Quando Saramago chorou…

Fui assistir ontem ao Ensaio sobre a Cegueira. Terminei no início da semana de reler o livro homônimo que inspirou o filme. Talvez eu não tenha sensibilidade cinematográfica alguma, mas fiquei bastante impressionado com a discrepância que existe entre uma obra e outra! Não encontrei Saramago na película; reconheci, sim, um monte de cenas cuja leitura recente ainda estava bem nítida na minha memória, passando com uma velocidade vertiginosa na sala escura, não raro incompreensíveis para quem está assistindo ao filme sem ter lido o livro e, em todos os casos, menos impressionantes – muito menos! – do que elas quando postas no papel.

Para dizer porque – na minha opinião – Saramago não está no filme, eu preciso voltar um pouco e dizer como é que Saramago está no livro. O escritor português (que tem até um blog) é ateu convicto e, no meu entender, o Ensaio é um grande tratado de irreligião, ou de anti-religião. O quadro apocalíptico apresentado pelo escritor ao longo da leitura perturbadora é um grande “experimento” que o português se permite fazer com a humanidade. Para começo de conversa, os personagens não têm nome; são esterótipos, são amostras, são cobaias. São genéricos, universais. Parece uma parábola, diz um cego no meio do romance (Saramago, José; “Ensaio sobre a Cegueira”, Companhia das Letras, 11ª reimpressão, 1999. p. 129. Doravante, as páginas citadas são desta referência) – uma parábola onde a cegueira é, na verdade, súbita iluminação.

Afinal, por que esta cegueira é branca, ao invés de negra? Por que é luz? Por que é luminosa? A idéia é repetida diversas vezes ao longo do livro (Como uma luz que se apaga, Mais como uma luz que se acende, p.22; a cegueira não era viver banalmente rodeado de trevas, mas no interior de uma glória luminosa, p. 94; tinham uma luz dentro das cabeças, tão forte que as cegara, p. 240; eles diluem-se na luz que os rodeia, é a luz que não os deixa ver, p. 260; etc), parecendo assim indicar qual o sentido da parábola: a cegueira é um instrumento utilizado para apresentar o homem tal e qual ele é (só num mundo de cegos as coisas serão o que verdadeiramente são, p. 128), é um bisturi manejado pelo narrador para pôr a descoberto a essência humana. Que, no livro, não tem nada de bonita (a luz e a brancura, ali, cheiravam mal, p. 96-97).

O longo circo de horrores, roubos, fome, violência, execuções sumárias, estupros e tudo o mais são, portanto, o homem posto a descoberto, trazido à luz, à luz da cegueira branca: quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos, p. 243. Se é verdade que há esperança no livro, personificada principalmente pela mulher do médico que nunca perde a visão, ela é insignificante ante a magnitude do horror: ela está sozinha, diante de um mundo de cegos, e é completamente incapaz de deter a marcha inexorável deste mundo rumo à barbárie.

Não consigo tirar da cabeça uma outra impressão de que tenho, um outro aspecto da cegueira de Saramago, que parece deixar entrever uma crítica mais áspera à religião. Há estes dois aspectos dos cegos, sem dúvida alguma: ao mesmo tempo em que a cegueira permite aos cegos verem a realidade humana tal e qual ela é, eles são de facto cegos e, por conseguinte, não vêem. A cegueira é, como já disse, uma espécie de “iluminação espiritual atéia”; mas parece-me que a metáfora se aplica também à – na opinião de Saramago – cegueira dos que têm Fé. Afinal, não é ela “luz”, “iluminação”, etc? Não são estas palavras que os religiosos aplicam à visão sobrenatural? Jogando com uma “dupla metáfora”, o escritor português parece querer dizer isso: a cegueira sob o aspecto físico é metáfora dos que têm a Luz da Fé, ao mesmo tempo em que a cegueira sob o aspecto metafórico – da “iluminação” que lhes permite ver a essência humana – é a anti-Fé, a anti-Esperança, a anti-Caridade (o mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou, agora é o reino duro, cruel e implacável dos cegos, p. 135). Os que têm Fé são cegos; se vissem realmente, se fossem iluminados, veriam que o mundo é mau, radicalmente mau, intrinsecamente mau; em suma, que Deus não merece ver, p. 302. Ao longo do livro, os cegos de Saramago ora vêem, ora não vêem – penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem, p. 310 – comportando-se como metáforas, ora da cegueira da religião, ora da iluminação anti-religiosa. O narrador evidencia ora o fato de que estão cegos, ora o fato de que vêem as coisas como elas são: ora a Fé, ora a Descrença. Por um lado, a Luz provoca cegueira e, por outro, somente a cegueira permite ver.

