Constatações pós-conciliares

Que é dos padres que saibam entender [o Evangelho] e tenham modo para declará-lo e vida para serem ouvidos? A maioria deles não o entende. [1]

Se este ofício [o sacerdócio] é de maior importância que outro qualquer, pois dele depende a salvação das almas […], que vergonha tão grande é esta que, não sendo consentido na república um oficial que primeiro não tenha aprendido seu ofício, consintamos [que haja] na Igreja um ministro que jamais aprendeu a sê-lo? Que infelicidade é esta que, se um animal sofre dores, não lhe ousamos fiar a um veterinário se ele primeiro não aprendeu o seu ofício; e a uma alma enferma, pela qual Deus morreu, nós a fiamos a um médico que nunca aprendeu como lhe devia curar? [1]

[Um] ardil do Demônio tem sido isto: fazer com que haja tanta falta de Doutrina na Igreja. [1]

E em quê podemos crer, se não que os açoites que à Igreja vêem, são principalmente pelos pecados dos eclesiásticos? […] Jeremias chora pelos males do seu tempo terem vindo por isto, dizendo: Propter peccata prophetarum et sacerdotum, que effuderunt sanguinem in medio Ierusalem (Lam 4, 13). E o mesmo podemos chorar nós em nosso [tempo], e entender que a carnificina das almas que vemos morrer é por maldade ou negligência dos eclesiásticos. [1]

Não se diga de nossos tempos que quicumque volebat, fiebat sacerdos (1Reg 13, 33), como nos tempos de Jeroboão, senão que [somente] o seja [sacerdote] aquele que merece sê-lo. [1]

A cura de almas [foi deixada] em mãos indiferentes de pregadores e confessores, muitos dos quais nem têm ciência conveniente, nem santidade de vida, nem zelo pelas almas, nem ainda prudência natural […] [por isto] a Igreja chegou ao triste estado em que está. [2]

[Há também falsos ensinadores] que, ainda que não façam isto [ensinar erros contra a Fé], não ensinam ao povo a Doutrina sólida e proveitosa que é necessária, senão cada um segundo aquilo que ele sente e segundo os seus caprichos. [2]

Estas duras palavras foram proferidas por um sacerdote que viveu durante o Concílio e no pós-Concílio. Lamenta não haver mais padres que entendam o Evangelho para que o possam explicar às pessoas; critica a falta de formação do clero; atribui ao Demônio que haja tanta falta de Doutrina na Igreja; reclama por haver alguns que, mesmo sem ensinar heresias explicitamente, deixam de ensinar aquilo que deveriam.

Um perfeito retrato da terrível situação que atravessa a Igreja nos dias de hoje, não fosse por um pequeno detalhe: estas linhas foram escritas por um santo, São João de Ávila, que viveu durante o Concílio e no pós-Concílio de Trento. A “negligência dos eclesiásticos” da qual fala o santo não é uma referência aos padres que celebram sem decoro o Santo Sacrifício da Missa. O “ardil do Demônio” não é a fumaça de Satanás da qual falou Paulo VI. Os “falsos ensinadores” que ensinam “segundo os seus caprichos” não são os modernistas. Na verdade, o santo está falando sobre a situação do seu tempo, que é – curiosamente – muito parecida com a situação atual.

O que isso significa? Duas coisas, pelo menos.

1] É terrorismo dos rad-trads pintar com cores apocalípticas a situação atual da Igreja, como se fosse uma novidade terrível haver sacerdotes ignorantes na Doutrina Sagrada e mais preocupados com as coisas da terra do que com as coisas do Céu pelas quais devem zelar, e como se crises como a que a Igreja hoje atravessa fossem um escândalo inaudito em dois mil anos de Cristianismo.

