Quando os mensageiros traem a mensagem

Eu gosto de um texto do Chesterton onde ele compara os cristãos – tanto os dos séculos passados quanto os dos tempos atuais – a mensageiros que se julgam portadores de uma mensagem importante que precisa ser entregue, não importa o quanto isto possa custar. Para analisar-lhes o comportamento, é possível abstrair da autenticidade da dita mensagem; para que eles se comportem como de fato se comportam, basta saber que eles acreditam que a mensagem é verdadeira – e esta crença é sem dúvidas passível de constatação empírica.

Pensava nisso quando lia esta curta matéria segundo a qual o Boff foi aplaudido enquanto criticava os últimos papas. Porque não há nada mais estranho à essência da mensagem cristã do que este (mau) hábito de criticar aqueles que nos precederam. Nada de mais estranho à Doutrina Católica do que a mentalidade de que é preciso adaptá-la a fim de que ela se apresente mais adequada aos tempos modernos.

Até porque a própria palavra – em latim diz-se fidei – tem a mesma raiz etimológica de uma outra palavra cujo sentido é-nos, em português, bem conhecido: fidelidade. A Fé não é “construída”, não é “descoberta”, não é “inventada”: a Fé é recebida e devemos guardar-Lhe íntegra. Volto a Chesterton: como mensageiros. Os mensageiros não existem para alterar o conteúdo da mensagem que lhes foi confiada, e sim para entregá-la. Houve um tempo, aliás, em que as mensagens eram entregues de viva voz: um bom mensageiro era aquele capaz de memorizar a mensagem que lhe fora entregue e de entregá-la tal e qual recebeu de quem a enviou. Transmiti-la era a sua missão, e não adulterá-la.

Quando vejo os maus católicos dos dias de hoje (e o Boff é citado somente à guisa de exemplo; como ele, há miríades de traidores dos Evangelhos), penso em como estes estão distantes da missão que lhes foi confiada por Nosso Senhor (quando menos, do encargo que lhes fora confiado no Santo Batismo). A Fé Católica vem de Deus e deve ser transmitida de um homem a outro ao longo dos séculos, sendo absolutamente necessário fazer de tudo para manter a integridade da mensagem que foi confiada aos homens e, portanto, não perder este fluxo de graça que remete aos Apóstolos e, em última instância, a Nosso Senhor – a Deus. Quando vejo falsificadores da mensagem evangélica (portando-se antes como falsários que como mensageiros), lembro-me daquela passagem bíblica onde Nosso Senhor diz que de nada serve o sal que perde o sabor. Porque não é somente o sal que tem um fim próprio (neste caso, o de salgar): também os mensageiros têm o fim precípuo de transmitirem íntegra a mensagem que lhes foi confiada. E, quando as coisas desviam-se do seu fim, para nada mais servem a não ser para serem lançadas fora. Isto serve para o sal e serve também para aqueles que deviam ser portadores da Boa Nova da Igreja de Nosso Senhor.

O ditador e a perspectiva da morte

Alguém dizia recentemente que não existem ateus em aviões atravessando uma turbulência. Eu até concedo que, talvez, haja algum ateu fanático particularmente fundamentalista a ponto de sufocar a voz da própria consciência até mesmo em situações extremas como diante da morte; mas aposto que a maior parte dos ateus renegaria rapidamente a sua fé quando se visse na iminência de deixar o único mundo que ele se permite acreditar.

Porque a morte é um mistério que sempre provocou – e sempre há de provocar – espanto nos seres humanos. A possibilidade de deixar de existir repugna à inteligência humana. Pelo fato de ser racional, o homem sabe que é superior à matéria, mesmo à orgânica, uma vez que inteligência não escorre de pedras nem se sintetiza em laboratório. O homem almeja continuar existindo, ainda que insista em dizer a si próprio que isto são fábulas de gente ignorante. Na iminência da morte, penso que o desejo natural há de falar mais alto (pelo menos na maioria das vezes) do que a mentira artificial auto-contada nos momentos de prazer – quando o futuro (aparentemente) longínquo é fácil de ser ignorado.

