Aviso – Missa na Forma Extraordinária em Recife

Atenção! A partir do próximo domingo (24 de abril de 2011 – Domingo de Páscoa), a Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano (missa tridentina) será celebrada não mais na Paróquia da Imbiribeira, onde vinha ocorrendo até então, e sim na Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, na Rua Nova, no Centro da Cidade, ao meio dia.

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A mudança, entre outras coisas, objetiva facilitar o acesso dos fiéis que tinham dificuldades em se locomover até a Imbiribeira (na zona sul da cidade), disponibilizando a Santa Missa em uma área mais central; bem como utilizar-se de um “espaço litúrgico” mais adequado (uma igreja histórica, restaurada há não muito tempo) para oferecer o Santo Sacrifício da Missa na forma antiga [p.s.: para fins de curiosidade histórica, vale a leitura desta crônica da Igreja da Conceição dos Militares].

A Missa ficará ao encargo do revmo. Monsenhor Edvaldo Bezerra, já conhecido dos que assistem esta Santa Missa na Imbiribeira.

Monsenhor Oliveri: O ofuscamento da fé gera devastação litúrgica

[Texto em espanhol: La Buhardilla de Jerónimo

Publicação original: Salvem a Liturgia!

Tradução para o português: Wagner Marchiori]

 

Tradução da interessante carta que Mons. Mario Oliveri, bispo de Albenga- Imperia e membro da Congregação para o Culto Divino enviou para o organizador do III Congresso sobre o Motu Próprio Summorum Pontificum, no qual declara a extraordinária importância desde documento pontifício.

Albenga, 8 de fevereiro de 2011

Reverendo e querido Padre Nuara,

Sua calorosa proposta, a mim apresentada por escrito, de uma intervenção minha no III Congresso sobre o Motu Próprio Summorum Pontificum, de Bento XVI, acerca dos conteúdos teológicos da Liturgia antiga, não me deixou indiferente, mas – com grande pesar – não pude superar uma grande dificuldade que provem das condições de saúde de um irmão meu, inválido, ao qual me vincula um primário dever de assistência fraterna.

Já que estarei longe de meu irmão entre os dias 23 e 27 de maio para participar, desta vez necessariamente, da Assembléia Geral da Conferência Episcopal Italiana (que, pelas razões familiares mencionadas, já estive ausente na Assembléia Geral Extraordinária de novembro passado), ausentar-me de casa também nos dias 13 a 15 de maio criaria graves e insuperáveis dificuldades.

Posso dizer, com toda sinceridade, que participaria com muito gosto do III Congresso sobre o “Motu Próprio”, já que seria para mim a feliz – e, creio, fecunda – ocasião para expressar a um público qualificado e com uma “audiência” muito ampla, as profundas convicções de meu ânimo de Bispo sobre a extraordinária importância para a vida da Igreja do ato magisterial e de supremo governo realizado pelo Papa Bento XVI com este Motu Próprio. Eu poderia expressar as razões que geraram e geram em mim esta convicção. Permita-me, querido padre, formulá-las agora, brevemente, nesta carta e depois – se o considerar oportuno – fazê-las ressoar em algum momento do Congresso.

Em tudo o que se refere à verdadeira essência da Igreja é de vital importância mostrar sempre, mas de modo especial nos momentos históricos nos quais se generaliza a ideia de que tudo está em perene mudança, que não são possíveis mudanças radicais que afetem a substância dos elementos constitutivos da Igreja em si, isto é, sua fé, sua realidade sobrenatural e, portanto, seus sacramentos e sua liturgia, seu sagrado ministério de governo (ou seja, sua capacidade sobrenatural de transmitir todos os dons dados por Cristo à sua Igreja por meio de seus Apóstolos e perpetuados mediante a sucessão apostólica).

O Motu Próprio Summorum Pontificum declarando que a Liturgia pode ser celebrada em sua forma antiga, isto é, na forma em que foi celebrada por séculos até a “reforma” realizada depois do Concílio Vaticano II, sancionou de maneira solene:

a) A imutabilidade do conteúdo da Divina Liturgia e que, portanto, as mudanças que em seu elemento ou forma exterior podem ser introduzidas não podem nunca ser tais que alterem a fé da Igreja que a Liturgia expressa ou, então, que mudem seu conteúdo divino-sacramental ou seu conteúdo de graça sobrenatural. Dando um exemplo: as variações exteriores no Rito da Santa Missa, ou da Divina Eucaristia, não podem induzir ou impulsionar a ter outra concepção de fé sobre o conteúdo da mesma, nem podem legitimamente induzir a pensar que em sua celebração se torne supérfluo ou não necessário o rol celebrativo que compete somente a quem recebeu sacramentalmente a capacidade sobrenatural de atuar ‘in persona Christi’; não podem, sobretudo, ofuscar o caráter sacrificial da Santa Missa;

b) Que não se pode legitimamente interpretar a “reforma” pós-conciliar como uma mutação ‘in substantialibus’: se assim foi considerada, se aqui ou ali se celebra na forma que o Motu Próprio chama “ordinária” de modo tal que possa induzir ao erro sobre o verdadeiro conteúdo da Divina Liturgia que ofusque, ainda que minimamente, a autêntica fé no verdadeiro conteúdo da Santa Missa ou de outros Sacramentos, é necessário, então, que haja correções. É mais urgente que nunca chegar a uma “reforma da reforma” estudando cuidadosamente quais elementos da “reforma” pós-conciliar são tais que se podem interpretar em descontinuidade com a Liturgia antiga e quais podem facilitar – se não induzir – celebrações não corretas. De imediato, é necessário uma catequese litúrgica que dissipe toda sombra e, também, é necessário que todos os abusos na celebração não sejam tolerados e sejam claramente corrigidos.

c) Converteu-se em algo particularmente imperativo respeitar de modo muitíssimo claro o vínculo inseparável entre Fé e Liturgia e entre Liturgia e Fé. O ofuscamento da fé gera devastação litúrgica, devastação na “lex orandi” e, esta devastação , corrompe a fé ou, ao menos, a ofusca, a torna incerta.

Estas considerações poderiam ser concretamente mostradas por um estudo comparativo entre a antiga e a nova forma de outorgamento da Ordem Sagrada, do Sacramento da Ordem, mas estou seguro de que serão bem expostas e desenvolvidas com sabedoria e competência pelos eminentíssimos e excelentíssimos relatores do Congresso. A eles me uno de todo coração e a eles manifesto minha profunda comunhão espiritual.

