João do Morro e cultura média

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=HqlUPoUxnlU]

Até a sexta-feira passada, nunca tinha ouvido falar neste sujeito. No entanto, as músicas dele literalmente tomaram conta de todo o Carnaval de Olinda e Recife! A música acima é uma das maiores pérolas musicais de toda a discografia recifense moderna. A letra é como segue:

Ela veio querer
meter a mão
na minha cara,
só porque
eu chamei ela de
Amara.

Ela veio querer
meter a mão
na minha cara,
Só porque
eu chamei ela de
Amara.

Comprei um vestido pra ela
e ela não aceitou não
Comprei um trancelim pra ela
e ela não aceitou não
Comprei um sabonete pra ela
e ela não aceitou não

Ela gritou na minha cara
que eu não era o homem do seu coração!

Sabe o que foi que ela fez?
disse somente uma palavra!
Ela pegou o sabonete
jogou na minha cara…

Sabe o que foi que ela fez?
disse somente uma palavra:
Ela pegou o sabonete
esfregou na minha cara…

Ai, Amara,
ai, Amara,
Jogasse o sabonete,
e pegou na minha cara!

Ai, Amara,
ai, Amara,
Jogasse o sabonete,
e pegou na minha cara!

Vinha saindo do beco
quando ouvi uma palavra
era as menina gritando
com medo do chupa-cabra

Vinha saindo do beco
quando ouvi uma palavra
era as menina gritando
com medo…

Mas dali eu saí correndo,
dali eu saí correndo
com meu pobre violão…

e de repente eu caí
e ouvi uma palavra:
era a menina, tava com medo,
com medo do chupa-cabra…

e de repente eu caí
ouvi uma palavra:
era as menina, tava com medo,
chupa-chupa

Chupa-chupa-chupa-cabra
[bééééééééé]
Chupa-chupa-chupa-cabra
[bééééééééé]

Lembro-me de que um amigo de Brasília, após ter escutado isso 200 vezes (sim, tocou MUITO no Carnaval), comentou que não havia entendido esta música: afinal, por que raios a mulher havia batido no cara?! Eu comecei a rir. Acho que ele não havia ainda sido contaminado com o nonsense do cenário musical pernambucano. E, da segunda parte da música (que começa com “vinha saindo do beco”…), ele comentou que era a mesma música, mas não era a mesma história… e que estava até agora tentando saber qual era “a palavra” que Amara disse…

Bom, João do Morro – isso é meio óbvio porque, afinal, caso contrário provavelmente não faria lá tanto sucesso… – não é lá o melhor exemplo de música recomendável. O show dele no Carnaval foi, ao que dizem, apoteótico. Ele – e isso é um ponto positivo – sofreu um processo de uma ONG gayzista por conta de uma suposta homofobia em uma de suas músicas politicamente incorretas. Mas, biografia à parte, o ponto que me interessa aqui é outro: o que raios explica a decadência musical (e, por extensão, cultural) moderna? A futilidade erigida como padrão máximo de arte aceitável e desejável? Eu reconheço que dá para rir (eu mesmo ri à beça) com a música da Amara e com algumas outras também, mas duas coisas me incomodam profundamente (e isso é apanágio de toda a música moderna, ao menos em Recife, e apenas tomo João do Morro como estudo de caso): um, a existência de imoralidades gritantes que não me atrevo a reproduzir aqui mas, no entanto, são cândida e publicamente entoadas como se fossem a coisa mais natural do mundo; e, dois… o monopólio da futilidade e o local de destaque que lhe é dado. É claro que nem tudo precisa ser sério o tempo todo – um pouco de bom humor é sem dúvidas importante -, mas me incomoda a… seriedade que se aplica à falta de seriedade das coisas.

E talvez seja este um dos maiores problemas da “cultura” moderna: ela está preenchida, em sua virtual totalidade, com coisas fúteis! Parece haver um empenho organizado, um esforço conjunto, para que as pessoas fiquem ocupadas com coisas sem nenhuma importância, que aprendam a gostar delas, e que – por ausência de padrão comparativo – passem a considerá-las como parte substancial de suas vidas. Há incontáveis exemplos, da música ao Big Brother, passanto pelas novelas da Globo, etc, etc. Com a cabeça cheia de entulho, como se pode esperar que as pessoas se ocupem de coisas sérias?

Às vezes, fico desanimado, porque tenho a quase irresistível impressão de que é simplesmente impossível conversar com algumas pessoas sobre as coisas que realmente são importantes. É necessário um dedicado trabalho de… alargamento intelectual, para que coisas como, digamos, metafísica possa ser acomodada em mentes que foram acostumadas, desde a mais tenra infância, à futilidade. E este trabalho não pode ser feito unilateralmente. Não adianta discutir com quem não quer discutir e, muitas vezes, as pessoas simplesmente não são capazes de discutir sem um grande esforço para sair da pocilga e ousar elevar os olhos para o mundo… e muitos, muitos, muitos não estão dispostos a empreender este necessário esforço…

O que é possível fazer? Na minha opinião, oferecer resistência, e oferecer educação, não da maneira mágica e demagógica como falam os nossos políticos, mas educação cristã verdadeira, desde a mais tenra infância, às pessoas mais próximas de nós, em respeito à subsidiariedade, e com um verdadeiro esforço para preservarmos os educandos do ambiente deseducativo no qual eles estão inseridos. Não consigo vislumbrar uma possibilidade mágica de conversão da geração que hoje está aí; é somente nas gerações futuras que está a nossa esperança. E, aliás, urge trabalharmos, apressando a vinda destas, pois não sei ainda quantas gerações como as nossas o mundo é capaz de suportar.

