Uma morte boa decorre de uma boa vida

Foi com pesar que soube do falecimento recente do Mario Palmaro. Para quem não lembra, ele já foi mencionado no Deus lo Vult! em duas ocasiões, aqui e aqui, a respeito de uma polêmica envolvendo certas críticas ao Papa Francisco que lhe valeram a demissão de uma Rádio Católica. Posteriormente o próprio Papa teve a gentileza de entrar em contato com ele, oferecendo-lhe a sua proximidade.

É ainda válido o que eu disse há quase cinco meses sobre o assunto, e penso que seria desrespeitoso à memória do professor italiano se usássemos a tragédia presente para conferir ares de martírio à celeuma passada – ou, inversamente, de estopim da Ira Divina. Que Deus confira o descanso eterno ao Mario Palmaro, e que a Lux Perpetua possa brilhar sobre ele: a mesma Luz pela qual ansiamos neste claro-escuro da vida e para merecer a qual queremos viver e morrer.

Foi no Fratres in Unum que encontrei essa sua bonita meditação sobre a doença, talvez umas das últimas coisas que o jornalista tenha escrito. Ela me tocou sobremaneira porque também me encontro às voltas com uma doença, decerto menos grave do que a que vitimou o Palmaro mas, ainda assim, a mais grave que já atravessei. E me senti representado pelas suas palavras. Subscrevo particularmente o seguinte trecho:

Às vezes eu imagino a minha casa, o meu escritório vazio e a vida que ali prossegue embora eu não esteja mais lá. É uma cena que me dói, mas extremamente realística porque me faz compreender quem sou eu, e percebo que tenho sido um servo inútil, que todos os livros que eu escrevi, todas as conferências, todos os artigos são como palha.

Sim, a perspectiva da morte é uma coisa extremamente sadia, por mais paradoxal que a afirmação possa parecer à primeira vista. Faz-nos viver melhor. Trata-se de uma meditação que todos deveriam praticar com freqüência, sem que para isso fosse necessário encontrar-se de fato diante dos umbrais do Túmulo, já a sentir-lhe o bafo gélido. As pessoas viveriam melhor – e por conseguinte morreriam melhor – se se acostumassem a viver como se fossem morrer um dia.

Penso que morrem mal as pessoas que só percebem que vão morrer ao fixar os olhos escarnados da Morte diante de si. E morrem mal porque viveram mal; porque só então percebem terem passado a vida inteira sem aquela consciência – sobre a qual falou o Mario Palmaro – de ser um «servo inútil» e de não ter jamais feito senão «palha». É essa consciência que nos permite ser grandes; é somente com ela que podemos ser o que Deus espera de nós.

Quando eu era mais jovem, lembro que alguns amigos diziam querer uma morte rápida e indolor; qualquer coisa que os fizesse morrer depressa sem nem se aperceberem de que estavam morrendo. E eu discordava; essa perspectiva me aterrorizava. Era importante, eu pensava, morrer com a plena consciência de estar morrendo, com tempo para deitar na cama e agonizar pensando na vida, receber a visita dos parentes e dos amigos, dos sacerdotes a ministrar os Últimos Sacramentos.

Hoje eu já vejo as coisas um pouco diferente: não há nenhuma razão para colocarmos nos nossos últimos estertores essa reflexão sobre a própria vida que deve ser quotidiana. Não existe nenhum sentido em simplesmente desejar morrer pensando em como se viveu, quando podemos e devemos já viver pensando em como estamos vivendo. É uma coisa santa e piedosa desejar – como eu sempre desejei – uma “boa morte”, sem dúvidas, mas esse desejo só faz sentido quando tomamos consciência de que isso necessariamente inclui o desejo de uma boa vida. É por isso que precisamos meditar na nossa morte quando – e principalmente – a percebemos ainda distante de nós. Assim essa meditação nos será mais proveitosa.

Voltando àquelas palavras do jornalista católico, elas me consolam e fortalecem. Consolam, porque entrevejo nelas uma alma que morre bem; fortalecem, porque me instam, já agora, a preocupar-me a cada dia com bem viver; a fim de que eu também possa alcançar um dia este bom termo que é muito difícil obter quando se vive como se se fosse viver para sempre, como quem não precisará prestar contas jamais. Ao Palmaro, a minha admiração, meus agradecimentos e as minhas preces. O Senhor o saberá recompensar por este bem póstumo realizado.

