Impressões sobre Brasília

– Brasília é uma cidade bonita. Pensei que iria achar a cidade mais feia; no entanto me surpreendi. É uma beleza toda particular, que não sei bem descrever e (infelizmente!) não tenho fotos para pôr aqui, já que o meu telefone descarregou e eu esqueci o carregador em Recife. C’est la viè.

– Sair de Recife para Brasília é uma coisa de outro mundo. Aqui, as pessoas saem à noite, andam a pé, vão até a praça, sobem na tocha, sentam diante dos candangos, param o carro e ligam o som… em uma palavra, aqui não existe (pelo menos não encontrei) o terror de se andar nas ruas que temos na minha terra natal. Isso faz com que sejam possíveis coisas que julguei só encontrar no primeiro mundo (p.ex., na Sacré Coeur): adoração perpétua a nível arquidiocesano. Há uma “escala” de paróquias e movimentos para que se revezem diante do Santíssimo exposto, que está assim permanentemente (manhã, tarde, noite e madrugada). Em Recife só temos adoração perpétua nas casas religiosas (como na Toca de Assis), e uma paróquia aberta vinte e quatro horas é uma idéia completamente inconcebível para um recifense (afinal de contas, de noite ninguém poderia ir até lá). Talvez seja ignorância nordestina minha, mas… isso existe em algum lugar?

– Recebi informações de que a catedral de Brasília, sim, havia sido originalmente projetada para ser um templo ecumênico, mas que depois passou a ser exclusivamente católica. Ela tem coisas interessantes, como as estátuas dos quatro evangelistas na entrada, em duas fileiras uma de frente para a outra, três de um lado (São Mateus, São Marcos e São Lucas) e um do outro lado (São João): são os sinóticos e o Quarto Evangelho. Tem uma bonita réplica da Pietà, e outra do Santo Sudário. A entrada dela é uma escada para baixo, ao invés de para cima (como em todas as igrejas que eu já vi na vida): para chegar até Deus é preciso se humilhar, e descer. A arquitetura é funcional e muitíssimo curiosa: pode-se falar em voz baixa na parede (fiz a experiência) que se escuta em alto e bom som no fim da parede, muitos metros adiante. É assombroso.

– Tem a parte negativa sobre a catedral: ela é, sim, completamente estranha à arte católica; é repleta de vitrais dos quais eu tenho ojeriza (vitrais “de nada” – que só têm riscos e cores); a construção circular faz com que não se olhe imediatamente para o altar (como acontece nas igrejas “normais”, onde a pessoa ao entrar tem a atenção automaticamente voltada para o altar e o presbitério); as paredes “lisas” com poucos quadros e pouquíssimas imagens  (não lembro se tem de santos; tem uns anjos pendurados que são bonitos, mas também são estranhos) não preenchem o espaço e não dão a “cara” de uma igreja católica ao prédio; o negócio de “descer” as escadas (de “se humilhar” para chegar até Deus) me parece afrontar as igrejas que têm escadas para cima (que são todas as outras); por trás do altar, fui informado de que o desenho é um óvulo sim, embora não lembre o motivo; não me falaram do útero, mas eu – assim que pus os olhos – disse que, se aquela “bola” era um óvulo, então aqueles “riscos azuis” embaixo dela eram certamente um útero; nos espermatozóides eu não reparei.

– O clima chega a ser quente como Recife (talvez um pouco menos), mas varia um pouco e, hoje, estava mais frio. O céu é bonito, com “as nuvens baixas” e de um bonito colorido no fim da tarde. Muita sede por causa da secura, e um pouco de cansaço por causa da altitude, mas nada de importante – deu para me adaptar bem.

– A história da cidade é interessante; o projeto (o “início” era simplesmente um sinal da cruz, o cruzamento do “eixão” com o “eixo dos monumentos”, onde hoje fica a rodoviária), a forma escolhida (forma “de avião”, com a Praça dos Três Poderes na “cabine” – são eles que dirigem a cidade), a construção (os “candangos” – que têm um monumento na praça – eram os trabalhadores que vieram de longe, muitos dos quais morreram durante a construção da cidade), a idéia das ruas (“tesouras” – retornos – para eliminar os cruzamentos e, assim, diminuir o número de semáforos), o tamanho das construções (“Por que os prédios não podem ter mais do que seis andares? Porque nenhuma pode ser mais alta do que o prédio do Senado”)… tantas coisas!

