Ainda a repercussão sobre o aborto em Recife

– A polêmica sobre o aborto realizado na menina de nove anos ganhou primeira capa no Jornal do Commercio duas vezes: ontem, “Ciência X Fé: Excomunhão em debate” e, hoje, “Aborto é pior que estupro, diz Dom José”.

– Quanto à manchete de ontem, nem cabe fazer comentários, porque é evidente que, sobre a excomunhão, não pode haver entre a “Ciência” e a “Fé” debate algum, dado que “excomunhão” é um conceito ininteligível para a ciência, sobre o qual ela não tem absolutamente nada a dizer.

– Quanto à matéria de hoje, vale salientar: sim, por mais que seja chocante para a mentalidade moderna, o aborto é mais grave do que o estupro, porque neste há uma violência física e, naquele, uma violência física que implica na morte de um ser humano inocente e indefeso. A vida é o maior de todos os bens e, portanto, aquilo que atente contra ela é mais grave. Por exemplo, assassinar uma pessoa é mais grave do que torturá-la ou estuprá-la, e com isso se está simplesmente reconhecendo que a vida em si é um bem mais valioso do que a integridade física, dado que esta pressupõe aquela. Colocados os preconceitos e as paixões de lado, qualquer pessoa é capaz de entender isso.

– Nunca é demais repetir: dizer que o aborto é mais grave do que o estupro não tem absolutamente nada a ver com negar ou relativizar a gravidade do estupro. Claro que o estupro é grave. A única coisa que se está dizendo é que o assassinato de um inocente indefeso é mais grave. Analogamente, se alguém dissesse que um latrocínio é mais grave do que um assalto a um banco, ninguém poderia honestamente deduzir daí que se esteja afirmando não haver problemas com assaltos a bancos.

– Dom José disse que o senhor presidente deveria procurar a assessoria de um teólogo antes de proferir sentenças disparatadas sobre temas que ele manifestamente ignora. É um excelente conselho, que o presidente deveria seguir, para não passar (ainda mais) vergonha em público.

– A CNBB publicou duas notas sobre o assunto (uma dos bispos da Regional Nordeste 2 e outra da CNBB como um todo). Têm o mérito de afirmarem claramente (ao menos!) que a Conferência é contrária ao aborto; faltou, contudo, na minha opinião, pelo menos duas coisas fundamentais: (a) um apoio explícito a Dom José Cardoso (que está sendo crucificado pela mídia); e (b) corroborar a sua declaração, dizendo que, sim, todos os envolvidos no crime incorreram em excomunhão latae sententiae.

– As Abortistas pelo Direito de Matar, como não poderia deixar de ser, manifestaram-se contra a Igreja e favoráveis aos médicos assassinos. A declaração delas foi muito bem comentada pelo blog “A Saúde da Alma”. Quanto a estas desgraçadas, nunca é demais repetir que, de católicas, só têm o nome, ostentado com o único intuito de enganar os incautos e semear a confusão dentro da Igreja de Deus.

– O Carlos Cardoso possui um anti-clericalismo que chega a ser nauseabundo, mas neste post é preciso louvar a sua honestidade. A despeito de não concordar com a posição do Arcebispo, ele diz claramente que Dom José só fez agir em coerência com o que a Igreja ensina. E diz ainda ser necessário “admitir publicamente que o problema não é o homem, o problema são os PRINCÍPIOS defendidos pela Igreja Católica: Esses sim desumanos, medievais, bárbaros, sem-sentido e indignos de qualquer um que se diga civilizado”. Obviamente não concordamos com esta sandice; mas louvamos, sim, a coerência e o bom caráter de quem apresenta as coisas das quais discorda como elas são na realidade.

– No Rio Grande do Sul está em curso um caso parecido com o da menina do interior de Pernambuco; ela tem 11 anos e também foi estuprada pelo padrasto. No entanto, não abortou, dado que os familiares da criança, ao que parecem, nem sequer cogitaram a possibilidade do assassinato. Sem disfarçar o próprio incômodo com o fato da família da garota ter decidido levar a gravidez adiante, o responsável por esta matéria do jornal O Globo chega ao cúmulo de sugerir que, mesmo à revelia dos pais, “o Ministério Público tem legitimidade para assegurar o direito da menina ao aborto” (!!). Ou seja, o famigerado “direito de escolha” foi para o beleléu: o que eles querem é matar o filho da menina a todo custo, mesmo que, para isso, precisem passar por cima da vontade da família (que é chamada de “inércia dos representantes legais” aqui)! A cretinice dos abortistas dá nojo.

Pe. Edson sobre o caso da menina grávida.

[Reproduzo o seguinte post na íntegra, dada a sua capital importância no recente caso da menina de nove anos grávida, que culminou com o assassinato dos seus dois filhos gêmeos e a execração pública da única voz a se levantar na defesa dos dois irmãos, o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso. Trata-se de um texto escrito pelo pe. Edson, pároco de Alagoinha, que nos traz alguns fatos que a grande mídia faz questão de não mostrar.]