Os primeiros cardeais que serão criados pelo Papa Francisco

Foram hoje pela manhã anunciados os nomes dos novos cardeaisdezenove, ao total – que serão criados pelo Papa Francisco no próximo consistório, marcado para o mês que vem (fevereiro). É o primeiro consistório do Papa Francisco. Os nomes dos que receberão a púrpura cardinalícia são os seguintes:

16 cardeais eleitores:

1 – Dom Pietro Parolin, Secretário de Estado.
2 – Dom Lorenzo Baldisseri, Secretário Geral do Sínodo dos Bispos.
3 – Dom Gerhard Ludwig Muller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
4 – Dom Beniamino Stella, Prefeito da Congregação per o Clero.
5 – Dom Vincent Nichols, Arcebispo de Westminster (Grã Bretanha).
6 – Dom Leopoldo José Brenes Solórzano, Arcebispo de Manágua (Nicarágua).
7 – Dom Gérald Cyprien Lacroix, Arcebispo de Québec (Canadá).
8 – Dom Jean-Pierre Kutwa, Arcebispo de Abidjã (Costa do Marfim).
9 – Dom Orani João Tempesta, O.Cist., Arcebispo do Rio de Janeiro (Brasil).
10 – Dom Gualtiero Bassetti, Arcebispo de Perúgia-Città della Pieve (Itália).
11 – Dom Mario Aurelio Poli, Arcebispo de Buenos Aires (Argentina).
12 – Dom Andrew Yeom Soo jung, Arcebispo de Seoul (Coreia).
13 – Dom Ricardo Ezzati Andrello, S.D.B., Arcebispo de Santiago do Chile (Chile).
14 – Dom Philippe Nakellentuba Ouédraogo, Arcebispo de Ouagadougou (Burquina Faso).
15 – Dom Orlando B. Quevedo, O.M.I., Arcebispo de Cotabato (Filipinas).
16 – Dom Chibly Langlois, Bispo de Les Cayes (Haiti).

3 cardeais não-eleitores (mais de 80 anos):

1 – Dom Loris Francesco Capovilla, Arcebispo emérito de Mesembria.
2 – Dom Fernando Sebastián Aguilar, C.M.F., Arcebispo emérito de Pamplona.
3 – Dom Kelvin Edward Felix, Arcebispo emerito de Castries.

Na minha vaticana ignorância, achei que os nomes estão dentro do que se devia esperar. D. Parolin é o novo Secretário de Estado; D. Müller e D. Stella, são prefeitos de importantes dicastérios romanos. D. Baldisseri foi criado cardeal à moda antiga, logo após o conclave que elegeu o Papa Francisco. O Rio de Janeiro sempre teve cardeais e, portanto, o nome de D. Orani não é nenhuma surpresa. Não conheço os outros nomes, mas eles estão bem espalhados pelos cinco continentes, sendo muitos de Sés Primaciais.

Talvez alguns tenham estranhado a ausência do nome do Primaz do Brasil, D. Murilo Krieger, Arcebispo de São Salvador da Bahia. Bom, sabe-se que há uma lei canônica não-escrita de que uma mesma Sé não tem dois cardeais-eleitores. O Card. Geraldo Majella só muito recentemente (no dia 19 de outubro p.p.) deixou de ser cardeal-eleitor, e – penso eu – essa lista já estava pronta três meses atrás. D. Krieger, assim, provavelmente receberá a púrpura cardinalícia num próximo consistório.

Quanto ao mérito dos novos Príncipes da Igreja… como disse, infelizmente não conheço a maior parte deles. D. Müller e D. Baldisseri, preciso dizer, deixam-me assaz desconfortável; mas, entre todos, esses dois nomes não são nenhuma surpresa, pelas razões já acima expostas. Agora é rezar para que os por mim desconhecidos superem estes contra os quais ao menos algumas objeções se poderiam levantar. E também – por que não? – para que o barrete vermelho faça milagres, e chame estes homens à responsabilidade que doravante lhes cabe. Que o Espírito Santo os faça santos cardeais. Que eles verdadeiramente sirvam – até ao sangue, se necessário, como simboliza o vermelho que passarão a ostentar – ao crescimento da Fé Cristã, à liberdade e extensão da Santa Igreja Católica Romana.

