O show da JMJ!

Eu não nego a boa vontade dos garotos que fizeram o “Show da JMJ”. Não obstante, é preciso negar – e com veemência – que se possa fazer uma desgraça dessas sob a justificativa de “evangelizar”. Evangelizar a quem, cara-pálida? Isso não é a JMJ. Isso é um desserviço que alguns jovens do Rio de Janeiro – repito, certamente com a melhor das boas intenções – estão prestando à Jornada e à Igreja.

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Eu nunca tinha ouvido falar em “Anitta” (sim, com dois ‘t’s mesmo) e não conhecia o clipe oficial do “Show das Poderosas” – aliás, nem mesmo a música eu conhecia. Infelizmente, agora eu conheço as duas coisas: o funk original e a sua versão “católica” feita pelos meninos do Rio de Janeiro.

É claro que sou a favor de músicas, mesmo profanas, em eventos para a juventude. No entanto, é preciso ter critérios. Não nego o valor das paródias. O que afirmo é a importância de ser seletivo na escolha daquilo que vamos parodiar. Afinal de contas, deve-se imitar aquilo que é bom, e não qualquer porcaria. Por qual razão deveríamos pegar o esgoto da música contemporânea e fazer-lhe uma versão piorada para supostamente servir à causa católica? Sim, porque é exatamente disso que se trata.

O tal “Show das Poderosas” é um lixo de música chiclete que exige doses cavalares de «Desescute» para desintoxicar o pobre incauto em cujos ouvidos ela consiga penetrar. O “Show da JMJ” é a mesma coisa, só que com menos métrica e rimas piores. A música remete o tempo inteiro ao funk original, do qual ela é somente uma cópia mal feita. Fica a pergunta: qual o propósito disso?

“[A]trair o público”? Mas não está óbvio que os não-católicos «que descem e rebolam» no funk original vão simplesmente torcer o nariz para esta paródia patética, e que os católicos que porventura embarquem na onda não deveriam ser incentivados – nem por similaridade! – a gostar da depravação que vemos no clip da Anitta? Se a música não atrai os de fora e ainda corrompe os de dentro, por que raios há católicos gastando tempo e dinheiro para produzi-la e divulgá-la?

Uma reação é esboçada

No último dia 22 de maio, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira protocolou, junto à Presidência do Senado, dois blocos de assinaturas contra o PLC 122/2006 e contra o projeto de Reforma do Código Penal. O primeiro deles continha mais de três milhões de assinaturas.

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No último domingo, 26 de maio, multidões de franceses foram mais uma vez às ruas de Paris para protestar contra o casamento gay que a França aprovou no último abril. Eram mais de um milhão.

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No Jus Navigandi, conhecido portal brasileiro de Direito, o texto de um procurador do Banco Central em Minas Gerais conclama os cartórios a não obedecerem à recente decisão do CNJ que os pretende obrigar a registrarem “casamentos gays”: «A norma emanada da Resolução n.º 175 do CNJ é ato inexistente. Tanto quanto a união civil e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, não encontra suporte no ordenamento jurídico brasileiro, no estado de direito, na soberania popular, na separação de poderes, na laicidade do Estado e no art. 226, § 3.º, da Constituição. Não vale a tinta com que foi escrita. É uma ficção e não merece cumprimento».

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A iniqüidade avançou demais e se tornou insuportável: uma reação é esboçada! Que ela cresça e se torne verdadeira oposição à barbárie que nos ameaça. Que estimule os bons a romperem a cortina de silêncio em que viviam. Que se levante em defesa da moral, dos bons costumes, da justiça, da civilização enfimQue ela possa contagiar os que julgavam estar sozinhos.

Nec rubricat, nec cantat

A frase acima é um antigo adágio latino aplicado aos jesuítas: diz-se que eles nem se preocupam com as rubricas litúrgicas [nec rubricant] e nem cantam [nec cantant]. Não sei qual a origem do ditado, mas ele parece se aplicar muito bem ao Papa Francisco.