GRÁVIDA DE GÊMEOS EM ALAGOINHA

O lado que a imprensa deixou de contar

Há cerca de oito dias, nossa cidade foi tomada de surpresa por uma trágica notícia de um acontecimento que chocou o país: uma menina de 9 anos de idade, tendo sofrido violência sexual por parte de seu padrasto, engravidou de dois gêmeos. Além dela, também sua irmã, de 13 anos, com necessidade de cuidados especiais, foi vitima do mesmo crime. Aos olhos de muitos, o caso pareceu absurdo, como de fato assim também o entendemos, dada a gravidade e a forma como há três anos isso vinha acontecendo dentro da própria casa, onde moravam a mãe, as duas garotas e o acusado.

O Conselho Tutelar de Alagoinha, ciente do fato, tomou as devidas providências no sentido de apossar-se do caso para os devidos fins e encaminhamentos. Na sexta-feira, dia 27 de fevereiro, sob ordem judicial, levou as crianças ao IML de Caruaru-PE e depois ao IMIP (Instituto Médico Infantil de Pernambuco), de Recife a fim de serem submetidas a exames sexológicos e psicológicos. Chegando ao IMIP, em contato com a Assistente Social Karolina Rodrigues, a Conselheira Tutelar Maria José Gomes, foi convidada a assinar um termo em nome do Conselho Tutelar que autorizava o aborto. Frente à sua consciência cristã, a Conselheira negou-se diante da assistente a cometer tal ato. Foi então quando recebeu das mãos da assistente Karolina Rodrigues um pedido escrito de próprio punho da mesma que solicitava um “encaminhamento ao Conselho Tutelar de Alagoinha no sentido de mostrar-se favorável à interrupção gestatória da menina, com base no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e na gravidade do fato”. A Conselheira guardou o papel para ser apreciado pelos demais Conselheiros colegas em Alagoinha e darem um parecer sobre o mesmo com prazo até a segunda-feira dia 2 de março. Os cinco Conselheiros enviaram ao IMIP um parecer contrário ao aborto, assinado pelos mesmos. Uma cópia deste parecer foi entregue à assistente social Karolina Rodrigues que o recebeu na presença de mais duas psicólogas do IMIP, bem como do pai da criança e do Pe. Edson Rodrigues, Pároco da cidade de Alagoinha.

No sábado, dia 28, fui convidado a acompanhar o Conselho Tutelar até o IMIP em Recife, onde, junto à conselheira Maria José Gomes e mais dois membros de nossa Paróquia, fomos visitar a menina e sua mãe, sob pena de que se o Conselho não entregasse o parecer desfavorável até o dia 2 de março, prazo determinado pela assistente social, o caso se complicaria. Chegamos ao IMIP por volta das 15 horas. Subimos ao quarto andar onde estavam a menina e sua mãe em apartamento isolado. O acesso ao apartamento era restrito, necessitando de autorização especial. Ao apartamento apenas tinham acesso membros do Conselho Tutelar, e nem tidos. Além desses, pessoas ligadas ao hospital. Assim sendo, à área reservada tiveram acesso naquela tarde as conselheiras Jeanne Oliveira, de Recife, e Maria José Gomes, de nossa cidade.

Com a proibição de acesso ao apartamento onde menina estava, me encontrei com a mãe da criança ali mesmo no corredor. Profunda e visivelmente abalada com o fato, expôs para mim que tinha assinado “alguns papéis por lá”. A mãe é analfabeta e não assina sequer o nome, tendo sido chamada a pôr as suas impressões digitais nos citados documentos.

Perguntei a ela sobre o seu pensamento a respeito do aborto. Valendo-se se um sentimento materno marcado por preocupação extrema com a filha, ela me disse da sua posição desfavorável à realização do aborto. Essa palavra também foi ouvida por Robson José de Carvalho, membro de nosso Conselho Paroquial que nos acompanhou naquele dia até o hospital. Perguntei pelo estado da menina. A mãe me informou que ela estava bem e que brincava no apartamento com algumas bonecas que ganhara de pessoas lá no hospital. Mostrava-se também muito preocupada com a outra filha que estava em Alagoinha sob os cuidados de uma família. Enquanto isso, as duas conselheiras acompanhavam a menina no apartamento. Saímos, portanto do IMIP com a firme convicção de que a mãe da menina se mostrava totalmente desfavorável ao aborto dos seus netos, alegando inclusive que “ninguém tinha o direito de matar ninguém, só Deus”.

Na segunda-feira, retornamos ao hospital e a história ganhou novo rumo. Ao chegarmos, eu e mais dois conselheiros tutelares, fomos autorizados a subirmos ao quarto andar onde estava a menina. Tomamos o elevador e quando chegamos ao primeiro andar, um funcionário do IMIP interrompeu nossa subida e pediu que deixássemos o elevador e fôssemos à sala da Assistente Social em outro prédio. Chegando lá fomos recebidos por uma jovem assistente social chamada Karolina Rodrigues. Entramos em sua sala eu, Maria José Gomes e Hélio, Conselheiros de Alagoinha, Jeanne Oliveira, Conselheira de Recife e o pai da menina, o Sr. Erivaldo, que foi conosco para visitar a sua filha, com uma posição totalmente contrária à realização do aborto dos seus netos. Apresentamo-nos à Assistente e, ao saber que ali estava um padre, ela de imediato fez questão de alegar que não se tratava de uma questão religiosa e sim clínica, ainda que este padre acredite que se trata de uma questão moral.

