Começa a Semana Santa

São poucos os dias que separam o Domingo de Ramos da Sexta-Feira da Paixão: que separam a entrada gloriosa de Nosso Senhor em Jerusalém, aclamado pelo povo, da Sua Crucificação horrenda, instigada também pelo povo, poucos dias depois. Na Liturgia de ontem, o drama se desenrola com ainda maior volatilidade: o contraste entre os gritos de «Hosana!» e «Crucifica-O!» atinge o fiel católico que assiste à Missa no pequeno intervalo entre a procissão de entrada e o Evangelho. Nós O saudamos! Nós O crucificamos!

A súbita mudança de humor pode parecer inverossímil; no entanto, com que facilidade os nossos melhores propósitos de amor e dedicação a Deus esvanecem-se e dão lugar, da noite para o dia, aos mais mesquinhos sentimentos de egoísmo e amor-próprio! Não cabe somente aos judeus daquele tempo o terrível crime do deicídio; em verdade, cada um de nós, e por incontáveis vezes!, assassinamos a Deus. Verdade que aprendemos no Catecismo. Verdade que a Sagrada Liturgia não nos deixa esquecer. Verdade enfim que experimentamos em nossa carne – que, se mirarmos com sinceridade o espelho de nossa alma, não deixaremos de ver com desconcertante clareza.

Começa a Semana Santa. É uma síntese de nossa vida. Sigamo-la atentamente.

É de novo Quaresma…!

Que tempo é a Quaresma? Tempo, por excelência, de penitenciarmo-nos. Todo o ano litúrgico – muitos já o disseram – gravita em torno da Páscoa da Ressurreição: praticamente todo o resto do ano é ou preparação para ela, ou seu natural desdobramento.

Pois bem. Chegamos ao início do tempo quaresmal que é, por antonomásia, o tempo de preparação para a Semana Santa – para a Páscoa. Como nos devemos preparar? A vida cristã é uma vida de penitência, sem dúvidas: nunca é demais o repetir. Já disse várias vezes que aqueles que têm por Deus um Crucificado não podem esperar, da vida, mais que os sofrimentos do Calvário, mais que as lágrimas da Cruz. Toda a vida cristã é assim uma grande penitência, que as nossas orações cotidianas (lembremo-nos de quando suspiramos à Santíssima Virgem «gemendo e chorando neste Vale de Lágrimas»…) não nos deixam jamais esquecer. Se toda a vida cristã é já uma vida de penitência, que tempo é, portanto, a Quaresma?

Deus é maior do que a nossa capacidade de O compreender e, por extensão, a vida cristã é também maior do que a nossa capacidade de vivê-la. O sofrimento é apanágio do Cristianismo, sem dúvidas; mas também o é a alegria e a esperança, o temor e a reverência, a honra e a glória! A vida cristã é mais ampla do que somos capazes de viver. Não dá para enaltecer todas essas características ao mesmo tempo; resta-nos, portanto, vivê-las todas, sim, mas diacronicamente. Ao longo do ano. Ao longo da vida.

Os diversos tempos litúrgicos são, portanto, isso: ênfases distintas dadas aos diversos aspectos de que é composta a única vida cristã. Ora é a alegria da Criação, ora a tristeza do pecado; ora o ardor missionário, ora a esperança na Vida Futura; ora a expectativa do Nascimento do Salvador, ora a dor da Sua Paixão e Morte, ora o júbilo da Ressurreição. Ora as festividades da Páscoa! Ora as penitências quaresmais. Nenhum tempo, é óbvio, esgota-se naquilo que ele enfatiza e enaltece, porque o Cristianismo não se pode reduzir a nenhuma de Suas notas constituintes. Mas viver proficuamente o ano litúrgico pressupõe acompanhar aquilo que a Igreja propõe a cada tempo. É passado o Carnaval! Iniciam-se os violáceos dias da Quaresma…

É tempo de penitência; particularmente, de jejum, esmola e oração. Estes três elementos devem ser vividos em seu sentido literal, sem dúvidas; mas é fundamental que saibamos a quê cada um deles serve. A oração «é sempre a primeira e fundamental condição para nos aproximarmos de Deus»; o jejum, «significa domínio sobre nós mesmos»; a esmola, «dividir não só os bens materiais mas também os dons do espírito». Assim disse S. João Paulo II há mais de três décadas, em 1979; e as palavras que ele dirigiu então à Igreja de Roma serve, ainda hoje, para todos nós.

Porque é de novo Quaresma…! E a sucessão de quaresmas da nossa vida nunca será suficiente para nos deixar prontos e acabados. Nunca estaremos, neste mundo, suficientemente prontos para Deus. Nunca teremos vivido a vida cristã em plenitude – ela é maior do que nossa experiência, dizíamos acima. Cumpre, portanto, vestir – de novo! – o roxo penitencial e caminhar, de novo!, ao longo dos quarenta dias de preparação para a Semana Santa. Por debaixo das coisas antigas há tesouros sempre novos. No âmago das práticas seculares está o segredo dos santos de todos os tempos.