– Brasília é “a terra prometida”, já que Dom Bosco sonhou com a cidade (Entre os paralelos de 15º e 20º havia uma depressão bastante larga e comprida, partindo de um ponto onde se formava um lago. Então, repetidamente, uma voz assim falou: “…quando vierem escavar as minas ocultas, no meio destas montanhas, surgirá aqui a terra prometida, vertendo leite e mel. Será uma riqueza inconcebível…” – vide a História de Brasília) – disseram-me inclusive que já Dom Pedro II tinha planos de mudar a capital para cá, por causa do sonho do santo.

– As flores do cerrado são coisas curiosíssimas: um tipo de fruto que tem “pétalas” dentro (na verdade, são as sementes do fruto, mas elas têm realmente formato de pétalas, e vêm diversas delas em cada fruto), as quais são usadas com hastes para formar artesenalmente as flores. Comprei algumas para levar pra casa; perguntei ao vendedor: “se eu plantar, nasce em Pernambuco?”, “ah, em Pernambuco não, só nasce onde chove”… Eu mereço…

– É tarde e dormir é preciso. Boa noite.

Pisando no freio…

Num hotel em Brasília, após duas horas e meia de vôo. Recém-chegado; vim ao IV Encontro de Juventude e Família do Regnum Christi, que começa amanhã à noite. Mia prima volta na capital do país, onde até então só estive em conexões do aeroporto. Espero ter oportunidade de (re)encontrar algumas pessoas, conhecer um pouco a cidade… essas coisas.

Pretendo pôr algumas informações sobre o encontro, mas provavelmente serão sucintas, com atualizações só à noite e com horas roubadas ao sono (tenho por princípio ser comedido no sono durante as viagens, mas afinal de contas dormir – ainda que pouco – também é preciso). Volto a Recife na noite do domingo, se o bom Deus o permitir.

Que a Virgem Santíssima abençoe-nos a todos.

Direitos Humanos, Bento XVI e Paulo VI

O Papa diz que Deus é o fundamento verdadeiro dos Direitos Humanos, conforme notícia de ZENIT desta quarta-feira. Lembrança muitíssimo oportuna, pois o caráter anti-cristão da Organização das Nações Unidas – evidente de modo particular em questões como o aborto e o homossexualismo – apresenta-se hoje sem máscaras e sem subterfúgios. Quarenta e três anos atrás, o Papa Paulo VI disse algumas palavras num discurso proferido na ONU – data vênia, ingênuas e otimistas por demais – onde afirmava estar convencido “de que esta Organização representa o caminho obrigatório da civilização moderna e da paz mundial”. Creio que, se o Pontífice pudesse contemplar a degradação da ONU que hoje se apresenta sem máscaras e sem enfeites, choraria amargamente.

Hoje, Bento XVI é mais realista, e ataca o ponto nevrálgico da questão – o que transforma a Declaração Universal dos Direitos Humanos em uma coisa, na melhor das hipóteses, meramente naturalista, incapaz de se estabelecer como uma referência necessária a todos os povos e, na verdade, carregando em si uma incoerência intrínseca, na medida em que rejeita Aquele que é capaz de dar sustentação aos verdadeiros direitos humanos. A Declaração não fala uma única vez em “Deus”; o Papa Bento XVI vai dizer que “os direitos do homem estão fundamentados em última instância em Deus criador, que deu a cada um a inteligência e a liberdade. Quando se prescinde desta sólida base ética, os direitos humanos se enfraquecem, pois ficam sem seu fundamento sólido”.

Os tempos mudaram. Também Paulo VI, no final do já citado discurso à ONU, disse a mesma coisa:

Numa palavra, o edifício da civilização moderna deve construir-se sobre princípios espirituais, os únicos capazes não apenas de o sustentar, mas também de o iluminar e de o animar. E esses indispensáveis princípios de sabedoria superior não podem repousar —  é Nossa convicção, vós o sabeis —  senão na fé em Deus.