Perguntamos sobre a situação da menina como estava. Ela nos afirmou que tudo já estava resolvido e que, com base no consentimento assinado pela mãe da criança em prol do aborto, os procedimentos médicos deveriam ser tomados pelo IMI dentro de poucos dias. Sem compreender bem do que se tratava, questionei a assistente no sentido de encontrar bases legais e fundamentos para isto. Ela, embora não sendo médica, nos apresentou um quadro clínico da criança bastante difícil, segundo ela, com base em pareceres médicos, ainda que nada tivesse sido nos apresentado por escrito.

Justificou-se com base em leis e disse que se tratava de salvar apenas uma criança, quando rebatemos a idéia alegando que se tratava de três vidas. Ela, desconsiderando totalmente a vida dos fetos, chegou a chamá-los em “embriões” e que aquilo teria que ser retirado para salvar a vida da criança. Até então ela não sabia que o pai da criança estava ali sentado ao seu lado. Quando o apresentamos, ela perguntou ao pai, o Sr. Erivaldo, se ele queria falar com ela. Ele assim aceitou. Então a assistente nos pediu que saíssemos todos de sua sala os deixassem a sós para a essa conversa. Depois de cerca de vinte e cinco minutos, saíram dois da sala para que o pai pudesse visitar a sua filha. No caminho entre a sala da assistente e o prédio onde estava o apartamento da menina, conversei com o pai e ele me afirmou que sua idéia desfavorável ao aborto agora seria diferente, porque “a moça me disse que minha filha vai morrer e, se é de ela morrer, é melhor tirar as crianças”, afirmou o pai quase que em surdina para mim, uma vez que, a partir da saída da sala, a assistente fez de tudo para que não nos aproximássemos do pai e conversássemos com ele. Ela subiu ao quarto andar sozinha com ele e pediu que eu e os Conselheiros esperássemos no térreo. Passou-se um bom tempo. Eles desceram e retornamos à sala da assistente social. O silêncio de que havia algo estranho no ar me incomodava bastante. Desta vez não tive acesso à sala. Porém, em conversa com os conselheiros e o pai, a assistente social Karolina Rodrigues, em dado momento da conversa, reclamou da Conselheira porque tinha me permitido ver a folha de papel na qual ela solicitara o parecer do Conselho Tutelar de Alagoinha favorável ao aborto e rasgou a folha na frente dos conselheiros e do pai da menina. A conversa se estendeu até o final da tarde quando, ao sair da sala, a assistente nos perguntava se tinha ainda alguma dúvida. Durante todo o tempo de permanência no IMIP não tivemos contato com nenhum médico. Tudo o que sabíamos a respeito do quadro da menina era apenas fruto de informações fornecidas pela assistente social. Despedimo-nos e voltamos para nossas casas. Aos nossos olhos, tudo estava consumado e nada mais havia a fazer.

Dada a repercussão do fato, surge um novo capítulo na história. O Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife, Dom José Cardoso, e o bispo de nossa Diocese de Pesqueira, Dom Francisco Biasin, sentiram-se impelidos a rever o fato, dada a forma como ele se fez. Dom José Cardoso convocou, portanto, uma equipe de médicos, advogados, psicólogos, juristas e profissionais ligados ao caso para estudar a legalidade ou não de tudo o que havia acontecido. Nessa reunião que se deu na terça-feira, pela manhã, no Palácio dos Manguinhos, residência do Arcebispo, estava presente o Sr. Antonio Figueiras, diretor do IMIP que, constatando o abuso das atitudes da assistente social frente a nós e especialmente com o pai, ligou ao hospital e mandou que fosse suspensa toda e qualquer iniciativa que favorecesse o aborto das crianças. E assim se fez.

Um outro encontro de grande importância aconteceu. Desta vez foi no Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, na tarde da terça-feira. Para este, eu e mais dois Conselheiros, bem como o pai da menina formos convidados naquela tarde. Lá no Tribunal, o desembargador Jones Figueiredo, junto a demais magistrados presentes, se mostrou disposto a tomar as devidas providências para que as vidas das três crianças pudessem ser salvas. Neste encontro também estava presente o pai da criança. Depois de um bom tempo de encontro, deixamos o Tribunal esperançosos de que as vidas das crianças ainda poderiam ser salvas.

Já a caminho do Palácio dos Manguinhos, residência do Arcebispo, por volta das cinco e meia da tarde, Dom José Cardoso recebeu um telefonema do Diretor do IMIP no qual ele lhe comunicava que um grupo de uma entidade chamada Curumins, de mentalidade feminista pró-aborto, acompanhada de dois técnicos da Secretaria de Saúde de Pernambuco, teriam ido ao IMIP e convencido a mãe a assinar um pedido de transferência da criança para outro hospital, o que a mãe teria aceito. Sem saber do fato, cheguei ao IMIP por volta das 18 horas, acompanhado dos Conselheiros Tutelares de Alagoinha para visitar a criança. A Conselheira Maria José Gomes subiu ao quarto andar para ver a criança. Identificou-se e a atendente, sabendo que a criança não estava mais na unidade, pediu que a Conselheira sentasse e aguardasse um pouco, porque naquele momento “estava havendo troca de plantão de enfermagem”. A Conselheira sentiu um clima meio estranho, visto que todos faziam questão de manter um silêncio sigiloso no ambiente. Ninguém ousava tecer um comentário sequer sobre a menina.