Quando morre um sacerdote do Deus Altíssimo…

Faleceu, na noite da última segunda-feira (12), aos 88 anos, o padre salesiano José Rolim Rodrigues. Recebi por WhatsApp o “santinho” abaixo, e reconheci pela fotografia o sacerdote de quem não me lembrava pelo nome: provavelmente a maior parte dos católicos que se confessaram, nos últimos anos, na igreja do Salesiano daqui de Recife, tem um débito espiritual para com o padre Rolim.

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Sim, eu o conheço…! Ouviu minha confissão por diversas vezes ao longo de anos. Entrar na portentosa Basílica antes do início da Missa vespertina e encontrá-lo, lá, na salinha que faz as vezes de confessionário, era um verdadeiro bálsamo para as chagas adquiridas na peregrinação espiritual nossa de cada dia. Ia haver confissão! Somente entenderão a alegria contida nessas simples palavras aqueles que já experimentaram a tristeza de se deparar com um confessionário vazio (*) num momento em que sua alma, estraçalhada, reunia as últimas forças para lançar aos Céus um desesperado grito de socorro – que se perdia no vazio.

[(*) “Confessionário vazio”, claro, é uma metáfora. Refiro-me a padres disponíveis para ouvir confissões. Praticamente não há mais confessionários em lugar algum, e infelizmente a igreja do Salesiano não é exceção a essa regra. Aos que tinham o costume de frequentá-la, talvez a imagem que lhes provoque semelhante desolação seja a da estola roxa posta sobre o genuflexório… esperando um sacerdote que a envergasse…]

Lembro-me das vezes em que com ele me confessei. “Quanto tempo que não se confessa?”, ele sempre perguntava. “Mora com seus pais?”, “é solteiro ou casado?”, “trabalha?”, “estuda?”, “tem ido à Missa?”, e tantas outras perguntas que o hábil médico de almas manejava para, mediante elas, conquistar aos seus penitentes uma confissão bem feita. E lá se iam os meus pecados, horrendos, sucedendo-se em assustadora profusão, desfilando tetricamente diante dos olhos da memória…! Ao final, ele, sereno, sorria e dizia – tocando-me paternalmente o braço – quase invariavelmente: “Tá bom. Arrependido de todos, todos os seus pecados diante de Deus, como você se encontra agora, peça o perdão e diga, por sua penitência, um pai-nosso e dez ave-marias. Diga o ato de contrição”.

E eu o rezava. Ato contínuo, em voz suficientemente alta para ser ouvido, iniciava o reverendíssimo sacerdote: «Deus, Pai de Misericórdia, que pela Morte e Ressurreição do Seu Filho reconciliou o mundo consigo…» – não era em todo lugar que se conseguia a fórmula completa da Absolvição! «E eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo». E eu respirava, enfim aliviado. E a Redenção acontecia de novo. E havia paz.

Eu costumo frequentar aquela igreja do Salesiano, onde me casei. E, agora, fico imaginando como vai ser passar ao lado da salinha de confissões e não mais encontrar lá, sentado, o sacerdote através de cujas mãos eu recebi, tantas e tantas vezes, o perdão de Deus e uma nova chance de Lhe ser fiel. O padre Rolim foi um fiel dispensador das graças do Altíssimo, e agora eu fico dividido entre dois sentimentos antagônicos: por um lado, o temor de não saber quem irá ocupar-lhe o posto (virá alguém?) e, por outro, a esperança de que ele esteja, agora, colhendo os frutos de uma vida dedicada à messe de Cristo. Mas a serenidade é maior do que a tristeza. As boas lembranças sobrepujam a ausência. A esperança é maior do que o temor do futuro. Obrigado, padre Rolim.

Quando morre um sacerdote do Deus Altíssimo e, dele, os seus fiéis se recordam com carinho e gratidão, é sinal de que ele pode dizer, diante do Justo Juiz, ter combatido o bom combate e terminado a sua carreira guardando a Fé. Que a Santíssima Virgem – a quem o padre Rolim tanto me fez rezar! – possa recebê-lo o quanto antes nas moradas celestes. Que as minhas feridas, tantas vezes saradas pelas mãos dele, possam pesar em favor do reverendíssimo sacerdote no seu julgamento. E que ele, que tantas vezes perdoou os meus pecados enquanto esteve aqui na terra, possa se lembrar de mim e de minha família, um pouco que seja, agora que pode mais diante de Deus.

Requiem aeternam dona ei, Domine,
et lux perpetua luceat ei.