Que ele não era um grande liturgista foi uma das primeiras coisas que eu falei aqui no blog, logo após a sua eleição: «Acho pouco provável que voltemos aos piores pesadelos litúrgicos da época de João Paulo II, mas infelizmente penso que tampouco iremos nos embevecer com a sacralidade do ethos de Bento XVI». Hoje o Rorate Caeli pôs uma pequena nota sobre a Missa Pontifícia do último domingo: pela primeira vez, o Papa Francisco distribuiu a Comunhão sem o genuflexório que Bento XVI introduzira nas liturgias papais. No último domingo, portanto, as pessoas que receberam a Eucaristia das mãos do Romano Pontífice, fizeram-no de pé e não de joelhos. E sem a patena, o blog faz questão de frisar.

É certo que se trata de uma notícia profundamente triste, uma vez que a nossa opinião particular é a de que existe uma estreita correlação entre sacralidade litúrgica e ortodoxia; e isso de tal modo que, no meio da terrível crise de Fé que a Igreja atravessa nos dias de hoje, o exemplo é uma das formas mais eficazes e seguras de transmitir os conteúdos da Fé da Igreja. Mas não nos esqueçamos de que o Papa Francisco não está fazendo nada de inesperado ou revolucionário. Não é inesperado, porque – como dissemos antes – os detalhes litúrgicos não nos parecem fazer parte das preocupações mais próximas do Sumo Pontífice. E não é revolucionário porque a rigor é lícito receber a comunhão de joelhos ou de pé, como dizem os documentos vigentes sobre o assunto.

Do fato da comunhão de joelhos expressar mais perfeitamente a Fé Católica na Eucaristia, não segue que recebê-La de pé equivalha a cair em heresia: mesmo quando as regras para a distribuição da comunhão eram mais rígidas, sempre se permitiu que comungassem de pé as pessoas que, por questões de saúde, não podiam se ajoelhar. Ainda, do fato da comunhão de joelhos ser o modo mais perfeito de receber a Nosso Senhor Sacramentado, não segue que um sacerdote não possa distribuir a Eucaristia para comungantes de pé, se julgar prudente em determinadas circunstâncias concretas (*). Por fim, do fato do Papa Francisco ter distribuído a comunhão para comungantes de pé na missa que celebrou na paróquia de Santi Elisabetta e Zaccaria, não segue que este deva ser doravante o modo ordinário de distribuição da Eucaristia. Nem nas liturgias papais, e nem muito menos nas missas celebradas mundo afora.

[(*) É fato que a Primeira Comunhão trata-se exatamente de uma ocasião que, por sua própria natureza, justificaria – quase exigiria até – uma maior solenidade na administração do Santíssimo Sacramento, sendo portanto o mais natural distribuí-Lo com o genuflexório… mas é dever de caridade pensar que o Santo Padre não fez considerações de caráter ideológico quando distribuiu a Eucaristia para crianças de pé no último Domingo. Nada nos autoriza a julgar mal as intenções do Romano Pontífice.]

Enfim… Nec rubricat. Já o sabíamos. Até o próprio pe. Lombardi já havia aludido ao adágio. Mas e quanto ao “nec cantat”? O significado mais literal nos diz que ele simplesmente não canta, o que em linhas gerais é verdade. Mas gosto de pensar em um sentido mais metafórico para a expressão: o Papa Francisco não canta, quer dizer, ele não [se preocupa em] agrada[r]. Ele não busca aplausos, não está em Roma para fazer espetáculos recreativos, e sim para anunciar a Religião do Crucificado com todas as exigências que ela acarreta. Não faz concessões, por mínimas que seja. Não tem palavras bonitinhas para o mundo moderno, mas somente duras admoestações. Já citamos aqui alguns exemplos disso, mas eles se multiplicam a cada dia. Trago mais dois.

Na semana passada, falando sobre o dia de oração pelos católicos chineses, o Papa não fez lamentações genéricas sobre as perseguições sofridas pela Igreja na China e nem se limitou a admoestar os poderes públicos para que respeitassem os direitos humanos, a liberdade religiosa e coisas do tipo. Muito pelo contrário, pediu que os católicos do mundo inteiro rezassem por estas intenções para a China: «para implorar de Deus a graça de anunciar com humildade e com alegria Cristo morto e ressuscitado, de ser fiel à sua Igreja e ao Sucessor de Pedro, e de viver a cotidianidade no serviço a seu país e aos seus compatriotas de modo coerente com a fé que professam». Fidelidade à Igreja de Roma e testemunho público da Fé Católica a despeito do ateísmo estatal: eis o que o Vigário de Cristo acha importante pedir para a China!