Invoco a assistência do Espírito Santo sobre o desenvolvimento do Congresso e desejo que traga muito bem à Igreja, a nós Bispos e a todos seus ministros que devem agir tendo bem presente que o cume e fonte de toda a vida e missão da Igreja é a Divina Liturgia, a Celebração dos Divinos Mistérios.

A ti, querido padre, minha especial e devota estima,

Seu estimadíssimo no Senhor,

+ Mario Oliveri

Bispo de Albenga-Imperia

Novo primaz da Terra de Santa Cruz

Fui ontem à posse do novo Arcebispo de Salvador. Talvez alguém pudesse perguntar o que é que um recifense estava fazendo tão longe de sua terra natal. Qual o interesse que um fiel da Arquidiocese de Olinda e Recife pode ter pela Arquidiocese de Salvador? O quê um bispo que inclusive faz parte de outra regional da CNBB (Nordeste III, quando Olinda e Recife pertence à Regional Nordeste II) tem a ver com um católico de outro estado?

Oras, isto é simples de responder. Eu vim de Recife para oferecer o meu preito ao novo primaz desta Terra de Santa Cruz – expressão que, graças a Deus, foi relembrada diversas vezes ao longo da cerimônia. Vim de Recife porque, sendo católico, faço parte da totalidade da Igreja de Cristo que, embora espalhada ao longo de toda a terra, é Una. Vim de Recife para suplicar ao Altíssimo que tenha misericórdia de Salvador, e digne-Se conceder a esta Sé um santo bispo, um santo cardeal, um santo primaz.

São Salvador da Bahia de todos os santos, salvai Salvador! Por diversas vezes repeti a prece. Que, pela intercessão de Nossa Senhora da Conceição da Praia, ela possa ser ouvida. Que o Altíssimo Se compadeça desta Sé primacial.

A cerimônia, embora longa, foi em sua maior parte digna. A posse deu-se dentro da celebração da Santa Missa. Após a (longa) procissão de entrada – seminaristas, diáconos permanentes, padres e bispos -, dom Murilo imediatamente iniciou a celebração: “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. E eu gostei. Comentei com um amigo que estava ao lado: “ele não deu nem ‘boa noite'”. Faço notar que isto não é antipatia, nem falta de educaçao, nem nada: é simples respeito às normas litúrgicas, segundo as quais a saudação do sacerdote é “a graça e paz de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”, feita após a invocação da Trindade Santa – e não “olá”, nem “boa noite”, nem “desejo-vos uma boa celebração”, nem nada do tipo. E Dom Murilo cumprimentou o povo exatamente como um sacerdote, dentro da Santa Missa, o deve cumprimentar.

A Catedral estava repleta! Os bancos iniciais, reservados às autoridades (eclesiásticas, civis e militares); os bancos da metade pro fim da basílica, reservados aos fiéis que chegaram cedo (coisa que eu não fiz). Foi em pé, ao fundo da igreja, que eu acompanhei toda a celebração. Que, como eu disse antes, foi em linhas gerais uma digna celebração.

Começando pela procissão de entrada, quando alguns militares (alunos de CPOR, quiçá; não sei ao certo) formaram duas fileiras na entrada da basílica, para dar passagem ao cortejo eclesiástico. Prestando continência – belíssima imagem, dos poderes seculares homenageando o poder sagrado! A espada temporal a serviço da espada espiritual. Permita Deus que o gesto amistoso possa se traduzir em gestos concretos ao longo do tempo.

Falou o cardeal Magella. Foi feita a leitura da bula de nomeação de Dom Murilo Krieger. Falou o senhor Núncio Apostólico – que fez o gratíssimo favor de lembrar aos presentes o tríplice múnus episcopal, de ensinar, santificar e reger. O báculo foi entregue, pelo núncio e pelo cardeal, ao novo Arcebispo de São Salvador da Bahia. Entoou-se então o Gloria in excelsis Deo (falo metaforicamente; não foi exatamente este o hino de louvor). Dom Murilo só veio falar após a leitura do Evangelho, durante a sua homilia.

Na Festa da Anunciação, coisa que o novo primaz fez questão de lembrar. Lembrou também que aquela era a primeira (e, por muito tempo, foi a única) diocese desta Terra de Santa Cruz. E disse que era uma grande honra ser chamado a uma cidade que, no seu próprio nome – Salvador! – prestava uma homenagem a Nosso Senhor Jesus Cristo. Acrescento eu: para desespero dos laicínicos de plantão. A sua homilia esteve dentro do esperado e, para mim, por um ou outro detalhe, foi bastante positiva. Falou em colaboração com o Estado no mútuo respeito aos limites de cada um. Falou na importância dos colaboradores do bispo – em particular, do clero – para viabilizar a governabilidade de qualquer diocese; e aproveitou para dizer ao clero que lhe seria como “um pai” ou um “irmão mais velho”. Falou que ia trabalhar em sintonia com o papa Bento XVI, o qual poderia confiar nele. E falou ainda outras coisas que, agora, me fogem à memória.

Deus Caritas Est é o seu lema episcopal. É este também o nome da primeira carta encíclica de Sua Santidade, o Papa Bento XVI gloriosamente reinante. Que esta pequena coincidência possa ser um indicativo de proximidade entre a Bahia e o Vaticano; que a Sé de São Salvador do Brasil possa ter um digno e santo primaz.

O altar-mor da igreja, infelizmente, estava (aparentemente) em reformas e, por isso, estava coberto. Mas o crucifixo que foi colocado no alto, por trás do altar, é – segundo me disse um amigo baiano – aquele que foi trazido na nau de Tomé de Souza quando da fundação da Bahia. São pequenos detalhes aos quais gosto de me apegar, e que vislumbro como excelentes sinais de que uma mudança de ventos está em curso. Aliás, mais um: havia um belo coral cantando ao longo de toda a liturgia. E, durante a comunhão, a antiga igreja dos jesuítas ouviu o Panis Angelicus.