Pensava nisso quando via o Chávez recebendo a Extrema-Unção. O ditador comunista perseguidor da Igreja descobre não apenas que não é imortal (isto, afinal de contas, é fácil), mas que pode morrer em muito breve. Esta característica profundamente cristã da brevidade da vida, onde não somos capazes de adicionar um côvado sequer aos nossos dias sobre a terra, é um poderoso fator de aperfeiçoamento próprio. Quem toma consciência de que pode morrer hoje mesmo vai procurar ser hoje mesmo alguém melhor. Ao contrário, quem não pensa nunca na morte e passa a vida empregando esforços para se convencer de que o poeta mentiu ao dizer que a mágoa acompanha o homem ainda “quando esse homem se transforma em verme”… tem muito mais facilidade em deixar “para depois”. A propósito, os que entendem inglês não deixem de ler isto.

Claro, é perfeitamente possível que o Chávez esteja somente fazendo uma jogada de marketing hipócrita. Isto, aliás, é até bastante provável. Mas eu gosto de pensar que ele – que enfrentou recentemente um câncer, segundo a notícia – tenha talvez se dado conta de que é tempo (ou já passou há muito do tempo) de fazer conta. Porque, diante da perspectiva da morte, todas as vaidades da vida perdem o sentido; e, se não provocaram a conversão, talvez tenham provocado ao menos a tomada de consciência da necessidade da conversão. Diante da morte, talvez Chávez tenha tremido e temido. Talvez este Sacramento lhe possa fornecer as graças necessárias à redenção.

Curtas

– O Carlos Ramalhete estreou ontem uma coluna semanal (que será publicada toda quinta-feira) na Gazeta do Povo. A primeira leva por título “Brasil de Verdade” e, como sempre, vale a leitura.

Aliás, há mais vídeos do professor Carlos disponíveis no seu canal do gloria.tv. Assistam lá!

* * *

– Eu não tenho tempo (nem capacidade) para traduzir na íntegra este texto do Chesterton, como sempre genial [p.s.: ele já está traduzido aqui]. Fala sobre mulheres no trabalho e nos lares, sob o ponto de vista da divisão do trabalho. Traduzo apenas o finalzinho: “O lugar onde as crianças nascem, onde os homens morrem, onde o drama da vida real se desenrola, não é em um escritório ou em um shopping ou detrás de uma mesa. É um lugar muito menor em tamanho, mais de alcance muito mais abrangente. E embora ninguém seja tão tolo a ponto de defender que este seja o único lugar onde as pessoas devam trabalhar (ou mesmo o único lugar onde as mulheres devam trabalhar), ele possui uma característica de unidade e de universalidade que não se encontra em nenhuma das experiências fragmentárias de divisão do trabalho”.

* * *

– O procurador-geral da República quer a condenação de 36 envolvidos no escândalo do Mensalão. Embora já faça anos, a expectativa – segundo a reportagem citada – é que o STF julgue o caso somente no ano que vem.

Eu ouvia a Lucia Hippolito na CBN hoje pela manhã sobre o mesmo assunto. Ela falava que havia uma possibilidade de que, com a renúncia dos réus, o processo voltasse para as primeiras instâncias dos tribunais – o que, na prática, significaria provavelmente que ninguém nunca seria punido. Em se tratando do Brasil, eu não duvido de nada.

* * *

Jovens ficam feridos em corrida de touros do festival de São Firmino. Não é a primeira vez que uma reportagem dessas é publicada (aliás, publicam-se coisas assim todo santo ano desde que eu me entendo por gente); o objetivo (às vezes expresso, às vezes velado) é provocar ojeriza a este tipo de divertimento bárbaro e perigoso.

Mas faço questão de destacar: são oito pessoas feridas (mais quatro ferimentos leves do dia anterior), sendo grave apenas um dos casos. Quantas pessoas são feridas ou morrem, p.ex., no nosso Carnaval? A desproporção é gritante (e ainda mais gritante se levarmos em consideração que, na Espanha, temos animais selvagens e violentos “à solta”) – e, no entanto,  “[d]esde 1911, esse evento [os festivais de San Firmino] causou 15 mortos”.

Ou seja: perigoso não é correr com touros. Perigosas são as festas brasileiras. Corridas com touros, já! Afinal, estes animais são evidentemente muito mais inofensivos do que outros que as nossas políticas públicas gostam de criar e proteger.

