Leiam a Audiência Geral do Papa Bento XVI de ontem, sobre o munus sanctificandi dos sacerdotes (vejam uma versão em português no site da Canção Nova). Está primorosa. A expressão teológica tradicional não se encontra na catequese do Papa, mas é também sobre isto que ele está falando: os Sacramentos agem ex opere operato, i.e., têm a sua eficácia independente da santidade de quem os ministra.
Uma excelente catequese, ensejada pela crise de escândalos que hoje se lança sobre a Igreja. Se, por um lado, os pecados dos sacerdotes (ao contrário do que apregoava Lutero) em nada diminuem a eficácia dos Sacramentos por eles ministrados, por outro lado isso não é justificativa para se negar a “indispensável tensão para a perfeição moral, que deve habitar cada coração autenticamente sacerdotal”. Não é porque os padres não são santos que os Sacramentos por ele ministrados não têm valor; nem é pelo fato de que os Sacramentos continuam tendo valor a despeito dos pecados dos padres que estes não devem ser santos. Por um lado, a salvaguarda dos fiéis e, por outro, a radical exigência da conformidade a Cristo.
E vejam também outros pontos da referida audiência, entre os quais destaco:
É, então, o próprio Cristo que nos torna santos, isto é, que nos atrai na esfera de Deus. Mas como ato de Sua infinita misericórdia, chama alguns a “estar” com ele (cf. Mc 3, 14) e tornarem-se, mediante o Sacramento da Ordem, apesar da pobreza humana, participantes do seu próprio Sacerdócio, ministros desta santificação, dispensadores de seus mistérios, “pontes” de encontro com Ele, da sua mediação entre Deus e os homens e entre os homens e Deus (cf. Presbyterorum Ordinis, 5).
Sobretudo neste nosso tempo, em que, de um lado, parece que a fé vai enfraquecendo-se e, por outro, emerge uma profunda necessidade e uma ampla busca de espiritualidade, é necessário que todo o sacerdote recorde que, na sua missão, o anúncio missionário e o culto e adoração e os sacramentos não estão mais separados e promova uma saudável pastoral sacramental, para formar o Povo de Deus e ajudá-lo a viver plenamente a Liturgia, o culto da Igreja, os Sacramentos como dons gratuitos de Deus, atos livres e eficazes de sua ação salvadora.
Exemplar, acerca do primado do munus sanctificandi e da correta interpretação da pastoral sacramental, é ainda São João Maria Vianney, que, um dia, frente a um homem que dizia não ter fé e desejava discutir com ele, respondeu: “Oh! meu amigo, vos dirigistes muito mal, eu não consigo pensar … mas se tendes necessidade de alguma consolação, dirija-se para lá … (seu dedo apontava para o inexorável banco [do confessionário]) e, acredita-me, em que muitos outros colocaram-se antes de vós, e não tiveram do que se arrepender” (cf. Monnin A., Il Curato d’Ars. Vita di Gian-Battista-Maria Vianney, vol. I, Torino 1870, pp. 163-164).
Longa vida ao Papa!