Requiescat in pace,
amen.

Não há outra maneira de o celebrar!

Há toda aquela tendência moderna a que a religião seja considerada como uma questão de foro íntimo, subjetiva e que diga respeito somente às crenças internas de cada fiel, sem nenhum reflexo no mundo objetivo dos fatos empiricamente verificáveis. Sustentá-lo é um lugar-comum entre os que se consideram intelectuais e livre-pensadores, mas existe apenas um pequeno problema: o Cristianismo não se amolda a esta concepção religiosa de nenhuma maneira.

A Igreja é uma instituição histórica que nasce de fatos históricos: a Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, Deus e Homem Verdadeiro. No início do Cristianismo – a construção é de Bento XVI – não está uma grande idéia, nem uma grande descoberta, nem uma inspiração subjetiva profunda nem nada do tipo: está uma pessoa, a de Nosso Senhor – e, em particular, está o Seu Nascimento hoje celebrado em todo o mundo. O Cristianismo não é uma disposição de alma nem uma maneira abstrata de ver o mundo: o Cristianismo é uma realidade histórica, no sentido mais próprio que esta expressão é capaz de assumir.

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Tudo na Igreja Católica tem esta orientação voltada para o sensível, para o empírico: aquilo que os primeiros Apóstolos anunciavam – é São João quem o diz (cf. 1Jo 1, 1-3) – é o que eles viram e ouviram e tocaram com as suas mãos. Não se trata de uma idéia: a Fé “que recebemos dos Apóstolos” simplesmente não comporta ser reduzida a uma questão de foro interno, a uma decisão meramente subjetiva e individual. Fazê-lo é destruir a própria Fé.

De fato, como sustentar que um nascimento verdadeiro – hoje comemorado no mundo inteiro – possa ser uma questão de foro íntimo? As idéias até podem nascer no universo privado de cada mente individual: os homens, no entanto, nascem no mundo exterior que é comum a todos os homens. Se um Menino verdadeiramente nos nasceu, se Ele veio ao mundo em Belém da Judéia, se isso se passou “na época da centésima nonagésima quarta Olimpíada de Atenas; no ano setecentos e cinquenta e dois da fundação de Roma; no ano quinhentos e trinta e oito do edito de Ciro, autorizando a volta do exílio e a reconstrução de Jerusalém; no quadragésimo segundo ano do império de César Otaviano Augusto, enquanto reinava a paz sobre a terra” – como cantam as Kalendas de Natal -, se tudo é assim, como é possível, então, que o Cristianismo seja uma questão subjetiva que só diga respeito às disposições interiores dos que têm Fé? O caráter histórico da Encarnação é parte constituinte da Fé Cristã!

E, por mais que as pessoas teimem em “não acreditar”, o Deus-Menino continua nascido em uma estrebaria. Por mais que os homens duvidem, os anjos continuam a cantar o Gloria a uma turba de assustados pastores. Por mais que os cegos insistam em fechar os olhos, a Luz continua a refulgir nas Trevas, em uma noite fria de dezembro – e de lá a iluminar toda a História. Porque, independente daquilo em que creiam os homens, a realidade se lhes impõe inexorável – e a realidade é que o Verbo Divino se fez Carne, e é esse o prodígio que nós celebramos ainda hoje.

Celebramos ad extra, no mundo – exterior a nós mesmos -, porque foi ao mundo que Ele veio. Celebramos de modo visível e perceptível, porque o dia de hoje é justamente Aquele Dia em que o Deus Invisível Se fez visível e Se colocou ao nosso alcance. Celebramos abertamente, diante de todos, porque a Boa Nova hoje anunciada é causa de “alegria para todo o povo” (cf. Lc II, 10). Celebramos, enfim, o Natal em público – porque não há outra maneira de o celebrar.

Um santo e feliz Natal a todos! Aos que já crêem, a fim de que o Deus hoje humilhado no presépio possa vencer a dureza de nosso coração e nos tornar menos indignos d’Ele. Aos que não crêem, para que, olhando para o Verbo Eterno feito Menino recém-nascido, possam ser tocados pela graça de Deus e, voltando-se para a Luz, abandonem as trevas em que vivem. E a todos, a fim de que o Seu Nascimento aproveite a nós: a fim de que nos conduza, um dia, à Glória definitiva pela qual Ele nos veio.