À época, no entanto, tenho a impressão de que ficou apenas o elogio feito pelo Papa, e não o chamado à necessidade de que os Direitos Humanos fossem em Deus radicados. Sempre ouvi críticas a Paulo VI por ele ter dito que a ONU era “o caminho obrigatório (…) da paz mundial”; em contrário, nunca ouvi ninguém defendê-lo dizendo que o mesmo papa, no mesmo discurso, chamou a atenção para aquilo que hoje recorda o Papa Bento XVI gloriosamente reinante: os verdadeiros direitos humanos se fundamentam em Deus e, sem Ele, enfraquecem-se necessariamente.

Os verdadeiros direitos humanos são, assim, o que a Igreja chama de lei natural, “escrita por Deus na consciência humana”; a primeira defensora e promotora dos verdadeiros direitos humanos é, portanto, a Igreja Católica Apostólica Romana, a quem Deus Nosso Senhor confiou a plenitude da Verdade Revelada e a missão de fazer esta Verdade conhecida de todos os homens e povos. Em sentido estrito e próprio, por conseguinte, é a Igreja Católica que é o “caminho obrigatório da civilização moderna e da paz mundial”, pois é somente a Igreja Católica a defensora dos verdadeiros direitos humanos em sua integridade e sem incoerências. Qualquer outra realidade existente – pessoas, nações ou organizações – só poderá apresentar-se como “um caminho para a paz” na exata medida em que estiver em estreita sintonia com a Igreja de Nosso Senhor. Esta regra aplica-se também à ONU; se as circunstâncias históricas fazem com que os papas tenham convicções diferentes – Bento XVI não recomenda hoje a ONU como caminho obrigatório de absolutamente nada, ao que me conste -, tanto na década de 60 como hoje os sucessores de Pedro afirmam em uníssono a mesma verdade incontestável: somente Deus é o alicerce seguro dos direitos humanos.

Niterói: padre excomungado

Eu havia comentado aqui há um mês sobre a valente atitude de Dom Alano, Arcebispo de Niterói, quando do afastamento de um padre e da exigência de uma retratação dos “fiéis” que cometeram o sacrilégio de, em sinal de “protesto” pelo sobredito afastamento, darem às costas (!!!) à celebração da Santa Missa pelo padre designado para assumir a paróquia.

Agora, um mês depois, um amigo sacerdote de Niterói deu-me a triste notícia de que o sacerdote afastado por Dom Alano apostatou e se uniu à “Igreja Católica Apostólica Brasileira”. A mesma notícia foi dada – só vi depois – pelo Fratres in Unum.

Sinceramente, eu não consigo entender o que leva um sacerdote do Deus Altíssimo a trocar a sua dignidade pela primeira igrejola meia-boca e tosca que se lhe apresente. A atitude que provoca escândalo termina por arrastar à perdição também as almas dos fiéis pelas quais o padre apóstata era responsável – a mesma notícia d’O Dia acima linkada fala que “ele celebra no quintal de outra residência missas que vêm atraindo cerca de 150 pessoas”. Cento e cinqüenta almas, arrancadas à Santa Igreja de Deus, arrastadas para a lama por causa de um mau sacerdote!

Nota Oficial da Arquidiocese de Niterói
Nota Oficial da Arquidiocese de Niterói

[clique para ampliar]

Dom Alano teve mais uma vez a valentia – que falta que isto faz nos nossos dias; que exemplo de sucessor dos Apóstolos, sentinela fiel da parcela do povo de Deus a ele confiada! – de denunciar o erro. Em uma nota oficial emitida pela Arquidiocese, afirmou sem arrodeios que o padre incorreu no delito de apostasia e, portanto, “colocou-se fora da nossa comunhão eclesial” – ou seja, foi excomungado. Adverte ainda as pessoas que “participarem das celebrações da ICAB incorrem formalmente no pecado de apostasia e se colocam fora da comunhão da Igreja Católica Apostólica Romana”.

Termina Sua Excelência Reverendíssima pedindo as orações de todos pelo sacerdote e pelos fiéis que estejam tentados a segui-lo em sua loucura, “a fim de que, por intercessão da Virgem Maria arrependam-se de seus erros e retornem um dia ao seio da Verdadeira Igreja de Jesus Cristo”. Rezemos, sim, por esta terrível notícia que é motivo de profunda tristeza para toda a Igreja; e agradeçamos a Deus pela exemplar atitude de Dom Frei Alano Maria Pena, O.P., valente sucessor dos Apóstolos e honra dos filhos de São Domingos.