A Descrença, a cegueira vista sob o aspecto iluminativo, é mais clara na obra. No entanto, a Fé, a contrapartida, a iluminação vista sob o aspecto de provocar cegueira, parece-me particularmente clara nas últimas frases do livro, quando a mulher do médico olha para o céu: A mulher do médico levantou-se e foi à janela. Olhou para baixo, para a rua coberta de lixo, para as pessoas que gritavam e cantavam. Depois levantou a cabeça para o céu e viu-o todo branco, Chegou a minha vez, pensou. O medo súbito fê-la baixar os olhos. A cidade ainda ali estava, p. 310. A mulher levantou os olhos para o céu, para o Céu, e teve a impressão de estar cega: abaixou os olhos, olhou para a cidade, para o Mundo, e viu que ainda via. A cegueira branca confunde-se com olhar para o céu, com ter os olhos fitos no Alto, de modo que foi necessário à mulher “baixar os olhos”, afastá-los do Céu, afastar-se da Fé, para ver.

No filme, entretanto, nada disso é facilmente perceptível. Primeiro, porque as cenas passam muito depressa, não deixando que o espectador tenha fôlego para pensar sobre o que está vendo (no livro, ao contrário, são as digressões feitas pelo narrador que constituem a melhor parte da narrativa); segundo, porque a trilha sonora é extremamente irritante, com musiquinhas alegres e lúdicas até mesmo nas piores cenas, aliviando-as bastante e dando-lhes um ar de “descontração” que, em absoluto, não existe no livro – o livro é tenso. Terceiro, porque nenhuma cena do filme consegue causar o mesmo impacto que no livro. As piores, como o estupro das mulheres, os cães devorando um cadáver, a igreja com as imagens vendadas, não conseguiram transmitir para a película o horror e o desconforto que elas provocam nos longos parágrafos de Saramago. Até um aspecto que perpassa o livro inteiro – a sujeira – é minimizado no filme: algumas manchas, papéis voando, e é tudo. No livro, quase se sente o mau cheiro.

Tudo isso fez com que o filme pudesse ser interpretado às avessas do livro, como notou e comentou um amigo meu quando o assistiu. Uma das primeiras cenas vistas no cinema mostra a mulher do médico perguntando o que é agnosia – uma doença, que o oftalmologista imagina poder explicar a cegueira súbita – e se tem alguma coisa a ver com agnosticismo, com ignorância, com descrença. A agnosia existe no livro, mas a sua ligação com o agnosticismo, não; é característica exclusiva da película. E então, subitamente, eis o tratado anti-religioso convertido em forte apologia da Fé: em um mundo de agnósticos, em um mundo onde todos fossem privados da Luz da Fé, a degradação moral é inevitável, como é inevitável para os cegos transformarem-se em animais. E então surgem as imagens das grandes tragédias da humanidade, dos milhões de mortos do comunismo e do nazismo, da degradação moral de nossos dias que só se agrava quanto mais as pessoas são “cegas” por não terem Deus, porque são descrentes.

E o tiro, então, sai pela culatra, e o ensaio anti-religião transforma-se em clara evidência do abismo onde se cai quando não se tem religião. Saramago chorou ao ver o filme; na minha opinião, não chorou por ter-se comovido, nem de alegria, como disse. Ao contrário, chorou por sentir-se traído, chorou de decepção ao ver no filme exatamente o contrário do que havia escrito.