As coisas que não mudam [2006]

[Publicação original: 01 de fevereiro de 2006]

As coisas que não mudam

“Porque eu sou o Senhor e não mudo”. (Ml 3,6a)

É fato facilmente verificável por qualquer um – embora, muitas vezes, possa passar despercebido por muitos – que o mundo moderno idolatra o “Progresso”. Essa idéia de que a História caminha numa “evolução”, sempre para um estado cada vez melhor; essa idéia de que as coisas estão em contínuo melhoramento; essa idéia de que mudanças são sempre necessárias, pois as coisas que não mudam levam o mundo à estagnação e à morte; essa idéia de que as coisas precisam ser constantemente “atualizadas”, porque as coisas “antigas” estão sempre “ultrapassadas” e “não servem mais”; enfim, essas idéias todas conseguem penetrar nas pessoas quase que por osmose, quase que pela força, num bombardeio diuturno feito pelos mais diversos meios. E o homem moderno, sufocado que está por todas essas idéias que lhe são atiradas por todos os lados, muitas vezes é condicionado a tomá-las para si, sem nem perceber que o está fazendo. É condicionado a “pensar” assim, sem nem se perguntar por que o faz.

E essas idéias todas são inimigas da Religião. Existem coisas que não mudam, e essas coisas são exatamente o que há de importante neste mundo, o que o homem deve conseguir, aquilo de que o homem precisa. Deus não muda. E, quando um católico adota – às vezes sem o perceber – essas idéias das quais estamos falando, ele se coloca numa posição difícil e estranha.

Deus não muda. E existe, dentro do homem, uma sede de Deus: nos conhecidos dizeres de Santo Agostinho, Deus criou-nos para Ele, e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa n’Ele. Deus é o fim último do homem, é aquilo que ele deseja com todas as suas forças, é aquilo a que ele deve aspirar. Mas Deus não muda. E o que acontece quando o homem, que deveria aspirar às coisas que não mudam, é ensinado a pensar que as coisas precisam sempre mudar, e está absolutamente convencido (sim, essa contradição é possível e empiricamente verificável) disso?

Acontece que o homem perde o rumo. Desvia-se da sua meta, às vezes por não a reconhecer como tal (os que rejeitam manifestamente a Religião), às vezes por “inventar” outros caminhos – novos caminhos – para chegar até ela (uma estranha espécie de católico).

Cito um exemplo para ilustrar esse segundo caso. Durante séculos, o homem foi ensinado a passar das coisas sensíveis às realidades invisíveis, a subir do visível ao inefável. Esse é, aliás, um dos objetivos da Liturgia: conduzir, por meio dos sentidos, o homem às realidades superiores, que escapam à percepção humana. Deus não muda, mas os homens, na sua realidade temporal, mudam. Cumpre “contradizer”, de alguma forma, isso que os homens percebem ao investigar o mundo.

Há uma música bonita de Suely Façanha que expressa bem isso:

A cada passo descobrir
Que o tempo esconde o que é Eterno.
E que tu és o sentido,

Ó meu Senhor,
De tudo!

Essa frase – o tempo esconde o que é Eterno – resume o que estou dizendo. O homem aspira ao Eterno, mas o tempo O esconde. O que é preciso fazer? Evidenciar, de alguma forma, esse Eterno. Chamar a atenção para as coisas que não mudam.

E chamar a atenção para as coisas que não mudam é exatamente um dos propósitos da Liturgia, em particular da Santa Missa. Essa deve exprimir, de maneira tão perfeita quanto possível, a Realidade que o homem precisa conhecer, a Realidade Imutável.

Só se pode amar aquilo que se conhece. Como os homens podem amar as coisas que não mudam, se são doutrinados a pensar que todas as coisas precisam mudar? Como os homens podem conhecer o que é Eterno, se este se esconde por trás do Tempo, e se as coisas que deveriam conduzir o espírito ao Eterno estão, também, impregnadas desse pensamento de que “tudo precisa mudar”?

Como o homem pode aprender a amar as coisas que não mudam, se ele é ensinado a odiá-las? Na Santa Missa, expressão máxima da Fé Cristã, que devia – insisto – conduzir a alma humana à contemplação do Imutável, o que aprendem os católicos? Que as missas são “monótonas” se forem sempre iguais. Que é necessário, num dia, dar uma bênção às carteiras de trabalho; n’outro, vestir-se de vermelho; n’outro, vestir-se de verde-e-amarelo e subir ao Altar cantando o Hino Nacional; n’outro, levar garrafas d’água para serem abençoadas e aspergir a casa; n’outro, abençoar as chaves de casa, do carro, et cetera, et cetera, et cetera. Num dia é necessário cantar tais e tais músicas, n’outro dia essas músicas estão ultrapassadas e é necessário cantar tais e tais outras, no outro dia ninguém agüenta mais essas músicas e o padre deveria deixar que cantássemos os últimos sucessos dos Ministérios de Música que existem! Como os católicos podem ser levados a amar as coisas que não mudam, se são condicionados, no mundo e – lamentavelmente – nas igrejas a idolatrarem o Progresso?

Deus não muda – como diz a epígrafe desse texto. E somos levados a esquecer essa verdade. Até quando…? Hoje em dia, especialmente, é difícil manter os olhos fitos no Eterno, porque mudam as coisas que deveriam nos levar a amar o que não muda. Que Maria Santíssima, inimiga de todas as heresias, possa nos livrar desse erro tão pernicioso e tão disseminado ao nosso redor, nesses tempos de Trevas. E que a Luz não tarde a resplandecer.

“Minha alma está muito perturbada; vós, porém, Senhor, até quando?…”(Sl 6,4)

A paz e as bênçãos de Deus.

Marchinhas de Carnaval [2007]

[Publicação original: 17 de setembro de 2007]

Marchinhas de Carnaval

“A nossa vida é um carnaval,
a gente brinca, escondendo a dor;
e a fantasia do meu ideal
é você, meu amor!”

