A trave e os ciscos

Na internet, nós encontramos coisas inacreditáveis. Um site de hereges chamado cristaos.com, que de cristão não tem nada, diz ter feito uma queixa à CNBB (!) com relação àquilo que ele chama de “sites católicos amadores que pregam ódio e intolerância para com os Cristãos”. Eis a mensagem que, até o presente momento, encontra-se na página principal do site:

Após denúncia feita pela equipe cristaos.com entramos em contato com a CNBB (Conferência nacional dos bispos católicos do Brasil) solicitando divulgação de uma  nota mostrando qual a posição oficial da religião Católica no Brasil em relação aos sites católicos amadores que pregam ódio e intolerância para com os Cristãos. Fomos atendidos pelo padre Elias Wolff que se prontificou a nos dar essa posição no final da semana que vem. Vamos aguardar e tão logo recebermos esse comunicado estaremos esclarecendo, tanto aos nossos visitantes evangélicos como os visitantes católicos que, muitas vezes, são vítimas dos sites “amadores católicos” como Veritatis, Lepanto, Montfort, Defesa Católica entre outros.

Então, a dar crédito àquilo que o site cristaos.com diz, antes do Natal vai sair uma nota da CNBB sobre os “sites católicos amadores”. Provavelmente, refere-se aos sites católicos leigos, entre os quais, então, encontra-se o Deus lo Vult! – o qualificativo “amadores” é meramente um epíteto depreciativo usado pelo site, aplicado a apostolados tão distintos quanto o VS e Lepanto de um lado e a Montfort e o Defesa Católica do outro.

Não há nada ainda no site da CNBB. Esta é uma nota que eu gostaria muito de ver – vai ser divertido. No entanto, já é para rir ver um site protestante do protestantismo mais chulo, agressivo e rasteiro reclamar das agressões católicas. Neste link, eles chamam a Igreja Católica de “Igreja”, entre aspas, o tempo inteiro. Neste link, são os bispos católicos que recebem aspas quando designados, e ainda são acusados de serem “contrários à pregação do evangelho” (!) – por um irônico ato falho, o “evangelho” deles vai em minúsculas mesmo. Neste longo e enfadonho texto com motivos pelos quais as pessoas não devem ser católicas, insinua-se que os católicos não são cristãos – afinal, o texto diz que vai “mostrar a total incompatibilidade que existe entre a cristã e a fé dos católicos” – e, neste outro, diz-se que o catolicismo é “uma das religiões mais demoníacas que existe”.

Verdadeira piada. E, ao final disso tudo, são os sites católicos que “pregam ódio e intolerância”. Se isso não for um absurdo cinismo, é uma deficiência intelectual gigantesca. Por que os “cristãos” do cristaos.com não olham para a trave em seus próprios olhos antes de fazerem queixas histéricas sobre os ciscos nos olhos alheios?

A purificação da Igreja

Perguntaram, aqui no Deus lo Vult!, sobre a Igreja “sempre necessitada de purificação” da qual fala a Lumen Gentium. Eu já havia dito, no próprio post, que é necessário distinguir a Igreja em Si dos membros da Igreja. Falar que a Igreja precisa de purificação, portanto, só pode ser entendido como uma metonímia, onde “Igreja” está significando “os membros da Igreja”. Não vejo como possa ser possível um outro sentido para a expressão que preserve a ortodoxia.

Que a Igreja é Santa e Santificante em Si, julgo ser óbvio, e não vou me deter nesta demonstração. No entanto, a Igreja é uma sociedade, é composta por membros, dos quais nem todos são santos. Pode-se perfeitamente dizer que a Igreja é Santa não somente em Si, mas também em Seus membros santos. É neste sentido, portanto, e somente neste, que se pode dizer que a Igreja precisa de purificação: em Seus membros pecadores.

O princípio da não-contradição não diz, simplesmente, que uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Diz que uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo sob um mesmo aspecto, e isto faz toda a diferença. Não é sob o mesmo aspecto que a Igreja é Santa e “precisa de purificação”. A Igreja é Santa em Si. Precisa de purificação em Seus membros pecadores. São modos distintos. Não apenas não há contradição, como isto é um fato incontestável: os membros pecadores da Igreja fazem parte da Igreja e precisam de purificação.