No andar térreo, fui informado do que a criança e sua mãe não estavam mais lá, pois teriam sido levadas a um outro hospital há pouco tempo acompanhadas de uma senhora chamada Vilma Guimarães. Nenhum funcionário sabia dizer para qual hospital a criança teria sido levada. Tentamos entrar em contato com a Sra. Vilma Guimarães, visto que nos lembramos que em uma de nossas primeiras visitas ao hospital, quando do assédio de jornalistas querendo subir ao apartamento onde estava a menina, uma balconista chamada Sandra afirmou em alta voz que só seria permitida a entrada de jornalistas com a devida autorização do Sr. Antonio Figueiras ou da Sra. Vilma Guimarães, o que nos leva a crer que trata-se de alguém influente na casa. Ficamos a nos perguntar o seguinte: lá no IMIP nos foi afirmado que a criança estava correndo risco de morte e que, por isso, deveria ser submetida ao procedimentos abortivos. Como alguém correndo risco de morte pode ter alta de um hospital. A credibilidade do IMIP não estaria em jogo se liberasse um paciente que corre risco de morte? Como explicar isso? Como um quadro pode mudar tão repentinamente? O que teriam dito as militantes do Curumim à mãe para que ela mudasse de opinião? Seria semelhante ao que foi feito com o pai?

Voltamos ao Palácio dos Manguinhos sem saber muito que fazer, uma vez que nenhuma pista nós tínhamos. Convocamos órgãos de imprensa para fazer uma denúncia, frente ao apelo do pai que queria saber onde estava a sua filha.

Na manhã da quarta-feira, dia 4 de março, ficamos sabendo que a criança estava internada na CISAM, acompanhada de sua mãe. O Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (FUSAM) é um hospital especializado em gravidez de risco, localizado no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife. Lá, por volta das 9 horas da manhã, nosso sonho de ver duas crianças vivas se foi, a partir de ato de manipulação da consciência, extrema negligência e desrespeito à vida humana.Isto foi relatado para que se tenha clareza quanto aos fatos como verdadeiramente eles aconteceram. Nada mais que isso houve. Porém, lamentamos profundamente que as pessoas se deixem mover por uma mentalidade formada pela mídia que está a favor de uma cultura de morte. Espero que casos como este não se repitam mais.

Ao IMIP, temos que agradecer pela acolhida da criança lá dentro e até onde pode cuidar dela. Mas por outro lado não podemos deixar de lamentar a sua negligência e indiferença ao caso quando, sabendo do verdadeiro quadro clínico das crianças, permitiu a saída da menina de lá, mesmo com o consentimento da mãe, parecendo ato visível de quem quer se ver livre de um problema.

Aos que se solidarizaram conosco, nossa gratidão eterna em nome dos bebês que a esta hora, diante de Deus, rezam por nós. “Vinde a mim as crianças”, disse Jesus. E é com a palavra desde mesmo Jesus que continuaremos a soltar nossa voz em defesa da vida onde quer que ela esteja ameaçada. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente” (Jo, 10,10). Nisso cremos, nisso apostamos, por isso haveremos de nos gastar sempre. Acima de tudo, a Vida!

Pe. Edson Rodrigues
Pároco de Alagoinha-PE
padreedson@hotmail.com

Carta aberta – apoio a Dom José

Sua Excelência Reverendíssima,
Dom José Cardoso Sobrinho,
Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife,

Faço questão de divulgar, e com muito orgulho, a presente carta aberta de apoio a Vossa Excelência Reverendíssima. Faço questão de juntar a minha voz à voz de outros tantos católicos que escreveram em solidariedade a V.E.R. (como a carta escrita por uma católica do Rio de Janeiro e publicada hoje no Veritatis Splendor, que subscrevo integralmente), desejando também eu manifestar publicamente o meu mais sincero apoio a Vossa Excelência, Dom José, que é vítima injustiçada de terrível perseguição realizada pela mídia, pelo único fato de ter sido Vossa Excelência fiel ao mandato que recebeu de pastorear as ovelhas do Senhor.

Multiplicam-se acusações infundadas. Fala-se que V.E.R. excomungou a criança, que não teve pena da menina estuprada, que desejava a sua morte, que era indiferente ao sofrimento da família, que estava acobertando o estuprador, etc, etc, etc. Tudo falso; a única coisa que fez Vossa Excelência Reverendíssima – e fez muito bem – foi levantar a voz em defesa das duas crianças, dos dois irmãos gêmeos, que foram covardemente assassinados por culpa de um crime que não cometeram. A única coisa que Vossa Excelência fez foi chamar a atenção para a gravidade deste crime horrendo – que clama aos Céus vingança! -, quando ninguém lhe prestava atenção. A única coisa feita por Vossa Excelência foi comunicar a todo mundo que a pena prevista pelo Direito Canônico – que, aliás, independe completamente da vontade de Dom José ou de qualquer outro bispo – para os que cometem o crime bárbaro do aborto é a excomunhão. O inferno, por causa disso, urra de raiva.