Já ontem, fustigando impiedosamente a mentalidade moderna – presente e atuante mesmo entre muitos ditos católicos! – a respeito do casamento, o Papa Francisco afirmou: «Quantos casais se casam e pensam em seu coração, sem ousar dizer: ‘enquanto houver amor e, então, veremos depois'[?]»; e ainda, colocando-se ironicamente “no lugar de um pai católico de hoje”: «Não, eu não quero mais um filho [p.s.: a melhor tradução é “não, não, mais de um filho não!”, como se depreende do original italiano «No, no, più di un figlio, no!» disponível no site do Vaticano], porque não poderemos viajar de férias, não poderemos ir a tal lugar, não poderemos comprar uma casa! (…) Nós queremos seguir o Senhor, mas até certo ponto». A contundência da mensagem foi tamanha que mesmo a mídia secular (pela primeira vez de que eu me recorde) se viu obrigada a compará-lo com Bento XVI não para antagonizá-los, mas para demonstrar a harmônica continuidade entre o Papa reinante e seu predecessor: «[o Papa] Francisco retomou fielmente, mas em termos concretos que podem estar na mente das pessoas, temas que seu antecessor Bento XVI expunha em termos abstratos: casamento concebido como temporário, medo de compromisso, preguiça e recusa de abandonar seu conforto pessoal».

Nec cantat! O Papa não busca a aprovação do mundo moderno, graças a Deus. Não mede esforços por fazer a mensagem cristã conhecida, ainda que isso vá ferir susceptibilidades contemporâneas. A sua pregação não é melosa ou condescendente, muito pelo contrário: as suas palavras são duras! Como as do Cristo de quem ele é vigário [cf. Jo VI, 60]. Mas, para os que somos católicos, elas são uma doce e agradável melodia. O Papa não canta, mas as suas homilias soem ser como música para os nossos ouvidos.

Sobre projetos pró-vida no Congresso Nacional

Projeto que inclui “desde a concepção” na Constituição Federal ganha relator, no Blog da Vida. «No dia 14 desse mês o deputado Alberto Filho (PMDB-MA) foi indicado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados como relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 164/2012, projeto que pretende incluir na Constituição Federal as palavras “desde a concepção” no artigo 5º, quando há menção à inviolabilidade da vida humana».

A notícia é muito boa, pois se trata de um dos mais simples e incontroversos projetos pró-vida atualmente em trâmite no Congresso. Importa trabalhar por sua aprovação, que será muito positiva para a causa em defesa da vida no Brasil.

Já o Estatuto do Nascituro, como sabemos, não é tão incontroverso assim. Exatamente por isso é importante pontuar com bastante cuidado o quê ele significa e a quê exatamente ele se propõe, para que não fiquemos paralisados no meio do fogo cruzado. Neste sentido, é oportuna a leitura deste texto do Dr. Leonardo Lima Nunes, Procurador Federal. Destaco:

Os defensores do aborto contam justamente com a sua desinformação e comodismo. Vendem-lhe uma realidade distorcida para que, com medo, você apoie a barbárie. Informe-se e verá que defender a dignidade humana e o direito das crianças nascerem (já previsto no art. 7° do ECA), ampliando as políticas públicas de apoio à gestação, nunca irá torna-la menos livre ou ameaçar a sua vida ou dignidade.

Propositalmente, o texto incorre naquilo que o pe. Lodi está chamando de «propaganda do gol contra». Eu entendo as ressalvas do sacerdote, mas imagino que o Dr. Leonardo esteja encarando os fatos de um ângulo diferente: importa desmentir a boataria de internet que diz que o Estatuto do Nascituro vai modificar o Código Penal. Não vai, e talvez a melhor forma de deixar isso claro seja mesmo enfiar um «ressalvados (sic) o disposto no Art. 128 do Código Penal Brasileiro» no meio do projeto. A esta altura do campeonato, quem poderá demonstrar o contrário?