Podem questionar a oportunidade da expressão. Mas é uma discussão infrutífera: não faz diferença, pois o ensino do Magistério deve ser acolhido no seu sentido católico, e não repudiado até que seja expresso da forma que julgarmos melhor. O que a assistência do Espírito Santo garante é a inexistência de erros, e não a mais perfeita formulação das Verdades. Posso concordar facilmente que o texto conciliar poderia ser escrito melhor; não posso concordar, de nenhuma maneira, que isso seja motivo para um leigo descartá-lo.

Até porque não há “invenção” alguma ao dizer que a Igreja precisa de purificação. Os seguintes trechos – os grifos são meus – são dos dois maiores doutores da Igreja, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, e estão ipsis litteris no “Memória e Reconciliação” da Comissão Teológica Internacional. Antes que mo digam, eu sei que a CTI não é Magistério. Mas não estou argumentando com textos da CTI, e sim com textos de dois doutores da Igreja citados pela CTI. Ei-los:

Observa St. Agostinho contra os pelagianos: “A Igreja no seu conjunto afirma: Perdoai-nos os nossos pecados! Ela, portanto, tem manchas e rugas. Mas, mediante a confissão as rugas são removidas, mediante a confissão as manchas são lavadas. A Igreja está em oração para ser purificada pela confissão, e enquanto os homens viverem na terra isto será assim” (25), E S. Tomás de Aquino precisa que a plenitude da santidade pertence ao tempo escatológico, enquanto a Igreja peregrinante não se deve enganar a si mesma afirmando ser sem pecado: “Que a Igreja seja gloriosa, sem mácula nem ruga, é o objectivo final para o qual tendemos em virtude da paixão de Cristo. Isto apenas existirá, no entanto, na pátria eterna, e não já na peregrinação; aqui […] enganar-nos-íamos se disséssemos não ter qualquer pecado” (26).

[…]

25. St. AGOSTINHO, Sermo 181,5,7: PL 38, 982.

26. S. TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologica III q.8 a.3 ad 2.

Memória e Reconciliação, 3.3

Em outro sentido, portanto, não há que se compreender o texto do Vaticano II. Que ninguém o faça; nem para pregar uma doutrina diferente da Doutrina Católica, e nem para instigar a desobediência no seio da Igreja e arrogar-se o direito de julgar o Magistério.

Igreja Santa e Pecadora?

[Traduzo trecho do Angelus do Papa Bento XVI de ontem. Lembrei-me da malfadada expressão “Igreja Santa e Pecadora” que encontramos amiúde. Desnecessário dizer que o Papa não a utiliza. A idéia por ele retomada é a da Lumen Gentium, capítulo 8: “a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação”.

A Igreja conter pecadores no Seu seio é diferente da Igreja ser pecadora; a primeira expressão é uma obviedade e, a segunda, é herética. É no primeiro sentido que deve ser entendido tudo quanto vem de Roma. São os modernistas que abusam do termo – infeliz, reconheçamos – para “dessacralizar” a Igreja e negar o artigo do Credo segundo o qual a Igreja é Santa.

Conheço uma única utilização da expressão “Igreja Santa e Pecadora” por um Papa: foi João Paulo II em 1982. É claro que o Papa a aplica no sentido católico. No entanto, desde então – talvez por causa da confusão que ela causou -, nunca mais foi utilizada…]

Caros amigos, a mais bela flor brotada da palavra de Deus é a Virgem Maria. Ela é as primícias da Igreja, jardim de Deus sobre a terra. Mas, enquanto Maria é a Imaculada – assim a celebraremos depois de amanhã [terça-feira] -, a Igreja tem continuamente necessidade de Se purificar, porque o pecado prejudica [insidia] todos os Seus membros. Na Igreja, está sempre em ato uma luta entre o deserto e o jardim, entre o pecado que torna a terra árida [inaridisce] e a Graça que a irriga para que produza frutos abundantes de santidade. Rezemos, assim, à Mãe do Senhor, a fim de que Ela nos ajude, neste tempo do Advento, a “endireitar” [raddrizzare] as nossas veredas, deixando-nos guiar pela palavra de Deus.

Bento XVI
Angelus, 6 dicembre 2009

Fé e Política: EUA, Brasil, Roma

– Declaração de Manhattan: uma chamada para que os cristãos defendam, como cidadãos, as suas idéias. 152 líderes religiosos de três confissões cristãs (católicos, ortodoxos e protestantes) assinaram o documento. Os cristãos são encorajados a não abdicarem do debate público sobre temas como a vida, o matrimônio, a liberdade religiosa e a objeção de consciência.