Assuntos diversos

Foi criada a CPI do aborto! De acordo com a notícia veiculada por G1, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, assinou terça-feira (08) a criação da CPI que “investigará o comércio de substâncias abortivas e a prática de aborto”. Já não era sem tempo;  desde fevereiro que se fala nisso. Rezemos para que o crime seja combatido, e o assassinato de crianças inocentes não seja tratado pela sociedade com indiferença e impunidade.

No Senado, o sen. Gerson Camata “criticou em Plenário a edição de uma cartilha, pelo Ministério da Saúde, intitulada “O álcool e outras drogas alteram seus sentidos, mas não afetam seus direitos no serviço de saúde”, com orientações para o consumo de maconha, crack, cocaína e ecstasy”. A política criminosa de “redução de danos” está ganhando força no Brasil; questiona o senador – muito apropriadamente – “se é lícito usar dinheiro público para ensinar a usar cocaína, crack, maconha”. Um mínimo de bom senso e uma lufada de ar fresco contra os descalabros feitos pelo Ministério do Ataúde – que, ao parecer, só se preocupa em gastar dinheiro financiando  caravanas abortistas Brasil afora, incentivando a depravação das crianças nas escolas públicas, custeando cirurgias mutiladoras para “transexuais” e, agora, ensinando os cidadãos a usarem drogas, enquanto o povo brasileiro sofre com o precário serviço de saúde oferecido pelo Governo.

Frei Betto traz uma “nova versão” do Pai Nosso; ele deve pensar que Nosso Senhor não teve competência para ensinar os discípulos a rezarem como devia, ou deve ter se esquecido daquela passagem bíblica onde Jesus fala que as Suas palavras não passarão jamais. A caricatura blasfema da oração dos filhos de Deus só revela o quanto está perdido o frade (?) dominicano. Que Deus tenha misericórdia dele.

– Ainda falando em blasfêmia, rezemos fortemente em desagravo pelo que fizeram no México: uma modelo como a Virgem Maria na capa da Playboy (!!!). Nem encontro palavras para exprimir o horror diante do horrendo sacrilégio. Que Nosso Senhor tenha misericórdia de nós todos, e a Virgem Santíssima possa aplacar a ira do Todo-Poderoso.

– O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez – que vetou recentemente a lei pró-aborto aprovada pelo Senado do seu país – desvinculou-se do partido socialista ao qual pertencia. Parabéns, mais uma vez, ao político que mostra coerência de vida e intransigência nos valores fundamentais. Aqui, no Brasil, quantas pessoas seriam capazes de fazer isso? Quantos “católicos” vivem em promíscua relação com o partido abortista que hoje governa o país?

O calendário do Vaticano que mostrava algumas fotos de jovens e bonitos padres, e que provocou uma enorme discussão em diversos lugares da internet uns dias atrás, era um hoax! De acordo com este site, eram modelos vestidos de padres, e não sacerdotes verdadeiros. Graças a Deus.

Os sacerdotes e o poder civil

Pela dignidade e autoridade confiada a meus ministros, retirei-os de qualquer sujeição aos poderes civis. A lei civil não tem poder legal para puni-los; somente o possui aquele que foi posto como senhor e ministro da lei divina.
[Santa Catarina de Sena, “O Diálogo”]

A Santa Inquisição foi instaurada por motivos vários, dentre os quais gostaria de mencionar um: para a punição dos maus religiosos que, por serem homens da Igreja, não podiam ser julgados senão por Ela. Quando na Idade Média os cátaros promoviam desordens e eram apanhados, as autoridades civis, ao verem a tonsura, ficavam “de mãos atadas” e não podiam levá-los aos tribunais civis, pois o distintivo de consagração à Igreja [no caso, a tonsura] concedia-lhes o privilégio do foro eclesiástico.

Assim, era natural que, quando do surgimento do catarismo, os criminosos apanhados que ostentassem sinais de pertencerem ao clero fossem entregues à Igreja Católica para que Ela os julgasse. A expressão “braço secular” designava os poderes civis que executavam as sentenças proferidas pelos tribunais eclesiásticos – aqueles apenas executavam a sentença que era proferida por estes. Como eu disse, há outros aspectos na Santa Inquisição; por enquanto, todavia, gostaria me dedicar à questão dos foros específicos para aqueles que eram membros do clero ou das ordens religiosas.