Todos sabemos que não existe aborto legal no Brasil, e todos também sabemos que, não obstante, há um morticínio generalizado de crianças – inclusive com recursos públicos! – sob o manto hipócrita de uma “legalidade” que não se sustenta juridicamente. É uma lástima, mas esta é a situação na qual nós já nos encontramos. Não é praticável fazer guerra contra isso o tempo todo, e nem muito menos condicionar a legitimidade moral de um projeto de lei à clareza com a qual ele expresse a justa interpretação do Art. 128 do CP.

Sobre o novo ministro do STF: o fundo do poço

A presidente Dilma indicou para o Supremo Tribunal Federal (na vaga de Ayres Britto) o Dr. Luís Roberto Barroso, 55 anos, famoso advogado constitucionalista. Com esta nomeação, o aparelhamento ideológico da Suprema Corte chega ao seu ápice ou, melhor dizendo, ao mais abjeto fundo do poço. A biografia de Barreto inclui feitos notáveis como «[ser] responsável pela defesa, no Supremo Tribunal Federal, de causas como a legitimidade das pesquisas com células-tronco embrionárias, equiparação das uniões homoafetivas às uniões estáveis convencionais, legitimidade da proibição do nepotismo, legitimidade da interrupção da gestação de fetos anencéfalos» (Folha). Atente-se para o nível dos militantes que estão sendo descaradamente colocados nos mais altos postos do governo do Brasil para lá ficarem a vida inteira, sem prestar satisfações a ninguém, e imagine-se o que nos espera daqui em diante.

Sobre este curriculum, a propósito, é oportuno lembrar este texto do prof. Felipe Hermes Nery, que faz «parte do relatório apresentado ao então Ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Brito, antes da votação da ADIn 3510 [cuja rejeição pelo STF autorizou, há cinco anos, a destruição de embriões humanos em pesquisas científicas]», para entender o processo revolucionário que vem sendo aplicado no Brasil há anos e que, agora, com o mais novo integrante do STF, ganha um poderoso reforço.

Barroso é muito bem conhecido no meio acadêmico: é provável que seja o maior expoente brasileiro do neoconstitucionalismo, o arcabouço teórico por trás de todas as bizarrices jurídicas que foram feitas no Brasil nos últimos anos. Trata-se de revolucionário, sem dúvidas, mas revolucionário inteligentíssimo e com prestígio: é desolador apenas imaginar o estrago que um sujeito desses pode fazer no STF. A plantação do joio foi muito bem feita: mesmo na hipótese do Partido deixar hoje a presidência do país, bastar-lhe-ia sentar e esperar a colheita maldita que inexoravelmente viria. E quanto tempo levará para que depois as coisas sejam colocadas em ordem novamente? É impossível dizer.

Na verdade, esta indicação só diminui ainda mais o prestígio de uma instituição prostituída que, de Guardiã da Lei, passou a ser ponta de lança da Revolução. Eis, sem muitas firulas, a situação diante da qual nos encontramos.

O que acontece agora? Teoricamente, o Senado pode rejeitar a indicação, mas não é nada provável que isso aconteça (aliás, eu nem saberia dizer se isso já aconteceu alguma vez na vida). Na impossibilidade prática de vetar os desmandos da presidente, que indica ministros ao Supremo como se estivesse formando seu próprio exército de delinqüentes para perpetuar no mundo as suas idéias de jerico, seria desejável que ao menos a tradicional sabatina contivesse perguntas relevantes, capazes de mostrar ao Brasil quem é Luís Roberto Barroso. Coisas como as suas posições sobre ativismo judicial, separação entre os Poderes, releituras da Constituição, por exemplo, não deveriam ficar de fora. Ao menos para constar. Ao menos para que não se diga, depois, que fomos pegos de surpresa.

Guerra ideológica e grupos de risco

Na esteira da recente decisão do Conselho Nacional de Justiça de obrigar os cartórios de todo o Brasil a realizarem casamentos gays, há duas notícias que merecem ser melhor divulgadas.