2] A tibieza entre os sacerdotes, a ignorância do povo fiel, a existência de falsos profetas e enganadores sempre estiveram entre as preocupações das pessoas que verdadeiramente aspiram à glória de Deus, à salvação das almas e à exaltação da Santa Madre Igreja; todavia, uma das notas fundamentais de tais pessoas é, sempre, a submissão à Igreja Católica. O próprio São João de Ávila passou um ano encarcerado, por haver sido [injustamente] denunciado à Santa Inquisição. E não consta que ele tenha, em momento algum, lançado diatribes contra a Igreja, como infelizmente costumamos encontrar entre algumas pessoas dos nossos dias, que jamais sofreram nem mesmo uma ínfima parte do que sofreram pacientemente os santos de todos os tempos.

Podemos – e devemos – aprender com os santos de outrora a melhor maneira de cumprirmos com o papel que nos foi assinalado pela Divina Providência no Campo de Batalha da História. Podemos e devemos aprender com aqueles que a Igreja nos apresenta como modelos de perfeição a serem imitados. E, entre os escritos do Mestre João de Ávila [dos quais já foram citados alguns trechos], há uma análise perspicaz da situação da Igreja de então (que, como vimos, é parecida com a nossa):

Parece-me que o estado presente em que estamos é semelhante ao da Antiga Lei, e à república dos descuidados, e à negligência dos mestres que mandam e não ajudam a cumprir. Pois que leis melhores do que as já feitas sobre a santidade, as letras e o regime de toda a Igreja podem haver? [1]

Muitos reclamam de que o Vaticano II não tenha pronunciado anátemas. São João de Ávila viveu durante e depois de um Concílio que pronunciou, sim, muitos anátemas; todavia, a opinião do santo é a de que as leis promulgadas por Trento e as que já existiam são muito boas e santas, e o nosso empenho deve ser no sentido de ajudar as pessoas a amarem as leis e, assim, cumpri-las, mais por amor a elas do que por força dos castigos.

Atenção! É evidente que o santo não é contrário aos anátemas pronunciados. Ele apenas faz uma constatação, que é a mesma que podemos fazer nos dias de hoje: há muitas leis boas e santas, e os católicos, mesmo assim, são maus! O problema à época de Trento, que – ouso dizer – é o problema à nossa época, não está nas excomunhões ou na ausência delas, e sim na falta de amor dos católicos às coisas sagradas. E este amor não se produz por decretos, afinal,

todas as boas leis possíveis de se fazer não serão o suficiente para dar remédio ao homem, posto que a [Lei] de Deus [o Antigo Testamento] não o foi. [1]

Isto posto, cabe refletir: será que o Vaticano II, se tivesse pronunciado anátemas, iria “transformar” a crise da Igreja de tal maneira que estaríamos hoje atravessando um mar de rosas? Será que a história não iria se repetir e, como em Trento, a falta de homens virtuosos que tivessem amor a Cristo não seria um obstáculo aos frutos de santidade que a Igreja poderia produzir? Será que, se as pessoas amassem realmente a Deus e à Igreja, Esta teria necessidade de repetir sempre as mesmas coisas? E será que a mera “atualização” das penas canônicas poderia sozinha fazer com que os homens se convertessem e amassem a Deus?

Precisamos de virtude. Precisamos de homens santos. Precisamos de pessoas comprometidas incondicionalmente com a Igreja. Precisamos de almas inflamadas de amor a Cristo, que possam contagiar as outras almas ao seu redor. Precisamos de um apostolado de “alma a alma”, a fim de as ganharmos, uma a uma, para Cristo Rei. Só assim os homens serão convertidos, as almas serão salvas, Deus será glorificado e a Igreja será exaltada. A santidade se expande por contágio: precisamos de santos! Seguindo, pois, o exemplo do santo espanhol, que nós possamos nos empenhar em produzir nas almas o amor às coisas sagradas, condição sem a qual não pode haver renovação verdadeira na Igreja, e tarefa à qual todos nós, cristãos membros da Igreja Militante, somos chamados.

São João de Ávila,
rogai por nós!