Puer natus est nobis!

Puer natus est nobis, et fílius
datus est nobis, cuius impérium
super húmerum eius, et vocábitur
nomen eius magni consílii
Angelus.

Um santo Natal a todos os leitores do Deus lo Vult!. Que o Menino-Deus esta Noite nascido nos conceda o imerecido dom da Salvação. Que a imponência das Trevas que até então nos cercavam dê lugar à luminosa humildade do Verbo que por nós desce a um estábulo frio e a uma manjedoura suja. Que o Gloria entoado nesta Noite Santa ecoe por toda a nossa vida e, no Ocaso de nossos dias, possamos ouvi-lo jubilosos quando nos encontrarmos diante d’Aquele por Quem e para Quem fomos criados. Tudo começa hoje. Alegremo-nos! Cristo nasceu por nós!

Feliz Natal!

Jornal “A Tarde” publica matéria sobre Missa Tridentina em Salvador

[A Missa Tradicional celebrada em Salvador – cujo aniversário de dois anos foi anunciado aqui – foi assunto de uma simpática matéria no “A Tarde”, conhecido jornal da Bahia. Reproduzo abaixo o .pdf que recebi por email, agradecendo ao meu caro amigo soteropolitano pela gentileza do envio.

Maravilhosa a explicação do pe. Gilson: “O sacerdote não está de costas para o povo, mas, com o povo, olha o oriente”. E isso, que não ouvimos nas nossas paróquias, exposto assim com clareza e sem preconceitos num jornal secular! São as pedras falando, porque se calaram os que tinham o dever de instruir o povo de Deus.

Cliquem nas fotos (ou aqui) para obterem o arquivo .pdf em maior resolução.]

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A demagogia barata do Dr. Rosinha

Depois do papelão feito pelo deputado Rosinha na semana passada quando, em seminário pró-aborto realizado na Câmara dos Deputados e diante dos justos protestos de cidadãos brasileiros pagadores de impostos que discordam de ter o seu dinheiro empregado para a promoção do aborto no Brasil, deu um chilique e afirmou que os pró-vida precisavam “aprender a pensar”, eu pensava que o petista havia adquirido algum mínimo senso de ridículo e iria deixar o assunto morrer.

Engano meu. Na mais abjeta vitimização que eu me lembro de ter visto na política recente, o deputado pró-aborto resolveu soltar uma nota no seu site chamando os seus opositores de «mentirosos» e queixando-se da «intolerância» dos cristãos.

Na semana passada fui vítima dos intolerantes e dos mentirosos.

[…]

Por tudo que li do que me enviaram, por tudo que ouvi, sinceramente ainda estou estupefato com o comportamento destes cristãos. Em que Igreja aprendem ou aprenderam? Qual Evangelho leem ou leram? Com certeza não é o mesmo que leio e tampouco é o mesmo que lê o Papa Francisco.

Apenas se “esqueceu” o Dr. Rosinha de entrar no mérito das acusações que lhe foram feitas e responder a duas simples perguntas:

1. O «Primeiro Seminário de parlamentares da América Latina e Caribe para debater a saúde reprodutiva, materna, neonatal e infantil» defendeu ou não defendeu a descriminalização do aborto no Brasil?

2. O deputado Rosinha é ou não é a favor da descriminalização do aborto no Brasil?

É isso e não outra coisa o que interessa aqui. É com a resposta afirmativa ou negativa a cada uma dessas perguntas que se pode saber se o Dr. Rosinha está mesmo sendo vítima de “mentiras” e “intolerâncias” ou se, ao contrário, só está sendo desmascarado, e aí toda essa retórica de botequim de um Cristianismo tolerante está sendo empregada tão-somente para evitar o incômodo assunto principal e o permitir continuar trabalhando nas trevas pela promoção do aborto no Brasil.