Isso é uma música de carnaval. Eis uma festa que sempre exerceu em mim um fascínio espetacular! Ela sempre me pareceu ter algo de bastante paradoxal. De fato, se existe um tema recorrente nas marchinhas de carnaval é essa dicotomia entre a felicidade e a tristeza, entre o sonho bom e a dura realidade. O carnaval é uma festa que subsiste na tensão entre o Sábado de Zé Pereira e a Quarta-Feira de Cinzas; entre a felicidade sem limites momentânea que ele oferece, e a dura consciência de que o tempo caminha, inexorável, rumo às cinzas da quarta-feira. A sua alegria é meticulosamente delimitada no tempo.

A euforia do carnaval é permeada pela tristeza da quarta-feira de cinzas! Isso está presente nas músicas que são características desse período; quando não há referência explícita ao fim do Carnaval (“É de fazer chorar / Quando o dia amanhece / e obriga o frevo a parar… / Oh, Quarta-Feira ingrata, / chega tão depressa / só pra contrariar!”), há as histórias dos amores impossíveis de Colombinas e Arlequins (“Quanto riso, ah, quanta alegria / – mais de mil palhaços no salão! / Arlequim está chorando pelo amor da Colombina / no meio da multidão…”), ou ainda de paixões passageiras (“Mas é carnaval, / não me diga mais quem é você… / Amanhã tudo volta ao normal!”)… não importa. As marchinhas de Carnaval, para serem boas, precisam ser tristes, porque o carnaval tem, intrinsecamente, a tristeza de ser passageiro.

E é precisamente este paradoxo do carnaval – a tristeza na alegria – que sempre me encantou. Os prazeres do mundo são tentadores, bem o sabemos; mas vejam que espécie estranha de tentação! Um prazer que se diz expressamente passageiro… uma alegria que carrega, em si, a tristeza da própria efemeridade. Quem é que vai se enganar, tomando como absoluto um prazer que se define, repetidamente, como limitado?

Mas, se olharmos um pouco melhor, veremos aí a malícia da tentação! Pois, note-se bem: uma coisa é escolher algo mau, mas que está “revestido” de uma roupagem boa, capaz de enganar. E outra coisa, bem diferente e bem pior, é gostar do algo mau sabendo ser ele mau, despido daquilo que pode enganar um incauto. Coisa lamentável é entregar-se a um bem menor sem avaliar corretamente as suas (reduzidas) dimensões; coisa muito mais lamentável é entregar-se a este bem menor conhecendo exatamente o seu parco tamanho! Ah, o carnaval pode parecer bem pouco enganoso, para quem gosta de escutar marchinhas… mas como é pior o abismo que ele abre, como é tão mais desgraçado quem nele cai, precisamente por causa da falta de engano… precisamente pela verdade revelada nua e crua!

E esta visão de mundo carnavalesca é o extremo oposto da visão de mundo cristã. Os católicos vivem num “vale de lágrimas”, num mundo de sofrimentos, sabendo todavia que esta vida é curta e que, sofrendo bem neste mundo, poderemos gozar um dia da Bem-Aventurança celeste que não tem fim. O carnaval é um “vale de prazeres”, onde se deve aproveitar bem a festa que é curta, porque depois voltará a tristeza do quotidiano…

A festa curta do carnaval, que deve ser aproveitada, porque o futuro é só tristeza… As lágrimas do dia-a-dia enquanto caminhamos nesta curta vida, que devem ser choradas, porque o futuro é a Glória da Vida Eterna! Uma perfeita correspondência antitética! Eis aí a tentação de Momo!

“Vê, Colombinas azuis a sorrir, lá-láiá…
Vê, serpentinas na luz reluzir…
Vê os confetes do pranto no olhar
desses palhaços dançando no ar!

Vê, multidão colorida a gritar, lá-laiá…
Vê, turbilhão desta vida passar…
Vê os delírios dos gritos de amor
nesta orgia de sol e de dor!”

Se nos for permitido tomar catequese do carnaval, que peguemos (como um exemplar da sua filosofia) esta música, e a entendamos do jeito certo: não gastemos os nossos dias vendo o turbilhão desta vida passar! Sim, a vida passa depressa, como um turbilhão – como nos ensina a Doutrina da Igreja – e importa que cuidemos com zelo do pouco tempo que nos é dado, a fim de não o vermos simplesmente passar! Como nos diz o finalzinho daquele soneto de Frei Antônio das Chagas:

“Ó vós, que tendes tempo sem ter conta,
não gasteis vosso tempo em passatempo!
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta.

Pois aqueles que, sem conta, gastam o tempo,
quando o tempo chegar de prestar conta,
chorarão, como eu, o não ter tempo.”

Permita-nos Deus cuidar bem do nosso tempo; para que não aconteça de, arrastados pelo turbilhão da vida, chorarmos depois o ter ela passado tão depressa!

Alegria e Esperança [2006]

[Publicação original: 28 de março de 2006]

Alegria e Esperança

Não é novidade para ninguém que me conheça, um mínimo que seja, o meu interesse pela Liturgia da Igreja e a minha predileção pelas “coisas antigas”, pelo Rito do qual participaram os santos através de séculos de catolicismo, pelo Santo Sacrifício de Nosso Senhor celebrado segundo as fórmulas anteriores à Reforma Litúrgica do século XX.

Não pretendo, aqui, fundamentar a minha opinião sobre a Reforma, nem explicar detalhadamente ambos os ritos e a diferença entre ambos, nem nada disso. Hoje, quero apenas aproveitar o Gaudete et Laetare do domingo último para expressar a minha felicidade e as minhas mais vivas esperanças em relação às mudanças que se anunciam no Horizonte da História, e que, lá longe, em Roma, já podem ser visualizadas.

Os órgãos de imprensa estão anunciando, abundantemente, esses dias, que o Papa está interessado no problema dos lefebvristas e do Missal de S. Pio V. Para quem não está por dentro da situação, uma rápida pincelada no quadro geral:

Lefebvristas são os membros da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, fundada por D. Marcel Lefèbvre. São padres que não aceitaram o Concílio Vaticano II e o Missal promulgado por Paulo VI, tendo permanecido na celebração da Missa Antigo, no rito de S. Pio V. Hoje, encontram-se oficialmente em cisma [p.s.: porque Dom Lefèbvre sagrou bispos sem mandato pontifício, incorrendo – junto com os bispos sagrados – em excomunhão latae sententiae], e em negociações com a Santa Sé para que possam voltar à comunhão da Igreja. Cabem muitas considerações aqui, mas não as vou fazer por hoje.