Pais e Filhos modernos

Eu fique estupefato quando, na semana passada, soube que um pai estava tentando convencer um milhão de pessoas a “curtirem” a sua página no Facebook para que seu filho se chame “Jaspion”. Houve um caso, ainda pior, em que o sujeito prometera convencer a irmã a batizar o filho dela de “Megatron” – mas a irmã não o aceitou nem mesmo com o milhão de like’s alcançado. Neste momento em que escrevo, 268.143 já querem que um bebê Jaspion venha ao mundo. Ainda está bem longe do objetivo, mas eu não sei se é impossível; não duvido mais de nada.

Ainda na semana passada eu conversava com um amigo sobre um livro que lera há alguns anos: o Cien años de soledad de Gabriel García Márquez. Falávamos mais especificamente sobre a questão dos nomes. Para quem não leu, só um rápido esclarecimento: o livro conta a história de gerações e mais gerações de membros de uma família, os quais vão sendo, um após o outro, batizados de Aureliano Buendía e José Arcadio Buendía. Chega a ser difícil às vezes distinguir tantos personagens que têm o mesmo nome (veja-se, à guisa de exemplo, esta árvore genealógica).

Em um dado momento, já no fim do livro, os tataranetos (ou sei lá o quê) do primeiro “Aureliano” que aparece no livro – o Coronel Aureliano Buendía, que lutara e perdera 32 guerras na juventude – estão para ter um filho. Pretendem dar-lhe enfim um nome diferente dos nomes tradicionais da família (agora não lembro qual era – digamos, “Rafael”). Levam esta intenção até o último momento; contudo, quando nasce o menino e a mãe dele diz que vai se chamar Rafael, o pai pega o pequeno nos braços e sentencia: “não. Vai se chamar Aureliano Buendía, e vai ganhar 32 guerras”.

Eu nunca esqueci da cena, que é apoteótica. Imagem eloqüente da impotência humana diante da bênção (ou maldição) familiar, da completa incapacidade dos protagonistas frente à inexorabilidade do destino: “vai se chamar Aureliano Buendía”! E por que eu cito agora esta passagem do romance?

Porque é exatamente o oposto do garoto que quer pôr o nome de “Jaspion” no filho. Este, age com um desprezo ainda maior do que o dos personagens do romance espanhol que “só” queriam mudar o nome do filho de Aureliano para Rafael, renegando assim a família Buendía. Quem quer pôr o nome de Jaspion no próprio filho renega toda a humanidade, na qual aparentemente não existe uma única pessoa digna de admiração o bastante para legar um nome ao seu filho. Não há e nem houve jamais um único ser humano que mereça ser homenageado mais do que o super-herói japonês. Às nossas ruas e praças nós damos os nomes de pessoas ilustres; mas, aos nossos filhos (que valem infinitamente mais do que ruas e praças), damos nomes de robôs e de super-heróis. Nomes escolhidos não por nós mesmos, mas por desconhecidos que votam na internet.

As nossas civilizações católicas aprenderam a dar nomes de santos aos seus filhos [“meu filho vai ter / nome de santo… / Quero o nome mais bonito!”], confiando-lhes desde o berço à intercessão do seu Onomástico. Hoje, desejam confiá-los a fantasias de super-heróis japoneses… é triste. É outro sinal da ausência de referências na qual está imerso o mundo moderno, onde a “tradição” da ficção infantil é mais valiosa do que a tradição de toda a raça humana.

Veni, Sancte Spiritus!

É Pentecostes! Celebramos a vinda do Espírito Santo, o Consolador, a Força do Alto. Aquele que vem em auxílio às nossas fraquezas e que faz a Igreja nascente, abandonando o medo, sair para anunciar destemidamente o Evangelho.

É Pentecostes, festa do Espírito Santo que desceu sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo junto com a Virgem Maria. Ensinando-nos a importância de perseverar em união de orações. Ensinando-nos que Deus sempre cumpre as Suas promessas. E ensinando-nos também – por que não dizê-lo? – a importância de estarmos juntos d’Aquela que nos foi deixada como Mãe. Um dia o Espírito Santo A cobriu com Sua sombra e, no dia de hoje, mais uma vez o Espírito Santo desce precisamente onde Ela está.