Quando à demagógica e cretina referência ao Papa Francisco, vejamos qual é o Evangelho lido por Sua Santidade:

Entre estes seres frágeis, de que a Igreja quer cuidar com predilecção, estão também os nascituros, os mais inermes e inocentes de todos, a quem hoje se quer negar a dignidade humana para poder fazer deles o que apetece, tirando-lhes a vida e promovendo legislações para que ninguém o possa impedir. Muitas vezes, para ridiculizar jocosamente a defesa que a Igreja faz da vida dos nascituros, procura-se apresentar a sua posição como ideológica, obscurantista e conservadora; e no entanto esta defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano. Supõe a convicção de que um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento. É fim em si mesmo, e nunca um meio para resolver outras dificuldades. Se cai esta convicção, não restam fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos direitos humanos, que ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes dos poderosos de turno. Por si só a razão é suficiente para se reconhecer o valor inviolável de qualquer vida humana, mas, se a olhamos também a partir da fé, «toda a violação da dignidade pessoal do ser humano clama por vingança junto de Deus e torna-se ofensa ao Criador do homem».

Evangelii Gaudium, 213

Este é o Evangelho lido pelo Papa Francisco, este é o único Evangelho que existe! Pretender que exista uma virtude da tolerância evangélica que exija a passividade diante do crime ou que obrigue os cristãos a nada fazerem enquanto políticos inescrupulosos trabalham pela descriminalização do aborto não passa de um palavrório ridículo e vazio. Que ninguém se deixe intimidar por essas patéticas bravatas, que não são senão a última e desesperada cartada de quem foi pego de calças curtas e não possui hombridade o suficiente para assumir em público as conseqüências de suas opções na questão do aborto.

Não perca hoje, na Radio Vox!

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Este blogueiro andou um pouco ocupado nos últimos dias. Mas valeu a pena. Entre outras coisas, participei de um agradável bate papo informal com o caríssimo Rafael Vitola e acompanhei a vinda do Prof. Roberto de Mattei ao Recife. As duas coisas você pode conferir hoje (terça-feira, 10/12) na Radio Vox.

O que se pode dizer sobre a última Exortação Apostólica do Papa Francisco, a Evangelii Gaudium? Por que os que acusam o Papa Francisco de relativismo estão, na verdade, atacando Santo Tomás? De que maneira o rasgar de  vestes dos economistas da Escola de Frankfurt Austríaca não revela senão a sua profunda ignorância da Doutrina Social da Igreja? E o que as minissaias têm a ver com toda essa conversa? Descubra hoje, a partir das 21:00 (horário de Brasília)!

Você conhece o Concílio Vaticano II? Qual o grande problema – há algum problema? – com essa magna assembléia católica? O que é o “evento” Vaticano II? Qual a importância de Jacarezinho no desenrolar dessa história? E o quê, afinal de contas, D. Hélder Câmara estava fazendo naqueles anos? Tudo isso e muito mais com o Prof. de Mattei, na Radio Vox, às 22:30. Não percam!

Aprendendo a pensar com o Dr. Rosinha

Via Facebook, fico sabendo que o Dr. Rosinha, em seminário pró-aborto realizado na Câmara dos Deputados, menosprezou os manifestantes contrários ao assassínio de crianças e disparou que os jovens católicos “precisavam aprender a pensar”.

Vamos, portanto, “pensar”, esta atividade que parece tão cara aos militantes pró-aborto. Vejamos se eles realmente fazem aquilo que exigem dos outros ou se, ao contrário, agem de modo oportunista e irracional.

Comecemos com o básico. Todos sabemos, por exemplo, que a população brasileira é em sua grande maioria contrária à descriminalização do aborto no país. Sabemos, ainda, que os nossos parlamentares dizem acreditar que “todo poder emana do povo”, em nome do qual eles exercem os seus mandatos. Seria de se esperar, portanto, que os nossos congressistas fossem também, em adequada proporção, contrários à liberação do aborto no Brasil, refletindo assim o pensamento do povo brasileiro, certo?

Se fôssemos pensar, sim, isso parece bastante correto. É difícil até imaginar como poderia ser diferente. Não obstante, na contramão dos anseios do povo em nome do qual (não nos esquecemos!) os deputados dizem exercer os seus mandatos, foi realizado ontem e hoje, na Câmara dos Deputados, com dinheiro público portanto, um simpósio onde se defendia, verbis, «a legalização do aborto como opção para reduzir a mortalidade materna na América Latina».