Referências:
[1] São João de Ávila, “Memorial Primeiro ao Concílio de Trento (1551)”, em “Juan de Ávila – Escritos sacerdotales, BAC, Madrid, 2000”. Tradução minha do espanhol.
[2] São João de Ávila, “Memorial Segundo ao Concílio de Trento (1561)”, em “Juan de Ávila – Escritos sacerdotales, BAC, Madrid, 2000”. Tradução minha do espanhol.

P.S.: Após ser publicado no Veritatis Splendor, este artigo foi muitíssimo mal interpretado, pelo que peço desculpas a todos. Recomendo enfaticamente a leitura deste fórum para entender o problema.

Quando os hereges são seguidos…

O Concílio [Vaticano II] conseguiu introduzir e integrar na catolicidade o paradigma da reforma protestante e o paradigma iluminista da modernidade.
(Hans Küng, apud MONTFORT).

Quem é Hans Küng? Um “teólogo”, herege proeminente. Por exemplo, é autor de uma Carta Aberta por ocasião do conclave que elegeu o atual Papa Bento XVI gloriosamente reinante, na qual pede (entre outros disparates), a eleição de um papa que [a grafia está no Português de Portugal, já que os excertos abaixo são retirados ipsis litteris do link acima indicado]:

  • “se coíba de dar veredictos moralizadores sobre problemas complexos como a contracepção, o aborto e a sexualidade”;
  • “permita a ordenação de mulheres que, à luz do Novo Testamento, é urgentemente necessária para a nova situação actual”;
  • “corrija a encíclica proibitiva de Paulo VI, Humanae vitae, sobre a pílula, que afastou inúmeras mulheres católica da sua igreja, e reconheça explicitamente a responsabilidade pessoal dos cônjuges pelo controlo de natalidade e pelo número de filhos que têm””;
  • “reconheça finalmente os ministérios protestante e anglicano, como há muito foi recomendado pelas comissões ecuménicas e como já é prática em muitos lugares”;
  • “não reclame o monopólio da verdade”.

Em resumo: Küng é um herege completo que queria a eleição de um Papa herege como ele. Graças a Deus, João Paulo II foi sucedido pelo grande Bento XVI, e não pelo “papa herege” no qual o “teólogo” suíço pediu que os cardeais votassem.

Qual é o valor, então, que têm as opiniões de um herege manifesto para os católicos? Nenhum, por certo; ou, ao menos, tais opiniões deveriam ser muito bem comparadas com as posições de pessoas de ortodoxia incontestável, antes de serem abraçadas e seguidas. Assim, por exemplo, quando se vê Lutero afirmando ser na Epístola de São Paulo aos romanos que se baseia a sua [de Lutero] doutrina da Sola Fide, ou então quando se vê Calvino dizendo que a mesma Epístola de São Paulo e o livro do Êxodo fornecem a base para se crer que alguns são predestinados por Deus ao Inferno, a reação católica imediata é a de rechaçar os hereges, e não as Escrituras Sagradas. Isso é óbvio.

Todavia, o sr. Orlando Fedeli, no link citado na epígrafe, faz justamente o contrário. O fato de um herege “reconhecer” que o Vaticano II ensinou heresias é a prova incontestável de que assim o foi. O herege torna-se Magistério abalizado para pronunciar as sentenças infalíveis sobre o Vaticano II. O fato de Bento XVI sempre afirmar a ortodoxia do Concílio é irrelevante, diante das sentenças de um teólogo herege. Afinal, se o herege diz que Vaticano II introduziu “o paradigma da Reforma Protestante” na Igreja, ergo o Vaticano II introduziu o paradigma da Reforma Protestante na Igreja de Cristo. Küng locuta, causa finita.

Pergunta, enfim, retoricamente, o professor: “Quando até os hereges enxergam, por que alguns, que se dizem católicos, negam o visível”? Oras, isso é muito fácil de se retorquir; afinal, por que alguns, que se dizem católicos, compartilham as mesmíssimas opiniões dos hereges?