É Pentecostes, e Aquele que um dia veio à Virgem Santíssima para dar Nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo vem mais uma vez sobre Ela, para consolidar a Igreja no mundo. É d’Ela que nasce Cristo – cabeça da Igreja – e é junto a Ela que o restante do Corpo Místico de Cristo estava em oração no dia de hoje. É d’Ela, portanto, que nasce a Igreja, tanto por ser Ela a Mãe d’Aquele que é a Cabeça da Igreja quanto por Ela estar, mais uma vez, presente neste dia em que a edificação do Corpo de Cristo completa-se de maneira maravilhosa. Se o Espírito Santo é a alma da Igreja, certamente não pode pretender fazer parte desta Igreja quem se recusar a estar com Aquela que é a Esposa do Espírito Santo. Pentecostes nos ensina, mais uma vez, a importância de estarmos profundamente unidos Àquela sobre a Qual o Espírito Santo sempre vem.

Gosto particularmente da Sequência da Missa de hoje, que ponho logo abaixo – retirada do blog “Suma Teologica”, onde podem ser encontrados tanto um vídeo da música quanto uma sua tradução. Ainda mais em particular, gosto bastante de dois versos: “Veni, pater pauperum” e “Lava quod est sordidum”.

Pater Pauperum! O Pai dos Pobres. Afinal, “pobre” é aquele que nada tem – como somos todos nós, pobres de graça, pobres de virtudes, pobres de qualquer coisa que possa ser agradável a Deus – e “pai” é aquele que provê, que dá. Nós somos pobres, e é o Espírito Santo que, qual pai, dá-nos aquilo que de outra maneira não poderíamos obter. E, por não termos nada, terminamos pecando: acumulando sujeiras, imundícies… mas as quais é também o Espírito Santo que lava! A tradução para o português verte para “sujo” o termo latino; mas prefiro usar a tradução imediata de “sórdido” mesmo, que possui carga maior de malícia. Nós não temos nada, a não ser imundícies; e o Espírito Santo não apenas nos lava estas como também nos dá todo o resto…! A oração é perfeitamente adequada: Pai dos pobres, lava o que é sórdido! É uma súplica desesperada de quem sabe que só em Deus pode esperar. E o Altíssimo, em Sua magnificência, sempre nos concede ainda mais – muito mais! – do que ousamos pedir… Vinde, Espírito Santo! Manda do Céu um raio de Tua luz! É o pedido dos que não merecemos os Teus favores. É o pedido dos pobres que não temos a quem recorrer. É o pedido dos criminosos que não temos direito algum de Te suplicar nada. Vinde, e fazei maravilhas.

Um santo Pentecostes a todos!

* * *

VENI SANCTE SPIRITUS

Veni, Sancte Spiritus
et emitte caelitus
lucis tuae radium!

Veni, pater pauperum
veni, dator munerum
veni, lumen cordium.

Consolator optime
dulcis hospes animae
dulce refrigerium.

In labore requies
in aestu temperies
in fletu solatium.

O lux beatissima
reple cordis intima
tuorum fidelium.

Sine tuo numine
nihil est in homine
nihil est innoxium.

Lava quod est sordidum
riga quod est aridum
sana quod est saucium.

Flecte quod est rigidum
fove quod est frigidum
rege quod est devium.

Da tuis fidelibus
in te confidentibus
sacrum septenarium.

Da virtutis meritum
da salutis exitum
da perenne gaudium.

Amen, Alleluia.

Deus lo Vult! Ano IV

Aux armes! Assim comecei três anos atrás. Com o desejo de fazer alguma coisa em favor do Deus Altíssimo e da Santa Igreja Católica e Apostólica. Com o desejo de colocar, ainda que de forma mesquinha, os meus dons a serviço de Cristo. Um pouco que fosse, para que – talvez… – o Deus que é Misericordioso olhasse para mim, pecador miserável, com um pouco mais de complacência. Com mais misericórdia do que eu mereço.

