Aconteceu durante a JMJ, no dia 23 de julho, no Mosteiro de São Bento, o DSI Talks. Estive presente às duas primeiras palestras, proferidas por S. E. R. Dom Antônio Rossi Keller e pelo prof. Carlos Ramalhete; não pude assistir à última conferência do evento, a do sr. Jesus Magaña, pois ela conflitava com o meu horário de serviço do dia como voluntário da Jornada e eu tive que sair mais cedo.
Mas a manhã foi extremamente proveitosa. Revi diversos amigos e pude conhecer outras pessoas com quem até então não travara senão contato virtual; e, principalmente, vi o pequeno auditório do mosteiro abarrotado de pessoas – em sua maioria jovens – preocupadas em aprender um pouco mais sobre a Doutrina Social da Igreja, e sinceramente preocupadas em encontrar formas concretas de aplicar em suas vidas o que a Igreja ensina sobre o tema.
Foi extremamente gratificante ver D. Keller chamando os leigos ao protagonismo próprio do seu estado de vida, querido por Deus e necessário à recristianização da sociedade. Vê-lo atacar – de modo até bastante duro – um certo “clericalismo” que intenta reduzir o papel do leigo a uma caricatura grotesca do serviço sacerdotal foi reconfortante, mormente nestes dias que correm em que parece que a pessoa é tanto mais católica quanto mais atribuições acumule para si dentro da paróquia, pouco importando o que faça fora dela. As perguntas surgidas após a sua fala deram um importante testemunho de que aquelas pessoas estavam, sim, interessadas no que o senhor bispo tinha para nos dizer.
Ouvir o Carlos Ramalhete falar é sempre prazeroso, e acompanhá-lo em sua busca à gênese das modernas insatisfações com a ordem social vigente – remontando até a origem da própria modernidade – era tão empolgante quanto escasso o tempo de que dispúnhamos para ouvi-lo falar. Também aqui, a participação das pessoas ao final da sua conferência testemunhava a sede de conhecimento daquele auditório: e como havia sido importante dar-lhes aquelas pequenas porções de catolicismo, mais adequadas a abrir o apetite do que a saciá-lo por completo. Saímos querendo mais, sem dúvidas; mas não é já um santo propósito e uma coisa terrivelmente necessária, isso de levar as pessoas a quererem saber mais das coisas de Deus e da Igreja?
Fiz algumas anotações sobre cada uma das duas palestras, que publico abaixo praticamente sem revisão. Apenas alguns tópicos, apenas algumas frases soltas e alguns esquemas muito mais indicativos do que desenvolvidos. Estes rascunhos decerto não substituem aquelas conferências. Mas faço votos de que eles possam aguçar a curiosidade e despertar o interesse daqueles que os lerem, reproduzindo – ainda que em menor medida – os saudáveis efeitos daquelas conversas sobre Doutrina Social da Igreja no Mosteiro de São Bento, durante a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro.
* * *
Dom Keller – @Terça-feira, 23 de julho de 2013, 9:25 AM
– Vocação e missão especifica do leigo no mundo
– Colaboração com a criação
– Colaboração com a redenção.
A fundamentação da DSI é teológica, e se encontra em grande parte no Concílio Vaticano II.
Lumen Gentium (documento central do Vaticano II), n. 31
– atuações em tarefas e ambientes que não são da Igreja, mas ordenando-os para Deus.
– “esclarecer e ordenar todas as coisas temporais, com as quais estão intimamente comprometidos”.
Catecismo: 898-899
Christifideles Laici
Casamento faz parte da missão do leigo! “Nela têm os cônjuges a própria vocação, para serem, para si e para os seus filhos, sinal do amor de Cristo!”
Não há doença pior do que o clericalismo! O leigo cristão tem que ser anti-clerical. Essa idéia de que tudo tem que passar pela mão do padre e do bispo.
A missão específica do leigo não é na Igreja! Ela não lhe vem de nenhuma delegação, mas diretamente de Deus, por meio do Batismo e da Confirmação! Por estrutura ontológica!
– Criação e Redenção
“Cuidar das coisas que Deus lhe confiou e estabelecer a Família” => Não são realidades autônomas! Devem ser realizadas de acordo com a vontade de Deus!
Conhecemos os desígnios de Deus por Revelação. Ordenar, segundo Deus, as coisas do mundo, porque Deus nos disse de forma positiva o que queria.
“Sereis como deuses” => é a tentação que hoje se faz presente na vida de todos nós. Todo o fundamento do moderno relativismo encontra-se aqui. Sociedades desenvolvidas à margem de Deus ou mesmo contra Deus!
Família, célula primeira e vital da sociedade. Quer destruir a humanidade? Quer destruir o ser humano? Comece destruindo a Família. Desestruturando-a, toda a sociedade é desestruturada.
Materialidade e Autonomia são os dois princípios – únicos princípios – aos quais estão sujeitas as coisas humanas. Falar de Deus é intromissão.
O cristão não pode adotar essas posições de encolhimento e pessimismo. “Tenho ensinado constantemente (…) o mundo não e ruim! (…) Nós, os homens, é que o fazemos ruim e feio!”
Deus nos espera para transformarmos a criação!
Redenção: apostolado dos leigos no ambiente secular, a fim de aproximar o mundo de Deus!