O Missal de S. Pio V é o missal que contém o rito da missa celebrado até cerca de quarenta anos atrás, antes da Reforma Litúrgica. Hoje em dia, só pode ser celebrado sob licença especial do Bispo local. Também aqui cabem muitas considerações, mas, como disse no início, não as vou fazer.

Pois muito bem: pelas notícias que me chegam, parece-me que Sua Santidade Bento XVI estaria pensando em um acordo de reconciliação com os padres da Fraternidade, e em uma liberação universal do Missal de S. Pio V. Se isso vier realmente a acontecer, teremos dois efeitos maravilhosos:

1- Todos os seminários da Fraternidade estarão a serviço de Roma. E (apesar de algumas questões sobre as quais não vale a pena entrar em detalhes agora) todos dizem que seus seminários são excelentes.

2- A Missa de São Pio V poderá ser celebrada livremente, sem a necessidade da licença do Bispo Local que, hoje em dia, é o maior entrave à popularização desse rito.

Esses efeitos, a meu ver, são maravilhosos porque:

1) A presença de bons seminários seria uma valorosa ajuda para elevar o péssimo nível dos sacerdotes que (com honrosas exceções) (des)orientam os católicos, nesses nossos dias difíceis.

2) A presença regular de missas celebradas segundo o rito antigo seria uma valorosa ajuda para resgatar o senso de sagrado que (novamente, com honrosas exceções) não existe nos católicos atuais.

As notícias são animadoras. O Pastoralis[1] noticia:

O Cardeal Francis Arinze, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, abordou, à tarde o tema da reforma litúrgica pós-conciliar e a utilização do Missal de São Pio V. Sobre este assunto se destacou o interesse do Pontífice em escutar o parecer dos cardeais sobre se o Missal, vigente até 1962, deveria receber um indulto universal; quer dizer, se poderá ser utilizado livremente na Igreja, sem necessidade de uma aprovação explícita do Bispo local, como atualmente requerem as normas.

O ZENIT[2] nos diz que, numa reunião na Quinta Feira última para discutir os grandes desafios que a Igreja enfrenta atualmente, foram colocados três temas de particular importância: a Igreja e o Islã, a questão dos bispos eméritos, e as negociações com a Fraternidade São Pio X.

De minha parte, fico feliz que as coisas estejam tomando este rumo. Ano passado, chateado com a nulidade dos meus esforços para que a Liturgia da Igreja fosse adequadamente celebrada na paróquia que frequento, escrevi (5 de agosto de 2005[3]), em tom de desabafo:

Estou cansado de missinhas animadazinhas, estou cansado de padres que parecem muito mais organizadores de encontros sociais que Sacerdotes do Deus Altíssimo, estou cansado de ‘fiéis’ que vão à missa para ‘viver o amor de Cristo’ e não para participar do Sacrifício do Filho de Deus! Será que sou só eu? Será que somente eu sinto vontade de poder assistir duas missas iguais, independente de quem seja o celebrante? Será que sou só eu que tenho dificuldade em enxergar, na Igreja, o Cristo Vítima e Sacerdote por detrás dos cantos protestantes no momento da consagração?

E terminei, em súplica, com o salmista:

“Voltai, ó Deus dos exércitos; olhai do alto céu, vede e vinde visitar a vinha.

Protegei este cepo por vós plantado, este rebento que vossa mão cuidou.

Aqueles que a queimaram e cortaram pereçam em vossa presença ameaçadora.

Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o homem que haveis fortificado.E não mais de vós nos apartaremos; conservai-nos a vida e então vos louvaremos.

Restaurai-nos, Senhor, ó Deus dos exércitos; mostrai-nos serena a vossa face e seremos salvos.”

(Sl 79, 15-20)

Agora, vários meses depois, alegro-me sobremaneira em ver a minha prece – na época tão distante, e tão improvável! – ganhar traços de realização. Louvado seja Deus! E que rezemos, incessantemente, confiantemente, para que o Espírito Santo produza a autêntica renovação da Sua Igreja, para a maior glória de Deus e salvação das almas.

Referências:

Os limites da tolerância

Hoje, a senhora Sandra Nunes – velha conhecida de tantos quanto estão acostumados a passear por este blog – foi colocada sob moderação. Os motivos são mais do que evidentes, e estão no comment acima linkado. Não foi sem relutância que tomei esta decisão; todos sabem – eu próprio já frisei aqui por outras vezes – o caráter combativo do Deus lo Vult!, que não apenas prevê mas também (e principalmente) pressupõe as intervenções dos leitores.

Já há algum tempo há moderação neste blog; desde o tristemente célebre ataque dos ateus estrebuchantes que eu percebi não ser possível manter as coisas completamente abertas. No entanto, sempre é de se lamentar quando um debate (ou um debatedor) ultrapassa a fronteira do razoável e passa a ser contraproducente.

A supracitada senhora – alguns poderão dizer – já há muito tempo (talvez até desde sempre) ultrapassou esta fronteira. Eu não discutiria contra esta afirmação. No entanto, se até o presente momento eu julguei ser possível aplicar uma política de tolerância, após sérias reflexões decidi tomar a decisão – não trivial – de suspender o beneplácito.

Tolera-se, por definição, aquilo que é um mal. Em qualquer âmbito da vida, um mal pode ser tolerado caso se tenha em vista um bem maior a ser obtido. Na lógica dos debates de internet, a exposição das posições errôneas é, evidentemente, tolerada para que as suas refutações possam brilhar, e o argumento vencedor possa, se não convencer o debatedor vencido, ao menos fortalecer a convicção dos espectadores. Nem sempre Deus concede a graça de que o inimigo vencido na arena se levante como irmão do vencedor; no entanto, o esplendor da verdade que irradia do argumento bem construído e bem aplicado é menos raro e, geralmente, compensa o mal que se tolera.