Os herdeiros dos que já se foram

Todos conhecemos, das aulas de Catecismo, a tríplice “divisão” (permitamo-nos essa impropriedade terminológica em se tratando da Igreja Una) da Igreja em Militante, Triunfante e Padecente. Os fiéis que nos encontramos ainda no caminho desta vida, lutando contra o pecado a fim de, um dia, merecermos o convívio dos eleitos; os fiéis que já se encontram diante do Trono do Altíssimo, gozando da visão beatífica para a qual a infinita bondade de Deus os chamou; e os fiéis que, tendo morrido na amizade de Deus mas ainda com penas a pagar pelos seus pecados, encontram-se no Purgatório a expiar as suas faltas, preparando-se para a entrada definitiva na Jerusalém Celeste. Os primeiros são lembrados na Solenidade de Cristo-Rei; os segundos, comemoram-se na Festa de Todos os Santos; aos últimos dirige-se a Liturgia do dia de hoje, do dia de Finados.

Os fiéis defuntos! É de um misto de tristeza e alegria o dia dos Mortos: dizê-lo é uma banalidade. Sim, é triste porque eles partiram e gostaríamos que estivessem ainda conosco. Mas é feliz por conta da esperança da Vida Eterna, em cuja ante-sala os nossos entes queridos se encontram (ou, ao menos, temos a esperança de que se encontrem). Mas é mais do que isso: há uma certa incompreendida justiça no dia de hoje.

Porque este é o dia em que a presença dos que já partiram se prolonga no tempo para além do curso de sua existência terrestre, e nos atinge com a força de uma realidade inamovível: recusamo-nos a esquecer. O esquecimento, acho que alguém já disse, é pior do que a morte. Há uma certa tendência (cada vez mais institucionalizada, eu diria) a tratar como se nunca tivessem existido aqueles que não existem mais: eu o percebia dia desses, no Facebook, quando procurava certa postagem feita por um amigo há poucos meses falecido. Rolei e rolei o grupo sem encontrar o que procurava; de repente me dei conta de que o perfil dele havia sido apagado e, com isso, todas as suas intervenções simplesmente desapareceram da rede social, como se nunca houvessem estado lá. E podem dizer que são mórbidos “perfis de gente morta”, observação com a qual eu talvez até concorde; mas que os registros da passagem de um nosso ente querido pelo mundo sejam apagados a ponto de alguém não ser capaz de saber que ele existiu… tal é profundamente injusto e, do contrário disso, ninguém será capaz de me convencer.

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Hoje, na Missa de Finados, diante da Essa mortuária liturgicamente colocada na nave central da igreja, eu pensava nessas coisas. A vida passa num átimo, disso eu já me apercebera há algum tempo; mas o dia de hoje nos diz mais do que isso. A celebração dos fiéis defuntos nos ensina que é necessário um esforço consciente a fim de não deixarmos cair no esquecimento a memória dos que nos precederam no caminho desta vida. Importa que eles sejam lembrados! É, como eu dizia, uma questão de justiça. Afinal de contas, o mundo só é do jeito que é por conta das contribuições, pequenas ou grandes, que lhe fizeram os que hoje celebramos (isso é particularmente verdadeiro para os nossos entes queridos, mas tem validade universal). De fato, há diversos caminhos que poderiam, teoricamente, ter nos conduzido até aqui; mas foi um caminho específico e determinado o que nós percorremos; e reconhecê-lo nos faz mais humanos. As estradas que agora trilhamos foram abertas pelos que vieram antes de nós, para com os quais temos uma dupla dívida: por um lado, temos que lhes ser gratos e, por outro, temos que lhes continuar a luta. Afinal, até aqui eles nos trouxeram. Temos que deixar os que nos sucederão um pouco mais além.

No dia de Finados, é momento de elevar ao Altíssimo algumas orações em sufrágio pelas almas dos que padecem no Purgatório. Que o Bom Deus tenha misericórdia deles! Que lhes conceda o descanso eterno, a luz e a paz. E que nos ajude, a nós, a honrarmo-lhes a memória. A nós, que ficamos, e temos o dever de sermos um pouco mais do que nós mesmos: temos o dever de ser um reflexo dos que já não são. Somos os herdeiros dos que hoje comemoramos: não o esqueçamos. Que eles nos olhem com orgulho e admiração. Que descansem em paz.

Que assim seja o entardecer das nossas vidas

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Foi o professor Fedeli quem me disse, certa vez, que o entardecer era mais bonito que o alvorecer. Porque a agitação do dia levanta partículas que, em suspensão no ar, encarregam-se das mil-cores de que se costumam revestir os nossos ocasos: mas a explicação física não é tão importante quanto o simbolismo espiritual. O pôr do sol é mais bonito que o seu nascer para nos ensinar que uma boa morte é preferível a um berço de ouro: que, na verdade, não importam tanto as condições nas quais nós nascemos, mas sim o nosso estado quando deixamos este mundo.