Eu comecei três anos atrás com uma clara consciência: é preciso lutar porque “as coisas não se resolvem sozinhas”. E o combate é imperativo porque, se não o travarmos, não haverá ninguém para o travar por nós. É o papel que a nós compete, quer gostemos, quer não. Esta é a natureza da Igreja Militante, esta é a nossa vocação enquanto soldados de Cristo assim feitos pela Crisma. E o Deus lo Vult! é este espaço de apologética virtual, aberto, exatamente para que possa tornar presente aqui na internet uma faceta deste combate ao qual todos somos chamados.

E devemos lutar porque esta é a nossa vocação. Satanás não dorme e as investidas dos inimigos da Santa Igreja não arrefecem: importa oferecer-lhes resistência. De peito aberto, dando “a cara a tapa”, nas brechas das muralhas da Igreja, para que todos vejam: porque, se nos envergonharmos de Cristo diante dos homens, Ele Se envergonhará de nós diante do Pai. E estas palavras são muito sérias para serem tomadas de modo leviano; para que continuemos a viver despreocupadamente. Devemos lutar porque nós temos uma dívida infinita de gratidão para com o Deus Altíssimo, e somos mesquinhos em a retribuir. Devemos lutar, porque nós temos um papel assinalado especificamente para nós pelo Onipotente – e já estamos muito atrasados em o desempenhar.

Aux armes! É 0 Senhor dos Exércitos quem chama. A batalha não está por começar: ela já está ocorrendo e devemos dela tomar parte, o quanto antes. Sem medo e sem respeito humano: desfraldando bem alto as bandeiras de Cristo e da Virgem Santíssima, para que todos as vejam, e vejam que somos católicos. Desde já! Se desperdiçamos muito nosso tempo, é tempo de o empregarmos melhor. Se fomos covardes, é tempo de vender a capa para comprar uma espada (Lc XXII, 36) e ingressar na luta. Se caímos e nos ferimos, é tempo de enxugar as lágrimas e, tirando a poeira do rosto, voltar ao campo de batalha. É tempo de servir e amar a Deus, que espera de nós que O amemos e sirvamos.

E agradeço, mais uma vez, a todos aqueles que, de um modo ou de outro, prestigiam esta arena virtual. Este é o 1639º post do blog, e temos mais de 27.000 comentários. Ao longo do último ano, tivemos em média 20.000 visitantes por mês; e o número de Page Views é bem maior, da ordem de uns 1200 por dia. 323 pessoas estão inscritas pelo Google Friend Connect. 215 estão cadastradas no Feedburner, a maior parte delas (quase 80%) recebendo atualizações por email. Temos visitantes de todas as partes do mundo. O Deus lo Vult!, embora seja indiscutivelmente bem menor do que deveria, é maior do que eu esperava há três anos e sem dúvidas é bem maior do que eu o mereço. E, isto, são os leitores que fazem: obrigado, mais uma vez.

À Virgem Santíssima, Ianua Coeli, renovo o oferecimento: que seja para cantar as Tuas glórias, ó Virgem Imaculada, este espaço virtual. Totus tuus ego sum, et omnia mea tua sunt. Que a magnificência de uma Senhora tão excelsa possa suprir a indignidade deste instrumento. Agradeço-Vos por cada vitória, por pequena que seja, aqui alcançada: pois são graças que recebo de Vossas mãos. Pelas falhas e defeitos, muitos e graves, eu peço perdão: estes são por minha culpa.

Ano IV… até que eu fui bem longe! Penso em algumas novidades, as quais não vou expôr agora. Elas virão! E peço-vos que rezem por mim, pecador miserável e indigno cruzado, para que eu seja um pouco menos ruim. Para que eu não oponha tanta resistência à ação de Deus na minha vida. Para que a Virgem Maria, Mãe de Deus, recorde-Se de falar na presença d’Ele coisas boas a meu respeito.

E que venha o quarto ano!

Beata Dulce dos pobres, rogai por nós!

E a Bahia estava em festa para ver a Irmã Dulce ser inscrita no rol dos beatos da Santa Igreja Católica. A universalidade da celebração foi uma das coisas que mais me impressionou. Havia outdoors pelas ruas, cartazes nas janelas das casas e, segundo me disse um amigo, até mesmo os protestantes eram simpáticos àquela que mereceu ser chamada de “Anjo Bom da Bahia”: estes últimos apenas insistiam, de maneira tíbia, que “ela não podia interceder”. Mas as virtudes dela pareciam provocar admiração em todos.