O Papa Pio IX condenou como um erro a seguinte proposição no Syllabus: “[o] foro eclesiástico para as coisas temporais dos clérigos, quer civis quer criminais, deve ser de todo suprimido, mesmo sem consultar-se a Sé Apostólica, e não obstante as suas reclamações”. Em outras palavras: a autoridade civil – como diz Santa Catarina de Sena – não tem poder para julgar e punir os ministros de Deus. Acredito que este possa até ser concedido pela Igreja, mas sempre como uma concessão, e não como um poder verdadeiro e próprio da autoridade civil.

Talvez uma comparação nos faça entender melhor. O princípio da subsidiariedade nos diz que as coisas devem ser tratadas pela menor instância responsável por elas; somente na medida em que estas instâncias se mostram incapazes de solucionar os problemas é que estes devem ser passados às instâncias superiores. Assim, por exemplo, os problemas internos de uma família se resolvem dentro da família, cabendo a intervenção estatal somente quando a família não é capaz – por qualquer motivo – de os resolver. Isto acontece porque a sociedade é uma instância superior à família (afinal, a sociedade civil é “composta” de pequenas sociedades familiares). Isto, no entanto, não acontece com a Igreja, porque o Estado não é uma instância superior à Igreja (como o é à Família) e, por conseguinte, não tem poder próprio de intervir diretamente nas questões eclesiásticas. A Igreja, como sociedade perfeita que é, tem poder de jurisdição para julgar os Seus membros, e este poder deve ser exercido primordial e preferencialmente por Ela própria. Eis, em linhas gerais, o que justifica a existência do foro eclesiástico (criminal inclusive) para o julgamento dos ministros de Deus.

A Igreja reserva este privilégios aos sacerdotes de Deus Altíssimo porque, pela dignidade intrínseca e ontológica que eles possuem – dignidade que os conforma a Jesus Cristo -, não convém que eles estejam sujeitos a uma autoridade inferior (a autoridade temporal). É degradante para a dignidade sacerdotal e injurioso à Igreja de Nosso Senhor quando um sacerdote é tratado pelos poderes civis como um criminoso comum. O poder temporal – como ensina a Igreja – existe para estar a Seu serviço: “As palavras do Evange[l]ho nos ensinam: esta potência comporta duas espadas, todas as duas estão em poder da Igreja: a espada espiritual e a espada temporal. Mas esta última deve ser usada para a Igreja enquanto que a primeira deve ser usada pela Igreja. O espiritual deve ser manuseado pela mão do padre; o temporal, pela mão dos reis e cavaleiros, com o consenso e segundo a vontade do padre. Uma espada deve estar subordinada à outra espada; a autoridade temporal deve ser submissa à autoridade espiritual” (Papa Bonifácio VIII, Bula Unam Sanctam). Não existe autoridade civil com potestade para constranger a Igreja, nem poder temporal que possa de per si julgar e condenar os sacerdotes do Deus Altíssimo.

Sacerdotes são homens e estão – como todos – sujeitos a falhas, sem dúvida. Podem errar tanto em matéria doutrinal quanto civil ou criminal; em qualquer dos casos, no entanto, é a Igreja que detém verdadeira e propriamente o poder de jurisdição sobre eles. Afirmar a primazia da Igreja no julgamento dos Seus ministros não é de maneira alguma relativizar a gravidade das falhas dos sacerdotes ou fazer pouco caso da Justiça; ao contrário, é defender a dignidade intrínseca do sacerdócio e conferir aos ministro de Deus o tratamento que convém ao que eles são. Chesterton diz que um homem nunca age como um animal: ou age muito melhor do que um, quando se comporta como um homem, ou muito pior, quando, esquecendo-se daquilo que é, pratica atos que são próprios de animais irracionais. O mesmo vale para os sacerdotes: nunca agem como “homens comuns”. Se eles viverem realmente como sacerdotes, serão infinitamente superiores aos demais homens e, se esquecerem a sua dignidade e se comportarem como “qualquer um”, estarão se colocando profundamente abaixo deles. E o mesmo vale para os poderes civis: se estes, à revelia da Igreja, tratam os sacerdotes como se sacerdotes não fossem, estão a ofender o Deus Altíssimo, a zombar da dignidade sacerdotal, e a injuriar a Igreja de Deus.