Exercitemos o pensamento: resta alguma dúvida de que essa proposta é frontalmente contrária ao que deseja o nosso povo? Por qual obscura razão, portanto, tal ataque à soberania nacional deveria (ou mesmo poderia) ser realizado às expensas do erário brasileiro? Os deputados não dizem exercer os seus mandatos em nome do povo do Brasil? Por qual razão defendem interesses estrangeiros ao invés de lutarem para fazer valer a vontade dos cidadãos brasileiros?

Continuemos. Lá pelas tantas, uma “especialista” que estava com a palavra [«Carmen Barroso, membro do Grupo Independente de Especialistas da Comissão de Informação e Prestação de Contas sobre a Saúde das Mulheres e das Crianças (CoIA) da Organizações das Nações Unidas (ONU)»] soltou a seguinte pérola:

“É muito importante mudar a lei, para que a mulher possa decidir sobre seu próprio corpo”, disse. “Estudos mostram que criminalização do aborto não diminui sua prática”, complementou. Conforme ela, as taxas de aborto estão diminuindo nos países onde a prática é legalizada, e aumentando nos países que a proíbem.

Não é a primeira vez que ouvimos o disparate, cuspido com ares de seriedade científica. Inobstante, por mais que nós pensemos e pensemos, não somos capazes de alcançar a extraordinária razão pela qual as mesmas pessoas praticariam mais uma coisa que é proibida do que a mesma coisa após ela ser liberada! Não dá, é simplesmente impossível que essa matemática mal-assombrada seja verdadeira. Qualquer pessoa capaz de pensar o percebe com a clareza de uma evidência.

Mas concedendo – para argumentar e contra todas as evidências – que o número absoluto de abortos realmente diminuísse após ele ser legalizado, esta redução não poderia jamais se dar por causa da descriminalização, e sim por outras razões quaisquer (p.ex., porque as ONGs pró-aborto deixaram de injetar dinheiro no país, porque se passou a fazer propaganda contra o aborto, ou por qualquer outro motivo análogo). Ora, se tal fosse verdade, então a diminuição das taxas de aborto não teria nada a ver com a descriminalização em si, e sim com as outras coisas (expulsão das ONGs abortistas, investimento em propaganda anti-aborto, etc.) que lhe foram concomitantes. Vamos então pensar: se a redução do número total de abortos é o objetivo que nós buscamos, e se ela se dá por meio de certas ações (fechamento de ONGs abortistas, propaganda contra o aborto, etc.) totalmente independentes da criminalização ou não da prática abortiva, então não é necessário legalizar o aborto para que ele diminua: basta realizarmos aquelas ações das quais decorre a redução da prática do aborto! Como é possível que os abortistas não tenham pensado nisso antes?

Uma única coisa enfim é certa: quanto mais nós pensamos, menos justificativas encontramos para as atitudes preconceituosas, arrogantes e irracionais de parlamentares como o Dr. Rosinha, que se utilizam de arrazoados disparatados e sem o menor cabimento para trair os interesses do povo brasileiro em cujo nome dizem exercer seus mandatos legislativos.

Fica claro, assim, que os jovens pró-vida não têm nenhuma dificuldade em pensar, muito pelo contrário. O problema, o verdadeiro problema aqui, é que certos parlamentares gostam de arrotar os mais gritantes despautérios com trejeitos de superioridade intelectual, por acreditarem que os seus opositores não pensam. No que estiver ao nosso alcance, contudo, vamos desmascará-los quantas vezes for necessário. No que depender de nós, quebrarão a cara tantas vezes quantas pretendam fingir ser o que não são.

Dois anos de Missa Tridentina em Salvador!

É com alegria que comunico aos leitores do blog o aniversário da Missa Tridentina em Salvador! Conforme recebi por email de um amigo,

neste dia 08 de dezembro, domingo, Festa de Nossa Senhora da Conceição, em Salvador/BA, Sé Primacial do Brasil, às 08h30min da manhã, estaremos comemorando 02 anos de nossa Missa Tradicional na Capela Nossa Senhora da Vitória (antigo Colégio Maristas do Canela), situada na Rua Araújo Pinho, nº 39, a qual será celebrada pelo Padre Gilson Magno!