A primeira delas é esta do IPCO, que faz uma sóbria leitura do que está acontecendo no país a respeito desta onda de concessão de falsos direitos (cada vez mais exagerados) ao vício contra a natureza. Ainda, apresenta uma iniciativa (foi a primeira vez que eu a vi) que tem potencial para se tornar interessantíssima: uma página para “contato com a imprensa”, contendo os endereços de email de diversos veículos de comunicação a nível nacional e estadual, bem como um breve texto sobre «Como aumentar o efeito de sua carta à imprensa» que merece uma leitura.

O grande problema do Brasil contemporâneo é a enorme discrepância que existe entre as posições ideológicas dos Quatro Poderes e as dos demais cidadãos, meros mortais. Quanto mais estes puderem se fazer ouvir, melhor, e neste sentido é muitíssimo bem-vinda qualquer iniciativa que se proponha a tirar o tal “povo brasileiro” dos discursos demagógicos e trazê-lo para o protagonismo da vida social verdadeira. Há uma guerra ideológica em curso, e simplesmente não faz sentido nos omitirmos de lutá-la.

A segunda notícia é esta d’O Estado de São Paulo, replicada por Zero Hora: HIV ainda desafia saúde pública. Vem da imprensa laica, portanto. Os dados apresentados nela são os seguintes:

Nos dados mais recentes do Ministério da Saúde, de 2012, homens que fazem sexo com homens aparecem como de maior vulnerabilidade: 10,5% estão infectados [com o vírus da AIDS]. Na população em geral, a incidência é de menos de 0,5%.

A desproporção salta aos olhos: na população em geral, nós só encontramos um soropositivo a cada 200 pessoas. Entre os tais «homens que fazem sexo com homens»gays, portanto, por mais que os homossexuais “puros” aparentemente não queiram ser contados entre eles e vice-versa -, é um a cada dez! Por mais que o tempo passe, os grupos de risco continuam existindo, e mudar a forma como se lhes denomina («Não é mais uma questão de se falar em grupo de risco — como ocorreu no começo da epidemia e criou estigmas até hoje dolorosos —, mas entender quem está mais vulnerável», fala Alexandre Naime Barbosa, infectologista entrevistado na matéria) é somente uma tentativa cômoda de mascarar o problema. É óbvio que não o resolve, e nem muda o fato de que há proporcionalmente muito mais soropositivos entre os que vivem como em Sodoma do que entre os que vivem como a Igreja prega! Que aos olhos de muitos Ela seja culpada pela epidemia da AIDS no mundo ao mesmo tempo em que se exalta nas alturas o homossexualismo é somente outro sintoma das loucuras e contradições do mundo moderno.

Tem mais um detalhe. Essa notícia não é muito diferente de outra que eu comentei há quase cinco anos aqui no Deus lo Vult!; na verdade é praticamente igual. Em meados de 2008 eu disse aqui: «Os “[h]omens que fazem sexo com homens são 19 vezes mais propensos a contraírem o vírus HIV do que a população em geral”, como diz o GLOBO» – os dados eram a nível mundial. A matéria de então d’O GLOBO ainda está lá.

Cinco anos, toneladas de camisinhas e milhões gastos com campanhas anti-homofobia depois, os gays em questão ainda são 20 vezes mais propensos a contraírem o HIV do que a população em geral! A realidade não tem compromissos ideológicos. E, depois de fracassos acumulados sobre fracassos, é espantoso que aparentemente ninguém nunca se pergunte se estão de fato fazendo a coisa correta para combater a AIDS. Mas a ideologia fala sempre mais alto: questionar o establishment é pecado mortal, e é incompreensível que os nossos dados epidemiológicos ainda insistam em ser tão obscurantistas.

Papa Francisco, exorcista

A Sala de Imprensa da Santa Sé disse hoje que o Papa Francisco não realizou um exorcismo no último Domingo. O Pe. Lombardi se refere à cena abaixo, ocorrida após a Missa de Pentecostes que o Papa Francisco celebrou na Praça de São Pedro (via Pe. Paulo Ricardo).