Digo apenas “geralmente”, porque há vezes em que o estertor desesperado daquele que não é capaz de manter racionalmente as suas posições termina por obscurecer aquilo que é realmente relevante. E, se isso pode ser tolerado uma, duas, cinco ou dez vezes, chega um ponto em que a tolerância indefinida já pouco ou nada traz de útil; os bens advindos são menores do que os males que estão gozando da tolerância. Aí, é chegada a hora de intervir… Não é o debate em si que se busca cercear, óbvio, porque este, se verdadeiro, não pode senão servir para a defesa da Verdade, de Deus, de Sua Santa Igreja. O que se corta e lança fora é uma deturpação do debate, um seu abuso, uma espécie de caricatura que se instala no lugar onde as pessoas deveriam debater e as impede de o fazerem. E eu não poderia, em consciência, permitir que este espaço por mim idealizado e construído a duras penas fosse de tal maneira pervertido a ponto de não ser mais possível que, nele, se fizesse aquilo mesmo a que ele se propõe. Tolerância tem limites.

Não foi uma atitude fácil nem incontroversa, mas estou convencido de que foi uma atitude necessária. É lamentável, mas não menos necessário. Que a Virgem Santíssima, Sedes Sapientiae, possa interceder por todos nós, e de maneira especial pela sra. Sandra Nunes, a quem – até além de onde foi possível – esforcei-me por manter aqui. Que Deus tenha misericórdia de nós todos.

Catholic Google

Só para comentar: existe uma coisa que foi colocada na internet recentemente, chamada “Catholic Google”. Grossíssimo modo, trata-se de um sistema de buscas que utiliza google search para responder às pesquisas feitas pelo internauta, com a diferença de que o resultado apresentado passa por uns filtros que eliminam aquilo que é inadequado ao público-alvo – no caso, os católicos.

Assim, por exemplo, se você digitar “porn”, o sistema não retorna nenhum documento. Se você digitar “sex”, aparecem textos sobre o Matrimônio Católico, ensinamentos da Igreja sobre a sexualidade humana, etc. Sobre a idéia, gostaria de fazer dois pequenos comentários.

O primeiro, é que este site não faz o que se propõe a fazer. Não sei quem é responsável por ele, mas os resultados que aparecem não são bons. Por exemplo, digitando “sex”, o primeiro link apresentado é uma artigo debochado e blasfemo de muitíssimo mau gosto intitulado “sexo mata, seja católico e viva para sempre”. Desnecessário dizer que nada poderia ser mais estranho à Doutrina Católica do que esta frase sem sentido, sendo portanto inexplicável que um artigo assim apareça – muito menos como o primeiro resultado – em um sistema de buscas que se pretende católico.

[En passant, há um outro site de buscas – o “Busca Católica” – que é mais antigo e me parece ser muito melhor, tendo inclusive a vantagem de ser em português. No entanto, quando entrei agora para fazer o mesmo teste e digitei “sexo”, descobri com horror que os dois resultados que ficam em cima, indexados como “destaques da busca”, são propaganda chula e pornográfica de sites que prometem (com termos de baixíssimo calão) uma melhoria no desempenho sexual. Portanto, parece infelizmente que o problema não é restrito ao novo site de buscas…]

O segundo comentário que gostaria de fazer é mais… conceitual. Sinceramente, se a única coisa que o sistema fizer for “filtrar” resultados inadequados, eu não vejo lá muita utilidade nele; afinal, qual católico interessado em doutrina católica iria digitar “porn” num caixa de textos de um sistema de buscas?! O que seria interessante – e importante – de ser feito seria um sistema que apresentasse os resultados classificados por critérios como fidelidade dos textos escritos à Doutrina da Igreja Católica (absolutamente fundamental), didática do texto, tipo de material desejado, etc. Mas acontece que, pra fazer isso, dá muito trabalho…

Para o “católico médio”, é muitíssimo difícil discernir, entre todas as coisas que encontra na internet – mesmo em uma busca sobre Doutrina Católica -, aquilo que presta daquilo que é lixo. Há uma carência de formação muito grande, e seria muito bom se houvesse um mecanismo que “ajudasse” o leitor pouco instruído a encontrar aquilo do qual ele realmente precisa. Infelizmente, a tarefa é muito complexa para ser automatizada. Ferramentas como o Catholic Google, portanto, do jeito que estão agora, terminam por prestar um desserviço à Igreja, na medida em que se apresentam como um local onde se pode encontrar material católico e, ao revés, apresentam verdadeiras porcarias aos que acessam o site para fazer consultas. Neste sentido, é muitíssimo menos ruim o Google original; pelo menos não existe nele a “propaganda enganosa” de que os resultados obtidos serão conforme a Doutrina Igreja, o que obriga assim o usuário a pesar com discernimento os resultados que lhe forem apresentados, tornando menos fácil que ele tome gato por lebre.

A repulsa à Cruz de Cristo

Recebi hoje uma notícia segundo a qual uma igreja britânica decidiu retirar uma imagem de Cristo Crucificado da frente do templo, porque era desagradável aos fiéis – e “assustava as crianças”. Pelo que pude entender da reportagem, é uma igreja protestante; provavelmente anglicana.

A escultura (tem uma foto na reportagem linkada acima) é feia, mas não por ser uma “descrição horrenda da dor e do sofrimento”, e sim por ter sido feita numa arte moderna pela qual eu tenho uma natural repulsa. Não é tanto de causar tristeza a remoção da “obra de arte”, mas sim os motivos alegados para que ela fosse removida: o hedonismo do mundo moderno está contaminando até mesmo os cristãos, que não suportam mais pôr os olhos no Homem das Dores.