Isso são as conseqüências de não se abraçar firmemente a idéia de que a Igreja não pode subsistir sem o Seu Magistério e que, portanto, se Cristo prometeu que Ela perdurará até o fim dos tempos, então o Magistério da Igreja também perdurará sem interrupções. Chesterton disse, certa vez, que os homens, quando não acreditam mais em Deus, não é que eles passem a não acreditar em nada – ao contrário, eles passam a acreditar em tudo. O mesmo acontece, desgraçadamente, com quem não acredita mais no Magistério da Igreja: passa a acreditar em qualquer coisa, até mesmo em Hans Küng.

É CAMPEÃO!

Chegando lá na Ilha do Retiro,
Vou abrir alas, que o Sport vai jogar!
O Rubro-Negro
É cor de guerra,
É o SUPER SPORT que estremece a Terra!

Chegando lá na Ilha do Retiro,
Vou abrir alas que o Sport vai jogar
O Rubro-Negro
É cor de guerra
É o SPORT que estremece a Terra!

Vivendo com o SPORT esta emoção,
A galera se engrandece muito mais!
Quem não fala no SPORT é mudo:
Cazá, Cazá, “PELO SPORT TUDO” !

[foto: JC]

* * *

Aos alvinegros, não fiquem tristes: “não chora, não chora, não chora”!

* * *

E, con la gracia de Dios, o jogo terminou sem ocorrências.


[Foto: Globo]

Parabéns ao Leão da Ilha!

“Primeira igreja do mundo”

Segundo a BBC, alguns arqueólogos encontraram, no norte da Jordânia, uma caverna que pode ter sido usada como igreja cristã… no século I, antes da Queda de Jerusalém! A Rádio Vaticano transmitiu a mesma notícia.

A caverna foi encontrada embaixo da Igreja de São Jorge, que – ainda segundo a BBC – já era considerada a igreja cristã mais antiga do mundo, datando do século III, por volta do ano de 230.

Segundo o chefe do Centro de Estudos Arqueológicos local (citado pela Rádio Vaticano),

[e]sta descoberta é incrível porque temos provas que nos fazem crer que o prédio recebeu os primeiros cristãos e os discípulos de Jesus Cristo mencionados pelo evangelista Lucas.

Sob uma igreja de São Jorge! Esta é certamente posterior à caverna (até porque São Jorge não viveu na época dos Apóstolos), mas alegra-me sobremaneira saber que, em um lugar tão importante para o cristianismo nascente, hoje existe uma igreja dedicada ao meu santo homônimo…

[foto: wikimedia]

Sanctus Georgius,
ora pro nobis!

Ainda a Uganda…

[Foto: Fábio Zanini]

Esta foto consta no link que foi publicado aqui ontem; mas ela é tão impressionante que achei por bem trazê-la de novo. Para quem não se recorda: trata-se de uma propaganda do Governo da Uganda e que é parte da política de prevenção da AIDS (que baseia-se em abstinência para os solteiros, fidelidade para os casados, e camisinha só quando tudo o mais falhar). O que está escrito é o seguinte: “Um motorista responsável se preocupa com sua família… [foto] …ele é fiel à sua esposa”.

Aqui, nestas nossas terrinhas tupiniquins, onde os caminhoneiros precisam enfrentar até mesmo problemas de prostituição infantil nas estradas brasileiras, eu só consigo lamentar: que inveja da Uganda!

* * *

Ah! Só para constar, a política ugandense de incentivo à castidade não é novidade, embora somente agora tenha aparecido (mais ou menos) na grande mídia. Já em 2005, Olavo de Carvalho escreveu sobre o assunto. O pior cego é o que não quer ver…

Aids e promiscuidade.