Nem tudo são flores, é claro. É bem verdade que a representante dos leigos falou que estes preferem o calor humano à frieza das normas e das leis, e o representante do colégio dos consultores falou em respeito às diversas maneiras de expressão religiosa do povo baiano (cito de memória e não ipsis litteris, mas o sentido era exatamente esse). Y otras cositas más sobre as quais não vale a pena falar… Isto, no entanto, só mostra uma coisa que nós todos já sabemos: Salvador é uma Arquidiocese complicada. No entanto, é a Sé Primaz. Que não pode continuar entregue àqueles que trabalham pela destruição da Igreja. Dom Murilo terá muito trabalho por aqui, disto eu não tenho dúvidas. Mas estou certo de que terá graças de estado para fazer um bom governo. Que ele as saiba reconhecer e aceitar.

Enfim, está empossado o novo primaz do Brasil. Que Deus o ajude! Que a Virgem Santíssima interceda pela primeira Sé desta Terra de Santa Cruz. E que São Salvador da Bahia de todos os santos possa salvar a arquidiocese de Salvador. Abaixo, algumas fotos que tirei durante a cerimônia. Não estão as melhores possíveis (estive em posição pouco privilegiada), mas dá para ter alguma idéia da cerimônia.

“Não à manipulação da Santa Missa!” – Frei Ângelo Bernardo

[Publico outro artigo muito oportuno do Frei Ângelo Bernardo. Este, foi publicado originalmente no Salvem a Liturgia!. Fala sobre a instrumentalização da Santa Missa, com o conseqüente desvio de sua finalidade última: ao invés de servir para levar a Deus, termina por servir às paixões humanas. Triste.

Também eu escrevia sobre isso, há alguns anos – inclusive republiquei aqui no Deus lo Vult! em 2009: “Estou cansado de missinhas animadazinhas, estou cansado de padres que parecem muito mais organizadores de encontros sociais que Sacerdotes do Deus Altíssimo, estou cansado de ‘fiéis’ que vão à missa para ‘viver o amor de Cristo’ e não para participar do Sacrifício do Filho de Deus! Será que sou só eu? Será que somente eu sinto vontade de poder assistir duas missas iguais, independente de quem seja o celebrante? Será que sou só eu que tenho dificuldade em enxergar, na Igreja, o Cristo Vítima e Sacerdote por detrás dos cantos protestantes no momento da consagração?”. E fico feliz de saber que não sou somente eu. O frei Ângelo também me entende. E tenho a esperança de que, junto com ele, outras almas católicas – milhares de almas católicas! – possam compartilhar conosco este sentimento de perplexidade diante da situação da Igreja atual. E de súplicas ao Altíssimo para que Se levante, e defenda a Sua própria causa.]

Não à manipulação da Santa Missa!

Estou cansado de ter que procurar uma Santa Missa, com dignidade e sem modas, como uma agulha no palheiro. Parece até uma sina: onde chego, logo na porta principal da Igreja já está o cartaz com o convite para a “Missa de Cura e Libertação”, com Padre Fulano de Tal… ou pior ainda, quando olho para o outro lado do mural, está agendada a “Missa Sertaneja”; no grupo de oração da semana que vem, “Missa Carismática”… (ah, se Padre Pio ainda vivesse para ouvir o que fizeram com os ‘grupos de oração’…). Por outro lado, quando encontro algumas pessoas que costumam assistir a Santa Missa em sua forma extraordinária ou, vulgarmente chamada de “Tridentina”, chamam-na de “Missa de Sempre”. É que não tenho a pele branca para ver quão vermelho de irritação eu fico quando ouço certos “jargões”.

“Missa de Cura e Libertação”, “Missa Sertaneja”, “Missa Carismática”, “Missa de Sempre”… a que ponto chegamos! Manipular o único e eterno memorial do Sacrifício do Calvário… quanto desgosto sinto! Acredito que seja o mesmo que muitos, quando têm que aturar padres (e alguns até ‘muito bem preparados’, academicamente), falando abobrinhas sentimentais…

Foi-se o tempo em que o início da Santa Missa era feito pelo Padre e não pelos cantores; foi-se o tempo em que o ato penitencial levava a uma contrição autêntica; foi-se o tempo em que o glória era um louvor ao Pai e ao Cordeiro e não um “hino trinitário”; foi-se o tempo em que o salmo era responsorial e não de “meditação”; foi-se o tempo em que a homilia era o momento de catequese; foi-se o tempo em que o canto do Sanctus proclamava, já antecipadamente, a vinda escatológica Do que vem em nome do Senhor; foi-se o tempo em que, após a consagração, era o momento de olhar o Senhor e adorá-lo e não cantar ou bater palmas, e que apenas ‘quem falava eram os sinos’; foi-se o tempo em que a comunhão era de joelhos e na boca; foi-se o tempo em que se guardava silêncio, mesmo que breve, após a comunhão… enfim, foi-se o tempo de tantas coisas… e estas “tantas coisas” geraram Santos, verdadeiros homens de fé e uma fé madura, não infantilizada, à estatura de NSJC.

É certo que a Palavra de Deus é viva e eficaz e que nos toca ao coração. Mas não se trata de banalizar ou denigrir o seu valor. Ela é cortante e penetra o íntimo das nossas almas. A grande questão é o desvio de foco. Se hoje temos concepções de “Missas” como essas, é devido ao subjetivismo de tantos padres, ou seja, eles desviam o foco de NSJC e levam-no para si. Também é certo que o sacerdote age in persona Christi, mas ele deve se re-cordar (= trazer ao coração) sempre o exemplo do Senhor Jesus Cristo que, “embora sendo de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens… Por isso, Deus o exaltou soberanamente…” (Fl 2,6-7.9).

Mas, o que realmente me deixa consternado é a manipulação da Santa Missa para os gostos pessoais e intimistas de cada padre… E nem adianta dizer que é o povo quem quer assim. Errado! Todo sacerdote (ou presbítero, como queiram chamar), recebeu uma formação específica da Santa Igreja Católica Apostólica e Romana. Ora, se assim o é, então, deve obedecer, como prometeram no dia da sua ordenação a tudo o que está escrito e não transgredir ou inventar ou, pior ainda, modificar, sem poder algum para tal coisa. O povo recebe o que o padre dá.