– vocação à santidade! Fé Católica sem o comprometimento da própria vida em busca da santidade do dia-a-dia. Pão com manteiga, pão sem manteiga: San Josemaría. O pessoal hoje em dia é burro mesmo, ganhar discussão é muito fácil. Ser capaz de calar a boca de gente burra não é salvar o mundo!
Como fazer?
– procura séria da santidade. Questão fundamental!
– um segredo em voz alta: crises mundiais são crises de santos. A alma de todo apostolado é a santidade!
– elevar o mundo a Deus e transformá-lo a partir de dentro!
– oração, expiação e ação.
– de mediocridade o mundo já está cheio. E a Igreja nem se fala!
O modo específico dos leigos contribuírem é essa ação livre e responsável no meio das atividades temporais. Espalhar o bom odor de Cristo!
Sejam, antes de tudo, leigos!
* * *
Prof. Carlos – Terça-feira, 23 de julho de 2013, 10:43 AM
Explicar tudo desde Adão e Eva: mania de filósofo…
Doutrina Social da Igreja: o que é isso?
– não é uma receita de bolo; estas fizeram um estrago danado nos últimos séculos.
– aplicação da Lei Natural à sociedade. Como o homem se encaixa na realidade?
A ordem natural é hierárquica. Como a sociedade vai se organizar? Democracia, Oligarquia ou Monarquia. No Brasil, basicamente temos uma Oligarquia.
A DSI nos dá parâmetros. Ela não determina nenhuma forma de governo específica. Isto é uma questão leiga, a Igreja no máximo diz “não é assim”.
Compete a leigos terem posições, divergentes ou não, mas debaixo de certos princípios. Os bispos expõem os princípios. Os leigos vão fazer lobby.
Doutrina Social é relativamente recente. Antes se falava em teoria do Estado, coisas assim.
Isso começou a se romper com a Reforma Protestante. “Se o rei era católico, o paiszinho dele ia ficar católico, etc.” -> isso gerou o absolutismo.
Modernidade -> outra forma de absolutismo. “O Estado sou eu”, “todo o poder emana do povo e e exercido em nome dele por mim”.
Quando chega a Revolução Francesa, começa a centralização por meio desta forma de absolutismo anônimo. Isso leva à dissolução da ordem social.
Revolução Industrial: camponeses desempregados após a revolta anglicana, que distribuiu as terras da Igreja. Capitalismo selvagem. Isso é a modernidade. Proletários: os que só têm a prole pra vender.
Coisas novas: Rerum Novarum. Deixar o território da política para invadir o da economia social.
Modernidade: Um absolutismo ainda mais absoluto por ser impessoal.
Dicta&Contradicta: vale a pena ler o próximo número.
A gente sabe que querer que o poder civil invada arbitrariamente o santuário da família é um erro grave e funesto.
É muito mais importante garantir que as leis não colem do que que elas não passem.
Rerum Novarum, contra o capitalismo;
Quadragesimo Anno, contra o comunismo;
Mit Brennender Sorge, contra o nazi-fascismo.
É preciso eliminar os que não se encaixam na idéia que querem impor à sociedade: prendendo, matando, whatever.
Modernidade é alguém que tem uma idéia de como a realidade deve ser, e quer dobrá-la àquela.
Nossa legislação é completamente louca. A realidade não tem chongas a ver com a legislação. O Estado no meio gera desordem.
Mercenários: terceirização de forças armadas. Estados estão perdendo seu poder: uma ONG matou milhares de americanos em 11 de setembro, e hoje os Estados Unidos contratam ONGs para garantir sua ocupação territorial.
Compêndio de Doutrina Social: incompreensível. Foi publicado num momento histórico complicado.
Quando uma ordem social acaba, em seus últimos estertores ela recrudesce em suas características próprias. Juliano o Apóstata, caça às bruxas, etc.
As manifestações são sinais de dissolução desta ordem hipercentralizadora. Nos USA, o TeaParty e o Occupy estão dizendo “não agüento mais”. As pessoas estão cansadas de tentar fazer a realidade se dobrar a uma idéia. As pessoas vão sempre se manifestar contra.
Realidades Naturais são sólidas demais! Simplificações da realidade não colam mais. Eles não sabem o que fazer, então eles queimam carros. Uma briga pelo timão do Titanic enquanto ele afunda.
Aqui no Brasil, a galera entrou nas manifestações. O que ela não agüenta mais é essa falsa solidez da modernidade. #NãoMeRepresenta – acabou essa lorota.
Pontos principais:
- Anti-Partidarismo (subsidiariedade)
- Atomismo das reivindicações: chegamos à solidariedade.
- Revolta com a política representativa. Justiça.
É isso o que devemos procurar!
Manifestações são sintomas de uma exasperação generalizada. Devemos procurar fazer com que a ordem que há de vir seja conforme à DSI. Dá pra resolver evitando a burocracia? Se sim, então vamos fazer. A ordem formal está caindo! Não é se, e sim quando.
Adesão à moral tradicional: fazê-lo com visibilidade. Devemos fazer nossa voz ser ouvida! Fortalecer a ordem endógena, que – ao contrários desses ismos todos – é conforme a DSI.
Podemos nos aproveitar delas, como um sintoma!
Em qualquer mudança de ordem social há distúrbios.