Novo prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos

Vi no Fratres in Unum que o novo prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos é o Cardeal Antonio Cañizares Llovera, arcebispo de Toledo e primaz da Espanha.

Vi em TERRA que o homem tem boas credenciais: desde 2006 é membro da Ecclesia Dei e da Congregação para a Doutrina da Fé.

Vi em ZENIT uma entrevista por ele concedida em 2007, na qual fala contra o laicismo.

Que a Virgem Santíssima abençoe o cardeal espanhol na sua nova missão.

P.S.: na Buhardilla de Jerónimo: [n]o es secreto que Cañizares promovió con especial dedicación en su Arquidiócesis la forma extraordinaria del Rito Romano y la formación de los futuros sacerdotes en su celebración; e ainda: el hasta hoy Arzobispo de Toledo es conocido en España como “pequeño Ratzinger”.

Dai-nos a bênção, ó Virgem Mãe…

No dia da Imaculada, fui ao Morro da Conceição, aqui em Recife, onde existe uma festa muito antiga e muito conhecida. Lembro-me de que meus pais iam ao morro quando eu era pequeno e me levavam; deixei de ir quando entrei na adolescência (por não ter “mais paciência” para essas coisas) e, após reencontrar a Fé da minha infância, não tinha ainda voltado ao morro na festa da Imaculada. Fui lá este ano, pela primeira vez depois de uns dez anos… é bonito ver “a fé do povo”, uma fé simples, mas viva, manifestada nas procissões, nas pessoas que assistem à Santa Missa, nas imagens da Virgem compradas, nas promessas pagas (pessoas vestidas de azul e branco), nas músicas cantadas: “Dai-nos a bênção, ó Virgem Mãe! / Nossa Senhora da Conceição…”.

Primeiro, fui com meus pais aos pés da Virgem Santíssima. Renovar-Lhe o meu afeto e a minha consagração, colocar-me – mais uma vez – a Seu serviço e a Seu inteiro dispôr, como escravo inútil (que, mais que isso, não posso ousar ser). Depois, desci até o Sítio da Trindade, aos pés do Morro, de onde ia sair a procissão – lá os meus pais me deixaram, pois não tiveram coragem de acompanhar o povo. Fui eu, representando a família.

Encontrei um jovem sacerdote de batina e barrete – tinha que ser o pároco, de quem eu já tinha ouvido falar: o padre Josivan. “Padre, sua bênção. O senhor é o pároco?”. Sim, era ele. Um amigo sacerdote de outro estado – que estudou com o pe. Josivan no seminário – sempre me perguntava dele, e eu sempre respondia que, embora soubesse onde fica o morro, não conhecia o pároco. Ontem, mandei-lhe lembranças… mas a procissão já se preparava para sair. Acompanhada no trajeto pela polícia militar, pelo padre, por alguns grupos de movimentos da Igreja (terço dos homens, Legio Mariae, etc), seguia a Virgem SSma. em direção ao morro, e eu A ia seguindo, terço em punho, recitando-Lhe o Santíssimo Rosário.

Mais ou menos uma hora depois, chegamos ao alto do morro, onde a imagem da Virgem foi colocada no palco (preparado para a missa campal) e iniciou-se a Santa Missa, celebrada por Sua Excelência Reverendíssima Dom José Cardoso Sobrinho. Na homilia, a explicação dos textos bíblicos recém-proferidos: como Deus prenunciou a vitória da Virgem Maria lá no Gênesis, e como o Anjo chamou a Virgem Santíssima de “cheia de Graça” – dando assim testemunho da Sua Imaculada Conceição. Uma bela homilia (as aspas não são literais, porque cito de memória; mas, as idéias, são essas sim): “o Papa [Paulo VI] disse que o culto à Virgem Maria é essencial ao cristianismo. Portanto, quem rejeita a Virgem Maria está rejeitando o Cristianismo, porque rejeita uma parte que lhe é essencial”; “não precisamos ter escrúpulos ao rezar à Virgem Maria, pensando que talvez estejamos dando mais atenção a Ela do que a Jesus: não, meus irmãos, isso não existe”; “o católico que se esforça para viver a sua Fé é, automaticamente, um bom cidadão; o bem da sociedade, portanto, alcança-se quando se vive fielmente a Doutrina da Igreja”; “foi por Maria que Jesus veio até nós, e é por Maria que nós devemos ir a Deus”.