Anunciei aqui o início destas santas celebrações. Já faz quase dois anos… graças ao bom Deus! Os amigos de Salvador sabem os percalços que precisaram enfrentar ao longo deste tempo. Mas eles não esmoreceram e, graças ao bom Deus, já é o segundo aniversário da Forma Extraordinária do Rito Romano na Sé Primacial do país.

Que ela se multiplique no tempo e no espaço: que venham ainda muitos anos, e muitas outras dioceses possam seguir os piedosos passos de São Salvador da Bahia. No próximo domingo, Imaculada Conceição da Santíssima Virgem, é também dia de entoar o Te Deum solene, em agradecimento pela Missa Gregoriana. Na Sé Primaz do Brasil. Quem diria que chegaríamos até aqui… Bendito seja Deus para sempre!

Plebiscito sobre união gay?

“Comissão de Feliciano aprova projeto de plebiscito sobre união civil gay”, dizem. A forma escolhida para passar a notícia carrega já na manchete uma dose grotesca de ideologia.

Antes de mais nada, a comissão não é “de Feliciano”. É uma comissão permanente da Câmara dos Deputados que não foi inventada pelo pastor e nem pela dita “bancada evangélica”. Está no Regimento Interno da Câmara. Ainda, presidente de comissão não é “dono” dela. A frase faz tanto sentido quanto dizer, por exemplo, “Câmara de Henrique Alves”, uma vez que o deputado do PMDB é o atual presidente da Câmara dos Deputados.

O projeto de plebiscito tampouco é da autoria do Marco Feliciano ou mesmo do seu partido. O PDC 232/2011 é do deputado Zacharow, do PMDB do Paraná. Foi recebido pela CDHM no dia 14/06/2011, há mais de dois anos portanto, quando o deputado Feliciano sequer sonhava em ser presidente da Comissão.

Certo, o PDC 521/11 – apensado ao 232 – é da autoria do Marco Feliciano, mas (insista-se) foi proposto em novembro de 2011, quando o deputado não era presidente da CDHM e quando o 232/2011 já estava há meses nesta comissão. O projeto apensado é na verdade totalmente irrelevante aqui, uma vez que nada acrescenta ao que está em tramitação ordinária. Portanto, o que existe aqui é meramente uma tentativa retórica de desqualificar a priori a proposta, associando-a ao fundamentalismo evangélico. Não se trata de jornalismo informativo, e sim de guerrilha cultural disfarçada de boa imprensa. Tal não se pode perder de vista.

Isto posto, dois breves comentários sobre o mérito do projeto. Há dois aspectos sobre os quais ele pode ser analisado.

Primeiro, por princípio, trata-se de uma proposta absurda para qualquer um dos dois lados em litígio. Os que defendem que “Família” é uma realidade que não é passível de ser (re)inventada pelo direito positivo negam-se também, é óbvio, a aceitar que a sua destruição possa ser referendada via democracia direta. O povo não tem potestade para dizer que dois pederastas ou duas safistas são uma família, e não o tem nem por intermédio dos seus representantes e nem diretamente. Aqui, a forma de exercício da democracia (direta ou indireta) em rigorosamente nada altera os seus limites intrínsecos.

Depois, os que defendem que se trata de fazer justiça a uma minoria socialmente oprimida também não podem aceitar que o assunto seja levado a júri popular, uma vez que o próprio fato de se tratar de uma “minoria socialmente oprimida” implica em dizer que a maioria da população não é sensível aos seus anseios.

[E estariam cobertos de razão, registre-se, se este caso fosse de direitos de minorias. No entanto, é precisamente isso o que nós negamos. É isto o que deve ser discutido com honestidade, e não brandido ad baculum como se se tratasse de uma platitude auto-evidente.]

Segundo, para fins práticos, parece-me que um resultado não-manipulado deste plebiscito seria grandemente favorável aos defensores da Família. A maior parte da população brasileira, que ainda é conservadora, rejeitaria enfaticamente, penso, esta nefasta equiparação entre a união homossexual e a Família radicada na natureza humana. O que seria muito bom para o Brasil.