Conforme noticia o BLOG do Reinaldo Azevedo, a OMS reconheceu o óbvio: o número de portadores de HIV é significativamente maior dentro de um grupo de risco que engloba homossexuais masculinos, usuários de droga e os chamados “trabalhadores do sexo” e seus clientes.

Da fonte original da notícia comentada pelo conhecido articulista, destaco o seguinte [tradução livre minha]:

No Primeiro Mundo [industrialised world], a transmissão do HIV entre homens que têm relações sexuais com outros homens não está diminuindo e, em alguns lugares, tem aumentado.
[…]
O comportamento sexual é obviamente importante, mas ele não parece explicar todas as diferenças entre as populações.

A camisinha sempre foi apresentada como a panacéia universal para o perigo do vírus da AIDS, a vacina anti-HIV, a imunização segura e certa contra este grave perigo. Este discurso foi tão ad nauseam repetido que se encontra praticamente impregnado no senso comum das pessoas; expressões como “sexo seguro”, por exemplo, remetem imediatamente à utilização do preservativo. Todos têm por uma verdade inquestionável que a camisinha é o melhor meio de prevenção contra a AIDS.

Todos, não. A Igreja sempre condenou esta política. E foi duramente atacada por causa disso. Mesmo quando a Sua política mostrava os melhores resultados no combate ao HIV. A Igreja não Se calou, não capitulou diante destes que são – por malícia ou ao menos por irresponsabilidade – os verdadeiros inimigos do gênero humano. Acaso irão reconhecer que Ela estava certa? Eu duvido.

A questão é falseada, as mais das vezes. O que a Igreja diz não é que o risco de se contrair AIDS numa relação sexual específica é o mesmo, quer se use camisinha, quer não se use. Isso, dizem os Seus detratores, que precisam de um boneco de palha sobre o qual possam descarregar a sua artilharia com facilidade. O que a Igreja diz – e, agora, a OMS confirma – é o que o risco de se contrair HIV é tanto maior quanto mais promíscua for a vida do indivíduo e que, portanto, o verdadeiro inimigo a ser combatido é a promiscuidade. O fato (segundo a notícia supracitada) de, num determinado grupo de risco – os homossexuais masculinos -, o número de novos soropositivos não estar diminuindo e, pelo contrário, até aumentar em alguns lugares, mesmo com a propagação maciça do preservativo, é a prova inconteste disso. A promiscuidade se combate com o seu contrário, com a castidade, e não com preservativos.

Acontece que o mundo moderno é inimigo da castidade, e venera o hedonismo. Não pode aceitar a castidade. Considera um absurdo que se pregue abstinência para os solteiros e fidelidade conjugal para os casados. Quer o sexo livre, e o quer “seguro”, com preservativos. Mas isso não resolve o problema, como os fatos bem o mostram. A Promiscuidade é madrasta má; só a Igreja é Mãe e Mestra.

Existe, ainda, um aspecto sórdido que precisa ser posto a descoberto nesta história toda. Durante anos, disseram-nos que esse negócio de “grupo de risco” não existia, fizeram-nos crer que a AIDS era uma epidemia generalizada, e nos incentivaram a usar preservativos para que tomássemos cuidado e nos preveníssemos do HIV. Agora, cai a máscara, e constata-se que “o comportamento sexual é obviamente importante” na transmissão do vírus. Ora, se há uma relação direta entre promiscuidade e contaminação com o vírus da AIDS, a maneira mais fácil de universalizar a epidemia é trabalhar para universalizar a promiscuidade.

Vejamos: que maneira de se incentivar um determinado comportamento pode ser mais eficaz do que apresentá-lo como “seguro” , “protegido” , “responsável” , “consciente” , e tantas outras loas que são feitas à relação sexual na qual se utiliza a camisinha? A Revolução Sexual, que não se resume à exaltação da camisinha mas que certamente a inclui, se triunfasse, iria produzir sem dúvidas um ambiente de tal maneira promíscuo que tornaria verdadeira a (falsa) premissa da “epidemia de AIDS”, que é um dos carros-chefes da argumentação-terrorista de “Saúde Pública” em defesa do uso dos preservativos. Trata-se de um exemplo criminoso de “justificação retroativa”, na qual a “solução” é justificada pela situação que ela própria ajudou a criar.