In memoriam

A cretinice dos abortistas não tem limites. Na semana passada, um barco-abortista chamado Langenort chegou à Espanha, vindo da Holanda. A idéia diabólica por trás do plano era a seguinte: como a legislação espanhola é mais restritiva (ma non troppo…) do que a holandesa no que se refere ao assassinato de crianças inocentes, então o navio da morte se propôs a recolher, em solo espanhol, mulheres dispostas a matar os próprios filhos, levá-las até o alto-mar e, lá, praticar o crime. Como as águas internacionais não fazem parte do território espanhol, a legislação espanhola não é lá aplicada.

O barco é propriedade de uma ONG de assassinas chamada Mujeres sobre las olas (“Mulheres sobre as ondas” – Women on Waves). Chegou em Valência na sexta-feira última, 16 de outubro, e matou três crianças. As três foram carinhosamente batizadas de Maria, Marta e João, pelos defensores da vida, que denunciaram com destemor a sanha assassina do Langenort. Graças a Deus, o barco – que tencionava realizar 11 assassinatos – só conseguiu realizar quatro (a quarta vítima foi o filho de uma menor de idade, que o barco carniceiro conseguiu seduzir quando já havia anunciado que voltaria à Holanda). Eis as fotos dos bebês covardemente assassinados no ventre de suas mães:

Juan, descanse en Paz
Juan, descanse en Paz

Maria, dos dias antes de morir a manos del carnicero
María, dos días antes de morir a manos del carnicero

De no haber Carbonell acabado con su vida, Marta habria sido madre
De no haber Carbonell acabado con su vída, Marta habría sido madre

Foi feita uma denúncia contra a maldita ONG e contra as autoridades portuárias que permitiram que o Langenort – um barco vindo de outro país com o claro e manifesto intuito de burlar as leis espanholas sobre o aborto – aportasse em Valência. Centenas de pessoas, na própria sexta-feira, fizeram um manifesto em favor da vida defronte ao barco assassino. Temos motivos para dar graças a Deus, porque a expedição do Langenort à Espanha foi um fracasso.

No entanto, também temos motivos para chorar, porque quatro crianças – João, Marta, Maria e um outro que não chegou a ter nome; chamemo-lo José – foram covardemente assassinadas. Que não nos esqueçamos destes quatro pequenos espanhóis; que nos esforcemos para acabar com a abominável prática do aborto, em memória de Maria, Marta, João e José e de tantos outros seres humanos que viram lixo hospitalar nas mãos covardes dos abortistas. Não nos esqueçamos deste crime horrível. E lutemos para que o direito à vida – primeiro e mais fundamental de todos os direitos – seja universalmente respeitado neste mundo.

Soneto da Imaculada Conceição

Fonte: LEPANTO.

En passant, S. Luís de Montfort refere-se a um fato parecido no seu Tratado da Verdadeira Devoção (n. 42; aqui completo em espanhol). Ao ler, achei que fosse o mesmo episódio; no entanto, este relatado em Lepanto ocorreu em 1823, com dois sacerdotes dominicanos; o lembrado por São Luís, ocorreu com o próprio São Domingos. Depois vou tentar encontrar algo sobre esta história da qual o santo fala.

* * *

Sou verdadeira mãe de um Deus que é filho,
E sou sua filha, ainda ao ser-lhe mãe;
Ele de eterno existe e é meu filho,
E eu nasci no tempo e sou sua mãe.

Ele é meu Criador e é meu filho,
E eu sou sua criatura e sua mãe;
Foi divinal prodígio ser meu filho
Um Deus eterno e ter a mim por mãe.

O ser da mãe é quase o ser do filho,
Visto que o filho deu o ser à mãe
E foi a mãe que deu o ser ao filho;

Se, pois, do filho teve o ser a mãe,
Ou há de se dizer manchado o filho
Ou se dirá Imaculada a mãe.

Mudando a conversa…

Lembram-se da notícia de ontem, sobre o pe. João Carlos, que foi obrigado pela justiça a devolver a paróquia à Arquidiocese? Lembram que eu comentei que era pura calúnia dizerem, sem mais, que os fiéis haviam sido expulsos por “funcionários da arquidiocese”?