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Sim, é belo o poente…! Que assim seja o anoitecer das nossas vidas. Que nos preocupemos mais com o fim do dia do que com início que há muito já ficou para trás – e com relação ao qual nada mais podemos fazer. Que a SSma. Virgem nos conceda almas mais inflamadas do amor de Deus do que este céu soteropolitano de fim de tarde. Que o bom Deus nos conceda um crepúsculo do qual nos possamos – no bom sentido – orgulhecer. Um que apraza a Nosso Senhor contemplar.

[Fotos em Salvador, no ligeiro mas agradável passeio em companhia do caríssimo Dionísio, a quem muito agradeço pela cordialidade.]

A Ave-Maria da minha infância

Domingo, na Missa, por ocasião da festividade de um grupo mariano da paróquia, ao final da celebração foi cantada a Ave Maria de Schubert. A música evoca-me a minha infância! Domingo, na Missa, eu me lembrava de que esta Ave-Maria foi a primeira oração em latim que eu aprendi. Quando nem sabia direito o que era latim. Quando não tinha nenhuma noção de liturgia, de língua sagrada, dessas coisas.

Foi na escola, no Nossa Senhora do Carmo, colégio religioso onde me alfabetizei e fiquei até terminar o primeiro grau. O ano? Acho que era 1996. Por incrível que pareça, não foi na aula de religião; tínhamos aulas de religião, sim, mas não tenho quase lembrança nenhuma delas. Acho que líamos passagens do Evangelho e dávamos a nossa interpretação – de crianças – do que elas significavam, ou coisa assim. Não se me imprimiram à memória; não devo ter achado que valia a pena guardá-las. No entanto, lembro-me, perfeitamente, da aula de Artes onde a professora – acho que se chamava Suely – ensinou-nos a Ave-Maria.

Ela começou quase se desculpando. Disse que se tratava de uma peça de música clássica, que não estava doutrinando ninguém e respeitava a opção religiosa de cada um. Que estava ensinando arte e história, não catequizando nem impondo religião alguma. As palavras, claro, não sei se foram exatamente essas; mas o sentido que guardei, transmito-o com fidelidade. Hoje, olhando em perspectiva, acho que não se tratou de indiferença religiosa. Acho que já havia então alguma pressão, institucional ou social, tácita talvez, para que as diferentes visões religiosas fossem “respeitadas”. Mas isso não impediu a nossa querida professora de anunciar o Evangelho da Alegria da maneira que estava ao seu alcance fazer: ela soube se aproveitar do invólucro artístico para nos transmitir aqueles versos imortais, que tantos lábios piedosos já pronunciaram ao longo dos séculos.

(E que coisa maravilhosa é fazer crianças recitarem a Ave-Maria, mesmo que elas não saibam exatamente o que estão fazendo…! Aquele “deixai vir a mim as criancinhas” do Evangelho não significa tornar os pequeninos teólogos experientes desde a mais tenra infância. Os impactos de uma educação religiosa nos primeiros anos reverberam ao longo de toda a vida; além do quê, Deus é louvado nos lábios dos infantes, mesmo que estes não sejam capazes de contemplar o significado de seus atos em toda a sua dimensão.)

No quadro, antigo, verde-escuro – dito “quadro negro” -, os versos que nos eram conhecidos. Ave Maria, gratia plena. Eram-nos conhecidos, a todos, eu dizia, porque – e aí vai outra lembrança agradável da aurora da minha vida -, naquela época, praticamente só se ouvia música pelo rádio. E, todos os dias, na Rádio Recife – “ZYB-244 Recife FM, 97,5 MHz” como cantava a vinheta -, ouvíamos, todos, onde quer que estivéssemos, a voz grave do locutor anunciar solene: “em Recife, seis horas da noite” – e logo após as conhecidíssimas notas da peça que musicava a saudação angélica. Não faço idéia de como eram as coisas em outros lugares do Brasil, pelos idos de 90. Em Recife, repito, todos, todos conhecíamos a Ave-Maria de Schubert.

E, naquela manhã, naquela sala de aula, a professora nos decifrou a letra daquela canção. Maria, gratia plena; Maria, gratia plena. Eu não fazia idéia do que era o latim; mas comecei a gostar da música ouvindo-a no carro, na rua, no ônibus, em casa, e a aprendi definitivamente no quadro-negro de uma aula de artes. Não me lembro agora se a professora tocou-a, lá, com algum instrumento, ou levou um “Micro System” para a reproduzir n’alguma gravação K7: sei, contudo, que foi ali que travei contato – pela primeira e definitiva vez – com aqueles versos multicentenários. Eu devia ter uns doze anos, e é curioso: não consigo agora me lembrar de nenhum dia específico daquela fase da vida, mas da Ave-Maria naquele quadro-negro eu nunca me esqueci.