Nós, no entanto, só podemos agradecer. Obrigado, Dom José, pelo Arcebispo fiel que V.E.R. é, como poucos existem hoje em dia. Obrigado, Dom José, por V.E.R. ter se pronunciado claramente contra o crime horrendo que foi praticado no solo de Recife, sob o olhar complacente da mídia, contando até mesmo com o apoio e incentivo de criminosos contra os quais a voz de Vossa Excelência foi a única a ser levantada. Obrigado, Dom José, pela radical fidelidade à Igreja de Nosso Senhor, expressa – uma vez mais – no desapego de si próprio e na aceitação voluntária da perseguição, tudo isso para não se calar diante de uma flagrante injustiça. Obrigado, Dom José, porque nós nos sentimos seguros sob o báculo de V.E.R., com a certeza de que temos a nos guiar um pastor fiel, verdadeiramente compromissado com a Igreja de Cristo e com um santo zelo pelas coisas divinas. Obrigado, Dom José; enquanto o inferno ruge, os Céus estão em festa com a atitude heróica de V.E.R., que não pode, do povo católico fiel, receber senão apoio e admiração.

Obrigado, Dom José Cardoso; Vossa Excelência conta com a nossa mais completa solidariedade, e estamos sinceramente dispostos a sofrer o que quer que seja necessário para a defesa de V.E.R., só pela – imerecida! – honra de sermos contados entre aqueles que padecem sofrimentos pela radical e intransigente defesa dos ensinamentos de Nosso Senhor. Alegramo-nos com Vossa Excelência pelas tribulações atravessadas por V.E.R.; exultamos, porque sabemos que a justa recompensa de Vossa Excelência será grande nos Céus. O Justo Juiz tudo vê; e Sua Mãe Santíssima, Maria, Mãe da Igreja, saberá recompensar àqueles que são servos fiéis do Seu Divino Filho.

Com a minha mais sincera admiração,
subscrevo-me, em Cristo,
Jorge Ferraz
Católico, Arquidiocese de Olinda e Recife

P.S.: também subscrevem estas linhas:

João de Barros – Belo Horizonte/MG
Claudemir Pacheco – Recife/PE
Leonardo Silvestre – São João Del Rei/MG
Rodrigo Pedroso – São Paulo/SP

Ainda sobre o aborto e a excomunhão

Alguns ligeiros esclarecimentos e comentários sobre o triste desfecho do caso das duas crianças que foram brutalmente assassinadas em Recife sob o beneplácito e – não raro – até mesmo apoio da opinião pública se fazem necessários, graças à enxurrada de “opiniões” desinformativas que estão circulando por aí, às quais é necessário contrapôr a verdade dos fatos.

Excomunhão é uma pena canônica da Igreja Católica que a Ela interessa e a mais ninguém; tem efeitos jurídicos dentro da Igreja, e dizer que, para a sociedade, “não faz diferença” estar ou não excomungado é dizer uma obviedade, dado que, no nosso país, o Direito Canônico é completamente estranho ao Direito Civil.

– Igualmente, querer impôr à Igreja como Ela deve agir e como deve deixar de agir, dizendo quais pessoas deveriam ser excomungadas e quais não deveriam, é uma impropriedade e uma clara intromissão de estranhos em assuntos que não conhecem e que extrapolam a sua competência. A Igreja não é a casa da Mãe Joana onde todo mundo mete o bedelho e qualquer um pode dar opinião; rege-se Ela pelo Direito Canônico, e não pela [má] vontade de fulanos e sicranos que só se lembram da Igreja quando é para descer o sarrafo n’Ela. Citando um só exemplo de vários que poderiam ser trazidos, o senhor presidente da República: “Como cristão e como católico, lamento profundamente que um bispo da Igreja Católica tenha um comportamento conservador como este”. Sem comentários.

Excomunhão não significa “passaporte para o inferno”; de acordo com o Código de Direito Canônico, cân. 1331, “§1. Ao excomungado proíbe-se 1°- ter qualquer participação ministerial na celebração do sacrifício da Eucaristia ou em quaisquer outras cerimônias de culto; 2°- celebrar sacramentos ou sacramentais e receber os sacramentos; 3°- exercer quaisquer ofícios, ministérios ou encargos eclesiásticos ou praticar atos de regime; […] §2. Se a excomunhão tiver sido imposta ou declarada, o réu: 1° – se pretende agir contra a prescrição do § 1, n. 1, deve ser afastado, ou então deve ser suspensa a ação litúrgica, a não ser que grave causa o impeça; 2° – pratica invalidamente os atos de regime que de acordo com o § 1, n. 3, são ilícitos; 3° – fica proibido de gozar dos privilégios anteriormente concedidos; 4° – não pode conseguir validamente dignidade, ofício ou qualquer outro encargo na Igreja; 5° – não percebe os frutos de dignidade, ofício, encargo ou pensão que tenha na Igreja”. Ou seja, como foi já dito, trata-se de uma pena canônica cujos efeitos são muito bem especificados, e o “passaporte para o inferno” não consta entre eles.

– Tampouco a excomunhão é uma pena irreversível; havendo arrependimento, é possível ao penitente, por meio do Sacramento da Confissão, receber o perdão de Deus e o levantamento das penas canônicas (inclusive a excomunhão) nas quais porventura ele tenha incorrido.

– O Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, não excomungou ninguém; a excomunhão automática para quem pratica aborto está tipificada no Código de Direito Canônico, e aplica-se indistintamente a qualquer católico, quer haja pronunciamento da autoridade competente (no caso, o Bispo), quer não. Segundo o Código, cân. 1398, “[q]uem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae”. Portanto, os que provocaram o aborto da menor, em Recife, incorreram na excomunhão automática que está prevista pelo Código de Direito Canônico (e que vale para toda a Igreja), e não numa suposta excomunhão que tenha sido aplicada pelo Arcebispo. Dom José apenas comunicou que os assassinos de crianças e seus cúmplices já haviam incorrido – desde a morte dos fetos – na excomunhão prevista pelo Direito Canônico.