Ah, se eles soubessem que é precisamente a dor de Nosso Senhor que nos deve ser causa de santa alegria… se eles soubessem que “fomos curados graças às Suas chagas” (Is 53, 5)! Querer afastar a dor da vida é criar uma ilusão, porque nós vivemos – como rezamos na Salve Rainha – em um “Vale de Lágrimas”, e as tribulações não “desaparecem” quando nós fechamos os olhos e nos recusamos a vê-las. Devemos enfrentar os nossos sofrimentos e carregar as nossas cruzes; não fingir que elas não existem, porque existem, quer as aceitemos, quer não.

Ouvi certa vez alguém dizer que, no Calvário, havia três cruzes, para nos ensinar que todos sofrem: sofrem os inocentes, como Cristo, sofrem os pecadores penitentes, como São Dimas, e sofrem os que não aceitam o sofrimento, como “o Mau Ladrão” (Gesmas ou Gestas). É pouquíssimo provável que nós consigamos sofrer como inocentes, mas precisamos, no mínimo, aproveitar o nosso sofrimento para mais perfeitamente nos unirmos a Cristo Nosso Senhor, como São Dimas. O que não podemos, de nenhuma maneira, é sofrer como Gestas!

Dizer que o Crucificado assusta crianças é uma tremenda bobagem, somente concebível numa sociedade que tenciona, talvez, criar as suas crianças dentro de uma bolha cor-de-rosa onde o sofrimento não tem lugar. Quando, um dia, essas crianças forem confrontadas com “o mundo de verdade”, será então um grande choque; o mundo pode prometer uma vida sem sofrimentos, mas ele nada pode contra a palavra do Criador, que nos diz que, no mundo, havemos de ter aflições (cf. Jo 16, 33). Uma promessa de uma terra sem males é utópica e enganosa – a única esperança que podemos ter está precisamente na Cruz de Nosso Senhor, pois foi aí que Ele demonstrou o Seu amor por nós. Não com uma mentira reconfortante, mas com a verdade nua e crua, dolorosa, do Seu Divino Sangue se esvaindo, de Seus pés e mãos transpassados, da agonia do corpo exausto e ferido, dependurado à vista de todos, morrendo para que tivéssemos vida… Nós não queremos a falsa segurança de uma vida a salvo da morte, mas – ao contrário – a esperança de uma Vida apesar da morte. É disso que precisamos: da Verdade. A Cruz de Nosso Senhor nos traz à memória, de súbito, todo o cerne da mensagem de Salvação das Escrituras Sagradas: somos pecadores, Deus nos ama, temos esperança.

O mundo odeia a Cruz de Cristo… até onde pode ir um mundo que odeie o sofrimento? Como não perceber que uma concepção da vida que exclua a dor não vai poder produzir senão traumas e decepções, quando as pessoas se depararem – e fatalmente se depararão – com o mundo real? Busquemos o Crucificado, esforcemo-nos para estarmos sempre juntos de Nosso Senhor. E, junto com São Paulo, anunciemos com destemor “Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos – quer judeus quer gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus” (1Cor 1, 23-24).

Anna & Mia

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Eu sempre fui bastante cético com relação às frases de efeito utilizadas por uma espécie de “cultura de auto-ajuda”, segundo a qual o maior problema do Universo é o fato das pessoas terem baixa estima, e se acharem, tipo, um “joão-ninguém”. E sempre fui assim cético porque a enorme maioria das pessoas com quem eu convivo tem uma consideração exagerada por si própria; os piores casos de baixa auto-estima com os quais me deparei tinham-se, sempre, em conta muito mais alta do que lhes era devido por justiça.

Não acho que eu seja exagerado. Uma das passagens de escritores espirituais que mais me marcou foi quando, há alguns anos, li pela primeira vez o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, e vi que São Luís de Montfort, citando São Bernardo, não tinha um pingo de autocomiseração, pois propunha uma meditação (n. 228) com as seguintes palavras de São Bernardo: “cogita quid fueris, semen putridum; quid sis, vas stercorum; quid futurus sis, esca verminum” (pensa no que foste, semente pútrida; no que és, vaso de esterco; no que serás, comida de vermes). Lembro-me muito bem de que, à primeira vez, foi um choque considerar-me como um vaso de esterco: eu me tinha em alta conta, mais alta do que me era devida, e não o sabia.

Não pretendo tecer considerações detalhadas sobre este curioso fenômeno (já o fiz há algum tempo aqui); gostaria apenas de me perguntar se existem pessoas com “baixa auto-estima”, e se isso pode vir a ser um problema para elas. E o faço sob uma ótica específica: a das garotas que têm anorexia. Nunca havia tido contato com nenhuma anoréxica antes; conheci no entanto, recentemente, uma garota assim, e me impressionei com a quantidade – e, mais ainda, com a “qualidade” – do “material” sobre o problema disponível na internet.

Existe um verdadeiro empenho para se “embelezar” e transformar num ideal o “estilo de vida” anoréxico; é perturbador! Veja-se, por exemplo, o vídeo acima, de “thinspiration” (um curioso e intradutível jogo de palavras com “thin”, “magro”, e “inspiration”, inspiração). My wish: to be pretty (meu desejo: ser bonita). My hope: to be loved (minha esperança: ser amada). My love: anorexia (meu amor: anorexia). Veja-se o desenho da menina vomitando (bulimia; voltamos já já para isso) borboletas: I hate myself (eu me odeio)… I want to be seen as someone breakable and soft (eu quero ser vista como alguém frágil – “quebrável” – e delicada). Nothing tastes as good as thin feels … nothing hurts the way being unloved does …. and WE ALL will reach our goal, if we believe (nada é tão saboroso quanto ser magra … nada machuca tanto quanto não ser amada… e NÓS TODAS vamos atingir nosso objetivo, se nós acreditarmos). WE WILL (NÓS VAMOS)! É incrível – é uma verdadeira lavagem cerebral! And someday you will be proud of today’s not-eating (e um dia você vai ser recompensada por não ter comido hoje)… because you WILL be beautiful (porque você VAI ser bonita). E surge uma Barbie anoréxica (a gente volta daqui a pouco para isso também). If you stop, you’ll never feel the freedom you search for (se você parar, você nunca vai sentir a liberdade que procura); then, you will never see the light you reach for (então você nunca verá a luz que busca). Dare to dream (ouse sonhar).