É importante que nós não caiamos em nenhuma armadilha. Os católicos sabem que o uso da camisinha seria moralmente inaceitável mesmo que a AIDS fosse tão comum quanto uma gripe. Mas não podemos ficar de braços cruzados enquanto as pessoas trabalham simultaneamente na destruição dos valores tradicionais e na (conseqüente) expansão da doença. Não nos deixemos seduzir pelo “canto de sereia” que diz ser preferível o Estado investir em educação sexual, já que a proposta da Igreja deve interessar somente aos católicos. Não nos esqueçamos de que a Moral da Igreja não é “dos católicos”, e sim Universal, e que segui-la é o melhor caminho que qualquer homem – e não só o cristão católico – pode encontrar. Lembremo-nos da Uganda. E defendamos a Igreja, defendamos a Verdade, porque somente assim estaremos verdadeiramente defendendo o ser humano.

Cai o véu…

Em resumo: conseguiu-se enfim autorizar o que dez anos atrás parecia promissor, mas em raras situações, hoje, e com perspectivas cada vez mais estreitas.
– “Decisão do Supremo já chega caduca” – sobre CTEHs. 30 de maio de 2008. Após a liberação das pesquisas pelo STF.

Não há certeza ainda, porém, de que elas renderão novas terapias. “É uma aposta, mas uma aposta fundamentada. E pode ser que todo mundo dê com os burros n’água daqui a alguns anos”[.]
– “Estudos feitos com embrião são só uma ‘aposta’, diz Biólogo” – sobre CTEHs. 02 de junho de 2008. Após a liberação das pesquisas pelo STF.

O que dizer? Eu avisei!? Mas que diferença isso faz, agora, que o engodo e a fraude já se incorporaram ao ordenamento jurídico brasileiro?

Sugestão de leitura: Blefe Retórico.

Tenha Deus misericórdia.

Padre candidato a prefeito pelo PSOL

Padre Sóstenes é pré-candidato à prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, conforme noticia o BLOG de Jamildo. A mesma notícia é dada em outro site, com um título pior. E, para completar o escândalo, o tal padre pretende concorrer ao pleito por um partido socialista – o PSOL.

[N]inguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista” – ensina o Magistério da Igreja. Outrossim, a CNBB lançou um documento para as eleições de 2002: o Documento 67, que não se encontra online no site da CNBB mas pode ser encontrado na internet. Este documento é taxativo ao dizer que “[o]s clérigos são proibidos de assumir cargos públicos que implicam participação no poder civil” (CNBB, Doc. 67, n. 51). E esta proibição não é “da CNBB”, e sim do Direito Canônico, que reza:

Les está prohibido a los clérigos aceptar aquellos cargos públicos, que llevan consigo una participación en el ejercicio de la potestad civil.
(CIC, Cân. 285, §3)

Como se tudo isso não fosse suficiente, o PSOL defende o feminismo, a cultura gay e o ABORTO. Coisas absolutamente incompatíveis com a Doutrina Cristã.

Data vênia, pergunta-se ao padre Sóstenes: Vossa Reverendíssima está ciente de todo o sobreexposto?

“Se você estivesse numa cadeira de rodas…”

Assisti dia desses a um filme intitulado “Instinto Secreto” (Mr. Brooks, 2007). Não é a melhor obra-prima do mundo, mas é um suspense interessante, com situações criativas e que prende bem a sua atenção. A história, contada de maneira bem superficial, é a seguinte: o sujeito, o tal Brooks, é um empresário bem sucedido, casado, pai de família… uma pessoa bem normal. O único “detalhe” – que o torna capaz de ser protagonista da trama – é o fato de ele ser um Serial Killer.