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Há também um vídeo que mostra em detalhes o encontro do Papa Francisco com o jovem:

Como explicar? Bom, é certo que o Papa não realizou nenhum “exorcismo”, se pelo termo entendemos o rito específico que se encontra no Titulus XI do Rituale Romanum. No entanto, a libertação do demônio não é um efeito rígido apenas decorrente ex opere operato do Ritual elaborado para este fim. O exorcismo não é um sacramento e portanto não pode ser comparado a estes: se é verdade que a remissão do Pecado Original dá-se no Batismo e somente por meio do Batismo (para sermos rigorosos, incluídos aqui tanto o Batismo Sacramental quanto o de Sangue e o de Desejo), que tem a sua forma própria [= “eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”] sem a qual não existe o Sacramento, o mesmo não pode ser dito da luta espiritual contra o Diabo.

A rigor, qualquer espécie de influência demoníaca (da infestação à possessão) pode ser vencida à força de orações, penitências, jejuns, sacramentos. Ora, a própria oração a São Miguel Arcanjo é também chamada de “pequeno exorcismo” (ou “Exorcismo breve”), e mesmo os fiéis leigos recorrem a ela com freqüência. Até a “Celebração dos Exorcismos” reformada traz algumas «Súplicas que os fiéis podem utilizar privadamente no combate contra os poderes das trevas». Nada impede, portanto, que uma pessoa (mormente um sacerdote) se engaje em luta espiritual contra o diabo sem que seja necessário seguir à risca as rubricas do Ritus exorcizandi obsessos a daemonio. E isso, ao menos em sentido latu, pode ser chamado de exorcismo.

Foi o que aconteceu com o Papa Francisco? Parece que sim, mas é lógico que não se pode dizer com certeza. A diferença entre os cumprimentos do Papa aos demais doentes e a sua oração sobre este jovem específico salta aos olhos (veja-se, para ficar mais claro, o vídeo com a Missa completa), mas isto é muito pouco para diagnosticar à distância uma possessão demoníaca sem possibilidade de erro. Em todo caso, a imagem é belíssima, com o Vigário de Cristo crescendo com autoridade sobre o jovem atormentado. Ao mandamento de “curai os enfermos”, Cristo imediatamente acrescentou o “expulsai os demônios” (cf. Mt 10, 8). Ao que parece, na dificuldade de fato de distinguir entre ambos os casos, o Papa Francisco preocupa-se em suplicar tanto por um quanto por outro, tanto pela saúde do corpo quanto pela da alma, sem se preocupar com os juízos de censura que as pessoas farão dos seus atos.

O melhor protesto do Femen

Certas coisas são cômicas. O feminismo é um movimento tão revolucionário, mas tão revolucionário que, para afirmar com mais veemência a própria rebeldia, decidiu agora revoltar-se contra si mesmo. O mais recente eco do brado “Não me representa!” foi dado pelo Femen contra o próprio Femen. Ou, para ser mais exato, pelo Femen internacional contra o braço tupiniquim do movimento.

A notícia nos chegou pelo divertido título de «O Femen Brazil não nos representa, afirma líder de organização ucraniana». Em resumo, o fato é que a líder do movimento na Ucrânia disse que a ativista brasileira até então responsável pelas atividades do Femen no solo pátrio não pertence mais ao movimento. Por quê?

Alexandra Shevchenko, a ucraniana (“uma das fundadoras do Femen”, diz Zero Hora), expõe as suas razões: «A pessoa que nos representava, Sara Winter, e que tem sua própria conta no Facebook, o Femen Brazil, não faz parte do nosso grupo. Tivemos muitos problemas com ela. Ela não está pronta para ser líder. É uma pena, mas essa decisão faz parte do nosso crescimento como movimento honesto. O Femen Brazil não nos representa».

Sara Winter, a paulista, defende-se: «Elas queriam que eu contratasse um helicóptero para desenhar um símbolo do Femen no Cristo Redentor. Como iria fazer uma coisa dessas? Queriam que eu encontrasse uma cruz de madeira no Rio ou em São Paulo e serrasse, como elas fizeram em Kiev. Elas tinham muitas ideias absurdas que foram nos distanciando».

O que dizer disso tudo? Faço só três ligeiros comentários.