Antecipei o meu vôo e acabei esquecendo de comprar os jornais do dia de ontem. Um amigo me disse que, em um deles, era narrado um episódio da vida da nova beata: acontecera um acidente grave com um pequeno ônibus, dentro do qual haviam ficado presas algumas pessoas. O ônibus pegara fogo e as pessoas não estavam conseguindo sair. Irmã Dulce, que estava nos arredores, ouviu o acidente, chamou as irmãs e foi correndo socorrer as vítimas; com pedras, quebrou os vidros e conseguiu salvar, se não me falha a memória, uma dúzia de pessoas.

E uma dessas pessoas era um garoto que a própria Irmã Dulce já salvara quando ele era um bebê. A mãe dele o havia abandonado para morrer, ferido, em uma encruzilhada como oferenda a algum Orixá. Irmã Dulce o recolheu, tratou dele e o entregou a uma família para que ele fosse criado. Anos depois, o mesmo garoto estava prestes a morrer em um acidente; e, mais uma vez, a Irmã Dulce estava lá para o salvar.

Nunca o serviço social dela foi confundido com mera filantropia. A sua visão horizontal era totalmente dependente de uma firme e clara visão vertical: a freira de hábito era uma mulher de profunda oração, interessada em lutar não por “melhores condições sociais” nem por nenhuma outra bobagem do tipo, mas preocupada em amar pessoalmente cada um dos filhos de Deus que Ele colocava em seu caminho. A dedicação de toda uma vida ao serviço dos pobres era radicada em um profundo amor a Deus, sem o qual o que ela fez simplesmente não teria sido possível. Externamente, alguma filantropia pode até ser confundida com caridade, mas o amor meramente humano – ao contrário do divino – tem limites. Ninguém consegue esquecer-se de si a serviço dos outros – como fez a Irmã Dulce – se não for por um profundo amor a Deus.

“-Chegou uma freira nova tão bonitinha!”. Um outro amigo me disse ter ouvido esta frase da mãe dele, referindo-se ao primeiro contato que ela tivera com Irmã Dulce em Salvador. Uma menina jovem e bonita, de uma família importante da cidade, dedicando-se exclusivamente – desde criança – a cuidar dos indigentes! Como não se admirar com esta mulher? A festa, repito, era na capital baiana inteira. Nem a chuva conseguiu esmorecer o ânimo dos baianos, que se dirigiram às centenas e aos milhares para o Parque de Exposições. Participar do histórico momento em que uma filha da Bahia foi declarada Bem-Aventurada.

Em bom latim, na leitura da bula do Papa Bento XVI, logo após traduzida: a Serva de Deus Dulce Lopes Pontes estava inscrita entre os beatos da Igreja Católica. Aplausos. O grande retrato da nova beata foi descoberto, ao lado do altar – de onde o Senhor do Bonfim olhava para a amplidão tomada de gente, e abençoava o povo da Bahia. Eu estava radiante: mais uma brasileira próxima dos altares! Uma conterrânea reconhecidamente na amizade de Deus. A olhar por Salvador, a olhar pela Bahia, a olhar pelo Brasil.

Que a Irmã Dulce interceda por nós! Que ela se lembre do seu Brasil, de sua Pátria tão necessitada dos favores celestes. Que muitas graças caiam em abundância sobre esta Terra de Santa Cruz: graças do Senhor do Bonfim, pelas mãos da Virgem da Conceição da Praia, pela intercessão da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres.

Versus Deum

Passei por algumas igrejas aqui em Salvador hoje. São igrejas antigas, que mantêm – entre outras coisas – os altares laterais onde antigamente eram celebradas missas. De frente para Deus.

É impressionante, e triste, constatar como o sentido desta posição litúrgica se perdeu por completo. Hoje, por pelo menos duas vezes eu ouvi dois guias turísticos distintos “explicarem” que, antigamente, os padres celebravam “de costas para o povo”. E sem disfarçar o tom de desprezo a esta atitude ultrapassada dos padres de outrora.