E, domingo, quando ela ressoou na igreja, no final da Missa, eu me lembrei de tudo isso. Aquele Ave, Ave, Dominus preencheu o templo sagrado: Dominus tecum, e eu rezava pela professora que, há uns dezoito anos, teve a caridade de me ensinar um pouco de música sacra. Uma única aula na vida, provavelmente uma hora e meia ou duas horas: muitas vezes não somos capazes de dimensionar o alcance de nossas atitudes. Por isso é tão importante fazer tudo com perfeição. Por isso é importante se dedicar a cada pequena tarefa: nunca sabemos quais delas, no futuro, serão realmente importantes.

Benedicta Tu in mulieribus. Et benedictus, et benedictus fructus ventris: ventris Tui, Iesus!

Ave, Maria!, saúdam-Vos os Vossos filhos. Obrigado, professora, onde quer que tu estejas. Que a Santíssima Virgem, cujo louvor tu colocaste nos meus lábios e apresentaste ao meu coração infantil, possa olhar com particular benevolência para ti, e recompensar-te com munificência pelo serviço a Ela prestado.

“O Papa parou em nossa casa!”

Eu mal soube da viagem pontifícia a Cassano, cidade da Itália meridional cuja maior característica, a julgar pelo que dizem os órgãos de mídia, é ser profundamente marcada pela atuação da Máfia. E foi bastante por acaso que eu fiquei sabendo deste pitoresco fato que aconteceu nas estradas italianas do sul:

Trata-se de um vídeo amador, certamente de celular, feito pelas pessoas que estavam à beira da estrada para acompanhar a passagem do automóvel pontifício. O mais impressionante não é nem a bênção concedida ao doente (depois do sr. Vinicio Riva, esse tipo de atitude vinda do Papa Francisco não deveria nos surpreender mais). O mais belo está nos detalhes.

Chama a atenção sobremaneira o título que deram ao vídeo: Papa Francesco si e fermato a casa nostra, algo como “o Papa Francisco parou em nossa casa”. Parece clichê e piegas, eu sei, mas não consigo ler essa legenda – colocada, repitamos, pelas próprias pessoas que estavam acompanhando a comitiva papal na beira da estrada; moradores do lugar – sem me lembrar das diversas passagens do Evangelho em que o hagiógrafo faz insistente questão de registrar que Jesus parou em certas casas: na de São Pedro (cf. Mt 8, 14), na de São Mateus (cobrador de impostos – cf. Mt 9, 10), mas também em algumas casas anônimas: «Em seguida, deixando aquele lugar, foi para a terra de Tiro e de Sidônia. E tendo entrado numa casa, não quis que ninguém o soubesse» (Mc 7, 24a).

Nem a Catena Aurea e nem a prestigiada “Vida de Jesus Cristo” de Lafayette dão maior relevância ao detalhe; mas eu fico pensando naquela casa precedida de artigo indefinido na qual Nosso Senhor um dia entrou. E embora não seja capaz de saber ou mesmo especular nada sobre ela (Quem eram aquelas pessoas? Será que já O esperavam? Será que já O seguiam como discípulos? Será que Ele pousava lá sempre que ia a Tiro e Sidônia? Será que Ele simplesmente chegou à porta e pediu para entrar?), uma coisa se me impõe à imaginação com clareza: a alegria que deve ter tomado conta daquele lugar, alegria da qual eu penso ver um lampejo naquele «se e fermato a casa nostra» com que rotularam um vídeo que mostra o Vigário de Cristo parando no meio de uma viagem para cumprimentar alguns moradores que estavam no caminho para o ver passar.

Uma parada singela, longe dos protocolos oficiais e das agendas diplomáticas; que ficaria para sempre desconhecida se a tecnologia atual não tivesse transformado qualquer celular em uma câmera filmadora. O Papa desceu do carro para abençoar um doente e cumprimentar alguns fiéis, e não havia nenhum fotógrafo d’Osservatore para o registrar. O fato em si é banal e corriqueiro, eu sei; mas não o é para as pessoas que o vivenciaram. Aquela casa in fines Tyri et Sidonis era tão comum que não recebeu do evangelista mais do que uma menção en passant: mas lá esteve Nosso Senhor, e isso por si só é um fato extraordinário. Por aquelas ruas do sul da Itália passou o Doce Cristo na Terra, naquela estrada o Papa Francisco parou para saudar alguns fiéis. Isso nada muda no Catolicismo; mas penso na alegria que não deve ter tomado o coração daqueles italianos que lá estavam. Na alegria que transparece do vídeo que vejo ainda mais uma vez.

E a Igreja são vários membros, e n’Ela o que acontece com um membro reverbera por todo o Corpo. A alegria daquelas pessoas é também a minha alegria; o contentamento com a ligeira delicadeza pontifícia chega também a mim. Mesmo quando dirigida a um grupo particular de católicos, toda boa obra atinge toda a Igreja. Felicito-me junto com os italianos que não conheço, mas com os quais compartilho a mesma Fé. Alegro-me com eles. E com eles também posso dizer: grazie, Papa Francesco.