Na notícia de hoje – “Padre celebra missa fora de igreja” -, a conversa já mudou. Segundo o Jornal do Commercio desta quinta-feira, ao contrário do que foi dito ontem por ele mesmo, “[n]o dia em que a reintegração de posse foi cumprida, policiais retiraram fiéis que se preparavam para assistir a uma celebração do terço, gerando protestos”. A menos, claro, que a Arquidiocese tenha policiais no seu quadro de funcionários…

Não vi nenhuma errata, e a notícia de ontem continua lá, falando nos “funcionários da Arquidiocese”. Acaso isto é jornalismo?

Comentários curtos

– Uma “associação atéia” (nem sabia que isso existia) da Grã-Bretanha, com o apoio do ateu militante mais conhecido dos nossos dias, o sr. Richard Dawkins, quer colocar pôsteres em ônibus com “propaganda anti-religiosa”. A campanha – cujo objetivo é “promover o ateísmo na Grã-Bretanha” – pretende pôr nos ônibus londrinos a seguinte inscrição: “provavelmente, Deus não existe. Agora pare de se preocupar e aproveite a vida”. Na matéria, Dawkins aproveitou para proferir a seguinte bobagem: “Esta campanha fará com que as pessoas pensem – e pensar é um anátema perante a religião”. Como uma pessoa dessas consegue ser cientista?

– O STJ “admitiu a possibilidade de análise pela Justiça do reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo”. Só esta possibilidade já é escandalosa, porque o nonsense não se debate, por definição. Analisar à luz da reta razão os absurdos da pretensão gayzista seria uma coisa sem dúvidas muito boa; no entanto, certamente não é esta a intenção do Movimento Gay, anti-natural em sua essência. Estejamos vigilantes.

– O mal-estar provocado em São Paulo pelos panfletos de apoio à Marta ganhou repercussão internacional e foi publicado em ZENIT. A conhecida agência católica de notícias informou sobre a nota de Dom Stringhini. No mesmo dia – santa inveja! – foi publicado que “Bispos dos Estados Unidos convidam católicos a votar em candidatos que defendam a vida”. Eis os trechos mais bonitos da reportagem:

Dom Kevin J. Farell (Dallas) e Kevin W. Vann (Fort Woth), em uma carta dirigida aos fiéis católicos deste país, asseguram que um católico «não pode votar num candidato que apóie um mal intrínseco como o aborto».

[A] justificação da legalização do aborto, a promoção da união entre ambos sexos, a repressão à liberdade religiosa, as políticas públicas de eutanásia, a discriminação radical ou destruição dos embriões humanos, entre outros, são atos «intrinsecamente maus» porque «sempre são incompatíveis com o amor a Deus e ao próximo».

«Não importa quanta razão tenha um candidato sobre estes temas [como os imigrantes, a assistência à saúde, a economia, o cuidado e a preocupação pelos pobres, a guerra e o terrorismo], se não superar a posição inaceitável a favor de um mal intrínseco, como o aborto ou a proteção dos direitos do aborto», acrescentam.

«Votar em um candidato que apóia o mal intrínseco do aborto ou os direitos do aborto quando há uma alternativa moral aceitável seria cooperar com o mal e, por conseguinte, é moralmente inadmissível», acrescentam.

Tanto destemor e zelo católico são profundamente admiráveis e nos enchem de alegria! Como é reconfortante ver Sucessores dos Apóstolos dignos do cargo que detêm, anunciado de maneira clara a Doutrina Católica, sem transigência nem ambigüidades! Que falta que fazem bispos assim nesta Terra de Santa Cruz!

Nada de novo sob o sol

Capa do Jornal do Commercio de hoje: Parecer de procurador livra João da Costa (para assinantes). Segundo o jornal, “[o] procurador regional eleitoral, Fernando Araújo, manifestou-se, ontem, contra a decisão do juiz das Investigações Eleitorais do Recife, Nilson Nery, e não manteve o pedido de cassação do registro de candidatura do prefeito eleito João da Costa (PT)”.