Na verdade, a idéia moderna é bastante estúpida. Nunca antes na Igreja passou seriamente pela cabeça de ninguém que os padres estivessem celebrando de costas para o povo. Porque sempre se soube que ambos, padre e povo, estavam voltados juntos para a mesma direção. Ambos voltados para Deus.

E isso, que qualquer pessoa – por mais humilde que fosse – sempre aprendeu “na prática”, foge completamente à compreensão dos homens modernos. Estes simplesmente são incapazes de conceber que o padre e o povo devessem estar ambos voltados para a mesma direção para significar, exteriormente, uma convergência interior. Ambos olham para a mesma direção porque ambos olham em direção a Deus. Isto, que é tão simples, parece ser incompreensível para os homens que se desacostumaram a volver os olhos para o Criador do mundo.

Em uma das igrejas em que estive – acho que na nova Sé – eu vi um pequeno altar de parede. Neste, havia um grande, um enorme e belíssimo crucifixo. E, por um instante, eu imaginei um sacerdote diante deste altar, diante desta cruz, celebrando a Santa Missa. Durante o cânon romano, “elevando os olhos” e mirando, bem perto de si, enorme e alto, Cristo Crucificado. Mostrando, de forma visível e bem visível, o milagre que ele tem invisível em suas mãos. E nada será capaz de me convencer que não seria (muito) mais fácil manter a Fé este sacerdote que, todos os dias, celebrasse o Santo Sacrifício tendo, literalmente, o Crucificado diante dos olhos.

Aviso

Escrevo do aeroporto; São Salvador da Bahia de Todos os Santos, onde acabei de pousar. Um final de semana longe de casa; encontrar alguns amigos, jogar alguma conversa fora, confabular um pouco, distrair outro tanto.

E assistir à cerimônia de beatificação de Irmã Dulce dos pobres, o Anjo Bom da Bahia, que em breve estará mais próxima dos altares. Para a maior glória de Deus. Porque ainda há santos: a despeito de toda a ingratidão dos homens desta terra, Deus não nos abandona. E ainda nos permite alguns vislumbres do Céu.

Tomo um capuccino solitário enquanto escrevo estas linhas. Espero outro vôo, de um amigo que vem de Minas. E penso em como somos privilegiados: é-nos permitida uma bebida quente longe de casa, enquanto se está na iminência de rever um amigo distante. E tudo isso pode ser facilmente compartilhado com o mundo inteiro; e, há poucas horas, eu estava em Recife.

Deveríamos ser mais santos, sem dúvidas. Porque aquele mistério da Igreja da Comunhão dos Santos nunca antes na história encontrou uma correspondência visível tão forte e tão simples. Os laços espirituais concretizam-se de fato em atividades reais. É-nos permitido encontrar pessoalmente os amigos distantes a quem estamos unidos pela Fé Católica e Apostólica. E podemos estar presentes às celebrações litúrgicas cujas graças destinam-se a toda a Igreja.

Prometo rezar pelos amigos, não apenas os que eu vou encontrar aqui, mas todos os outros que eu, agora, só posso encontrar na Eucaristia. No Santíssimo Corpo de Deus que nos une a todos os membros da Igreja. Viajar faz bem…!

Que a Bem-Aventurada Dulce dos pobres rogue por nós.

“Grito Silencioso”

Da série “recordar é viver”. Nem me lembro quando foi a primeira vez que ouvi esta música; deve fazer perto de uma década. Nos meus tempos de redescoberta da Fé da minha infância. Quando voltava para a Igreja da Qual nunca tinha saído mas que indubitavelmente abandonara…

O vídeo tem imagens fortes, aviso logo. Mas ficou perfeito, uma vez que a letra também evoca imagens fortes. Porque o assunto é feio, e não tem como falar sobre ele de maneira “politicamente correta”, através de eufemismos e maquiagens. O assunto é doloroso, assim como a música, assim como o vídeo.

http://youtu.be/PXTeqJsErWo

Mas é uma dor que traz uma pontada de esperança! Uma dor que provoca, ao menos, a vontade de não mais perpetuá-la. Que conduz ao arrependimento e à vontade de fazer algo para que tanta dor pare; que leva, ao menos, a rezar. “Maria, Mãe da Igreja, roga pelos filhos seus”. É um verso, e é uma prece. Que Ela nos ouça. E proteja os indefesos.