– A criança de nove anos, obviamente, não está excomungada, por diversos motivos, bastando citar aqui o mais evidente: segundo o Código, cân. 1323, “[n]ão é passível de nenhuma pena, ao violar lei ou o preceito (…) quem ainda não completou dezesseis anos de idade”.

– A mera constatação de um fato (no caso, da excomunhão), feita pelo Arcebispo de Olinda e Recife, não significa, de modo algum, que a Igreja não se preocupe com a saúde da menina, nem que não dê a devida importância ao crime bárbaro do estupro, nem que deseje impôr um sofrimento à família, nem nada parecido. A existência de um crime bárbaro, por ninguém negado – o estupro – não faz com que seja moralmente lícito praticar um outro crime horrendo – o assassinato das duas crianças. Igualmente, dizer que é errado assassinar crianças não implica, sob nenhuma ótica minimamente racional, que se esteja relativizando a gravidade dos outros aspectos envolvidos (o estupro, a possibilidade de risco para a criança, etc).

– Para saber mais, aqui, no Deus lo Vult!, “Estão excomungados” (comentários), onde a discussão já desde ontem está correndo; igualmente, “O bufão da Globo” (comentários), sobre os infelizes comentários do Jabor sobre o assunto.

O bufão da Globo

Eu não ouvi – graças a Deus, e para a preservação da minha boa noite de sono – as besteiras que o Arnaldo Jabor falou ontem no Jornal da Globo. Só hoje fiquei sabendo que, para honra e glória de Nosso Senhor e desta terrinha de onde eu escrevo estas linhas, o escolhido de ontem para ser o objeto da fúria do comentarista da Globo foi Dom José Cardoso Sobrinho, Arcebispo fiel da Igreja de Deus, de quem eu tenho a imerecida graça de ser súdito indigno. Que grande honra! Ser atacado – em rede nacional – pelo Arnaldo Jabor no Jornal da Globo não é para qualquer um.

Lembro-me de que, há quase quatro anos, quando o Santo Padre João Paulo II estava doente, o comentarista mal-assombrado apareceu na madrugada para pedir a “eutanásia” do Papa. Lembro-me de que, no mês passado (registrei até aqui como um p.s.), esta excrescência pseudo-jornalística veio falar mal de Bento XVI. Se, ontem, foi Dom José o alvo da sanha doentia do Jabor, eu só posso dar graças a Deus porque o meu Arcebispo está em muito boa companhia – em verdadeira comunhão efetiva com o Santo Padre, até mesmo na lista negra dos inimigos da Igreja!

Não consigo ouvir o link da CBN, mas a fala do comentarista da Globo está transcrita aqui (na íntegra, eu suponho). Já começa o bufão evocando imagens (para ele) odiosas: “lá do fundo da idade média, este arcebispo (…)”. Deixando claro desde já – e prescindindo de qualquer argumento para isso, por meio do simples efeito mágico dos chavões que ele bovinamente repete – que Dom José é uma pessoa retrógrada e ultrapassada, e que ele – o Jabor – é o Arauto do Novo Século, o porta-voz da esperança contra o obscurantismo, o profeta que anuncia a derrocada da Idade das Trevas. Idade das Trevas! E quanto a este século no qual vivemos, onde se permitem que crianças sejam brutalmente assassinadas, e o crime horrendo, longe de ser planejado e executado às ocultas, é realizado à luz do dia, sob os holofotes da mídia, e saudado como um sinal de progresso pelos comentaristas da Rede Globo et caterva? Do que poderemos chamá-lo? A alcunha da qual se utiliza o Jabor como epígrafe do seu cretino comentário carrega em si uma completa inversão de valores que se transformou em senso comum graças à maciça propaganda anti-clerical (principalmente) das últimas décadas. “Do fundo da idade média”! Arnaldo Jabor não quer fazer uma análise razoável dos fatos, ele não tem capacidade para isso. Ele quer debochar, zombar, escarnecer: assume algumas posições a priori (coisas como “a Igreja é retrógrada”, “viva o aborto”, etc. – tudo isso não é dito expressamente, mas está subjacente ao discurso jaboriano), exime-se de apresentá-las ou justificá-las, e passa a tecer o seu discurso baseado nessas premissas (não tão) ocultas. Que credibilidade merece esse sujeito?

E começa o show de cretinices, entre mentiras e insinuações, entre meias-verdades e inverdades completas: “leis de Deus feitas por homens”, “queimaram Santa Joana d’Arc”, “João Paulo II era progressista”, “Bento XVI não ama os desvalidos” (complemento óbvio do pensamento dele, ao falar sobre João Paulo II), “os olhos frios de Bento XVI”, pedofilia entre padres, negação do holocausto… é um excelente compêndio dos chavões mais caducos e mais rasteiros que os inimigos da Igreja propagam por aí. Tem o mérito o Jabor de fazer a coletânea; ao que parece, contudo, ele não é capaz de identificar a natureza do excremento que manipula.