A íntegra do documento (em inglês) pode ser encontrada aqui. O pe. Eugenio Maria, FMDJ, escreveu um artigo com os principais pontos da declaração. Seria imaginável uma coisa parecida no Brasil?

* * *

– Sim, é imaginável uma coisa parecida no Brasil, embora com todas as limitações desgraçadamente impostas pela nossa realidade eclesial. E saiu da pena do Arcebispo Emérito de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, em carta sobre a publicação do Catecismo Contra o Aborto. Será Goiana a Manhattan tupiniquim? Sua Excelência escreve: “Os cidadãos honestos não podem colaborar – através de seu voto democrático – nesta tragédia[,] colaborando para conferir cargos públicos a candidatos que defendam o aborto, o divórcio e outras violações da Lei de Deus. Tais candidatos não podem representar os católicos ou cristãos ou qualquer cidadão honesto”.

Clareza de palavras que faz muita falta nos nossos dias. Desgraçadamente, parte considerável do nosso clero é completamente alheia às questões políticas que realmente importam, e prefere matar a Fé na alma dos cristãos por meio do insidioso veneno esquerdista da Teologia da Libertação que, ferida mortalmente pela sua esterilidade e pela condenação do Magistério da Igreja, recusa-se a morrer e insiste em levar consigo para o Inferno tantas almas quantas conseguir enlaçar, sob o olhar indiferente ou cúmplice das sentinelas que deveriam velar pelo Povo de Deus a elas confiado. É lamentável.

* * *

– Teologia da Libertação que, aliás, foi mais uma vez criticada pelo Papa Bento XVI, em discurso aos bispos do sul do país na visita ad limina. Ecoa de Roma o grito dos católicos que não querem senão ser católicos de verdade. Vem da Cidade Eterna o socorro aos fiéis católicos brasileiros que estão como ovelhas sem pastor – ou como ovelhas “pastoreadas” por lobos.

Vem de Pedro! “[V]ale a pena lembrar que em agosto passado, completou 25 anos a Instrução Libertatis nuntius da Congregação da Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, nela sublinhando o perigo que comportava a assunção acrítica, feita por alguns teólogos de teses e metodologias provenientes do marxismo. As suas seqüelas mais ou menos visíveis feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa, anarquia fazem-se sentir ainda, criando nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas. Suplico a quantos de algum modo se sentiram atraídos, envolvidos e atingidos no seu íntimo por certos princípios enganadores da teologia da libertação, que se confrontem novamente com a referida Instrução, acolhendo a luz benigna que a mesma oferece de mão estendida”.

Que ouçam a voz do Papa. Que escutem o Pastor Angélico. Que sigam o Vigário de Cristo. Para que esta Terra de Santa Cruz possa honrar o seu “nome de batismo” – nome, aliás, evocado pelo Papa no discurso acima citado: que “o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras de Santa Cruz”.

Curtas

Austríaco é achado morto diante de TV ligada; óbito foi há cerca de 6 meses. “[N]esse período, nenhum vizinho sentiu a falta do homem (…). O corpo do austríaco só foi descoberto porque a Administração do condomínio ligou para a polícia após estranhar o longo sumiço do morador”.

Pulseira do sexo (se for verdadeiro, é estarrecedor). A nova “brincadeira” é procurar arrebentar as pulseirinhas coloridas usadas pelos [pré-]adolescentes. “«A amarela é a melhor porque significa que só se tem de abraçar um rapaz. A laranja significa uma ‘dentadinha de amor’ e a roxa já dá direito a um beijo com língua», explica uma menina de 12 anos ao jornal The Sun. Todavia, à medida que a paleta de cores avança, o nível de intimidade também é maior: «se um rapaz arrebentar uma pulseira cor-de-rosa, a rapariga tem de lhe mostrar o peito, se for vermelha tem de lhe fazer uma lap dance e azul é sexo oral», continua”. E ainda há mais cores… e pensar que eu, quando criança, já achava “tô no poço” (pera, uva, maçã ou salada mista) uma brincadeira depravada…

Direito ao aborto não existe na maioria dos países do mundo. Notícia boa: “[n]a maioria dos países em desenvolvimento, o aborto é rigidamente proibido”. No entanto, “[i]sso tudo acontece apesar das fundamentais decisões tomadas na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento de 1994, promovida pela ONU no Cairo”.