Enfim! Após a Santa Missa, voltei para casa, cansado, mas feliz. Como toda festa pública, existe o “lado profano” da festa do Morro – os bares abertos com músicas de baixíssimo nível, as pessoas que lá iam para “se divertir” e não para rezar, etc. -, mas alegrei-me ao descobrir que ainda é possível rezar à Nossa Senhora da Conceição, acompanhando o povo, participando das celebrações, ajoelhando-se aos pés da imagem da Imaculada. Que Ela nos abençoe a todos; que, por Seus méritos, digne-Se Ela conduzir-nos por este mundo com os olhos fitos na Eternidade, para que, caminhando entre as coisas que passam, não abracemos senão aquelas que não passam.

Nossa Senhora da Imaculada Conceição,
Rogai por nós!

P.S.: ontem foi publicada no Veritatis Splendor a História do Dogma da Imaculada, por frei Pascual Rambla; para quem quiser conhecer um pouco mais sobre a Imaculada Conceição da Virgem Maria.

P.S. 2: um grupo de romeiros que se dirigia – a pé – ao morro da Conceição para as festividades de ontem foi vítima de um acidente na madrugada da segunda-feira; sete deles morreram. Que Nossa Senhora da Imaculada Conceição possa receber no Céu aqueles que partiram da terra enquanto se dirigiam para a festa d’Ela. Requiescant in pace.

Prêmio Dardos

premiodardos

A caridade é uma virtude maravilhosa. Graças a ela, este blog recebeu cinco – isso mesmo, cinco! – indicações para o Prêmio Dardos, o que foi para mim motivo de muita alegria. O Deus lo Vult! entrou agora no sei oitavo mês; lendo as palavras gentis – e caridosas, principalmente caridosas! – que os meus amigos utilizaram para se referir a este pequeno espaço virtual, tenho a grata sensação de que o tempo aqui empregado não foi em vão.

Fui indicado pel’O Possível e o Extraordinário, pelo blog da Julie Maria, pelo Meus Pensamentos, pelo Blogocop e pelo De tudo um pouco. A idéia do prêmio é a seguinte:

Com o Prêmio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.

Existem ainda as regras da premiação, que são as seguintes:

  1. Exibir a imagem do selo;
  2. Linkar o(s) blog(s) de onde veio a sua indicação;
  3. Indicar 15 outros blogs para quem entregar o prêmio.

Tenho uma crítica a fazer quanto às regras. Quinze BLOGs indicados são muitos blogs. Conforme o prêmio vai se disseminando e os BLOGs premiados vão elaborando as suas listinhas (ou listonas), vai ficando cada vez mais difícil para que as listas subseqüentes sejam elaboradas. Esta regra deveria ser para, no máximo, cinco blogs (três já estava de bom tamanho). Mas, como não tenho poder para alterar as regras (quem foi que criou o Prêmio Dardos?), fica apenas a sugestão e, por ora, ainda estão valendo as regras vigentes.

Pois bem! Eis, portanto, a minha lista de indicados:

Blog do Fernando: o jeito como o homem do saco vê o mundo! Blog do Fernando Tavolaro.

Estilo Macho: “Comidas, bebidas, charutos, cigarros, armas, roupas e outros prazeres: para machos sofisticados!”. O autor dispensa apresentações: Rafael Vitola Brodbeck.

Amo Roma!: de um grupo de amigos daqui de Recife, da Paróquia da Torre. “Fica dito desde já: aqui ressoa a voz da Igreja. Com nossas pobres palavras, é verdade; com nosso parco vocabulário”. ;-)

O Castelo de Aquino: de um jovem professor católico carioca, e caríssimo amigo, o Thiago Amorim.

Fazei o que Ele vos disser: blog pessoal da Evelyn Mayer, “[u]ma filha de Deus, jovem mulher, esposa e mãe desejosa em cumprir a doce missão que o Senhor me deu”.

ICTYS: uma verdadeira pérola que precisa de mais atualizações! Nem que sejam em espanhol… Blog do Joathas Bello.

O Ultrapapista Atanasiano – a Verdade Contra o Mundo: por Carlos Eduardo Maculan e sua “mais que amada” Izabel Ribeiro Filippi.