Termina o profeta fantasmagórico com uma das maiores pérolas da hipocrisia televisiva moderna que eu já tive o desprazer de encontrar:

Os excomungados de Olinda não devem ter medo. Deus está vendo e está com eles.

Certamente não está com esse inquisidor, o arcebispo José Cardoso Sobrinho.

Ah, claro. Uma pena que age no foro externo, como a excomunhão, não pode ser aplicada porque o “carrasco” é imediatamente acusado de ser um inquisidor surgido sabe-se lá de quais profundezas da Idade Média. Agora, o comentarista se arroga o direito de invadir o foro interno e julgar com quem o Todo-Poderoso está e com quem Ele não está, exprimindo a própria infalibilidade com a sentença que começa por “certamente”. “Certamente” Deus não está com o Arcebispo; assim falou o enviado dos Céus, o Porta-Voz do Altíssimo:  Jabor locuta, causa finita! Cometendo – em uma escala infinitamente maior – o mesmo pecado do qual acusa o Arcebispo de Olinda e Recife, o comediante da Globo revela – uma vez mais – que não passa de uma grande piada. Será possível que ainda haja gente acreditando que dá para levar este palhaço a sério?

Estão excomungados

Louvado seja Deus, porque nós temos um bispo“Arcebispo diz que quem participou do aborto da menina de 9 anos está excomungado”. Enquanto isso, há deputados que não estão gostando da atitude de Sua Excelência: Pedro Eurico (PSDB) classificou como “retrógrada, das trevas e da idade média” a postura do arcebispo de Olinda e Recife. Enquanto isso, os comentários da notícia que falam sobre a excomunhão estão repletos de ódio a Dom José Cardoso. Enquanto isso, eu recebo emails de senhoras ditas católicas – que propagam um respeito seletivo aos sacerdotes – chamando Sua Excelência de “padreco” e dizendo que é por causa de “bispos” (as aspas são dela) como ele que a Igreja perde Seus fiéis. Enquanto isso, o inferno urra e escarnece dos filhos de Deus; mas os católicos fiéis se regozijam, e os Céus estão em festa, porque um Sucessor dos Apóstolos digno da posição que ocupa é perseguido por ódio a Deus, e é atacado por causa de sua fidelidade a Nosso Senhor. “Combati o Bom Combate”, poderá dizer Dom José Cardoso!

Ontem à noite, o arcebispo tentou falar com o governador Eduardo Campos para pedir que nenhum hospital público do estado fizesse o aborto, mas não conseguiu falar com o governador por telefone. Conseguiu, apenas, falar com o presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), Jones Figueiredo, e com o diretor do Imip, Antonio Figueira, para pedir a suspensão do aborto.
[Diário de Pernambuco – 04 de março de 2009]

Obrigado, Dom José, por Vossa Excelência ser para nós pastor atento, sentinela fiel!

Não estamos sós!

Se existem pessoas que se dizem católicas e que não aceitam essa doutrina, essas pessoas não podem se chamar católicas. São católicos de IBGE, porque o católico de verdade tem que aceitar a doutrina da sua Igreja. Quem se diz católico e rejeita a doutrina, é um católico falso, está propagando apenas as suas opiniões.
[Dom José Cardoso Sobrinho, in Aborto em Foco]

Cronologia de um assassinato

26 de fevereiro de 2009: Padrasto suspeito de engravidar enteada de nove anos. Menina espera gêmeos.

28 de fevereiro de 2009: Família de criança grávida autoriza aborto. [nota: aparentemente, “família” aqui significa apenas a mãe da criança]

01 de março de 2009: Menina de nove anos grávida de gêmeos continua internada para aborto.

02 de março de 2009: Denunciei aqui o assassinato em curso.

02 de março de 2009: Pai da menina é evangélico e contrário ao assassinato dos netos; aborto da menina estuprada pelo padrasto nas mãos da justiça.

03 de março de 2009: Elogiei aqui o exemplo comovente de um pai.

03 de março de 2009: Mãe pede alta [do IMIP] da menina estuprada por padrasto. [nota: aparentemente, a mãe – em decisão unilateral e à revelia do pai – tirou a criança do IMIP para que ela abortasse]

03 de março de 2009 [noticiado no dia seguinte]: Dom José luta contra aborto da menina. Sobre o mesmo assunto: Igreja vai denunciar aborto ao Ministério Público. [nota: aparentemente, as ONGs abortistas eram as mais interessadas em fazer com que o aborto fosse realizado o mais depressa possível]

04 de março de 2009: Menina de nove anos estuprada pelo padrasto é submetida a aborto em Recife. Sobre o mesmo assunto: Menina de nove anos aborta gêmeos. Aqui no Deus lo Vult!, ri-se Satanás.

Kyrie, eleison.
R.I.P.

Sobre o esplendor da hipocrisia

Encontrei um pequeno texto – disponível no blog “Pacientes na Tribulação” – que se chama “O esplendor da hipocrisia” e se presta a atacar o Veritatis Splendor por um artigo sobre o Magistério da Igreja que foi publicado lá no final do mês passado. Ao terminar de ler o texto – do “Pacientes na Tribulação” -, fico com a incômoda impressão de que o seu autor incorre quase no mesmo erro de que acusa o Veritatis.

Este é acusado de falsificar os “argumentos tradicionalistas”:

Argumento Tradicional: O Magistério Ordinário pode ser rejeitado quando apresentar erros contra a Fé.