Apesar de “reconhece[r] a existência de uso da máquina”, Araújo achou que a cassação era uma medida muito dura e resolveu punir tanto o atual prefeito quanto o anterior com uma multa de quase R$ 71.000,00 para cada um deles. Assim, “[m]anteve-se a vontade popular”.

No entanto, segundo uma matéria relacionada, João da Costa não está “livre”. A desembargadora responsável pelo caso, Margarida Cantarelli, disse que “[a] decisão dele [do procurador Araújo] em não dar provimento ao parecer (pela cassação) não faz com que eu o acompanhe, não existe essa obrigatoriedade”; ela ainda “prometeu para a próxima semana uma previsão de quando deve acontecer o julgamento”. A discrepância entre a manchete da capa e os fatos citados na matéria (pois o leitor não entende facilmente o que significa um parecer “livrando” o acusado cujo julgamento ainda não ocorreu) são de responsabilidade do jornal.

Estadão – “Bispo barra manifesto pró-PT”

O Estado de São Paulo publicou uma interessante reportagem, na qual são colocados os pingos nos i’s sobre o ridículo assunto do manifesto – supostamente assinado, entre outras pessoas, por alguns padres – de apoio à candidata gayzista e abortista Marta Suplicy. Bispo barra manifesto pró-PT é o seu título, e foi publicada na edição de hoje do Estadão. Restam, contudo, ainda algumas dúvidas e interrogações

Um dos principais auxiliares de Lula no Planalto, ele lembrou que a carta, assinada pelo Fórum de Católicos pela Justiça, em Favor dos Mais Pobres, também não expressa a posição oficial da Igreja Católica, mas, sim, de alguns setores.

O tal fórum aparentemente não existe. Não apareceu ninguém que dele fizesse parte para dar declarações à mídia; não tem site, não tem referências no google (agora, após a baderna, deve ter; pelo menos aqui no Deus lo Vult! já tem), não tem CNPJ, não tem nada. Se não for uma mentira pura e simples, parece ter sido criado única e exclusivamente para assinar um manifesto ridículo com o qual ninguém quis se comprometer colocando a própria assinatura. Curioso, não?

“Só lamento que em nenhum momento tenha havido manifestação oficial da Igreja sobre o site de Gilberto Kassab (DEM), que ostenta fotos com bispos e padres”, argumentou Carvalho, numa referência ao prefeito, candidato à reeleição.

Bom, antes de mais nada, que fotos são essas? Não entrei em todas as galerias existentes no site do Kassab, mas não vi a “ostentação” à qual se refere o ex-seminarista. Agora, ainda que haja, se o chefe de Gabinete do sr. Presidente não sabe a diferença entre uma foto (nunca conheci um padre ou bispo que se negasse a tirar uma foto com quem quer que seja!) e um manifesto de apoio explícito, então o esquerdismo dele já está num estágio no qual a cura só pode vir por milagre. A menos, é claro, que haja uma foto de um bispo com um monte de adesivos escritos KASSAB 25 – coisa que eu duvido.

Tanto Mesquita [padre Tarcísio Marques Mesquita] como Carvalho admitiram que Marta enfrenta rejeição de setores da Igreja e de evangélicos por defender a ampliação do direito ao aborto e a união civil entre homossexuais. Ressalvaram, porém, que a prefeitura não cuida desses temas. “Claro que não sou a favor do aborto, mas não discutimos isso. Também não ficamos em celeumas sobre opção sexual. Tratamos de questões mais sublimes, como saneamento básico e centros de saúde”, garantiu Mesquita.

Quero acreditar que haja algum erro gritante nesta matéria, porque simplesmente não sou capaz de conceber um padre dizendo que “saneamento básico e centros de saúde” são “questões mais sublimes” (!!!!) do que aborto e apologia do vício homossexual.

Eu, ao contrário, acredito que os responsáveis por esta palhaçada, se católicos forem, mereciam uma punição exemplar por parte das autoridades eclesiásticas responsáveis.

