas dos entrevistados ou quando são estes que não estão falando mesmo o que deveriam. Nós gostamos do “sim, sim, não, não”. Será que é difícil dar declarações claras e objetivas?

Nesta terça, arcebispo de Porto Alegre disse que ‘sociedade atual é pedófila’.
‘Não é doutrina da Igreja esse comportamento, disse porta-voz da entidade.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

8 comentários em “A CNBB e Dom Dadeus Grings”

  1. Não suporto mais ler o que a mídia publica a respeito da Igreja, sempre com distorções (dá para imaginar que lidam com outros assuntos da mesma forma); passei a buscar informações sobre a Igreja só em sites como ACI Prensa e Infocatólica (ambos em espanhol), no Frates in Unum e no seu blog.

  2. É que ensinar pornografia para crianças, até na escola, com o pretexto de “educação sexual”, pode.
    Passar programas televisivos “infantis” com Xuxa e outras devassas usando roupinhas minúsculas, pode.
    Passar novelas de conteúdo moral podre, pode.
    Encher as cidades de outdoors pornográficos, pode.
    Expôr ao público revistas pornográficos nas portas e paredes de bancas de jornais, pode.

    Tudo isso a CNBB apoia – ou se omite.

    Mas falar a verdade, não pode.

    Se falar a verdade para essa sociedade hipócrita, a CNBB estrilha, sobe nos tamanquinhos e ataca quem dá o alerta, quando deveria atacar os costumes imorais dessa sociedade pornográfica (erótica uma ova, é pornográfica mesmo!) e pedófila.

    Mas Deus está vendo tudo.

    Um abraço.

    Carlos.

  3. Sei que Dom Dadeus quis expressar simplesmente o sua opinião baseada na doutrina da Igreja.
    Mas me pergunto se esta “reação” de Dom Orani não deixaria mais evidente o medo que alguns prelados podem ter das forças opositoras da Igreja!

  4. Fico imaginando, o dia em que a CNBB cairá em si, e verá o mau que faz a Igreja, punindo quem nao deveria ser punido e exaltando e enaltecendo o que deveria ser expurgado, fico pensando no dia em que algum Bispo ousar criticar as CEB’s e a TL, certamente este prelado deverá renunciar seu oficio, ou será metralhado por alguns Bispos, Dom Dadeus falou o que deveria falar, ou seja, a verdade, depois o Secretario Geral o Dom Dimas vem e acusa alguns blogs católicos de serem “reacionarios a liderança da Igreja no Brasil”.

  5. Anderson, Dom Dimas falou isso mesmo! que existem blogs católicos “reacionarios a liderança da Igreja no Brasil”?

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