[OFF] Nota de Falecimento

Não vi, de manhã, as manchetes dos jornais locais noticiando um «Médico (…) morto a tiros na BR-101». Só quase à hora do almoço recebi a ligação da minha pneumologista, ainda chocada, com a notícia de que Artur morrera.

– Que Artur, o meu cirurgião torácico?!
– Foi, ele saiu do Português ontem à noite e depois ninguém sabe o que aconteceu.

Só depois eu entrei na internet e fiquei sabendo dos detalhes. Vários tiros de pistola; carteira roubada; carro encontrado queimado em outro lugar, distante do corpo. Uma verdadeira tragédia. Não se sabe ainda ao certo o que aconteceu.

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Foi Sandra quem me apresentou Artur quando, ainda em dezembro, eu cheguei no hospital completamente dispnéico. Ele ia drenar o meu líquido acumulado na pleura. Só o vi pessoalmente já no bloco cirúrgico: jovem e sorridente, explicou-me o que ia fazer e esteve conversando comigo durante todo o procedimento (a toracocentese a gente faz apenas com anestesia local). Pessoa agradabilíssima.

Em janeiro eu tive que me submeter a uma segunda drenagem. De novo Artur esteve comigo, e é a última lembrança que eu tenho dele. Dessa vez, dos dois lados das costas, a mini-cirurgia foi feita no próprio apartamento onde eu estava internado. Conversávamos sobre as nossas profissões; ao saber que eu trabalhava com informática, ele me saiu com não lembro qual chiste de computação. Acho que foi «a informática surgiu para resolver os problemas que antes dela não existiam», ou coisa parecida. Eu disse que ia contar também algumas anedotas sobre médicos, mas só depois que ele fechasse as minhas costas. Rimos. Não esperei tanto e soltei, de memória, aquela quadra de Bocage (acho que é de Bocage):

Aqui jaz um homem rico,
nessa rica sepultura.
Escapava da moléstia,
se não morresse da cura.

Ele riu a plenos pulmões. Ainda conversamos um pouco até eu começar a ficar tonto e ele decidir encerrar o procedimento, após três litros drenados. Deitei e fui descansar; depois disso não me lembro se voltei a me encontrar com ele, casualmente pelos corredores, ou n’alguma visita de rotina. Mas essa foi a última vez – disso tenho certeza – em que conversamos mais demoradamente.

Todos os dias, no espelho, ainda vejo dos dois lados das costas as pequenas marcas dos furos das duas drenagens às quais me submeti; e, respirando incomparavelmente melhor, ainda me lembro dos momentos angustiantes dos pulmões obliterados. Artur muito me ajudou para que eu chegasse até aqui, e é estranho; agora não me lembro se eu o agradeci devidamente, e me bate uma profunda tristeza por ele não ter podido acompanhar o desfecho do meu caso ao qual se dedicou desde o começo. Tenho ainda no meu corpo as marcas do seu trabalho médico, e ele não está mais aqui para se orgulhar dos frutos que me proporcionou. As minúsculas cicatrizes duraram mais do que o homem que as produziu. É assustador; somos mesmo pó e nada.

Artur tinha quase a minha idade: 35 anos. Deixa uma esposa e um filho pequeno. Aos que por aqui passarem, peço que rezem uma Ave-Maria por ele e pela sua família; que o Bom Deus leve em conta a dívida de gratidão que eu tenho para com ele, e que o possa recompensar por toda a atenção que dedicou a mim e à minha família nos piores momentos do meu câncer. Não sei por quê, vêm-me à mente agora duas estrofes de Augusto dos Anjos, escritas pelo poeta paraibano – conterrâneo do Dr. Artur – a um seu amigo falecido. A última delas é assim:

A água quieta do Tejo te abençoa.
Tu representas toda essa Lisboa
De glórias quase sobrenaturais,
Apenas com uma diferença triste,
Com a diferença que Lisboa existe
E tu, amigo, não existes mais!

E aqui existem coisas ainda muito mais perecíveis do que Lisboa – este próprio convalescente que escreve estas linhas, as ainda mais efêmeras cicatrizes que Artur legou às minhas costas -, e o jovem cirurgião não existe mais…! É muito triste. Só não posso concordar em absoluto com o niilismo do controverso poeta. Entendo-lhe a dor, sem dúvidas, mas vejo-a em perspectiva: Artur pode não estar mais entre nós, mas ainda existe, distante daqui; e rezo para que o Bom Deus lhe seja propício e o faça receber, lá, o meu preito de gratidão e minhas preces de sufrágio. Hoje é Treze de Maio, dia de Nossa Senhora de Fátima; que a Senhora do Céu possa valer-lhe e abrir-lhe as portas à Jerusalém Celeste.