É, verdadeiramente, um ideal de vida, a ser buscado custe o que custar, e que vale todos os sofrimentos: a fome, os laxantes, o vômito, a solidão, a fraqueza, tudo. É a perfeição a ser atingida, cuja posse recompensa todo e qualquer sacrifício; é a verdadeira liberdade, reservada àquelas que ousam sonhar alto e se empenhar na busca dos seus sonhos. Qualquer semelhança com um ideal religioso às avessas não me parece mera coincidência.

Este tipo de panegírico à doença circula livremente pela internet – é horrível. Existe toda uma “cultura” associada à anorexia vista como um ideal de vida: desde as borboletas e o desejo de ser “leve para voar”, passando pelas “amigas” Anna e Mia (a “Anna” é a anorexia e a “Mia” é a bulimia) que são aquelas que dão apoio às garotas que estão tentando emagrecer (estão “em busca da perfeição”)… Este blog traz em certo momento uma espécie de lista dos jargões: “LF” = “low food” (pouca comida), “NF” = “no food” (sem comida), “miar” = “vomitar” (vem da amiga Mia…), “tive uma compulsão” = “comi muito”… E isto não é o pior, porque as cartas das amigas “Anna e Mia” são verdadeiramente pra provocar estupor. Este profile do orkut, que achei por acaso, traz versões de ambas (aliás, hoje a garota está de “NF” – quer dizer (como só soube depois) que está sem comer). Vejam só (todos os absurdos tipográficos são do original):

CARTA DA MIA

Oi! Meu nome é Bulimia, mas os íntimos me chamam de Mia. Sou sua companheira e vou estar com vc nas horas de mais aperto e desespero, estou com vc e quase sempre com a Anna. Somos o trio perfeito e espero que vc não nos decepcione,pq nós sim somos suas verdadeiras amigas ! Não te decepcionamos e vamos sempre te ajudar. Vc com certeza terá momentos de extrema tristeza,mas passa pq nossa amizade é mais forte. Vc tem aquelas amigas que não te entendem, e se vc contar pra elas, nossa amizade estará em risco, elas irão querer te “ajudar”, mas não é isso o que elas queerem.. elas querem é destruir nosso laço e eu tenho certeza que vc não quer isso, portanto fique de boca fechada, pq vc não tem permissão da Anna de comer, e tem permissão minha de botar tudo pra fora se for necessário ! A escolha é sua, mas nós estaremos SEMPRE com vc e nunca iremos te abandonar ! Vc é forte o bastante para dizer não a seus familiares e “amigos”, nós sabemos disso. Te amamos…  Beijinhos da Mia.

CARTA DA ANA

Meu nome é Anorexia,mas você pode me chamar de Anna. Nós podemos nos tornar grandes amigas. Diziam que vc era tão madura,inteligente,que vc tinha tanto potencial. E eu pergunto, aonde tudo isso foi parar ? Absolutamente em lugar algum !Vc perde tempo falando com seus amigos ! Logo,esses atos não serão mais permitidos. Seus amigos não são verdadeiros. Quando inseguramente vc perguntou a eles: -Estou gorda? E eles te disseram: -Não,claro que não ! Vc sabia que eles estavam mentindo ! Apenas digo a verdade ! E sem falar nos seus pais ! Irei te contar um segredo agora: Bem no fundo,eles estão desapontados com vc. Porque vc se transformou em uma gorda,lerda,e sem merecimento de nada ! Vc não pode contar a ninguém. Se vc decidir o contrário,todo o inferno vai voltar ! Ninguém pode descobrir ! Eu criei vc,magra,perfeita,minha criança lutadora ! Vc é minha,e só minha! Sem mim,vc é nada ! Então,não me contrarie. Quando outras pessoas comentarem,ignore-os ! Esqueça eles,porque todos querem me fazer ir embora. Serei seu melhor apoio,e pretendo continuar assim.

Sinceramente, eu fiquei escandalizado quando encontrei estas coisas ao acesso de todo mundo, com a roupagem bonitinha e as cretinas insinuações de que é preciso afastar-se dos familiares e dos amigos, para não perder o ideal de vida anoréxico. Por isso é que eu volto a dizer que há coisas que não deveriam ser divulgadas… mas este é um outro assunto. Sobre este aqui, que já está ficando longo por demais, só mais dois comentários e um exemplo.

O primeiro comentário é sobre a Barbie anoréxica que aparece no vídeo. Este blog toca, quatro anos atrás, no assunto, e reproduz um comentário de uma anoréxica que vale a pena ser de novo reproduzido aqui:

A comunidade [do orkut] está crescendo espantosamente, numa rápida pesquisa, encontrei um número enorme de blogs com depoimentos chocantes (especialmente para uma mãe, como eu!). Entre esses textos, encontrei um que me chamou muita atenção pela lucidez da menina.

“Vocês podem até ser contra sites destes tipos, mas saibam e vejam que antes de tentar nos mudar vocês vão ter que mudar o mundo. Algumas perguntas relevantes:

1) Por acaso vcs já viram alguma gorda sexy como garota propaganda em alguma grande revista como Marie Clare ou Boa Forma?

2) Por que os maniquins das lojas femininas são baseados em números de 36 a 42 em sua maioria ?

3) Já viu alguma protagonista de filme ou novela realmente gorda???

4) Se o normal é comer porque todo dia lançam no mercado mais e mais produtos e dietas para emagrecimento?

5) Porque nunca colocam um gorda na campanha do Mac Donalds?”