Técnica: não se prova inexistência. “Quem já atuou com auditoria e já forneceu relatórios de inexistência de gaps em um cenário sabe que a afirmação é impraticável. Tecnicamente, podemos observar existência ou inexistência de um dado fator em análise em qualquer cenário. O que pode DIFICULTAR é a AMPLITUDE de um cenário. Mas isso é um encargo a ser tratado pelo PROPONENTE da alegação, e não a audiência”.

Carta aos sacerdotes sobre a obediência. “Num tempo como o nosso, fortemente marcado pelo relativismo e pelo democratismo, com vários autonomismos e libertarismos, parece ser sempre mais incompreensível uma tal promessa de obediência. […] Só em um contexto de ‘respeito filial’ é que se torna possível uma autêntica obediência, que não será apenas formal, mera execução de ordens, mas apaixonada, completa, atenta e capaz de gerar frutos de conversão e de ‘vida nova’ naquele que a vive”.

A discoteca e o showman

Vi no Fratres in Unum a discoteca austríaca. Sinceramente, eu não consigo entender o que leva uma pessoa a abandonar tudo para abraçar a vida sacerdotal e, tendo recebido um báculo e uma mitra, promover [ou participar] [d]este tipo de aberração.

A Santa Missa é o Sacrifício de Cristo. Para louvar ao Deus Altíssimo, a Santa Igreja possui as riquezas da Liturgia, que ao longo dos séculos foram lapidadas por pessoas santas com o intuito de oferecer à Trindade Santa o culto melhor e mais perfeito possível. É angustiante ver a Liturgia ser jogada no lixo exatamente pelas pessoas que deveriam guardá-la e promovê-la; é decepcionante deparar-se com um prurido doentio por novidades que destrói até mesmo o senso estético mais rudimentar.

Missa não é “discoteca”. Provavelmente poucas coisas são tão dissemelhantes. Como suponho não ser possível haver ignorância quanto às discotecas, presumo que o problema só pode ser de desconhecimento sobre o que é a Santa Missa. Como, no entanto, as pessoas a promoverem o nonsense litúrgico são prelados da alta hierarquia da Igreja, torna-se absurdo imaginar que eles não saibam o que significa o culto básico da Igreja da Qual fazem parte. Como explicar a loucura? Mysterium Iniquitatis. Alguns não gostam da expressão, mas alguém é capaz de dar uma explicação mais plausível para estas coisas que, atônitos, contemplamos a todo momento?

Enquanto isso, falando em discoteca, vi que o pe. Joãozinho escreveu sobre [e – ouso ler nas entrelinhas – contra] o “Sacerdote Showman”. Recebeu comentários e voltou a escrever. Deo Gratias; arrisco-me a esperar que seja um grito do sensus fidei acorrentado, que não consegue mais manter-se inerte diante do bombardeio diuturno de ataques que sofre tudo aquilo que é católico e santo.

“Sacerdotes-Showmen” talvez celebrem “Missas-Discotecas”. Mas nenhuma das duas aberrações faz sentido. Nenhuma das duas coisas – digamo-lo francamente – tem espaço na Igreja de Nosso Senhor. No entanto, encontramo-las amiúde! Mysterium iniquitatis, torno a dizer. Que o Deus Altíssimo tenha misericórdia de nós, e envie santos trabalhadores para a Sua messe. Afinal, o problema dos nossos dias não é simplesmente de “falta de vocações”; muito mais sério é a falta de vocações santas. De padres que se esforcem para serem seguidores radicais de Nosso Senhor. De missas onde transpareça o Sacrifício do Calvário oferecido ao Pai Eterno.

Um, dois, três, quatro, cinco

1. Antes de viajar, mulher deixa US$ 40 mil em moedas raras para santa cuidar. “Eu tive de viajar e fiquei com medo de deixá-las em casa. Queria que a Virgem Maria tomasse conta delas pra mim – e ela fez isso, porque vocês [os funcionários do santuário] as encontraram”. Posuimus Te custodem, como o Fedeli diz algumas vezes. Certas manifestações de confiança são realmente impressionantes.