Penso que o dever primeiro de cada sacerdote é a salvação e cura das almas, a começar da sua própria. E rezo para que cada qual tenha consciência do que faz e que temam o juízo. De fato, constato que muitos já não têm mesmo medo da condenação eterna e se afugentam na historinha: ah, o céu ou inferno é aqui e agora… Que Deus lhos perdoe por tanta insanidade e falta de fé. Esta sim é a grande “crise” pela qual muitos deveriam passar. Mas apenas o fazem no sentido mais fraco do termo, que seja, modificação e não no sentido real da palavra, de ‘purificação’. Sim, é necessária uma grande purificação dos pensamentos, palavras, atos e até de omissões!

Acredito que muitos dos que lêem o que escrevo fazem apenas com o intuito de criticar ao final das leituras; mas se pararem para “pensar”, isto é, avaliar onde está o ‘peso’ real das coisas, hão de concordar que os erros não estão em quem lhos constatam; antes, estão nos que são os sujeitos das situações, no caso, dos Padres em relação às concepções da Santa Missa.

Concluindo esta breve conversa, dirijo-me aos “Ministros do Divino Altar”. Se tiverem consciência de que cada um é realmente “um outro Cristo nesta terra”, começarão a executar os seus ofícios com um gostinho de céu, como uma antecipação já aqui e agora do Reino que pregamos e anunciamos. Espero que ao ensinarem as ovelhas confiadas a cada um, quando falarem em “Missa de Cura e Libertação”, “Missa Sertaneja”, “Missa Carismática”, “Missa de Sempre”, façam com a consciência de que em cada denominação errônea dessas, ainda assim, não desviem o foco: NSJC!

Variedade Litúrgica: a Divina Liturgia

Por um inusitado encadeamento de coincidências, quis a Providência Divina que eu assistisse, hoje, à Divina Liturgia de São João Crisóstomo celebrada na Igreja Ortodoxa Antioquenha. Nunca havia assistido a nenhuna celebração litúrgica diferente do Rito Romano (em suas duas formas). Sempre tivera vontade de conhecer a liturgia oriental. Hoje, o Altíssimo me atendeu.

A celebração deixou-me com uma curiosa e incômoda sensação: por um lado, o rito é extremamente diferente do Rito Romano. Por outro lado, mesmo com todas as diferenças, é enormemente mais parecido com uma Missa do que algumas aberrações litúrgicas que, infelizmente, no Rito Romano mesmo somos obrigados a presenciar. Sim, penso particularmente na “missa pré-balada” de Maringá sobre a qual tanto já foi falado aqui nos últimos dias.

Na Divina Liturgia há mais ministros (eu mesmo não fui capaz de identificar todos), há mais litanias, há mais procissões. O mais curioso, contudo, foi ver as coisas todas “fora de ordem”, em comparação com o Rito Romano. A epiclese vem depois da Consagração; a procissão do Ofertório nāo ocorre ao mesmo tempo da coleta das ofertas. A homilia é no final da Missa, imediatamente antes da comunhão. No entanto, mesmo assim, salta aos olhos o caráter sagrado com o qual se executa todo o rito. Quem assiste a Missa tem a impressão de estar realmente assistindo um ofício sagrado! Coisa bem diferente do que acontece quando se fazem badernas no Rito Romano.

Os ortodoxos mudam os arranjos dos símbolos, mas eles são, em essência, os mesmos. A casula é diferente, mas é uma casula. O turíbulo é diferente, mas é indiscutivelmente um turíbulo. As estolas cruzam-se de modo diverso, mas são estolas. Os candelabros são distintos dos usados no Rito Romano, mas são candelabros. Aliás, sobre estes últimos, são interessantes: os que são segurados pelos acólitos e levados em procissão têm, um deles, duas velas e, o outro, três. Não sabia disso, mas provavelmente significam, um, humanidade e divindade de Cristo e, outro, Trindade de Deus. Símbolos diferentes dos usados no Rito Romano: mas um mesmo objetivo, uma mesma harmonia, o mesmo caráter sagrado saltam aos olhos.

Já na “missa pré-balada” (e em todas as balbúrdias litúrgicas em geral), a ordem (cronológica) de cada uma das partes da Missa é mantida. No entanto, a ordem maior, a ordem da Liturgia (que tem seu fim em Deus) é totalmente destruída pela irreverência, pela profusão de elementos profanos, pela desarmonia, pelo ambiente descaracterizado. Na Divina Liturgia a ordem cronológica dos acontecimentos é outra, mas a ordem maior permanece inalterada: a Missa é Santa, dirige-se a Deus, a Ele conduz. Aos que querem “inovar” na Liturgia e que estão preocupados com as “mesmices” do Rito Romano, bem lhes faria bem procurar aprender sobre Liturgia Católica, antes de pôr as próprias idéias malucas em prática. Em particular, deveriam aprender a (farta) variedade litúrgica que já existe, desde sempre, na Igreja de Deus.

A “missa pré-balada” – RELOADED

Aos que não viram o vídeo da “missa pré-balada” em Maringá, aqui vai ele de novo. Segundo o Fratres in Unum, além do vídeo ter misteriosamente desaparecido do youtube, o próprio padre “sumiu com seu post em que convidava os ‘jovens’ a fazer parte desta aberração litúrgica” [P.S.: O vídeo também está disponível no Myspace, com qualidade melhor].

Algumas pessoas comentaram aqui no Deus lo Vult! dizendo que organizavam esta missa ou participavam dela. Disseram que isso era uma tentativa de tirar os jovens das ruas e das drogas, que – segundo achavam – não estavam fazendo nada de errado, que estavam com as melhores das boas intenções, etc. Eu não duvido, em absoluto, da boa fé dos jovens que estão envolvidos com a celebração desta missa. No entanto, se as boas intenções podem servir de atenuantes para os erros que cometemos, não têm elas o poder mágico de transformar os erros em acertos, ou as coisas censuráveis em atos louváveis. Não é permitido a ninguém alterar a celebração da Santa Missa, que tem normas muito específicas de como deve ser. Já voltamos a este ponto.

Antes de qualquer outra coisa cabe perguntar: se os responsáveis por esta missa estavam tão seguros assim de que não estavam fazendo nada de errado, por que o vídeo foi rapidamente apagado do youtube? Se o pe. Luiz Carlos estava na mais perfeita obediência à Liturgia da Igreja, por que ele alterou o post do seu blog onde falava desta missa? Se quem não deve não teme, qual a razão do temor dos responsáveis pela “missa pré-balada”, a ponto de rapidamente esconderem o que estavam fazendo?