Paróquia de Água Fria retorna à Arquidiocese

Temos um forte motivo para dar graças a Deus. Como noticia (com o já costumeiro viés anti-Arquidiocese) o Jornal do Commercio, o padre João Carlos – que desde o início do ano estava exercendo ilegalmente o ministério sacerdotal – foi retirado da paróquia de Água Fria. A mesma notícia é-nos dada pelo “Amo Roma”, blog recém-criado – do qual faço parte – de responsabilidade de alguns jovens católicos da Paróquia da Torre, aqui em Recife.

A querela é antiga. Simplificando ao extremo: pe. João Carlos é da Arquidiocese da Paraíba, e estava na administração paroquial da já citada paróquia de Água Fria. Após algumas denúncias recebidas pela Arquidiocese, Dom José decidiu não renovar a “concessão” (foge-me o termo canônico preciso) dada ao padre para que ele desempenhasse a função de administrador paroquial aqui na Arquidiocese – o que implicaria no seu retorno à sua Arquidiocese original quando findasse o “período” pelo qual ele ainda estava aqui incardinado. Em suma: o administrador paroquial é uma figura provisória e, findo o período no qual a sua função é necessária, ele devolve a paróquia que administrava ao pároco designado pelo Bispo. Quando isto ocorreu e Dom José nomeou um outro pároco ou administrador paroquial (não sei ao certo), padre João Carlos disse que, de lá, não saía. Suspenso de ordens, o padre continuou exercendo ilicitamente as funções que já não eram mais suas, e o Arcebispo, após sucessivas tentativas de reaver a paróquia, precisou entrar na Justiça com uma ação de reintegração de posse, cuja sentença em favor da Arquidiocese saiu recentemente, e foi comunicada ao pe. João Carlos ontem por um oficial de Justiça.

Graças a Deus! Sacramentos estavam sendo celebrados ilícita ou até invalidamente (para os casos de Sacramentos que precisam de jurisdição – que o pe. João Carlos não possuía: a Confissão e o Matrimônio), e a comunidade estava sendo conduzida a uma espécie de mini-cisma. Agora, esperamos que tudo volte ao normal, o quanto antes.

Apenas comentando as barbaridades ditas pelo Jornal do Commercio:

[D]om José conseguiu um mandado de reintegração de posse da Paróquia de Água Fria, Zona Norte do Recife, da qual padre João Carlos era pároco.

Não, nunca foi pároco. Era Administrador Paroquial, e deixou de ser desde o final do ano passado. Atualmente, era usurpador de ofício eclesiástico.

Segundo contaram, foram expulsos da paróquia por funcionários da arquidiocese antes mesmo do término das atividades.

Que bonzinhos! Quais funcionários da Arquidiocese? Dito do jeito que está, é pura calúnia. Sem contar que o pe. Edmilson, nomeado para a paróquia, não estava presente por ocasião da chegada do Oficial de Justiça, como o próprio jornal diz mais adiante.

[D]om José Cardoso afirmou que padre João Carlos não podia ser pároco porque teria mantido um relacionamento amoroso com a fazendeira Ivânia Olímpio de Almeida Queiroga.

Falso e impreciso. Falso, porque, como já disse, padre João Carlos não era pároco; impreciso, porque a questão do relacionamento amoroso só foi levantada depois que pe. João Carlos disse que não saía da paróquia e acusou Dom José de difamá-lo por falar no citado relacionamento (há, inclusive, até hoje processos movidos pelos dois – pelo padre e por D. Ivânia – contra o Arcebispo, que nunca vão dar em nada, porque Sua Excelência não divulgou que o padre tinha um caso).

Durante todo o tempo, [os fiéis] gritavam palavras de ordem e pediam a saída de dom José.

O que só mostra a tragédia que pe. João Carlos estava provocando na paróquia de Água Fria. Queira Deus que os paroquianos, conduzidos agora por um bom pastor, possam tornar-se verdadeiramente fiéis católicos o quanto antes, dóceis ao seu Arcebispo, longe do qual ninguém pode julgar estar em comunhão com a Igreja.