Deturpação do argumento: o Magistério Ordinário pode ser rejeitado sempre e livremente

Oras, eu não tenho procuração para defender o Veritatis Splendor, mas há dois problemas com o “argumento tradicional” da maneira como é apresentado que preciso apontar. Primeiro problema: é necessário demonstrar de maneira clara e insofismável que o Magistério Ordinário é passível de apresentar erros contra a Fé, pois esta proposição é bastante discutível (aliás, antes disso, é necessário definir precisamente o que significa “Magistério Ordinário”). Segundo problema (e este é o mais sério): concedendo que seja possível ao Magistério Ordinário apresentar erros contra a Fé, a quem compete julgar se, num situação concreta, tal coisa se observa ou não?

Às vezes, eu tenho a impressão de que alguns “tradicionalistas” comportam-se como se a existência de “erros contra a Fé” nos textos conciliares fosse uma evidência incontestável. Como se o Concílio tivesse dito expressa e inequivocamente heresias. Justamente os que acusam o Concílio de “ambigüidade”, agem no entanto como se o seu problema fosse não este, e sim o de heresias explícitas. Lembram-me um pouco alguns que se dizem agnósticos e, começando por dizer que não dá para saber se Deus existe, comportam-se contudo como se fosse certa a Sua não-existência.

Os supostos “erros contra a Fé” do Vaticano II são extremamente discutíveis. Não apenas por mim, porque a minha opinião tem bem pouca importância: os Papas – portanto, o Magistério – nunca afirmaram que houvesse erro contra a Fé no Concílio e, ao contrário, sempre corroboraram a sua ortodoxia e a sua perfeita harmonia com a Doutrina Tradicional. Se, portanto, o “argumento tradicional” diz que só se pode rejeitar o Magistério Ordinário quando este contém “erros contra a Fé”, tal argumento não justifica a rejeição do Vaticano II, posto que o Magistério da Igreja (o único intérprete autorizado do Concílio) já afirmou que este não contém erros contra a Fé.

A menos que seja possível ao leigo contradizer o Magistério da Igreja e afirmar que existem erros onde o Magistério diz que eles não existem; a menos que seja da competência de qualquer fiel julgar os textos magisteriais para discernir, por conta própria, se, neles, há erros ou não há. E, se for este o “argumento tradicional”, então a “deturpação” do Veritatis corresponde quase perfeitamente à realidade: se qualquer um pode “sempre e livremente” pegar os textos do Magistério e sentenciar por conta própria que eles contêm “erros contra a Fé”, então isso é, na prática, equivalente a dizer que qualquer um pode, sim, rejeitar sempre e livremente o Magistério Ordinário, bastando para isso proferir a sentença condenatória de heresia. Apresentando, pois, o “argumento tradicional” de uma forma abstrata e destoante da sua aplicação concreta na realidade, há pelo menos tanta “falsificação” aqui quanto na caricaturização feita pelo Veritatis.

Quanto a isso, por fim, já houve – e, aliás, ainda há – na história da Igreja uma coisa muito parecida com isso, só que ao contrário: quando da condenação do Jansenismo, alguns católicos disseram que, nos textos de Jansenius condenados, não havia heresia, a despeito dos papas afirmarem com muita clareza que, sim, havia. Existe um interessante artigo (cuja leitura vale muito a pena – procurem por The heresy of the anti-Jansenist popes) “provando” que os Papas da época cometeram heresias, ao condenar proposições que não poderiam ser condenadas (porque – óbvio, segundo eles – já aprovadas anteriormente pela Igreja). Tal artigo prova que há heresia em Inocente X, Clemente XI, e até mesmo em São Pio V (!). Note-se que é um artigo atual; há, hoje em dia, pessoas defendendo essas coisas. Estes tradicionalistas que se auto-atribuem o múnus de contradizer os papas no tocante ao Vaticano II agem, provavelmente sem o saber, com a exata mesma mentalidade dos que se permitem dizer que a condenação do jansenismo foi herética. Não acredito, ao contrário do “Pacientes na Tribulação”, que haja uma argumentação hipócrita nestes que me proponho a refutar aqui; no entanto, há – para dizer o mínimo – sem dúvidas uma excentricidade, que não é sadia e não faz bem à Igreja de Nosso Senhor.

Pequena Lia contra o aborto

Apenas registrando, porque já faz mais de uma semana que o Murat comentou: é reconfortante ver a pequena Lia, canadense, de 12 anos, falando contra o aborto; é excelente ver que as novas gerações já não mais engolem os sofismas caducos dos defensores do assassinato de crianças. Há esperança para o futuro, e ela é personificada por esta pequena garota, que teve a coragem de tratar – com tanta desenvoltura! – de um tema tão grave, defendendo uma posição tão estigmatizada.

O vídeo já passou das 450.000 views; é impressionante. O Julio Severo traduziu uma reportagem de LifeSiteNews.com sobre o assunto. A garota deve ser o orgulho da mãe:

A mãe de Lia diz que o assunto foi escolhido pela própria filha, e que ela estava determinada a não ceder, até mesmo depois que os professores lhe disseram que sua apresentação era “adulta demais” e “polêmica demais”.

Que Deus nos conceda gerações e mais gerações de Lias – para a salvação do mundo!