O filme é recheado de coisas interessantes, como os diálogos que o Brooks tem com o “álter-ego” assassino dele, o chantagista que tem umas fotos do último assassinato, a detetive empenhada no caso, a luta que o assassino trava para parar de matar – sim, porque ele mata por ser viciado e não conseguir parar. Mas tem uma cena que corre o risco de passar despercebida na trama, por ser secundária, e que é todavia bastante expressiva.

A filha de Brooks volta para casa, e a polícia está investigando a garota por causa de um assassinato na faculdade. O pai – não sem muitas dúvidas – decide proteger a filha. Qual o plano? Simples: ele procura detalhes do assassinato, vai até a faculdade – fica em uma outra cidade – e mata outra pessoa do mesmo jeito que (supostamente – pois o filme não deixa isso explícito) a filha matou. Dois assassinatos iguais, a polícia vê o padrão, traça o perfil de um serial killer e, como a garota estava em outra cidade na noite do segundo assassinato, a suspeita sobre ela é descartada. Voilà.

Os fins justificam os meios – disse uma vez Maquiavel. E, para justificar a máxima, os homens são capazes de recorrer às mais absurdas situações. Pra salvar a própria filha – que, afinal, pode até estar sendo injustamente acusada -, o pai não deveria fazer tudo o que está ao seu alcance – até matar? A versão atual do dilema, que escutei ad nauseam por ocasião dos infinitos debate sobre as células-tronco, era a seguinte: “se fosse o teu filho numa cadeira de rodas, tu serias a favor das pesquisas”. “Ou então” – às vezes era acrescentado – “tu não amarias o teu filho”.

O problema com esta argumentação é que a resposta à capciosa pergunta vai estar, provavelmente, enviesada, pois a situação é de tal maneira construída que o sujeito vai julgar em favor de si mesmo, defendendo os próprios interesses! E esta “auto-defesa” – até psicologicamente justificável, mas evidentemente falha enquanto apreciação objetiva e juízo isento – é tomada como se fosse a mais nobre expressão da virtude e da solidariedade, porque estaríamos “nos colocando no lugar” das pessoas a quem realmente interessa determinada questão.

“Colocarmo-nos no lugar” de uma parte interessada num resultado específico de uma dada querela é exatamente o que não pode ser feito para quem quiser formar uma opinião justa sobre o assunto em questão, e isso é óbvio. Ninguém pode apreciar um assassinato colocando-se no lugar do assassino; já pensou o advogado dizendo ao juiz “ah, se fosse Vossa Excelência que estivesse no banco dos réus, não ia ser a favor da condenação”? Todavia, contestar esta idéia equivocada nos transforma, incontinenti, em monstros insensíveis aos sofrimentos alheios. A virtude deixa de ser a isenção, e transforma-se no interesse. A atitude correta seria tomar partido. “Se você fosse uma raposa” – é como se dissessem – “ia ser a favor dos saques ao galinheiro”. Oras, mas acontece que, absolutamente, não é isso que está em discussão! Queremos saber se é lícito que as galinhas alheias sejam surrupiadas pelas raposas, e não se as raposas têm motivos para atacar os galinheiros, porque é óbvio que elas os têm!

Em suma, ninguém precisa ter um filho com uma doença incurável para saber a importância que tem para um pai a cura do filho. E, ao mesmo tempo, ninguém pode julgar a licitude de uma questão olhando somente para o próprio filho – real ou imaginado – que esteja doente. Além dos fins, deve-se olhar para os meios; e a moralidade ou imoralidade destes vê-se com mais clareza quando não se está advogando em causa própria. Afinal, de entender os motivos do mr. Brooks a legalizar os assassinatos vai um longo passo. A mesma coisa faz com que seja justificável o desejo das pessoas de buscarem a cura para si próprias ou para as pessoas que amam; mas, mesmo assim, não se justifica a destruição de seres humanos em pesquisas científicas.