Infelizmente, ela está certíssima. Antes de tentar mudá-las, precisamos mudar o mundo.. Não é o caso de criticá-las, mas de tentar compreendê-las e ajudá-las a superar esse problema. Nesse passeio pelos blogs, minha vontade é de colocá-las no colo. Fico imaginando, quantas mães sabem o que está se passando com essas meninas?

E a “ditadura da beleza” tem, sim, a sua parcela considerável de culpa no drama que estas meninas vivem; cansei de ler coisas como “é melhor morrer magra do que viver gorda” nos profiles de orkut pelos quais andei passeando. Trago o exemplo: este blog é de uma menina de Recife de 16 anos (não sei quem é, e gostaria muitíssimo de saber). O que tem escrito ao lado? “Se você nunca chorou ao ver sua imagem no espelho… Se você nunca sentiu odio de todo o mundo… Se você nuca foi motivo de piada… Se você nunca sentiu vontade de se trancar em seu quarto e nunca mais sair e lá…então você não sabe o que se passa comigo, portanto não venha me julgar”. A menina quer chegar aos 35 kg. E eu, sinceramente, acho um completo absurdo que exista um mundo no qual as meninas sejam forçadas a “se enquadrarem” n’algum perfil obtuso de beleza, sob pena de “ser motivo de piada” ou de chorar “ao ver sua imagem no espelho”. Vontade de chorar tenho eu, ao me deparar com uma situação dessas…

E, aqui, termino com o segundo comentário, retomando o que falei acima, sobre a auto-estima das pessoas. Estas meninas provavelmente sentem-se muito mal; qual a diferença, portanto, delas para o ideal proposto pelos santos para meditação? A diferença é que o problema  – combatido pelos santos – está relacionado à estima do jeito que o mundo a entende. Não basta sentir-se um sapo e desejar ser um rouxinol; não é suficiente ter consciência de que é um patinho feio, mas cultivar secretamente o desejo de vir a ser cisne. Não adianta saber-se um vaso de esterco e desejar, custe o que custar, ser um vaso de bálsamo. Em uma palavra: evidentemente não é para cultivar o desprezo por alguma coisa terrena mantendo, ao mesmo tempo, uma enorme insatisfação e um desejo desordenado de se obter alguma outra coisa terrena. À estima do jeito que o mundo a entende (e que praticamente todo mundo tem – mesmo que seja só “em potência”, em desejo, como as anoréxicas), opõe-se uma espécie de “santa estima”, que é a consciência clara de ser amado por Deus, de que se é filho de Deus e se tem o Céu por herança – isto deve nos bastar. É porque somos filhos de Deus que podemos desprezar as consolações do mundo; não é um mero masoquismo, e sim uma correta ordenação das graças que nos são concedidas. Todo filho de Deus tem do que se orgulhar, tem um bem que não lhe podem arrancar, tem uma riqueza mais valiosa do que qualquer outra que poderia almejar. É na verdade esta a auto-estima – e não a que o mundo apresenta – que deve ser buscada. Porque, na verdade, nem todo mundo pode ser o cisne branco – ou “a borboleta” – apresentado(a) pelo mundo como ideal supremo: no entanto, na casa do Pai há sempre – e sempre haverá, independente das modas do mundo – muitas moradas.

“Mais um ano passou…”

E chegamos ao dia 31 de dezembro. 2008 passou rápido, mas foi um ano importante. Foi o ano em que iniciei o Deus lo Vult!, sem saber ao certo como o iria conduzir, sem ter certeza de quanto tempo poderia dedicar-lhe sem comprometer as outras atividades do meu dia-a-dia. Tinha apenas a convicção de que era necessário fazer alguma coisa… desperdiçar menos o tempo livre que eu tinha… empregar mais os meus (parcos) dons no serviço à Igreja de Nosso Senhor.

E, hoje, este pequeno blog está com pouco mais de sete meses (criei-o em fins de maio). 429 posts e 4.359 comentários. 95.042 hits; houve dias em que atingiu 2.125 e, em dezembro, está com média de 727 por dia. Para mim, é um sucesso absoluto e inesperado, havendo ultrapassado bastante as melhores expectativas que eu poderia ter quando o resolvi criar, sete meses atrás. Agradeço a todos os meus amigos que por aqui passaram e passam; aos que eu já conhecia antes, e aos que aqui eu encontrei. Sois vós os responsáveis por estes números tão animadores.

E números que passam também uma grande responsabilidade – Deus o sabe! Deus sabe que, em absoluto, não tenho mérito algum por tamanha visibilidade, nem capacidade para administrar com o zelo que me é exigido o fluxo de pessoas que por aqui passa. Mas, então, lembro-me do início… lembro-me de que não sabia ao certo o que fazer, nem como fazer, nem onde ia chegar. Terminou 2008, e eu ainda não o sei. Continuemos a caminhar, pois: a cada dia basta o seu cuidado.

Renovo, mais uma vez, o meu compromisso de servir a Deus e à Igreja por aqui; renovo a dedicação desta modesta arena virtual à Virgem Santíssima, Porta do Céu, por quem o Deus-Menino veio até nós, e sem a qual eu não espero obter favor algum dos Céus. Sim, Deus o quer; também eu quero querer, e quero corresponder o melhor possível aos dons com os quais a Divina Providência me agracia a cada dia.

Agradeço a todos quantos por aqui passam, principalmente pelas orações que são feitas a Deus por mim; Ele o sabe o quanto elas me são importantes. Já basta, finda o ano; espero poder estar por aqui também em 2009, ansioso por fazer-me – um mínimo que seja! – menos inútil, e com um desejo ardente de, a despeito das minhas misérias, contribuir – um pouco que seja! – para a maior glória de Deus e a exaltação da Santa Madre Igreja.

Um feliz ano novo para todos. Que venha 2009! Quanto a mim, não peço a Deus senão a graça de poder continuar sempre no combate, sempre na defesa da Fé Católica e Apostólica, na qual eu quero viver e morrer.