2. Nova campanha ateísta: deixem as crianças em paz!! Mais bobagem. “Os pais não devem obrigar suas crianças a seguir sua fé religiosa, essa seria uma escolha pessoal e só deveria ser feita pela criança quando ela fosse mais crescida e pudesse fazer a escolha por seguir alguma religião ou não por si mesma”. E por qual misterioso motivo os pais deveriam obrigar a criança a seguir o indiferentismo religioso ou o ateísmo? Parece piada: reclamam da educação religiosa e fazem campanha por uma educação atéia! Por que não deixam a criança optar pelo ateísmo quando for mais crescida?

3. Natal nazista. Uma exposição alemã; seguindo os links, é possível encontrar algumas fotos. “As autoridades queriam tirar dessa festa, que era para elas a celebração do solstício de inverno, a pagã “Julfest”, todas as referências a Jesus Cristo, o bebê judeu na manjedoura. Além de infestar as bolinhas da árvore com suásticas e trocar a estrela por um sol, os líderes do governo alteraram as letras das cantigas natalinas para eliminar todas as referências a Jesus”. Mas os difamadores de plantão serão capazes de dizer (1) que é mentira; ou (2) que foi idéia do Papa. Querem apostar?

4. O grau de autoridade do “Ensinamento de Magistério” do Concílio Vaticano II. “Assentados nos princípios de hermenêutica enunciados por S.E. Mons. Felici, podemos afirmar que a ninguém — seja Bispo,  padre, teólogo ou o povo de Deus – é facultado o direito de “desprezar” os ensinamentos do Vaticano II. Enquanto provenientes do Magistério Supremo,  gozam de uma excelência e de um alcance extraordinários. Se, de um lado, as pessoas instruídas  não podem ser impedidas de examinar os fundamentos das declarações do Vaticano II (em consonância com aquilo que impõe a supracitada hermenêutica), de outro também, ninguém  deve, temerariamente, recusar-lhes reverente acatamento, interno e externo”. E o autor, Mons. Brunero Gherardini, certamente não pode ser apodado de modernista e nem de “neo-con”.

5. Meu querido Frei Betto! Quem o diz é o Chalita. “Mas afinal, o que está acontecendo? Como a Canção Nova, que sempre criticou a Teologia da Libertação – mesmo quando se dizia a verdadeira Teologia da Libertação[ -], como dá espaço para quem, com muito afeto, faz propaganda de Frei Betto?”

Apanhado de notícias

Relíquias de Dom Bosco em Curitiba, desde ontem: para quem estiver na cidade, hoje “a urna estará na Paróquia São Cristóvão (Rua Santa Catarina, 1.750, Vila Guaíra), também podendo ser visitada durante todo o dia, com missas às 10, 15 e 20 horas”.

– Aproveitando, sobre relíquias, ver Dom Estêvão em uma Pergunte & Responderemos de 1960, pp. 194-202. “Com estas palavras [Mc 14, 6-9; elogio “a respeito de Maria de Betânia, que ungira o corpo do Mestre pouco antes do desenlace final”] Jesus aprovava solenemente a veneração póstuma do seu corpo sagrado. Os dizeres do Divino Mestre implicavam outrossim um convite a que se tratassem de modo semelhante os despojos de todos os justos que Ele no decorrer dos tempos enxertaria em seu Corpo Místico”.

– Reportagem que não entendi: Bispos anglicanos recusam proposta do Papa. “Cerca de 30 bispos e arcebispos anglicanos, opostos à linha liberal da Igreja no que se refere à homossexualidade, recusaram esta quarta-feira a proposta do Vaticano de se converterem ao catolicismo” – grifos meus. Hein?! Que linha liberal da Igreja? Será que estes anglicanos apedrejam homossexuais?

Audiência Geral do Sumo Pontífice: arte e verdade, a Beleza como um caminho para encontrar Deus. O Papa falou sobre as catedrais medievais. Leiam na íntegra, pois não consigo citar tudo que gostaria! “O impulso ao alto [das catedrais góticas] queria convidar à oração e era em si mesmo uma oração. A catedral gótica queria traduzir, assim, em suas linhas arquitetônicas, o desejo das almas por Deus. (…) Das vidreiras pintadas se derramava uma cascata de luz sobre os fiéis para narrar-lhes a história da salvação e envolvê-los nesta história”.