Volto ao mérito da questão. Não é “na minha opinião” que é errado transformar a missa em uma discoteca. Eu não “acho” que aconteceu um grave abuso em Maringá. As minhas opiniões e os meus achismos, os meus gostos e minhas preferências, absolutamente, não estão em questão aqui. Nunca estiveram. O ponto aqui é o seguinte: a Igreja Católica tem uma Liturgia, que contém uma série de símbolos e de gestos que precisam ser observados sob pena de (no mínimo) não se estar respeitando aquilo que a Igreja entende por “Liturgia”. Existem normas litúrgicas estabelecidas pela Igreja que devem ser seguidas. E isto não é a minha opinião, isto é o que a Igreja Católica determina. Volto aos documentos que parecem não ter sido lidos, e me permito fazer uma citação um pouco mais longa da Redemptionis Sacramentum:

[11.] O Mistério da Eucaristia é demasiado grande «para que alguém possa permitir tratá-lo ao seu arbítrio pessoal, pois não respeitaria nem seu caráter sagrado, nem sua dimensão universal».[27] Quem age contra isto, cedendo às suas próprias inspirações, embora seja sacerdote, atenta contra a unidade substancial do Rito romano, que se deve cuidar com decisão,[28] e realiza ações que, de nenhum modo, correspondem com a fome e a sede do Deus Vivo, que o povo de nossos tempos experimenta, nem a um autêntico zelo pastoral, nem serve à adequada renovação litúrgica, mas sim defrauda o patrimônio e a herança dos fiéis com atos arbitrários que não beneficiam a verdadeira renovação[29] e sim lesionam o verdadeiro direito dos fiéis à ação litúrgica, à expressão da vida da Igreja, de acordo com sua tradição e disciplina. Além disso, introduzem na mesma celebração da Eucaristia elementos de discórdia e de deformação, quando ela tem, por sua própria natureza e de forma eminente, de significar e de realizar admiravelmente a Comunhão com a vida divina e a unidade do povo de Deus[30]. Estes atos arbitrários causam incerteza na doutrina, dúvida e escândalo para o povo de Deus e, quase inevitavelmente, uma violenta repugnância que confunde e aflige com força a muitos fiéis em nossos tempos, em que freqüentemente a vida cristã sofre o ambiente, muito difícil, da «secularização».[31]

[12.] Por outra parte, todos os fiéis cristãos gozam do direito de celebrar uma liturgia verdadeira, especialmente a celebração da santa Missa, que seja tal como a Igreja tem querido e estabelecido, como está prescrito nos livros litúrgicos e nas outras leis e normas. Além disso, o povo católico tem direito a que se celebre por ele, de forma íntegra, o santo Sacrifício da Missa, conforme toda a essência do Magistério da Igreja. Finalmente, a comunidade católica tem direito a que de tal modo se realize para ela a celebração da Santíssima Eucaristia, que apareça verdadeiramente como sacramento de unidade, excluindo absolutamente todos os defeitos e gestos que possam manifestar divisões e facções na Igreja.[32]

Isto, repito, não sou eu que digo. Não importa aqui se os motivos são nobres, se se quer fazer uma missa “mais animada”, se se almeja “trazer os jovens para a Igreja”: quem trata a Santa Missa como se fosse uma coisa particular (que se muda e se “enfeita” como melhor se lhe aprouver) está, na verdade, atentando contra a Igreja – e, sinceramente, não faz a menor idéia do que seja a Liturgia Católica.

Como já disse o então Cardeal Ratzinger em um dos seus livros do qual eu agora não me recordo, há algo de muito errado quando se perde a noção de que a Liturgia é uma coisa que nós recebemos, e não que fabricamos. Tudo na Liturgia tem o seu lugar e tem a sua razão de ser: desde o ambiente Sagrado até os cantos, desde as leituras até a ordem da celebração, desde os gestos até os paramentos. E a Liturgia é assim porque é assim que a Igreja a define; porque “[a]s palavras e os ritos litúrgicos são” – nas palavras da Redemptionis Sacramentum – “expressão fiel, amadurecida ao longo dos séculos, dos sentimentos de Cristo” [RS 5]. Estamos falando de um tesouro que foi cultivado e enriquecido pela Igreja ao longo dos séculos, forjando santos, enfrentando – e vencendo – os inimigos do mundo! Quem acha que tudo isso pode ser simplesmente posto de lado e, em seu lugar, podem ser colocadas quaisquer coisas descartáveis do mundo moderno, repito, não sabe o que é a Missa. E de que adianta “atrair jovens” para uma coisa perfeitamente descartável e mundana, que não tem conexão alguma com o Sagrado e com o Transcendente? De que adianta atrair os jovens para a Igreja, ensinando-os (no ato mesmo de os atrair) a desrespeitar a Igreja e desobedecê-La? De que adianta trazer os jovens para missa impedindo-os de saberem o que é a Santa Missa?

Eu escrevi este texto aqui em 2006. Faz quatro anos. No entanto, subscrevo ainda hoje cada linha dele. São perfeitamente atuais, e têm tudo a ver com o que estamos discutindo aqui, agora. E termino, de novo, com as palavras do salmista: até quando, Senhor? Até quando ireis tolerar a abominação nos Vossos átrios? Até quando a desolação nos Vossos Templos? Até quando o Vosso povo perder-se-á por ignorância? Até quando deixareis impunes os que escarnecem de Vós e de Vossas Santas Leis e, traindo-Vos, escandalizam os pequeninos que Vós lhes confiastes?

Levantai-Vos, Senhor. E julgai a Vossa causa. Porque a devastação causada pelos Vossos inimigos é grande demais.

Os maus frutos dos abusos litúrgicos

Alguns comentários surgidos no meu post sobre a escandalosa “missa pré-balada” são, por si sós, exemplos incontestáveis da miséria religiosa na qual se encontram os católicos brasileiros. Dão testemunho claro do mal que causam estas “celebrações” totalmente destoantes do senso religioso mais rudimentar – coisa que, como se pode infelizmente constatar, falta em muitos do que aqui vieram se dizendo católicos.

