Voltava para casa do trabalho. Saíra um pouco mais tarde e, portanto, estava enfrentando um maravilhoso e profundamente estressante congestionamento de fim de sexta-feira. Sozinho, o som do carro ligado, o pensamento divagando aqui e alhures em uma tíbia tentativa de não perder a paciência com a lentidão do trânsito. É sexta-feira, Passio Domini, e todo castigo para mim (pecador miserável!) é pouco…
De repente, olho para o celular. Seis da noite. Hora da Anunciação! Desligo o som e trago os meus pensamentos de volta para a saudação angélica que, a esta hora, fora pronunciada tão distante – no tempo e no espaço – do trânsito recifense. Repito a tradicional oração, relembrando aquele divino momento ao qual não pude estar presente: Angelus Domini nuntiavit Mariae. E, percorrendo as palavras já tão gastas e incontáveis vezes repetidas, as questiúnculas do fim do dia parecem pequenas e terrivelmente irrelevantes. O que importa é que, em algum lugar, o Anjo do Senhor foi enviado a uma Virgem. Esta Virgem disse fiat – faça-se! – à mensagem que o Altíssimo Lhe enviara. E então o Verbo Divino fez-Se Carne, e habitou entre nós. O que é o cansaço do fim da sexta-feira diante do drama desta curta história, já tantas vezes repetida mas jamais devidamente assimilada?
Oremus! Pedindo ao Altíssimo que, pela Paixão e Cruz de Nosso Senhor, possamos chegar um dia à glória da Ressurreição. E lembrando ao Todo-Poderoso que o pedimos também porque nos foi dado conhecer o Anúncio do Arcanjo. Porque vimos o início da história da Redenção, pedimos a Deus a graça de não perdermos a sua apoteose, a sua plena realização.
Gloria Patri, e sinal vermelho. Na calçada, do lado direito, vejo que está passando um padre meu amigo. Não perco a chance. Abaixo o vidro e grito: “sua bênção, padre!”. No meio da confusão de carros engarrafados, de semáforos fechados, de pessoas apressadas e solitárias, eu encontro um sacerdote do Deus Altíssimo! E assim, de repente, toda a impaciência cai por terra, todas as (automáticas) reclamações resmungantes perdem o significado, e eu até agradeço à Providência Divina pelos atrasos que me fizeram parar exatamente naquele sinal, exatamente no momento em que o sacerdote passava. Exatamente após o Angelus.
O padre me ouve. Levanta a cabeça, e me vê. “Deus te abençoe, Jorge!”. Eu agradeço e o cumprimento. O sinal abre, o carro da frente parte; não tive tempo para trocar sequer duas palavras com o amigo. Mas pude pedir-lhe a bênção, e pude ouvir-lhe a resposta. E que excelente forma de terminar a sexta-feira e voltar pra casa…
Que o Senhor da Messe possa mandar trabalhadores para sua Messe! Padres que possam oferecer ao Altíssimo o Sacrifício de Cristo em nosso favor. Padres que possam abrir para nós as portas do Céu e trazer-nos o Pão dos Anjos por alimento espiritual. Padres que nos possam enxugar as amargas lágrimas do arrependimento e, ouvindo os nossos pecados, conceder-nos o perdão de Deus. Padres que nos possam abençoar casualmente no meio do trânsito – lembrando-nos, no meio do torvelinho das nossas (às vezes tão fúteis) preocupações quotidianas, das coisas de Deus.
A propósito, vale a pena ver: sacerdote, presente de Deus para o mundo.
Curti! + devaneios, por favor.
Eu tb curti. Em meio a esse trânsito caótico tudo é possível. Se em vez de nos estressarmos, ficarmos atentos ao que está acontecendo à nossa volta, veremos coisas extraordinárias.
Belíssima reflexão, Jorge.
Parabéns!
ficou bem esclarecido sobre a bençao par4a o padre.
Caro Jorge Ferraz, no programa de amanhã, na RÁDIO RECIFE FM, vou ler trechos do seu belo texto SUA BÊNÇÃO, PADRE.
Muitíssimo obrigado, padre! Muito me honra. Vou procurar ouvir. Abraços!