Comissão da CNBB prepara Seminário Nacional de Liturgia. “A equipe lembrou também o início do movimento litúrgico impulsionado por Lambert Beaudin ao afirmar, em 1909, a necessidade de ‘democratizar a liturgia'” – valei-nos Deus! A tradução da Editio Typica Tertia do Missal Romano, no entanto, que aliás já tem até uma versão corrigida, não aparece nesta Terra de Santa Cruz. Domine, usquequo?

Good bye, bad bishops: site que mostra contadores em tempo real indicando quanto tempo falta para alguns purpurados apresentarem a sua renúncia. A grande maioria é de bispos americanos, embora estejam lá o Schönborn e o Kasper. A versão tupiniquim de um site desses… deixa para lá.

Discurso do Papa aos bispos da Regional Sul 1. “Dado que a consciência bem formada leva a realizar o verdadeiro bem do homem, a Igreja, especificando qual é este bem, ilumina o homem e, através de toda a vida cristã, procura educar a sua consciência. O ensinamento da Igreja, devido à sua origem – Deus –, ao seu conteúdo – a verdade – e ao seu ponto de apoio – a consciência –, encontra um eco profundo e persuasivo no coração de cada pessoa, crente e mesmo não crente”.

Curtas, mas importantes

1. “[S]e algum chargista tivesse feito a brincadeira de colocar o padre  [Fábio de Melo] dançando um samba, aposto que uma onda de revoltosos se levantaria para criticar a iniciativa. (…) Aí temos o chargista e a caricatura de um sacerdote… E se dirá que Cristo o faria? Não, Cristo não o faria”. O desabafo é do Wagner Moura. O motivo? O padre Fábio de Melo na Beija-Flor. O Adversus Haereses também alfinetou, mostrando diversos sambas de enredo da escola que têm temática fortemente pagã. Vale perguntar: porventura somos nós os feitores do escândalo?

2. Diretório Litúrgico francês exclui santos padroeiros e inclui novos “dias santos de guarda”. Também no La Buhardilla de Jerónimo. É inacreditável: foram incluídas datas para o ano-novo muçulmano, o início do Ramadã, o Yom Kippur e a festa da Reforma Protestante! Como bem apontou um amigo, faltou somente o aniversário da Queda de Lúcifer…

Mas o pe. Clécio esclareceu que “a publicação não tem a importância que parece ter. É tão somente uma espécie de diretório litúrgico, embora em francês traga o nome pomposo de ‘Missel des Dimanches'”. Mesmo assim, é sintomático. Que Santa Joana d’Arc interceda pela França.

Carta aos fiés de Olinda e Recife – Dom Leme

[Carta pastoral do Cardeal Leme, em 1916, quando era Arcebispo de Olinda e Recife. Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra foi o segundo arcebispo desta diocese. O atual Arcebispo, Dom Fernando Saburido, é o oitavo. Muitas águas corridas neste quase um século… Muitas coisas mudaram e, outras, continuam as mesmas…

Fonte: Adversus Haereses. Grifos meus.]

Ora, da grande maioria dos nossos católicos, quantos são os que se empenham em cumprir os mandamentos de Deus e da Igreja? É certo que os sacramentos são caudais divinos por onde corre a seiva vivificadora da fé. E, no entanto, parte avultada dos nossos católicos vive afastada dos sacramentos. A Penitência e a Eucaristia, focos de luz divina, são sacramentos conhecidos tão somente da maioria eleita dos nossos irmãos. E os outros? Não carecem do perdão magnânimo do Cristo? Não precisam, quem sabe, das luzes, do conforto e das inenerráveis graças do Pão Eucarístico? Não são católicos! É que são católicos de nome, católicos por tradição e por hábito, católicos só de sentimento. Ensinou-lhes uma santa mãe a beijar a cruz e a Virgem. Eles ainda o fazem. Mas, das práticas cristãs, dessas que purificam e salvam, eles se apartaram desde os primeiros dias da mocidade. (…)

Somos a maioria absoluta da nação. Direitos inconcussos nos assistem com relação à sociedade civil e política, de que somos a maioria. Defendê-los, reclamá-los, fazê-los acatados, é dever inalienável. E nós não o temos cumprido. Na verdade, os católicos, somos a maioria do Brasil e, no entanto, católicos não são os princípios e os órgãos da nossa vida política. Não é católica a lei que nos rege. Da nossa fé prescindem os depositários da autoridade. Leigas são as nossas escolas; leigo, o ensino. Na força armada da República, não se cuida da Religião. Enfim, na engrenagem do Brasil oficial não vemos uma só manifestação de vida católica. O mesmo se pode dizer de todos os ramos da vida pública.