Primeiro, que este imbroglio nos revela, uma vez mais, que essas senhoritas não passam de vândalas arruaceiras, cujo propósito de vida se resume a perpetrar agressões cada vez mais absurdas (pichar o Cristo Redentor de helicóptero, sério?!) que qualquer pessoa civilizada não pensaria duas vezes antes de classificar como criminosas. Por não encontrarem ninguém com o mesmo grau de instinto criminoso aqui no Brasil, as celeradas da Ucrânia preferiram romper com o movimento local. O problema não é portanto ideológico, mas de praxis: não importa se a sra. Winter comunga ou não das mesmas idéias do movimento, se ela não está disposta a fazer as barbaridades que o Femen quer que ela faça, então ela não é boa o bastante para o grupo.

Segundo, que certamente não faltarão quem se disponha a defender as fundadoras. E, sob este aspecto concreto, elas não deixam de ter razão: se existe um grupo com certos objetivos e alguém não concorda com eles, nada mais lógico do que afirmar que esta pessoa não faz parte daquele grupo. Neste caso, quanto à coerência das baderneiras eu não tenho nada do que reclamar. Mas quando um outro grupo decide expulsar um membro que não se coaduna com os objetivos para os quais o grupo existe – por exemplo, quando um padre rebelde é excomungado pela Igreja por defender heresias -, não faltam pessoas que rapidamente se levantem contra esta intolerância obscurantista. Ora, onde estão estes baluartes da “liberdade de expressão” para defender a pobre da Sara Winter, que foi sumariamente expulsa do seu movimento por discordar das orientações da sua superiora?

Terceiro, que o Brasil certamente não perde nada com o fim dos “serviços” do Femen Brazil: que vá com Deus e nos deixe em paz! A srta. Alexandra garante que vai «reconstruir o Femen no Brasil» – não tenha pressa! Por enquanto, é motivo de júbilo saber que a metralhadora rotatória das revolucionárias acabou ferindo de morte as próprias companheiras. Se elas continuarem assim – que o bom Deus o permita! -, acabarão se auto-destruindo: e esta será de longe a melhor coisa que o Femen já terá feito pelas mulheres do século XXI.

“E que é que Vossemecê me quer?”

Hoje é o dia de Nossa Senhora de Fátima, é o dia em que, há quase cem anos, três pastorinhos portugueses encontravam-se pela primeira vez com aquela Senhora que Se dizia do Céu. A história é-nos por demais conhecida, mas nunca é demais relembrá-la; porque a sua força transcende os anos e as décadas e nos desconcerta ainda nos dias de hoje. Três crianças e uma Senhora vinda do Céu.

“E que é que Vossemecê me quer?” A pergunta, feita em 1917 por uma criança, bem poderia ser repetida por cada um de nós. Ó Senhora, o que é que quereis de mim? Devíamos fazê-la e fazê-la de novo a cada dia, colocando-nos à disposição d’Aquela que o próprio Senhor nos deu por Mãe e que, a despeito de nossa incredulidade e dos nossos pecados, dignou-Se aparecer para nós. Que mistério assombroso é o dessa aparição, o que ela significa na nossa vida? Eis uma pergunta que deveríamos fazer a cada dia! Afinal, foi precisamente isto o que Bento XVI nos disse em Portugal, há exatos três anos, quando celebrou a sua última missa diante da esplanada do Santuário de Fátima: «Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída». E nós, que tivemos a imerecida graça de conhecer as maravilhas realizadas em Fátima, o que devemos fazer? O que o Todo-Poderoso espera de nós? O que esta Senhora nos quer?

Fátima, todos sabemos, é a grande resposta à incredulidade de um mundo que, no início do século XX, já começava a virar as costas a Deus. A seqüência de aparições hoje inaugurada culminou, em 13 de outubro de 1917, com o grande milagre do sol, presenciado por milhares de pessoas. Ora, de todos os milagres realizados por Nosso Senhor nos Evangelhos, talvez somente o da Multiplicação dos Pães pode ser comparável a este em número de testemunhas; como é possível que isto não nos signifique nada?