Um erro concreto é uma coisa terrível. Porém, muito mais terrível é a defesa pública do erro. Na maioria das vezes, há muito mais malícia em se defender um pecado do que em cometê-lo. Há mais malícia nas “Católicas pelo Direito de Decidir” do que numa jovem que, pressionada pelo namorado, realiza um aborto. Há mais malícia em um site gayzista como o “Diversidade Católica” do que em um sujeito que, sob a influência de más companhias, vai a uma festa e tem relações sodomitas das quais depois se arrepende. Há mais malícia em se defender abertamente a destruição da Liturgia Católica do que em uma missa mal-celebrada.

Porque um pecado concreto está limitado pelas contingências objetivas nas quais ele se insere. É geralmente feito às escuras, porque se tem consciência de que se trata de uma coisa vergonhosa. Pelo fato da consciência desaprovar-lhe, dele é possível arrepender-se mais facilmente. Há, geralmente, as circunstâncias exteriores que lhe são propícias e lhe dão incontestável incentivo para que ocorra. Não obstante, é mesmo assim uma coisa terrível e uma ofensa infinita e ingrata ao Deus Onipotente! Ora, quão mais terrível então não será defender o pecado às claras, deliberando friamente sobre a situação fora da qual se está, deformando assim a própria consciência e a dos outros? Enquanto cometer um pecado leva para o Inferno aquele que o comete, defender publicamente o pecado arrasta para o Inferno multidões de almas.

Volto à escandalosa missa ocorrida em Maringá (cujo vídeo foi posteriormente removido pelo usuário). O abuso litúrgico é grave. O fato de ser premeditado (já que a referida missa já havia ocorrido outras vezes e já tinha datas previstas para tornar a acontecer) é ainda mais grave. No entanto, o que é mais desolador em tudo isso é ver pessoas defendendo a ofensa a Deus, ou indiferentes a ela. “Não vi tanto escândalo assim neste filme”, “não acho que esse seja um caso grave”, “não vi nada de errado”… estes foram os comentários de alguns (auto-intitulados) católicos que por aqui passaram.

Vamos à aula de catecismo para crianças (literalmente). Vamos ao “Primeiro Catecismo da Doutrina Cristã” (Vozes, 145ª Edição, Petrópolis, 2005), que as crianças estudam – ou melhor, deveriam estudar – antes de fazer a Primeira Comunhão. Questão nº 139: “Que é a missa”? Resposta: “A missa é o sacrifício incruento do corpo e do sangue de Jesus Cristo, oferecido sobre os nossos altares, debaixo das aparências de pão e de vinho, em memória do sacrifício da cruz”. E é bastante óbvio para qualquer pessoa normal que é (para dizer o mínimo) desrespeitoso colocar um globo de luz e gelo seco numa cerimônia que torna presente o Calvário.

Vamos à Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Vamos à Redemptionis Sacramentum, “sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia”. As palavras são claras: “não se pode calar ante aos abusos, inclusive gravíssimos, contra a natureza da Liturgia e dos sacramentos” (RS 4). Há, no entanto, “católicos” por aqui dizendo que não há problema algum nos abusos litúrgicos, que não devemos nos preocupar com isso, e coisas similares.

Adiante, na mesma instrução (cuja leitura, aliás, é enfaticamente recomendada): “Coerentemente com o que prometeram no rito da sagrada Ordenação e cada ano renovam dentro da Missa Crismal, os presbíteros presidam, «com piedade e fidelidade, a celebração dos mistérios de Cristo, especialmente o Sacrifício da Eucaristia e o sacramento da reconciliação». Não esvaziem o próprio ministério de seu significado profundo, deformando de maneira arbitrária a celebração litúrgica, seja com mudanças, com mutilações ou com acréscimos” (RS 31). A Igreja, portanto, proíbe aos padres “mudanças”, “mutilações” ou “acréscimos” na celebração litúrgica. Coisas que, infeliz e evidentemente, abundam na celebração ocorrida em Maringá. A Santa Missa não é propriedade privada de ninguém, e sim de toda a Igreja. Há normas bem detalhadas para a sua correcta celebração que devem ser obedecidas. Assim é a Igreja Católica. O resto, é achismo de quem se diz católico mas não se porta como tal.

E os frutos podres destes abusos litúrgicos estão mais do que evidentes na própria defesa que estes “católicos” fazem deles. Total ignorância dos rudimentos da Fé Católica, confusão doutrinária, completa ausência de senso litúrgico e de sentire cum Ecclesia. São estes os “católicos” (de)formados por esta escola de negação do catolicismo. Até quando iremos contemplar amargamente este processo de destruição da Fé nas almas dos filhos amados de Deus?

Escândalo em Maringá – Missa “pré-balada”!

Eu demorei a acreditar no vídeo abaixo, que vi no Fratres in Unum. Na verdade, acho que até agora eu não acredito totalmente; contudo é difícil arranjar um motivo plausível para não lhe dar crédito!

A reportagem tem realmente cara de reportagem. As músicas, são músicas comumente tocadas em Missa mesmo. O padre está realmente paramentado como a média dos sacerdotes se paramenta para celebrar a Missa. Mas as cenas exibidas são surreais.

“Missa pré-balada”? Procissão de entrada do Lecionário feita por um garoto de skate? Danças, gelo seco e globos de luzes giratórios? Banda de rock? E ainda têm a coragem de dizer que tudo isso é feito “[r]espeitando o Sagrado e todo o rito litúrgico”? Quem são as autoridades responsáveis por esta profanação?

É bastante óbvio para qualquer pessoa normal que a Missa não pode se parecer com uma balada. De quem foi esta idéia estúpida? Vamos então fazer a “missa pré-cinema”, com salas escuras e namorados abraçadinhos? A “missa pré-futebol”, com os fiéis divididos em dois times jogando contra si? Se a balada pode, como é que fica quem não gosta de balada?

Lamentável. E, depois, reclamam que as igrejas estão vazias… é óbvio que estão. Afinal, se a missa for uma imitação mal-feita de uma balada, por que razão as pessoas trocariam a balada original por uma sua versão cover? Há alguns meses, o Papa Bento XVI lembrou que a melhor catequese é a Eucaristia bem celebrada. Por qual insondável motivo isto é difícil de entender?

Enquanto isso, judeus pedem retirada de oração por conversão da Liturgia da Páscoa. Os inimigos da Igreja atacam o Sagrado por todos os lados, por dentro e por fora. Urge opôr resistência a estas terríveis ondas de profanação litúrgica. Porque, enquanto a Liturgia não for restabelecida em todo o seu esplendor, a batalha contra o mundo não poderá ser vencida.