Requiem aeternam dona ei, Domine,
– et lux perpetua luceat ei.

Requiescat in Pace,
– amen.

Temos ainda os ramos na mão

Ontem foi Domingo de Ramos e muita gente não sabe o que a data significa. Eu já vi quem perguntasse, ao que tudo indica a sério, quem era esse “Ramos” que a Igreja estava comemorando…

A resposta é muito simples: trata-se de “ramos”, substantivo comum plural, e não “Ramos”, nome próprio singular. São ramos de plantas. A celebração de ontem relembra uma passagem específica dos Evangelhos: aquela em que Nosso Senhor, pouco antes da Crucificação, entra em Jerusalém montado num burrico e é aclamado pelo povo, que O saúda agitando ramos – «ramos de palmas», diz a Escritura.

Acho que foi Bento XVI quem disse, num dos volumes do «Jesus de Nazaré», que o povo que aclamou Jesus ontem não é o mesmo que vai gritar “crucifica-O!” na próxima Sexta-Feira. A distinção não é todavia indispensável à verossimilhança do relato; seria em princípio possível que as pessoas se houvessem decepcionado, no decurso de uma semana, com este Messias que parecia o Salvador do mundo mas que, de repente, Se apresentava preso, ferido e humilhado. Seria possível que O tivessem tomado por um farsante. Seria possível que gritassem para O crucificar, já que Ele não realizara a esperada restauração de Israel pela qual O haviam aclamado poucos dias atrás.

E essa rápida passagem do amor ao ódio apresenta-se na Liturgia de ontem de maneira bem significativa: nela, os dois Evangelhos são lidos. A entrada triunfante em Jerusalém se lê no início da procissão; a ignominiosa Paixão, no lugar tradicional do Evangelho, após as duas leituras. Temos ainda os ramos na mão quando gritamos, no jogral evangélico, que Cristo seja crucificado! E o simbolismo aqui presente é bastante verdadeiro.

Nós muitas vezes pecamos quando acabamos de sair da presença de Deus: a boca que lança imprecações por vezes acabou de recitar a Ave-Maria, e há pecados mortais que são cometidos já à saída do Confessionário. Lembro-me de uma personagem fictícia de uma história que ainda não escrevi: a menina se crismara. Recebera na testa o óleo crismal perfumado. Saíra da igreja direto para uma festa. Lá, encontrara um menino com quem decidira “ficar”. E, num canto escuro, empenhado em atos mais próprios de esposos do que de jovens que acabaram de se conhecer, o garoto percebe, sem dar muita importância ao fato, que aquela menina que encarna lascívia diante dele rescende a bálsamo.

Outros exemplos poderiam ser citados, mas não é necessário. Basta saber que é possível, sim, negar a Cristo logo depois de O ter aceito, ofendê-Lo logo em seguida a O louvar. É possível e muitos de nós experimentamos essa sensação por diversas vezes. E, quando o notamos, a nossa vergonha é maior, a nossa dor é mais pungente e – se o bom Deus o permitir – o nosso arrependimento é mais sincero.

É nisso que penso quando assisto à Liturgia de Ramos. Quando o braço que se eleva para exigir a crucificação do Filho de Deus tem ainda no punho cerrado os ramos com os quais há pouco se cantava «Hosana ao Rei de Israel!», é impossível não cobrir o rosto de vergonha. O pecado assim resplandece com maior fealdade: a alcova impregnada de perfume barato é horrenda, mas a alcova que cheira a bálsamo tem um quê de blasfema e sacrílega. É preciso uma consciência muito anestesiada para agir com indiferença diante disso.

E essa verdade, aqui ilustrada com cores tão vivas e marcantes, é exatamente o que acontece a cada vez que trocamos Deus pelos nossos prazeres, cada vez que expulsamos a Graça Santificante de nossas almas para a fazer resfolegar na imundície do pecado. Ou a vida de Graça é menos importante que um ramo de palmeira? Ou nossa alma não brilha, inflamada pela caridade, mais do que a nossa testa de recém-crismados exala perfume? Se nos enchemos de horror quando percebemos que as coisas santas – o ramo nas mãos, o bálsamo na testa – estão ainda presentes em quem crucifica a Nosso Senhor, por que nos escandalizaríamos menos ao notar que esta coisa santíssima, a Graça Santificante, está presente e viva em quem está na iminência de ofender gravemente a Deus?

Inicia-se a Semana Santa: cubramos o nosso rosto de culpa e vergonha, e nos voltemos para Aquele que traspassamos com os nossos pecados. São grandes os nossos crimes, mas maior é a Sua misericórdia. Que o Seu Amor vença as nossas misérias. Que a Sua Paixão nos seja propícia.