Muito interessante o discurso de Dom Manoel Pestana na Conferência sobre Fátima, que o Fratres in Unum traduziu e transcreveu. Sobre o Vaticano II e a sua relação com as profecias de Fátima.
Realmente, é necessário convir que parece que o Papa Bento XVI modificou recentemente o status quaestionis sobre as profecias de Fátima. No ano 2000, quando o Vaticano divulgou pela primeira vez a profecia, o então cardeal Ratzinger disse o seguinte:
Em primeiro lugar, devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que «os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do “segredo” de Fátima parecem pertencer já ao passado». Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado.
E, recentemente, em Fátima, o Papa Bento XVI afirmou quanto segue:
Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída.
O que pensar das duas declarações? Penso o seguinte:
1. A interpretação dada pela Congregação para a Doutrina da Fé no ano 2000 jamais pretendeu ser definitiva. Isso se depreende da própria frase utilizada no documento, com o “parecem pertecer já ao passado”, e também da própria natureza do objeto tratado. Posso estar enganado, mas não me consta que interpretações de profecias – i.e., de revelações privadas – possam ser objeto de definição solene magisterial. Isto contrariaria, salvo melhor juízo, o próprio conceito de “revelação privada”.
2. Já em 2000, fazia-se referência à actualidade da mensagem de Fátima. Logo em seguida à frase acima citada, o então cardeal Ratzinger acrescentava que “permanece (…) a exortação à oração como caminho para a «salvação das almas», e no mesmo sentido o apelo à penitência e à conversão”.
3. Parece ser exatamente neste sentido que o Papa falou em Portugal, recentemente. Afinal, logo depois de dizer que a “missão profética de Fátima” não está concluída, o Papa acrescenta: “O homem pôde despoletar um ciclo de morte e terror, mas não consegue interrompê-lo… Na Sagrada Escritura, é frequente aparecer Deus à procura de justos para salvar a cidade humana e o mesmo faz aqui, em Fátima”.
Em suma, o que me parece? Que há dois erros opostos a serem evitados: de um lado, descartar as aparições e as mensagens da Mãe de Deus como alguma coisa que “já passou” e, portanto, não tem mais importância para o homem moderno; e, do outro lado, fixar-se em supostas revelações apocalípticas que anunciam uma catástrofe iminente pesando sobre nossas cabeças. Concedo que há incontáveis nuances entre os dois extremos, fazendo toda a nossa vida espiritual gravitar em torno disso. Entendo também que os que procuram ver uma relação entre Fátima e a crise atual da Igreja não necessariamente são adeptos dos que dão valor exagerado às aparições da Mãe de Deus. Em uma palavra: entendo que é possível “ultrapassar” a interpretação oficial do ano 2000 e acreditar em presentes e futuras tribulações como parte dos segredos de Fátima, sem que com isso se deixe de ser um bom católico.
Parece-me, aliás, ser este o sentido da conferência de Dom Manoel Pestana – ou, pelo menos, que o discurso do bispo emérito de Anápolis enseja estas considerações. De qualquer modo, a crise da Igreja é real, como reais são as promessas da Virgem em Fátima: “no fim, Meu Imaculado Coração triunfará”. Rezemos à Virgem por este triunfo que – aqui, imagino não haver discórdias – ainda não ocorreu. Que Ela venha em socorro à Igreja. Que Ela vença, mais uma vez, e vença depressa, para a maior glória de Deus e salvação das almas.
Nossa Senhora de Fátima,
rogai por nós.