Catecismo da Santa Missa

Recomendo o excelente “Catecismo da Santa Missa”! Este livro é uma preciosidade, no antigo formato de perguntas e respostas, possuindo uma didática excelente para tratar temas importantes que, hoje, são tão pouco conhecidos. Vale muito a leitura. Destaco:

P. Por que o homem, após a queda, edificou templos para imolar as vítimas do sacrifício?
R. Porque, no estado de degradação e de miséria em que se encontrou devido ao pecado original, o coração do homem não podia mais servir de altar e vítima. Assim, incapaz de reparar o pecado, apesar da penitência feita, foi preciso pedir à natureza um templo, ou edificá-lo mediante ordem expressa, para sacrificar suas vítimas.

P. Por que a vítima era imolada sobre uma pedra?
R. Porque uma pedra fria, e sem adornos, era menos indigna que o coração do homem, para sustentar a hóstia de propiciação.

Para baixá-lo, clique aqui.

“O motu proprio tem sentido transcendente à existência ou não de conflitos” – card. Cañizares

A notícia é antiga. A publicação no Oblatvs é de maio de 2009, mas – a julgar por alguns comentários que se ouvem por aí – creio que nem todo mundo a leu ainda. Vale a leitura. O cardeal Cañizares é prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e, portanto, voz autorizada para dar a correta interpretação do Summorum Pontificum. Os destaques, s.m.j., são todos do pe. Clécio.

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Prefácio do Cardeal Cañizares à edição espanhola de “A Reforma de Bento XVI”

Desde a publicação deste livro até a presente edição espanhola não passaram mais que uns poucos meses. Todavia, a transcendência de certos fatos ocorridos neste lapso de tempo modificou enormemente o “clima” em torno de sua temática, especialmente pelo ambiente de controvérsia que se criou em razão do levantamento das excomunhões dos quatro bispos ordenados há vinte anos por Dom Lefebvre. Este gesto de misericórdia gratuita do Santo Padre para tornar possível a sua plena inserção eclesial, que demonstra com fatos que a Igreja não renega sua tradição, fez com que a “Missa Tradicional” acabe ligada a um problema disciplinar e, pior ainda, político.

Como consequência, existe o risco de uma desfiguração do sentido profundo do Motu Proprio de 7 de julho de 2007; um gesto de extraordinário sentido comum eclesial pelo qual se reconheceu o valor pleno de um rito que nutriu espiritualmente a Igreja Ocidental durante séculos.

Não há dúvida de que um aprofundamento e uma renovação da liturgia eram necessários. Porém, com frequência, está não foi uma realização perfeitamente alcançada. A primeira parte da constituição Sacrosanctum Concilium não entrou no coração do povo cristão. Houve uma mudança nas formas, uma reforma, não, porém uma verdadeira renovação, tal e como pediam os Padres conciliares. Às vezes, mudou-se pelo simples gosto de mudar um passado percebido como totalmente negativo e superado, concebendo a reforma como uma ruptura e não como um desenvolvimento orgânico da tradição. Isto criou reações e resistências desde o princípio, que em alguns casos se concretizaram em posições e atitudes que levaram a soluções extremas, inclusive a ações concretas que implicavam penas canônicas. É urgente, entretanto, distinguir o problema disciplinar surgido de atitudes de desobediência de um grupo, do problema doutrinal e litúrgico.

Se cremos de verdade que a Eucaristia é realmente a “fonte e o ápice da vida cristã” – como nos recorda o Concílio Vaticano II – não podemos admitir que seja celebrada de um modo indigno. Para muitos, aceitar a reforma conciliar significou celebrar uma Missa que de um modo ou de outro devia ser “dessacralizada”. Quantos sacerdotes vimos ser tratados como “retrógrados” ou “anticonciliares” pelo simples fato de celebrarem de maneira solene, piedosa ou simplesmente por obedecerem cabalmente às rubricas! É peremptório sair desta dialética.

A reforma foi aplicada e principalmente vivida como uma mudança absoluta, como se se devesse criar um abismo entre o pré e o pós Concílio, em um contexto em que o termo “pré-conciliar” era usado como um insulto. Aqui também se deu o fenômeno que o Papa observa em sua recente carta aos bispos de 10 de março de 2009: “Às vezes se tem a impressão de que nossa sociedade tenha necessidade de um grupo, ao menos, com o qual não tenha tolerância alguma, o qual se pode atacar com ódio”. Durante este ano foi o caso, em boa medida, dos sacerdotes e fiéis ligados à forma de Missa herdada através dos séculos, tratados muitas vezes como “leprosos”, como dizia de forma contundente o então cardeal Ratzinger.

Hoje em dia, graças ao Motu Proprio, esta situação está mudando notavelmente. E em grande medida está acontecendo porque a vontade do Papa não foi unicamente satisfazer aos seguidores de Dom Lefebvre, nem limitar-se a responder aos justos desejos dos fiéis que se sentem ligados, por diversos motivos, à herança litúrgica representada pelo rito romano, MAS TAMBÉM, E DE MANEIRA ESPECIAL, ABRIR A RIQUEZA LITÚRGICA DA IGREJA A TODOS OS FIÉIS, TORNANDO POSSÍVEL ASSIM A DESCOBERTA DOS TESOUROS DO PATRIMÔNIO LITÚRGICO DA IGREJA A QUEM AINDA O IGNORA. Quantas vezes a atitude dos que os menosprezam não é devida a outra coisa senão a este desconhecimento! Por isso, considerado a partir deste último aspecto, o Motu Proprio tem sentido transcendente à existência ou não de conflitos: ainda quando não houvesse nenhum “tradicionalista” a quem satisfazer, este “descobrimento” teria sido suficiente para justificar as disposições do Papa.

Foi dito também que tais prescrições seriam um “atentado” contra o Concílio, isto, porém mostra um desconhecimento do mesmo Concílio, cuja intenção de dar a todos os fiéis a ocasião de conhecer e apreciar os múltiplos tesouros da liturgia da Igreja é precisamente o que desejou ardentemente esta magna assembleia: “O Sacrossanto Concílio, apegando-se fielmente à tradição, declara que a Santa Mãe Igreja atribui igual direito e honra a todos os ritos legitimamente reconhecidos e quer que no futuro sejam conservados e fomentados por todos os meios” (SC 4).