O problema é que esta seria uma vitória meramente parcial e contingente, obtida sobre falsas bases (é errado dizer que dois marmanjos são uma família não porque o povo “acha” que não é, e sim porque “Família” é uma entidade que contém em si mesma a potencialidade para a geração e educação de novos membros para a sociedade) e permanentemente periclitante (e quando o povo “mudar de idéia”? Qual deve ser o prazo de validade de uma consulta popular dessa natureza?). No entanto, nas atuais conjunturas, talvez seja o melhor que nós possamos ter. Talvez seja a nossa melhor oportunidade para rompermos a cortina de desinformação sobre o tema. Talvez seja a nossa melhor chance de esclarecermos – em igualdade de condições – a população sobre este assunto tão importante para a sobrevivência da civilização. E, por tudo isso, talvez não devamos ser tão ligeiros em rejeitar a proposta.

É Advento: preparemos o nosso Natal

É Advento. O ano-novo litúrgico iniciou-se ontem, com as nossas igrejas revestidas de roxo, com o povo de Deus em solene expectativa pelo nascimento do Messias. Já tremeluz a primeira chama da Coroa do Advento. Já esperamos a Luz que há de refulgir nas trevas. Em breve.

É de Saint-Exupéry o famoso diálogo entre o Príncipe e a Raposa: «se tu vens às quatro da tarde, desde às três já começo a ser feliz». Uma vez, no início da faculdade, uma professora de estatística, do nada, recomendou a leitura deste livro. “Para que aprendêssemos o valor dos rituais”. Ao que parece, há pessoas que não receberam este piedoso conselho. Na Venezuela, p.ex., o Natal já passou. O presidente decretou-o para novembro. Se ele já houvesse celebrado o Natal alguma vez na vida, não faria jamais semelhante idiotice.

Porque o tempo não está sujeito aos decretos dos homens. Tem a sua própria cadência, que se impõe e é sábio respeitar. Diante dele, não cabe outra atitude que não a de uma humilde subserviência: ser homem é também, em certo sentido, ser capaz de esperar.

Não uma espera meramente passiva, por certo; não uma espera ignorante que os acontecimentos pegam sempre de surpresa. Mas uma espera que é expectativa: sabemos o que há de vir. Muitas vezes gostaríamos de ser como deuses, e desejaríamos que o futuro se realizasse quando o desejássemos, à nossa voz onipotente: mas isso é por demais infantil. Os rituais são o nosso modo de manipular o tempo, nos limites de nossa onipotência. Onipotência que é aliás bem limitada; voltando ao Pequeno Príncipe, mais ou menos como a do Rei

Mas divago. Os rituais são a nossa maneira de colocar o tempo a nosso serviço, dizia. Na impossibilidade de transportar o futuro para o presente, confeccionamos o nosso presente à imagem do futuro: transformamo-lo numa estrada pavimentada rumo ao que há de vir, onde tudo em um certo aspecto “já é” embora, em realidade, ainda não seja. Onde tudo aponta para o que há de ser – que, nesta nossa antecipação, já goza de um pouco de realidade. Não é possível decretar o Natal para agora. Mas é possível – e saudável – viver a expectativa do Natal.

Os cânticos do Advento já tomaram o lugar do Hino de Louvor nas nossas igrejas, e o Gloria in Excelsis da noite de Natal não seria tão belo se não fosse precedido e preparado pelo silêncio entre o Kyrie e a Colecta ao longo desses quatro domingos. A Luz não resplandeceria com tanto fulgor se as Trevas da noite não fossem tão densas e escuras. O Branco dos paramentos festivos não seria tão brilhante se não contrastasse com o roxo pesado dos dias precedentes. Em uma palavra, a beleza do Natal depende em grande medida das características dos dias que o precedem; e se é assim, o que fazemos já hoje é determinante de como será o nosso Natal. Se é assim, nós já começamos a vivê-lo. E, se queremos vivê-lo bem, é importante que bem o vivamos desde já.

É Advento. Preparemo-nos para a vinda do Messias que há-de vir. Preparemo-nos bem, conscientes de que aquela esperada Noite Feliz se faz ao longo do caminho que conduz a ela. Que por meio de um santo Advento, nos venha a todos um santo Natal.