Miscelâneas Multiformes: Luíza Helena, brasiliense, cientista política, violeira e escritora nas horas vagas! Blog pessoal.

O Pulo do Tamanduá: blog excelente que bem que poderia ser reativado! Do Luiz Silva – recifense que agora está em Brasília -, vulgo Retrógrado Reacionário da Silva.

Acarajé conservador: o título é bem adequado ao autor. Trata-se do blog do ” Grupo de Estudos do Pensamento Conservador – BA”.

Oblatvs: acredito que seja de um padre de Campos. Comentários sobre notícias atuais.

Cultura da Vida: “atualizado diariamente”. Por Silvio Medeiros e Karen Fernandes, “é um espaço orientado para o resgate do valor da dignidade humana, em todas as suas etapas: do início ao seu fim natural”.

Diga não à erotização infantil: não é um blog religioso, mas faz um excelente trabalho na defesa da infância.

Tubo de Ensaio: do Marcio Antonio, na Gazeta do Povo. Blog sobre ciência e religião.

“Erguei-vos, Senhor”: last but not least, o novíssimo blog de um precioso amigo de todas as horas e todas as circunstâncias, o Gustavo Souza.

Enfim! Obrigado, mais uma vez, aos que indicaram o Deus lo Vult!, e parabéns aos contemplados!

Sobre músicas protestantes

Tenho uma natural repulsa a músicas protestantes. O problema não é propriamente teológico – porque, como alguém já apontou, se a música não contiver heresias ela é uma música católica, num sentido análogo àquele em que a “fé protestante” em Jesus Cristo como Deus e Senhor não é uma “fé protestante”, e sim a exata Fé Católica -, mas sim PASTORAL. É muitíssimo inconveniente que os católicos sejam levados a acreditar que não tem problema algum em ser herege protestante, já que as músicas deles podem ser usadas pelos católicos. É inconveniente que os católicos tomem gosto por músicas que são intrinsecamente pobres (já que há uma gama enorme de verdades da Fé Católica que os protestantes nunca colocarão em suas músicas, porque não as aceitam). É inconveniente favorecermos os grupos heréticos, quando poderíamos favorecer e fomentar os grupos católicos. Enfim, a utilização de músicas reconhecidamente protestantes (excluo deste rol aquelas que já se tornaram praticamente de domínio público, e que quase ninguém associa ao protestantismo quando a escuta) por católicos é muito inconveniente.

Trago as considerações do excelente Dom Estêvão, de saudosa memória, sobre o assunto, publicadas na Pergunte & Responderemos (n/] 516, 2005):

“Não é conveniente adotar cânticos protestantes em celebrações católicas pelas razões seguintes:

1)Lex orandi lex credendi (Nós oramos de acordo com aquilo que cremos). Isto quer dizer: existe grande afinidade entre as fórmulas de fé e as fórmulas de oração; a fé se exprime na oração, já diziam os escritores cristãos dos primeiros séculos.

No século IV, por ocasião da controvérsia ariana (que debatia a Divindade do Filho), os hereges queriam incutir o arianismo através de hinos religioso, ao que Sto. Ambrósio opôs os hinos ambrosianos.

Mais ainda: nos séculos XVII-XIX o Galicanismo propugnava a existência de Igrejas nacionais subordinadas não ao Papa, mas ao monarca. Em conseqüência foi criado o calendário galicano, no qual estava inserida a festa de São Napoleão, que podia ser entendido como um mártir da Igreja antiga ou como sendo o Imperador Napoleão.

Pois bem, os protestantes têm seus cantos religiosos através de cuja letra se exprime a fé protestante. O católico que utiliza esses cânticos, não pode deixar de assimilar aos poucos a mentalidade protestante; esta é, em certos casos, mais subjetiva e sentimental do que a católica.

2) Os cantos protestantes ignoram verdades centrais do Cristianismo: A Eucaristia, a Comunhão dos Santos, a Igreja Mãe e Mestre… Esses temas não podem faltar numa autêntica espiritualidade cristã.

3) Deve-se estimular a produção de cânticos com base na doutrina da fé.”

(Dom Estevão Tavares Bettencourt, OSB)

Recomendo ainda a leitura deste artigo do Amo Roma!. E que nos esforcemos para resgatar a riqueza da música católica.