Por outro lado, estas disposições não são uma novidade; a Igreja sempre as manteve, e quando ocasionalmente não foi assim, as consequências foram trágicas. Não apenas foram respeitados os ritos do Oriente, mas também no Ocidente dioceses como Milão, Lyon, Colônia, Braga e diversas ordens religiosas conservaram pacificamente seus diversos ritos através dos séculos. Porém, o antecedente mais claro da situação atual é, sem dúvida, a Arquidiocese de Toledo. O Cardeal Cisneros usou de todos os meios para conservar como “extraordinário” na arquidiocese o rito moçárabe que estava em vias de extinção; não somente fez imprimir o Missal e o Breviário, como criou uma capela especial na Igreja Catedral, onde se celebra ainda hoje cotidianamente neste rito.

Esta variedade ritual não significou nunca, nem pode significar, diferença doutrinal, mas pelo contrário, põe em relevo uma profunda identidade de fundo. Entre os ritos atualmente em uso é necessário que se dê também esta mesma unidade. A tarefa atual, tal e como nos indica o presente livro de don Nicola Bux, é pôr em evidência a identidade teológica entre a liturgia dos diversos ritos que foram celebrados através dos séculos e a nova liturgia fruto da reforma, ou ainda, se esta identidade se houvesse desfigurado, recuperá-la.

A Reforma de Bento XVI é, pois, um livro rico em dados, reflexões e ideias, e dentre os múltiplos assuntos nele tratados gostaria de ressaltar alguns pontos:

O primeiro é acerca do nome com o qual chamar a esta Missa. O autor propões chamá-la, ao estilo oriental, “liturgia de São Gregório Magno”. É talvez melhor que dizer simplesmente “gregoriana”, pois pode prestar-se a um duplo equívoco (que poderia em todo caso evitar-se com a denominação “dâmaso-gregoriana”). Também é mais conveniente que “Missa tradicional”, onde o adjetivo corre o perigo de contaminar-se com uma carga ou bem polêmica ou bem “folclórica”; ou que “modo extraordinário”, que é uma denominação demasiadamente extrínseca. “Usus antiquior” tem o defeito de ser uma referência meramente cronológica.

Por outro lado, “usus receptus” seria muito técnico. “Missal de São Pio V” ou “do Beato João XXIII” são termos demasiadamente limitados. O único inconveniente é que no rito bizantino já há uma liturgia de São Gregório, Papa de Roma; a dos dons pré-santificados usado na quaresma.

Em segundo lugar, o fato de que o uso seja “extraordinário” não deve significar que deva ser usado somente por sacerdotes e fiéis que se ligam ao modo extraordinário. Como propõe o padre Bux, seria muito positivo que quem celebra habitualmente no modo “ordinário”, o faça também, extraordinariamente, no “extraordinário”. Trata-se de um tesouro que é herança de todos e ao qual, de uma maneira ou de outra, todos deveriam ter acesso. Por isso, poder-se-ia propor especialmente para ocasiões em que há alguma riqueza peculiar do antigo missal que se pode aproveitar (sobretudo se no outro calendário não há nada especialmente previsto): por exemplo, para o tempo da Septuagésima, para as quatro Têmporas ou para a Vigília de Pentecostes e, talvez, até no caso de certas comunidades especiais, tanto de vida consagrada como confrarias ou irmandades. A celebração “extraordinária” também seria de grande utilidade para os ofícios da Semana Santa, ao menos em alguns deles, pois todos os ritos conservam no Tríduo Sagrado cerimônias e orações que remontam a épocas mais antigas da Igreja.

Outro ponto que é necessário destacar é a atitude de Bento XVI; não constitui tanto uma novidade nem câmbio de rumo de governo, mas sim leva à sua concretização o que já João Paulo II havia empreendido como iniciativas tais como o documento papal Quattuor abhinc annos, a consulta à comissão de Cardeais, o Motu Proprio Ecclesia Dei e a criação da Comissão de mesmo nome, ou as palavras dirigidas à Congregação do Culto Divino (2003).

Algo que se deve urgentemente ter em conta é a repercussão ecumênica destas discussões; as críticas dirigidas ao rito recebido da tradição romana alcançam também a outras tradições e sobretudo a dos irmãos ortodoxos. Quase todos os ataques dos que se opõem à reintrodução do missal antigo são precisamente ataque aos lugares que temos em comum com os orientais! Um sinal que confirma este fato são as expressões positivas do recentemente falecido Patriarca de Moscou ao publicar-se o Motu Proprio.

Não é um dos aspectos menos importantes deste livro o fato de que nos ajude a tomar consciência dos diversos aspectos da situação em que nos encontramos atualmente. Nossa geração enfrenta grandes desafios em matéria litúrgica: ajudar toda a Igreja a seguir plenamente o que indicou o Concílio Vaticano II na constituição Sacrosanctum Concilium e o que o Catecismo da Igreja Católica diz sobre a liturgia, aproveitar o que o Santo Padre – quando ainda era o cardeal Joseph Ratzinger – escreveu sobre o tema, especialmente em seu belíssimo livro Introdução ao Espírito da Liturgia, enriquecer-se com o modo com que o Santo Padre – assistido pela Oficina das celebrações litúrgicas presidida pelo Mons. Guido Marini, e da qual é consultor o autor deste livro – celebra a liturgia. Estas liturgias pontifícias são exemplares para todo o orbe católico.

Por último, acrescento que seria de grande importância que tudo isto se expusesse com profundidade nos seminários como parte integrante da formação para o sacerdócio, para proporcionar um conhecimento teórico-prático das riquezas litúrgicas, não somente do rito romano, mas também, na medida do possível, dos diversos ritos do Oriente e do Ocidente, e assim criar uma nova geração de sacerdotes livres de preconceitos dialéticos.

Oxalá este valioso livro de don Nicola Bux sirva para conhecer melhor as intenções do Santo Padre e descobrir as riquezas da herança recebida e, desse modo, para iluminar-nos em nossa ação. Para isto, peçamos ao Senhor saber interpretar, como dizia Paulo VI, os “sinais dos tempos”.

+ Antonio, cardeal Cañizares

Prefeito da Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos

Administrador Apostólico de Toledo

8 de abril de 2009

Fonte: Subsídios Litúrgicos Summorum Pontificum

Tradução: OBLATVS