E, naquele dia de outubro de 1917, os incrédulos de todos os naipes foram a Fátima. E voltaram assombrados: nós temos os registros dos que foram testemunhas oculares do «macabro bailado do sol» daquele dia 13 terrível. Está lá:

Resta que os competentes digam de sua justiça sobre o macabro bailado do sol que hoje, em Fátima, fez explodir hossanas dos peitos dos fieis e deixou naturalmente impressionados – ao que me asseguraram sujeitos fidedignos os livres pensadores e outras pessoas sem preocupações de natureza religiosa que acorreram à já agora celebrada charneca.

Mas seria muita impiedade de nossa parte reduzir a mensagem de Fátima àquilo que ela tem de maravilhoso. A Santíssima Virgem não teria descido dos Céus apenas para balançar o Sol sobre as cabeças dos livres-pensadores que, já naquela época, empestavam Portugal. A incredulidade contra a qual se levanta a Virgem de Fátima é também a nossa incredulidade: a nossa desesperança, a nossa dureza de coração.

Dureza de coração, porque pecamos; e, mesmo com todas as mercês que Deus tem nos concedido, parece que temos um prazer mórbido em continuar pecando! Contra esta ofensa horrenda que dedicamos ao Todo-Poderoso, aquela Senhora Terrível nos levanta o tríplice brado de “Penitência!” que o Anjo do Terceiro Segredo dirige a toda a terra. E, contra a desesperança à qual podemos ser conduzidos ao contemplarmos desolados os escombros da Cidade de Deus, a Bondosa Senhora do Céu nos promete que, no final, triunfará o Seu Imaculado Coração.

Aproximamo-nos do Centenário das aparições de Fátima; vai fazer um século! Mas, se voltarmos os nossos olhos para a Cova da Iria com olhar sobrenatural, percebemos que bem poderia ter sido ontem. O mundo não parece estar menos incrédulo do que em 1917, e os pecados então cometidos não parecem mais graves do que estes com os quais ainda hoje ofendemos a Deus. Como é possível que coisas tão extraordinárias nos tenham acontecido e, mesmo assim, estejamos tão parecidos com o que éramos antes…? Voltemo-nos para Fátima, aproximemo-nos humildemente desta Amável Senhora. Perguntemo-Lhe o que Ela deseja de nós. Ouçamos o Seu pedido por penitência que temos sido tão negligentes em atender; e comecemos a fazer a nossa parte para sermos um pouco mais o que Ela nos chama a ser. Talvez assim Deus Se compadeça de nós. Talvez assim Ele nos conceda a graça de contemplarmos o prometido Triunfo do Imaculado Coração de Sua Mãe.

Estatuto do Nascituro: alguns esclarecimentos

Tendo em vista as críticas que o Estatuto do Nascituro vem recebendo de todos os lados (de um indiscutível pró-vida como o pe. Lodi a uma abortista radical como a Débora Diniz!), o Brasil Sem Aborto publicou um importante texto de esclarecimento (veja-se aqui) que deve ser lido por todas as pessoas interessadas em formar uma opinião sobre o assunto – a fim de que, para apoiá-lo ou se lhe opôr, seja considerado «o texto [do Projeto de Lei] atualmente em discussão, e não textos antigos ou que só existem no imaginário de cada um».

É importante a leitura do documento preparado pelo Brasil Sem Aborto na íntegra. Trago aqui apenas as duas conclusões que julgo mais importantes, porque a respeito destes temas também aqui no Deus lo Vult! foram veiculadas opiniões que não se sustentam à luz do texto do projeto de lei ora em apreciação na Câmara dos Deputados:

Conclusão: o Estatuto do Nascituro trata o embrião como pessoa, garantindo-lhe os direitos, embora não use diretamente esse termo, mas outros análogos, fazendo referência a “dignidade e natureza humanas”, e a “direitos de personalidade”.

[…]

Conclusão: em matéria penal, nada muda. O Código Penal continua como está, e as divergências na sua interpretação, que atualmente ocorrem, continuarão ocorrendo do mesmo modo: nem mais, nem menos.

Como sabemos, o PL 478 está para ser apreciado na Câmara. Continuemos em mobilização: também para desmistificar as lendas que, neste momento, pululam internet afora sobre o projeto. Também para esclarecer as pessoas, combatendo as falsas informações irresponsavelmente transmitidas nos meios de comunicação.