Este é o dia no qual as nossas lágrimas são enxugadas. Este é o dia no qual os sofrimentos que experimentávamos ainda ontem dão lugar ao mais vigoroso júbilo, à alegria tão grande que sequer poderíamos imaginar. Este é o dia em que a vitória de Nosso Senhor mostra-se completa: o último inimigo a ser vencido era a Morte, e este é o dia em que Cristo ressurge dos Infernos vencedor.
Este é o dia em que o Todo-Poderoso zomba e escarnece dos seus inimigos! Onde está, ó Morte, a tua vitória? Onde o teu Aguilhão? A maldade humana não foi capaz de matar a Misericórdia de Deus, e a frieza do túmulo não conseguiu manter preso o Amor pulsante. O Amor tão forte que nem mesmo todos os pecados do mundo foram capazes de soterrar. O Amor Onipotente, que nem os Infernos puderam manter cativo.
Chegou o Domingo! Coroando a nossa Semana Santa, sobrepujando com Amor Divino toda a maldade humana estampada na Cruz da Sexta-Feira. Parecia que tudo chegava ao fim; parecia que, dessa vez, tínhamos realmente estragado tudo. Mas Deus nos supreende sempre. Da Sua Morte na Cruz, Ele faz redenção. Da sepultura fria, Ele faz o Sepulcro Vazio. O nosso pecado Ele cobre com o Seu Perdão e transforma o horrendo Deicídio em fonte de Graça e de Salvação. Porque Ele é Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal.
Começamos a Quinta-Feira no pérfido beijo de Judas e, na Sexta-Feira, os nossos crimes mataram a Cristo na Cruz. Apercebemo-nos da imensidão do nosso pecado quando O matamos e, não fosse a consoladora presença da Virgem que nos foi deixada, cairíamos em desespero no Sábado terrível. Mas n’Ela encontramos a nossa esperança e, com Ela, aguardávamos ansiosos o dia de hoje. E Ele é o Deus Fiel que cumpre sempre as Suas promessas.
Ressuscitou! Nós o devíamos saber, se não fôssemos tão pecadores, se não fosse tão pequena a nossa Fé. Afinal, Ele disse que ressuscitaria… Mas os nossos crimes nos deixaram cegos para as Suas palavras e, no dia de hoje, mal podemos acreditar nos nossos olhos. É por demais incompreensível este Amor de Deus! Nós O rejeitamos, nós O condenamos, nós O crucificamos e O sepultamos. Nós não O quisemos no nosso mundo, nós O expulsamos daqui! E, mesmo assim, Ele voltou. Mesmo após termos feito tudo o que poderíamos para nos livrarmos d’Ele, Ele retornou. E, por absurdo que isto possa parecer, retornou parecendo amar-nos ainda mais.
Retornou Glorioso, Ressuscitado, tendo vencido a Morte e prometendo-nos também a nós esta vitória! Como é possível? Acaso recebem prêmios os nossos pecados, recompensas tão mais maravilhosas quanto maiores forem os nossos crimes? Qual a lógica das atitudes deste Homem que visivelmente não está disposto a desistir de nós, por mais que nós deixemos claro que não O queremos em nossas vidas?
A lógica do amor de Deus ultrapassa todas as lógicas humanas. Para Ele, uma lágrima contrita é capaz de cobrir toda uma multidão de pecados; não foi exatamente isto que Ele fez por nós na Cruz da Sexta-Feira, ao oferecer à Majestade Divina a satisfação devida pelos nossos pecados? Enquanto O matávamos, Ele nos perdoava. E, quando chorávamos a nossa loucura, Ele já nos dava Vida. E hoje, Ressuscitado, veio assegurar-nos de que estará conosco. Todos os dias. Até o Final dos Tempos.
E que importam os sofrimentos deste Vale de Lágrimas diante da perspectiva da Ressurreição? Que nos importam a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada, se nenhuma dessas coisas é capaz de nos separar do Amor de Cristo? Nós O matamos e, mesmo assim, Ele nos perdoou! O que tivermos de sofrer agora é lucro. As dores que porventura nos venham por conta de nossos pecados são paga pequena por nossas culpas; e ainda, ao final, a Ressurreição e a Vida Eterna! Como não nos rejubilarmos? Como não nos unirmos a toda a Igreja para cantarmos, neste Domingo Glorioso, a vitória de Cristo que é também a nossa Vitória? Sim, O Felix Culpa! Deus não Se deixa vencer e, desafiado pelo nosso pecado, mostrou-Se Magnânimo para além de qualquer razoabilidade. Nossas culpas foram soterradas pelo infinito Amor de Deus! Como não nos alegrarmos? É Páscoa, é Ressurreição. Cristo venceu e, com Ele, também nós vencemos – Aleluia!
E é do fato histórico da Ressurreição que nasce o vigor da Igreja. Ora, estamos falando de um punhado de homens rudes da Galiléia que saíram mundo afora para anunciar a Cristo Ressuscitado. Foram desprezados, zombados, torturados e mortos – e sustentaram a sua história. E esta pequena Igreja foi perseguida e, produzindo mártires aos milhares, continuou crescendo. Sobreviveu à queda de Jerusalém e à queda do Império Romano. Sobreviveu às invasões bárbaras e, cristianizando os responsáveis pelo caos em que foi lançada a Europa no início da Alta Idade Média, construiu a civilização que nós hoje conhecemos. Atravessou os séculos e pode ser encontrada até hoje, no terceiro milênio, quase dois mil anos após os acontecimentos que nós relembramos na Semana Santa. Sustentando a mesma história! Os pescadores ignorantes da Galiléia conquistaram o mundo para Cristo e a pequena Igreja nascida em Jerusalém está hoje espalhada por todo o mundo, contando com milhões e milhões de adeptos. Ora, todo efeito pede uma causa proporcional a ele. Onde está a causa desta maravilhosa fecundidade da Doutrina de Cristo? Onde, em consciência, a poderemos encontrar, se não for no Sepulcro Vazio que nós hoje celebramos? É claro que Cristo ressuscitou verdadeiramente. Sem a Ressurreição a história não faz sentido. Negá-La é negar as evidências.
Unamos, portanto, a nossa voz à voz dos anjos e dos santos todos que cantam a vitória de Nosso Senhor. Alegremo-nos junto à Virgem Santíssima, junto à Rainha dos Céus – que é o título com o qual Ela será louvada ao longo deste Tempo Pascal. Regina Caeli, laetare! Porque Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Porque os nossos pecados foram perdoados. Porque a Glória foi conquistada para nós. Porque Ele ressuscitou verdadeiramente.