Anticatólicos ou indiferentes são as obras da nossa literatura. Vivem a achincalhar-nos os jornais que assinamos. Foge de todo à ação da Igreja a indústria, onde no meio de suas fábricas inúmeras, a religião deixa de exercer a sua missão moralizadora. O comércio de que nos provemos parece timbrar em fazer conhecido que não respeita as leis sagradas do descanso festivo. Hábitos novos, irrazoáveis e até ridículos, vai introduzindo no povo o esnobismo cosmopolita. Carnavais transferidos para tempos de orações e penitência, danças exóticas e tudo o mais que o morfinismo inventou para distração de raças envelhecidas na saturação do prazer.

Que maioria-católica é essa, tão insensível, quando leis, governos, literatura, escolas, imprensa, indústria, comércio e todas as demais funções da vida nacional se revelam contrárias ou alheias aos princípios e práticas do catolicismo? É evidente, pois, que, apesar de sermos a maioria absoluta do Brasil, como nação, não temos e não vivemos vida católica. (…)

Os deveres religiosos, como não cumpri-los? Ou cremos em Deus e na sua Igreja ou não cremos. Sim? Então não podemos recusar obediência ampla e incondicional às suas leis sagradas. Não cremos em Deus e na Igreja? Nesse caso, não queiramos esconder a nossa descrença. Digamo-lo francamente: não somos católicos. Se, porém, temos a dita de o ser, não há tergiversação possível. Pautando a vida pelos ditames do Credo e dos Mandamentos, deles não nos é permitido selecionar o que nos agrada e o que nos contraria as paixões. Seria ofender a consciência e faltar à coerência. Dessa incoerência, menos rara do que se pensa, resulta a quase nenhuma influência dos princípios regeneradores do cristianismo nos atos da vida individual. E não é só. Privados do influxo benéfico e incomparável do Cristo, privamos a família, a sociedade e a pátria da nossa influência salvadora. Se Cristo não atua sobre a nossa vida individual, como poderemos atuar sobre o meio social?

E, no entanto, da influência social dos católicos é certo que muitos precisa a nossa pátria amada. Ela tem o direito indiscutível a exigir de nós uma floração de virtudes privadas e cívicas que, estimulando a todos no cumprimento do dever, em todos se infiltrem para germe de probidade e são patriotismo.

Da nossa parte, a consciência nos impele a nos desobrigarmos dos deveres que temos para com a sociedade e a pátria. Eles nascem da fé que nos anima e vivifica. Temos fé, somos possuidores da verdade! Como não querer propagá-la? Como não difundi-la? Seria desumano que pretendêssemos insular a nossa fé nas inebriações de perene doçura extática.

É natural, é cristão, é lógico que devo pôr todo o empenho em que meu Deus seja conhecido e amado. Devo esforçar-me para que se dilate o seu reinado e ele – o meu Jesus – viva e reine, impere e domine nos indivíduos, na família e na sociedade. Devo esforçar-me, em tudo e por tudo, para que o meu Deus, Mestre e Senhor, viva e reine, principalmente, nos indivíduos, na família e na sociedade que, irmanadas comigo nos laços do mesmo sangue, da mesma língua, das mesmas tradições, da mesma história e do mesmo porvir, comigo vivem sobre a mesma terra, debaixo do mesmo céu.

Sim, ao católico não pode ser indiferente que a sua pátria seja ou não aliada de Jesus Cristo. Seria trair a Jesus; seria trair a pátria! Eis por que, com todas as energias de nossa alma de católicos e brasileiros, urge rompamos com o marasmo atrofiante com que nos habituamos a ser uma maioria nominal, esquecida dos seus deveres, sem consciência dos seus direitos. É grande o mal, urgente é a cura. Tentá-lo – é obra de fé e ato de patriotismo.

Fonte: Deus e a pátria: Igreja e Estado no processo de Romanização na Paraíba (1894-1930) / Roberto Barros Dias. – João Pessoa, 2008.