Comentários Ligeiros

– O Diário do Comércio, de São Paulo, publicou uma reportagem sobre o manifesto “católico” de apoio à Marta Suplicy. Engraçado que não apareceu ninguém para assumir a autoria pelo panfleto ridículo. A assessoria de Marta disse que “é uma manifestação independente de um grupo de religiosos” (faltou dizer QUAL grupo de religiosos, já que ninguém assina o manifesto e ninguém se apresentou nos últimos dias como responsável pela palhaçada) e que “não há problema em sua divulgação, pois não se trata de um documento oficial da Igreja” – como se os assessores petistas pudessem dizer o que tem ou não problema. A posição do vicariato de Comunicação da Arquidiocese é bem diferente (e bem mais católica, lógico): “não existe autorização, de maneira alguma, para a vinculação da Igreja a um candidato, nem mesmo para uma carta de apoio” (grifos meus).

Por que os membros do (inexistente, até prova em contrário) “Fórum de Católicos pela Justiça, em Favor dos Mais Pobres” não aparecem para dar a cara à tapa?

– Não sei se o Padre Dervile é membro do tal fórum, mas bem que poderia ser. Para escândalo e vergonha dos católicos, este sacerdote do Deus Altíssimo tem um blog no qual faz descarada propaganda esquerdista. Em um post sob o título “Vote Certo”, de 25 de setembro passado, o padre, sem corar de vergonha, dá o seguinte conselho aos eleitores cristãos católicos: “[n]ão vote apenas no candidato, mas veja bem a que partido pertence”. E faz propaganda petista!! O PT do aborto, o PT do “casamento” gay, o PT que é radicalmente oposto ao que ensina a Igreja!! Gostaria de saber como o Reverendíssimo padre explica esta grotesca contradição.

– Uma notícia do dia 24 de setembro, que eu ainda não tinha visto: Bispo condena indigenismo em Mato Grosso. São belíssimas as palavras de Dom Redovino Rizzardo, dignas de um sucessor dos Apóstolos que não tem medo de proclamar a Verdade, sem respeito humano e sem se preocupar com o politicamente correto (grifos meus):

O bispo colocou sob suspeita a atuação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no Estado, dizendo que a exemplo dos demais setores da sociedade a ONG – que é ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – já não sabe que os membros do Cimi estão à serviço de Deus ou dos seus próprios interesses. Dom Redovino também afirmou que a Igreja Católica não tem posição formada em relação às portarias da Funai, mas defende que o diálogo possa apontar uma solução pacífica para os problemas das demarcações de terras. “Não concordo que se faça justiça aos direitos dos índios, com a injustiça sobre os direitos dos produtores”, enfatizou o bispo.

Dom Redovino foi além e deixou claro que não são verdadeiras as afirmações do Cimi dando conta que a Igreja Católica apóia as portarias da Funai em Mato Grosso do Sul. “O Cimi não pode falar pela CNBB, nem pelos bispos de Mato Grosso do Sul”, afirmou Dom Redovino.

Que a Virgem Santíssima possa recompensar este valente pastor pelo seu ato de coragem e de serviço verdadeiro à Igreja.

– As eleições americanas estão se aproximando. Se o mundo pudesse votar, qual seria o resultado do pleito? Com os dados de então (terça-feira, 21 de outubro, 18:30), o escrutínio daria o seguinte resultado:

Barack Obama: 87.5% (297,487 votes)
John McCain: 12.5% (42,648 votes)

Haja paciência…

Sociedade Brasileira de Canonistas

Divulgando: alguém conhece a Sociedade Brasileira de Canonistas? Eu não conhecia, mas fui apresentado a ela por email e achei o site muito interessante. Principalmente por causa da proposta que constava na mensagem que recebi:

Segundo o Presidente da SBC, Dom Hugo Cavalcante, OSB, este site se dispõe a responder a dúvidas de todos os fiéis do Brasil.

De fato, há no site uma página chamada… “Pergunte e Pesquisaremos” :-) Genial!

No topo do site, a frase em latim: Salus Animarum Suprema Lex Ecclesiae. A saúde das almas, a salvação das almas, é a Lei Suprema da Igreja. Gostei do site. Que esta iniciativa seja conhecida e possa ser útil ao povo católico brasileiro.